quarta-feira, dezembro 31, 2003

Balanço breve de 2003

Que pode ser dito em termos de balanço de mais um ano que hoje se encerra?
Em primeiro lugar prestar homenagem a quem nos governa. Foi um ano de consolidação da estratégia e os resultados apontam no sentido certo. Chegámos ao fim do ano com os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, ou seja a política do governo foi coerente. O desemprego aumentou para níveis raramente recordáveis. Poderia ser problema, mas, na verdade, não é bem assim. Os desempregados têm mais tempo livre, escusam de perder tempo a trabalhar e podem dedicar-se a actividades rentáveis. Por exemplo, sinal de progresso económico, a Bolsa de valores teve um aumento do seu índice PSI de 15%. Assim, os desempregados têm aqui uma oportunidade de utilização adequada do seu tempo livre e os mais capazes poderão mesmo arranjar uma empresa cotada em Bolsa; os ganhos este ano foram de 16000000€. Razão tinha o Luís Delgado que anunciou 200 vezes que a retoma era agora. Afinal para que querem estra empregados para terem um aumento do ordenado mínimo de 2,5%? deixem-se disso, tenham iniciativa! Deixo só uma sugestão aos nossos governantes, deixem de pagar o petróleo em euros. Como recentemente o dólar teve uma desvalorização de 25%, se pagassem o produto em dólares, podíamos andar mais um quarto da distância pelo mesmo preço. Deixem lá de comprar o petróleo em euros!
A nível inyternacional também foi bastante positivo. Descobriu-se pela primeira vez na história que um país libertado é um país ocupado por uma potência estrangeira. A tal potência poderá sempre expandir a boa acção no próximo ano. Vamos ver. Lamentavelmente, como seria de esperar, existe um campo de concentração em Cuba, em Guantanamo, onde os mais elementares direitos humanos não parecem estar a ser observados. Mas isso é em Cuba e daí não se pode esperar muito.
Muito bem ainda faltam algumas horas para as badaladas e para nos emborracharmos todos felizes. Vamos a isso!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, dezembro 28, 2003

Tenho um vizinho novo (até ver)

Desde há 3 dias que o vejo, hesitante, avançar no parapeito da janela pata-ante-pata até exactamente ao fim e, depois, olhar para baixo, estendendo o pescoço, como os de loiça, que ficam sobre os móveis em decorações duvidosas. Agilmente volta para trás, depois de uma rápida pirueta a cerca de 15 metros de altura e percore a distância do parapeito da janela no sentido contrário sob o olhar interessado da jovem dona. E ali fica a andar para trás e para a frente numa acrobacia de prenda de Natal. É o meu novo vizinho, um gato que saiu há 3 dias do sapatinho e, esperemos, não venha a desfazer-se em cacos como as réplicas de porcelana depois dum voo acrobático de quatro andares. Dizem que têm sete vidas estes de carne e osso. Este acho que vai precisar! A primeira usou-a quando o puseram numa montra de Petshop. Restam-lhe seis... Boa sorte, vizinho!
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Retoma lenta

Pós-Natal à sexta-feira sabe a domingo. Acorda-se tarde e os dias vão recomeçar devagarinho. Hoje é dia de continuar a ver se as prendas funcionam, ter irritações com as panes dos brinquedos, com os discos que têm faixas estragadas, com um sem número de pequenas reclamações que irão levar-nos de novo às lojas para fazer trocas e sermos apanhados para compraramos mais qualquer coisinha.
Por mim foi ver o Declínio do Império Americano, um filme com título esperançado criado há 18 anos. Até pode ser, que nisto da História os fenómenos também se passam devagarinho e, na verdade, a sobrevivência individual, a qualquer preço, pode ser já um sinal do início da queda do Império. Que estrutura pode sobreviver na ideia da desagregação, do cada um por si e o resto que se lixe? O resumo do filme no 7arte é como se segue:
O que pensam realmente as mulheres dos homens? De que é que falam quando eles não estão presentes? E os homens, de que falam? Enquanto Rémy, Pierre, Claude e Alain, professores na faculdade de História, preparam um jantar requintado, as suas companheiras, Dominique, Louise, Diane e Danielle, treinam-se num ginásio de musculação. Os homens falam sobre as mulheres, as mulheres sobre os homens. Destas duas conversas sobressai a mentira de uma época e a busca de cada um deles pela felicidade individual a qualquer preço. Fantasias, tentação, desejo, indiscrições, infidelidade, confissões, acrobacias e tudo o resto que faz do sexo único assunto sobre que vale a pena falar. Todos os tabus são hilariantemente expostos neste clássico inesquecível sobre as relações modernas.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, dezembro 25, 2003

Natal final

Sabe sempre bem o Natal. Na rua que agora começa a agitar-se, acumula-se cartão, laços e esferovite já a começar a desfazer-se em bolinhas pequenas que voam com o vento. É o anúncio de que faltam 365 dias para a próxima orgia consumista. E vai passar tão depressa... vamos lá a ver se conseguimos agarrar melhor o tempo que aí vem. Ainda assim este bem não dura sempre.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Uma vaca histórica

Já havia boatos sobre o Presidente e os que o elegeram, estranhava-se que tivessem aquela dieta de gordura concentrada, não era normal que pensassem que estavam sós no mundo, nem se percebia muito bem a razão por que se achavam ser um exemplo para todos os outros povos. Quando se analisava em pormenor aquele país, dizia-se em boca pequena, à maneira dos gauleses, os americanos são loucos! Era um mistério como naquela terra, as vacas continuavam a resistir. Mas eis que, finalmente, surge a primeira vaca louca nos EUA. A estas horas deve estar farta de dar entrevistas, vir nas primeiras páginas, abrir telejornais e seguramente, em Hollywood, alguém já prepara o filme da vida dela e para a semana vai sair o livro. Esta vaca vale milhões. God bless the cow, em todos os outdoors de todas as cidades.
Para festejar, uma secretária de qualquer coisa lá da zona, num acto de solidariedade comeu carne de vaca no Natal. Os americanos mostram assim que não temem a loucura das vacas, a loucura já é um estado de espírito instalado.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Véspera de Natal

Gosto do silêncio da rua sem carros e da luz nas janelas do lado de lá. As cozinhas dos meus vizinhos hoje estão cheias. Não se ouve nada. Lá dentro deve haver a algazarra habitual de todos a quererem fazer qualquer coisa. Nem o frio faltou hoje e é uma pena que não apaguem o néon dos candeeiros para podermos espreitar o céu cheio de estrelas. Que diabo, pelo menos uma noite por ano, na cidade, devíamos ter direito a um céu de deserto! Espreitar o Pai Natal e as renas e as prendas.
Mas neste Natal faltaram os olhos de crianças pequenas à espera de presentes e olhar dela cansado e feliz de tudo ter corrido bem.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, dezembro 23, 2003

Obrigado, nosso benfeitor!

Como é generoso o nosso Governo! Vejam a atenção em vésperas de Natal: aumentou o salário mínimo, que continua a ser muto mínimo mesmo. E a mostrar que aquela ideia da luta de classes está ultrapassada completamente aqui se regista a notícia do Público:
A actualização do valor do salário mínimo nacional de 356,60 para 365,60 euros anunciada hoje pelo Governo foi recebida com críticas pelas centrais sindicais e com aplausos pelas confederações da Agricultura e Indústria
Há uns que aprenderam as regras da economia e aplaudem, há outros ignorantes e gananciosos que contestam. Não, não há luta de classes, há é gente com e sem classe. Sem classe e quase sem nada.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, dezembro 22, 2003

O preço do petróleo e do seu uso indevido

Alguns números:
Desde o início da Guerra do Iraque os americanos tiveram 2657 feridos; 324 mortos desde 5/1/03; 463 mortos no total e desde a prisão de Saddam, 8 mortos.
Fonte: www.antiwar.com
Os mais de dois mil acidentes registados a semana passada pelas Brigadas de Trânsito da GNR fizeram 28 mortos. Os sinistros provocaram ainda 57 feridos graves e 675 ligeiros. Uma semana negra nas estradas portugueses. Só este fim de semana morreram 17 pessoas. Fonte: Sic online

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Bloguemos

Será justo assinalar e reconhecer a dimensão narcísica deste fenómeno. Escrevemos para nos lermos mais tarde, mas se alguém nos for lendo desde já, sentimo-nos melhor. Quando alguém se dá ao trabalho de além dos nos ler, nos escrever e aprovar, então quase sentimos que está a valer a pena. Por isso, obrigado a si Maxou (anónimo, homem ou mulher?) e retribuo com a publicação do endereço do seu blogue (www.vamoslixartudo.blogspot.com)que vou juntar aos meus favoritos. A todos os outros, uma vez mais o desafio de não hesitarem em criticar. Tornar isto um espaço de dscussão e tertúlia, so me alegrará.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

<

domingo, dezembro 21, 2003

Depressão, cepticismo, a culpa é deles e a verdadeira causa das desgraças

-Bom dia de sol, hoje!
-Ainda vamos pagar isto caro...
-Dizem que só depois de terça é que chove.
-Não acredito! Eles sabem lá, isto agora já ñão é como era dantes com chuva vo Inverno e Primaveras suaves. Ainda se lembra?
- Pois desde que foram lá...
-Lá aonde?
-Lá acima, mexer no buraco do ozono. Desde então nunca mais o tempo andou direito!
-É verdade, sim senhor.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Brasil 2

1. Em 2003 ainda é possível fazer-se uma reunião médica Luso-Brasileira que desloca cerca de 50 pessoas de Portugal até ao Brasil e mobiliza outros tantos brasileiros para discutirem temas de endocrinologia e hepatologia.
2. Na sessão de abertura, com hinos e tudo, representa-se como se estivessem 4000 pessoas na sala num registo de século XIX, com Ilustríssimos representantes subindo ao palco.
3. A origem do Bem Estar das Nações também se explica por estes momentos.
4. Valeram os acarajés e abarás com cerveja no cocktail que se seguiu.
5. E antes os passeios à Ilha dos Frades e Itaparica e à Praia do Forte nos dois dias antes da cerimónia de abertura.
6. Claro, que vale sempre a pena visitar o Pelourinho, onde o tempo passa devagar. Uma oportunidade para no Convento da Ordem Terceira de São Francisco nos avisarem do diabo à solta no Morro de São Paulo e ver na Igreja de São Francisco a talha dourada e lembrar os tempos em que os pretos assistiam à missa em cantos fora da Igreja.
7. E muito especialmente, ir ao Sorriso da Dada comer Bóbó de camarão e Mariscada.
8. Andar no elevador Lacerda a 0,05 reais a viagem e ver lá de cima a Baía (desculpem, com h - Bahia que aqui a influência é portuguesa).
9. Cirandar pelos corredores do Modelo como num bazar turco em compra de colares, de redes e paus de água e ver gente gorduchinha.
10. Pós-modernamente ir ver o Love Actually no Shopping da Barra, onde só vi gente elegante.
10. Acabar na quarta-feira (como o Carnaval!) e com ar sério congratularmo-nos muito pelo êxito do Congresso e fazer votos para que se repita a bem das Nações.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Brasil 1

Brasil
Algumas notas recolhidas:
Habitantes 175000000
Mortalidade infantil: 35,87/1000
Esperança de vida: 63,55
Prevalência da sida: 0,57%
Rendimento per capita: 7400 USD
República Federal
Cuba
Habitantes 11000000
Mortalidade infantil: 7,27/1000
Esperança de vida: 76,6
Prevalência da sida: 0,03%
Rendimento per capita: 2300 USD
Governo Comunista
Factos são factos e estes foram colhidos no site da CIA (http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/index.html)
Pensavam que era no Granma?

Num jantar um advogado disse-me com ar sério que isto de ter de matar a fome a tanta gente não era tarefa fácil. O Brasil não se pode comparar com um país de 10000000 de habitantes. Mas será que o doutor imagina que eles só comem?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Natal

Subitamente, este ano, foi invadido por uma necessidade urgente de salvar o Natal. Aconteceu quando entrei há dias num Centro Comercial e deparei com o ar alucinado dos frequentadores. Má cara, ansiedade, cansaço, ar de derrota. Um ar de estou por tudo, quero é safar-me disto depressa. Andar de vamos lá a despachar isto, quase de castigo.
Não admira, depois de se andar um ano inteiro a tentar sobreviver sem olhar para o lado, estão destreinados desta coisa da solidariedade. Uma palavra em vias de extinção. O Natal começa a ser uma realidade contranatura. Transformou-se em mais uma época de consumo. E é nesta altura que a chatice do consumo atinge o máximo e se torna insuportável ou apenas se aguenta num estado de alucinação. O Natal, este Natal, é triste de ver.
Mas se calhar ainda é possí­vel haver outro.
Medidas de emergência para salvar algo ainda do Natal deste ano:
1. Levar necessariamente um sorriso nos lábios. Facilita o diálogo com os vendedores, coitados, completamente cilindrados pelas enchentes de clientes.
2. Não levar ideias muito bem definidas do que se quer oferecer. Isso, geralmente, não existe à venda. Deixemo-nos contagiar pelo que via surgindo. No fim das contas ainda há algumas coisas engraçadas por aí­.
3. Sorrir outra vez quando chegar a hora de pagar. Ficar feliz porque a fila já acabou.
4. Não ir a seguir para a fila dos embrulhos. Tem muito mais piada comprar papel e fitas de seda e ir para casa treinar-se na arte do embrulho. Assim, se evita ter as prendas todas rotuladas com as marcas das lojas, o que faz perder toda a graça. Que isto de dar é a arte da surpresa.
5. Olhar para o tempo gasto nas compras como um tempo ganho (incluir o tempo de filas de automóvel, a procurar o estacionamento). Afinal para que queremos o tempo, será o resto tão necessário e inadiável?
Para o ano que vem e para todos os outros
Começar o Natal em Janeiro, dedicando uma compra ou duas por mês para uma ou duas pessoas. Tem a vantagem de estendermos o espírito da época, o verdadeiro, a todo o ano. Pensar nos amigos o ano inteiro sem stresse, com a calma e o cuidado que nos devem merecer os amigos em todos os dias do ano.
Talvez assim se possa fazer um Natal que valha a pena.
Possivelmente, escrevi tudo isto porque quando desejava Boas Festas a uma doente hoje, ela me disseque esta era a época do ano que mais odiava. O Natal para ela era uma espécie de insulto.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, dezembro 16, 2003

Diferentes estrelas

O contador ia em 210, agora está em 260 e tal. Eu e a família mais próxima estivemos alheados da Net durante 10 dias. Logo, além das minhas memórias futuras, justifica-se que aqui venha, sempre que possa, deixar alguns dos ouvidos e dos vistos que vou tendo. Parece que andam por aí algumas pessoas a partilhar um pouco disto. Boa tarde a todos! Quando quiserem, não hesitem, usem o mail abaixo e comentem.
Estar num país como o Brasil tem a vantagem de para além do bom tempo e da água quente, podermos sentir a sorte que foi, ainda assim, ter nascido por aqui. Já antes escrevi algures que isto do sítio onde se nasce é muito importante! Atenção grávidas de todo o mundo, uni-vos e desovai em bom sítio! Os vossos filhos vos agradecerão.
Pois é, não pode ser. Até quando vai ser possível deixar o mundo andar desta maneira injusta? Não chegará certamente o contentamento de o Sadam ter sido sido apanhado, quando, se calhar, essa nem foi a reparação mais necessária da ordem do mundo.
As estrelas do norte e do sul são diferentes. Mas o nosso futuro colectivo não pode depender das estrelas.
Nos próximos posts irei tentar escrever algumas das reflexões que o Sul provoca.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, dezembro 05, 2003

A vaguear

Depois de me ler (já que ninguém me lê...), cheguei à conclusão que aquela conversa dos 50 anos é sintomática. Percebi, que ter 50 anos apenas tem um pequeno problema: o tempo passa a ter outra urgência, há uma necessidade maior de fazer, de não adiar. Pela primeira vez entendi que não faz grande sentido planear fazer daqui a 30 anos... Será que vou passar a viver mais depressa?
Tenho de me refugiar por aqui, porque continua a não haver notícias. Ou talvez haja, mas não as entendo bem. Parece que vamos poder voltar a andar a acelerar em Portugal. Os polícias chefes da BT andam muito zangados e vão fazendo as malas. Esta na altura de aproveitar. Boa viagem! Depois há aquelas informações ou insinuações sobre alguns senhores importantes a quem são sempre perdoadas as multas. Isto é um país confuso!
Vou-me embora até ao Brasil apanhar sol, que isto aqui anda frio de mais. Lá também são desta raça, mas ao menos têm samba e tempo quente.
Até logo!

Yahoo!

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Urgência dos pequeninos

O professor deu o exemplo! Foi acompanhar os soldados, o General. Na Estefânia começou por dar muitas entrevistas. Mas bateu em retirada ao primeiro ataque aceitando calar-se por lhe ter sido ordenado. O que fará um líder calar-se, quando mais necessário era ouvir a sua voz? Que miragem de poder é esta que tanto prezam?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

À procura de rumo

Depois de uma noite mal dormida, soube-me bem ver o desnorte de alguém à procura de encontrar os cantos à casa. Uma vontade de fazer omeletas sem ovos. Vai ouvindo e nem toma notas. Por favor façam-me chegar as vossas sugestões. Só que tudo cheira ao mesmo.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, dezembro 02, 2003

semana portuguesa

As semanas ficam mais curtas iniciadas à terça-feira, quase perfeitas quando acabadas à quinta. Vai ser assim esta!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, novembro 30, 2003

Boas perspectivas

Dizem que a selecção calhou num bom grupo na primeira fase do europeu. Já começaram a fazer contas. Como esta gente gosta de matemática! Pode ser que a surpresa chegue e finalmente alguém seja imolado na praça pública. Tem de haver uns escapes para este panelão a ferver. Será o Flipão?
Confesso que me é indiferente a menos que partam mais um estádio na raiva incontida da alegria ou da tristeza, que estes moços adoram quebrar e tanto lhes faz o estado de espírito.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sábado, novembro 29, 2003

50 anos (a posteriori)

Ainda me lembro do tempo em que os tipos de 50 anos eram uns velhos. Gente muito crescida e com futuro a prazo. Só que agora, quando os amigos fazem estes anos, 50 anos sabe a princípio de vida, a uma nova etapa apenas. Andamos de óculos ou de lentes de contacto e é como se nada fosse. Do castelo de Almada a vista sobre Lisboa é uma novidade aos quase 50 anos. Sempre há novas perspectivas para observar as coisas bonitas.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Meu país tranquilinho

O pão vai aumentar 35%! Ninguém comenta, tudo é natural neste país. Não vai haver qualquer contestação e a MFL nem vai precisar de recomendar aos súbditos que comam croissants. Que país tranquilo é este?
O Expresso mostra que o emprego na função pública se reduz em Portugal e sobe na Irlanda, a tal do exemplo. Tudo bem, continuemos tranquilos que isto há-de ir.
Definitivamente, nesta terra ninguém vai deixar a cabeça no cepo. Ou irá?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, novembro 28, 2003

Intervalo

Há dias que são assim, com nuvens e sem chuva, cheios de cinza e podemos sempre ficar na borda da água do rio olhando a corrente, tentando perceber o seu destino. Numa ansia de anestésico.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, novembro 27, 2003

Tudo é relativo

Não será nada importante que o Sporting tenha ficado pelo caminho na taça UEFA. Também terá pouca importância que a America's Cup vá para Valência. Nem sequer é importante a Manuela Ferreira Leite não mudar uma vírgula no orçamento depois de ter mudado todo o texto na Reunião dos Ministros Europeus. E que importância tem a gripe que faz longas filas de espera na Urgência do Hospital da Amadora? É claro que o anúncio de que o Presidente Bush foi ao Iraque depois de já ter voltado é completamente irrelevante. Para mim hoje só há uma notícia importante: 20 milhões de crianças africanas vão ficar orfãs por causa da Sida. E vai ser verdade, sabiam?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, novembro 25, 2003

Défice de coerência

A Alemanha e a França mandaram às urtigas o pacto de estabilidade com o apoio da nossa auto-designada obcecada (Dicionário Porto Editora: adj. cego do espírito; obscurecido; ofuscado; pertinaz; contumaz no erro) Manuela Ferreira Leite. Fica assim claro, que a pertinácia no erro só existe para consumo interno, para nos massacrar a nós. De resto ela até entende e apoia. Cega de espírito só entre portas. A senhora não gosta de nós ou será que está a antecipar o futuro e já chegou à conclusão que mesmo vendendo as jóias e os dedos atrás, é melhor prevenir que pagar depois?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, novembro 24, 2003

Agradecimento

Quero agradecer-lhe, meu caro filmc o seu meile (assim em antecipação à futura ortografia). Foi o primeiro a escrever-me, o que se deverá ao facto de saber melhor quem eu sou, do que eu sei quem você é, mas ainda assim obrigado pela lembrança e por ter notado que não andava a escrever aqui já uns dias. Espero que haja desabafos bastantes para poder vir aqui despejar aquilo que me agrada e incomoda nesta tentativa de escrever um bocadinho de uma história desalinhada. De certeza que haverá ainda muitas por contar e sobretudo alguma para realizar, que nestas coisas da vontade de fazer, o difícil, por vezes, é começar. Traga mais amigos, que teremos muitas histórias para contar e globalizemos a partilha do existirmos colectivamente ainda que nos berrem aos ouvidos que estamos sós na selva da cidade.
PS: o Kaos rosna mas não morde, o Bite salta e chora de contente. Também eles sofrem o isolamento destas gaiolas de cimento e ficam alegres com a chegada de alguém.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, novembro 23, 2003

Mais um dia de banco

Dia de banco quase me obriga ao silêncio. Fico afastado do mundo e próximo das histórias simples. A senhora que vem com a dor nas costas há seis meses. O médico de família que não existe. E vem-me à memória as preocupações do Bastonário!
Cada dia destes que passo, sinto que passei por ele e um desencanto tão grande pelas razões que me põem a fazer um serviço de enfermeiro pago a preço de assistente graduado em dedicação exclusiva. Esta máquina tem de ser consertada depressa, venham engenheiros mecânicos tratar disto, antes que gripe de vez!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sábado, novembro 22, 2003

Resumo possivelmente com muitas ausências pelo caminho

Mais de uma semana de pausa. Pela agitação da vida moderna, as deslocações a reuniões e também pela falta de momentos importantes nas notícias. Está realmente tudo muito igual.
A ir para o Porto, fui ouvindo uma conversa depressiva de mulheres deprimidas no Fórum Mulheres da TSF. Discutiam as reduções na segurança social e foi triste ouvir o conformismo. Assim, a luta está perdida.
Depois, o Porto inaugurou o estádio do Dragão e ficam-me na retina alguns azulejos do Júlio Resende. Tudo o resto é folclore de Pintos da Costa e companhia.
Aconteceu também o rapto do jornalista no Iraque e depois a libertação e uma jornalista a ir ser buscada em avião do Governo. É preciso tratar bem os jornalistas. Fizeram bem e deram um bom exemplo para futuras evacuações de gente, eventualmente, sem tempo de antena.
Depois, depois foi mais do mesmo de sempre e uma semana que acabou um dia mais cedo, porque na sexta feira a função pública fez greve e com ela eu também. Setenta por cento dizem os sindicatos, dez por cento o Governo. Pasmo como se pode noticiar isto. Por favor não venham falar da independência do jornalista. Quem noticia isto não é independente, é mau informador, incompetente. Então estes senhores que conseguem saber a verdade sobre a ideia dos portugueses acerca da resignação do papa, não são capazes de fazer um estudo independente para dizerem os verdadeiros números da greve?
E mais uma reunião de fim-de-semana para discutir o Futuro da endocrinologia. Um aspecto positivo, uma reunião médica onde não fomos drug-dealers. desabafámos sobre insuficiências, atrasos, hospitais de gestão privada, investigação e depois podemos vir embora, que tudo irá permanecer aproximadamente na mesma. Gostei de ouvir o Felipe Casanueva falar da necessidade de mobilidade e do domínio da língua inglesa com aquela referência de que piloto também não pode voar se não souber inglês. E as reflexões sobre os nossos cuidados com a Medicina dos ricos, ignorando tudo o que se passa naqueles milhões de quem nunca falamos.
Discussão sobre política de medicamentos e comparticipações diferenciadas consoante o rendimento. A mesma confusão das propinas e lá vou eu comprar os comprimidos e pagar mais que o Manuel Damásio que ganha o ordenado mínimo. A mesma confusão das propinas! Como diz o outro, mas será que está tudo doido? E o conformismo face À nova organização da saúde, como se fosse o único caminho. Sim, senhor Dr. Durão e companhia, a vossa mensagem passou! Restam, é claro, num cantinho do país uns tipos que não vergam e continuam a acreditar que a história há-de ser escrita de forma diferente. Já se chega a ouvir alarvidades do géneãoro «os doentes dos centros de saúde deixam de estar tanto tempo em lista de espera se fizermos consultas de triagem, mas como essas consultas não podem ser contabilizadas e pagas ao hospital de onde somos, não devemos ir!» Mudem-se as formas de pagamento, mas por favor acabem-se as esperas desnecessárias. O contrário é que não! (Ainda por cima é gente inteligente e aparentemente bem intencionada que se sai com este tipod e coisas).
E já me esquecia que foi esta semana que o senhor bastonário veio defender que não deve haver grande aumento de vagas nos cursos de medicina. Claro, risco de concorrência no estabelecido! É triste, bastante triste.
Tentarei recomeçar amanhã com mais regularidade.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, novembro 13, 2003

À volta da Justiça

É nestas coisas que se vêm como será demorada a justiça. A história é simples. Alguém desconhecido entrou na garagem e partiu-me um vidro do carro. Intenção? Roubar ou chatear quem saberá. Agora para se obter a comparticpação do seguro é necessário levar uma declaração de participação na Polí­cia. A esquadra tem um ar probrezinho, com umas mesas e uns tapetes feioso no chão. O equipamento informático e de comunicações está à  vista e parece regular. Só hoje vi como os polícias andam descuidados. O nome do agente mal se via de gasto. Os distintivos da polícia estavam sebentos. O rádio não tinha pilhas. pequenos pormenores. O simpático e solí­cito agente, meio trópego com o teclado começa a organizar a história no formulário depois de me perguntar se queria apresentar uma queixa crime. Lá me explicou o que era e eu disse que sim. Depois de uma demorada identificação e descrição da ocorrência, lá assinámos a papelada. desde que entrei na esquadra de polícia foram quase duas horas, o que para escrever meia página de papel de história é obra! Assim começa a lentidão da justiça em Portugal.
No telejornal vejo o Provedor de Justiça falar da utilidade de salas de injecção assistida nas cadeias. A senhora ministra PP da Justiça, mostra-se pespinetamente contra. Nem pensar, arrenego! Mais cegos que os que o são são os que não querem ver, não é? Conhecimento por princípio como na Idade Média. Mas que mal fizémos nós?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt


quarta-feira, novembro 12, 2003

Ei-los que partem

A GNR parte hoje com algum crédito para a Guerra. Tivesse partido antes e já estaria possivelmente com algum débito, isto é, estaríamos por aí a receber os primeiros caixotes. Boa viagem e voltem depressa (inteiros)!
O que estranhei hoje foi este alarido para se não partir, por parte dos partidos da oposição. Então lá porque há guerra, já não se vai à guerra? Será que querem guerras seguras, daquelas onde se vai fazer turismo? Desde as histórias do Solnado que ficámos a ter uma ideia imperfeita das guerras...
Pasmei ao ouvir o Francisco Louçã dizer que se algum soldado morrer a responsabilidade é toda do PM. Tem processo quase garantido e vá preparando a indemnização, Durão Barroso. Esta gente não anda nada bem. Cá para mim, as decisões da maioria acabam por ser todas um pouco de todos nós, mais não seja por sermos responsáveis por serem eles a maioria. Sim, se calhar apenas teremos que nos queixar de nós próprios. Agora depois de os deixarmos ganhar, teremos que os aturar e nestas coisas ou conseguimos que mudem de estratégia ou teremos de estar ao lado dos que eles mandam.
Continue-se a explicar até à exaustão que isto é uma guerra fundamentada numa evidência inexistente (ainda alguém se lembra das provas de armamento de destruição macissa?), injusta, que cheira apetróleo que tresanda. O combate deve continuar por aí, até se perceber que foi um erro todo este alinhamento com os senhores do Império. Nada o justificava, nada o justifica. Uma pura aventura de cowboys. Mas já agora não se lance mão de truques fáceis.
Onde anda o PP que não ouvi falar dele hoje? Será que não tem nada que ver com isto?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt


terça-feira, novembro 11, 2003

Europa

Parece que os portugueses ainda não leram a constituição europeia. Foi esse o resultado de uma sondagem. Eu estou como eles, também não li. Mas o curioso é que a querem referendar para mais uma vez acharem que sim ou que não. Muito gosta esta malta de ter opinião.
O PM diz que não vamos perder soberania. É curioso, mas isto da União Europeia parece-me uma sociedade anormal. Cada um entra com capital diferente, depois nos resultados participamos todos por igual. Eu por mim ficava melhor com a minha consciência se tivesse o mesmo voto que qualquer alemão. Por exemplo, como um californiano ou um residente na Nova Inglaterra. Eu queria era uma Europa de cidadãos iguais e estou-me nas tintas para os interesses dos países. Fico tranquilo se os alemães, porque são mais, poderem ter mais poder. Eu ,no fundo, sou um democrata.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt


segunda-feira, novembro 10, 2003

Parabéns!

Pelo exemplo de generosidade de uma vida inteira. Por continuar sem desvios a perseguir um ideal. Por não ceder à maioria da globalização das consciências. Por tentar fazer perceber que o erro não foram as ideias, os objectivos, mas apenas as pessoas e nos deixar, assim, aberta a esperança de ainda ser possível. Um dia será, camarada. Até amanhã!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt


domingo, novembro 09, 2003

Até prova em contrário

Confesso que me irrita esta desconfiança à entrada nas grandes superfícies. Sempre que levo um saquito na mão lá vou ter de o depositar no segurança e mostrar o meu ar irritado com esta prática de quem considerra que os clientes são, até prova em contrário, potenciais ladrões. E irrita-me também que não haja nem um bocadinho de indignação. Algumas pessoas quase que correm satisfeitas para o encerrar dos sacos. A mim, chateia-me isto! Nesta terra há quem se defenda dos gatunitos. Só queremos coisas em grande escala.
Será da pequenez da terra, para compensar?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt


sábado, novembro 08, 2003

Audiência zero

A proliferação de reuniões médicas de formação tem destas coisas. Fazem-se a propósitito de tudo. Estupidamente, misturam-se temas desconexos esperando que os clínicos gerais sejam os receptores e actuem como cimento aglutinador de informação dispersa. Não resulta. Eles vão mas é passear, gozar o sol do Algarve e fazem bem. Que lhes pode interessar as últimas do transplente hepático ou da terapêutica médica com antivirais na hepatite C? Até quando a falta de senso?
Depois não é de estranhar que numa das sessões estejam os moderadores e os três prelectores. Audiência zero!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt



sexta-feira, novembro 07, 2003

na urgência externa

País pequeno
«O senhor vai ao hospital falar com o senhor Gonçalves do laboratório». O senhor veio e acha que era a Santa Maria o hospital onde o enviaram, não sabia o que vinha fazer, nem quem era o senhor Gonçalves, nem a forma de contactar quem o mandou, que também não sabia quantos laboratórios este hospital tem.
Tenho amigos (influência)
«Tenho cama marcada pelo Dr. Menezes. Eu não espero, é para entrar já». O Dr. Menezes não está de serviço, ninguém sabe qual a cama, mas o escarcel estava feito.
Pois
«Ela tem diabetes, tem hipertensão, tem colesterol, tem 93 anos». Uma vida grande e cheia de posses.
Inquietação
Telefonema para o Hospital: « Posso levar aí o meu filho para fazer umas análises. Só para eu ficar com o coração tranquilo, acho que el se anda a drogar». Não fazemos. Talvez dialogar sem picadas analíticas.
Estar por tudo
Para quem não sabe se diz que desde há algum tempo, depois d e umas perguntas à entrada da urgência do Hospital, os doentes são classificados por ordem de prioridade da situação. A chamada triagem. São, então assinalados com uma etiqueta adesiva riscada com a côr respectiva que devem colocar na roupa. Diálogo:
-«Se faz favor, vai à Otorrino para lhe verem o ouvido. Para circular no hospital, ponha esta etiqueta na roupa.»
-«Na boca, sor doutor, assim?» Evitei a mordaça por instantes...

Correio: fernandobatista@netcabo.pt




quinta-feira, novembro 06, 2003

Uma despesa evitável

O Ministério da Saúde publica esta quinta-feira em alguns jornais nacionais anúncios de página inteira com o balanço do primeiro ano da aplicação do chamado PECLEC - Programa Especial de Combate às Listas de Espera Cirúrgicas.

Com alguns quadros e duas colunas de texto o anúncio sistematiza informação que o ministro tem revelado no Parlamento e que Luís Filipe Pereira prometeu divulgar publicamente.

Esta divulgação dos resultados do Ministério da Saúde custou 40 mil euros, segundo apurou a agência Lusa junto de fonte do gabinete do próprio ministro.


Aqui está uma despesa que teria sido completamente desnecessária se os doentes que estão em lista de espera fossem suficientemente patriotas e passassem palavra uns aos outros: olha a lista de espera acabou! De que raio estás tu à espera, não sabes que já não há listas de espera? Se por acaso houver por aí alguém que esteja à espera de uma consulta ou de ser operado, faz favor desista: acabou! Deixe de imaginar coisas, passe palavra e leia os anúncios do Governo para saber a realidade.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, novembro 05, 2003

Três da vida airada

Votación Bloqueo (Granma)
Ano 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
FAVOR 59 88 101 117 137 143 157 155 167 167 173 179
CONTRA 3 4 2 3 3 3 2 2 3 3 3 3
ABSTENCIÓN 71 57 48 38 25 17 12 8 4 3 4 2
(este quadro fica desalinhado mas com paciência ainda é legível)

Resultados da votação contra o bloqueio americano a Cuba nas Nações Unidas. Para que conste os países que ainda apoiam este bloqueio são os Estados Unidos, Israel e Ilhas Marshall (este não sabia que era país, mas vou tentar evitar). Parece significativo o que se consegue numa dúzia de anos.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

É muito apito

Finalmente, alguém apita. Um ensurdecedor arrazoado de cigarras, a penetrar fino e profundo no silêncio da gente instalada. A coisa está a aquecer. Sempre quando o tempo aquece as cigarras assobiam. Por cá alguns irão continuar a assobiar para o lado, a tentar não ver. Mas esta malta, dá-me esperança.
Depois, os telejornais fazem a doutrina do regime. Mostram os estudantes que não querem pagar as propinas em carros de gama alta tentando justificar o injustificável. O ensino público deve ser tendencialmente gratuito à custa dos impostos que pagámos. Atenção! Nós (alguns) já pagámos (no passado). O que o Governo terá de fazer (no futuro) é fazer pagar quem não paga. Agora, depois de se ter pago, paguem, se fazem favor, o ensino de quem está a estudar. Mais, se acham que os estudantes já são das classes mais beneficiadas, façam o favor de lhes dar luta, aumentem-lhes os impostos sem piedade. Reduzam o fosso e se tiver de haver menos dos carros de alta gama, nada se perderá. Se 40% não chegar, subam para 50%. Mas é contra a natureza da Dra MFL, pois é... E o resto, a concordância dos ricos para pagarem as propinas, mais não é do que uma atitude de assobiar para o lado, tentando continuar a não pagar os tais impostos...sempre fica bem mais barato e a Dra é amiga deles, portanto, nada de agitar. Lá vão assobiando e rindo!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

As duas vias

Hoje finalmente, as coisas parecem mais claras. A Dra Manuela Ferreira Leite, explicou-se bem. Afinal há duas vias, a dela com redução da despesa, redução do Estado e a dos outros que ela acha que está errada. Assim, talvez as coisas fiquem mais fáceis: queremos segurança social ou cada um que se segure, queremos serviço nacional ou seguro individual de saúde, queremos ensino público ou aprende cada um por sua conta, etc, etc. Mas já agora era bom que a coisa fosse posta assim aos eleitores. Não lhes perguntem se querem pagar menos impostos, a pergunta é querem tomar conta de tudo isso à vossa custa (cada um por si) ou viverem mais seguros. A opção pode ser sempre pela insegurança no trabalho, na saúde, no ensino. Uma insustentável alegria pelo risco de estar só no mundo, sem os outros nossos pareciros de jornada e um prazer danado de lhes dar umas caneladas rumo à sobrevivência. O meu voto é contra!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, novembro 04, 2003

Já não há gratidão no mundo

Farto da ausência de notícias, fui à procura delas no Granma International

Iraq: Conmoción y pavor

POR JORGE MARTÍN BLANDINO, del diario Granma

Bajo este título pudiera escribirse sobre los devastadores golpes aéreo-coheteriles a que fue sometido Iraq a comienzos de año, uno de ellos bautizado por Estados Unidos con igual nombre. Este no deja duda acerca del objetivo principal que perseguían con los 780 cohetes crucero y las 23 mil bombas lanzados contra todo tipo de objetivos, incluidos mercados, viviendas, conductoras de agua y otras instalaciones vitales para la población.

Un tercio de los soldados encuestados recientemente dijo estar desanimado y la mitad señaló que probablemente deje las fuerzas armadas.

Para reforzar el propósito de aterrorizar a los iraquíes y quebrantar su voluntad de resistencia, antecedió y después acompañó a esos ataques una campaña de brutales amenazas y falsas promesas mediante millones de octavillas y centenares de horas de transmisiones de radio y televisión.

Pero no es ese el tema central de estas líneas. Su propósito es reflexionar sobre los efectos psicológicos que los medios de combate infinitamente más modestos de la resistencia iraquí, junto a las continuas muestras de rechazo de ese pueblo, vienen provocando en las tropas de ocupación norteamericanas.

"Entre los soldados hay muchos frustrados y con miedo". "Hemos tenido ataques en los que niños nos han tirado granadas. Y si no puedes confiar en un niño, ¿en quién vas a confiar?". Así declaró a la prensa hace pocos días Camilo Mejía, jefe de una escuadra de la Infantería de Marina norteamericana destacado en Iraq, según reporta la agencia alemana DPA. El joven militar también afirmó que se sienten "solos y exhautos".

Ante declaraciones como estas llama la atención que a finales de junio Donald Rumsfeld, secretario de Defensa norteamericano, restó importancia a estos ataques. En sintonía con tal opinión, el teniente general Ricardo Sánchez, jefe de las tropas norteamericanas en Iraq, afirmó que el nivel de bajas que estaban sufriendo no era significativo.

No sé si estos señores piensan así actualmente, pero es casi seguro no tienen igual criterio gran parte de los más de 130 mil soldados norteamericanos desplegados en Iraq o los que saben pueden ser enviados a ese país en cualquier momento.

A los efectos de las estadísticas del Pentágono, puede que un muerto diario más o menos sea una cifra poco preocupante. Sin embargo, si las declaraciones de estos personeros son sinceras, están subvalorando el impacto psicológico en sus tropas de las constantes noticias sobre nuevos ataques. Quienes son permanentes aspirantes a ponerle su nombre a una de esas bajas "nada significativas", parten de una lógica muy diferente a la de Rumsfeld y Sánchez.

No es difícil imaginar cómo deben sentirse el marine Mejía y sus colegas, embarcados por su Gobierno en una aventura bélica a la que no ven objetivos ni final. Son decenas de miles de hombres y mujeres obligados a vivir en condiciones adversas y en un país donde casi pueden tocar el odio de sus habitantes. Como ha confesado el ya mencionado general Sánchez, "eso los vuelve nerviosos y a veces también agresivos". Ello explica la facilidad con que aprietan el gatillo.

Recientemente AFP informó que Human Rights Watch, organización nada sospechosa de ser antinorteamericana, tiene confirmada la muerte de al menos 94 civiles iraquíes solamente en Bagdad, a manos de soldados yankis "en circunstancias legales cuestionables".

Pero las víctimas no se limitan a los civiles asesinados o a los soldados yankis que pierden la vida o resultan heridos debido a las acciones de la resistencia. A ellas se suma, además de los accidentes, las enfermedades y otras causas, el creciente número de militares norteamericanos que acuden al suicidio para librarse de la pesadilla a que los ha llevado el ansia de hegemonía mundial de sus gobernantes, la que además ha obligado a enviar de regreso a Estados Unidos a alrededor de medio millar de efectivos aquejados de trastornos mentales.

Así acontecen las cosas en un interminable círculo vicioso. Cada día crecen no solo la conmoción y el pavor entre las tropas ocupantes, sino también sus crímenes. El principal resultado es un mayor rechazo, odio y deseos de venganza en la población iraquí, que se traducen en más acciones de la resistencia con las consiguientes nuevas bajas de soldados estadounidenses. Ello a su vez multiplica el temor y la agresividad de los invasores, con lo que el escenario queda listo para iniciar un nuevo ciclo de muerte y destrucción.

El Gobierno de Estados Unidos es el único responsable de haber dado el impulso inicial a esa terrible noria que mata diariamente tanto a iraquíes como a norteamericanos. No conforme con ello, acelera irresponsablemente cada vez más su tenebroso giro.

Esa es la triste realidad del presente, pero a la vez confirma que tarde o temprano el pueblo iraquí obligará al imperio a detener su terrible espiral de crímenes y abandonar Iraq incondicionalmente.


E vamos lá a ver se ainda um destes dias não serão atacados com as terríveis armas de destruição que foram a justificação da invasão. Foram, não foram? Ao menos dessa devem estar livres, os pobres libertadores. Os libertados é que são uns ingratos. Árabes sem pincípios...


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, novembro 03, 2003

Os dias passam

E é como se nada estivesse a acontecer. O orçamento vai andando. Os GNR estão quase a andar para o Iraque. O hospital vai estando na mesma, quando devia andar. E nós ficamos na margem a assistir. Podia ao menos haver um pôr do sol digno de ser visto e não esta mediocridade de tempo.
Que tédio!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, outubro 30, 2003

Continua tudo de férias

Não há notícias. Acabaram os factos políticos e a agenda política. Nem as eleições do Benfica têm interesse. No meio do deserto só esta me fez sorrir:
Alguns dos doentes de Rui Frade terão sido recomendados pelo consultório do psiquiatra Daniel Sampaio. À SIC, o psiquiatra admitiu que conhece Rui Frade, mas recusou-se a prestar mais declarações. Rui Frade garante que é seu colaborador.
Ainda vou começar a fazer um evening blog...

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, outubro 29, 2003

O dilema de Israel

Uma guarda de porcos ou uma vara contra os palestinianos!

Para me lembrar quando a notícia da SIC desaparecer, aqui se reproduz:
Até agora, os colonatos judeus eram guardados por homens armados e por cães de guarda.

O Batalhão Hebreu - uma organização que fornece cães de guarda aos colonatos - lembrou-se, no entanto, de substituir os caninos por suínos na protecção contra os palestinianos.

As razões alegadas são fundamentalmente três:


Os porcos têm um faro mais apurado que os cães;

Conseguem identificar a presença de armas a longa distância;

São capazes de seguir o trilho de um terrorista.


Há, no entanto, um outro argumento, de cariz religioso e eventualmente mais forte, na base da decisão desta organização: à luz do Islão, estes animais são considerados perigosos.

"Segundo a fé muçulmana, um terrorista que tocar num porco perde todo o direito de encontrar 70 virgens no céu", explica Ben-Yaakov, chefe do Batalhão Hebreu.

Assim sendo, o afastamento de palestinianos dos colonatos judeus poderá estar melhor assegurado, considera esta organização israelita.

Rabis dão luz verde

Mas os porcos são, porém, vistos como um animal impuro à luz da doutrina judaica, pelo que Ben-Yaakov, chefe da organização, teve de pedir uma autorização especial a um grupo de rabis, para poder começar a treinar uma legião se "suínos de guarda".

Os rabis citaram uma passagem da Bíblia que permite acções outrora proibidas, desde que as mesmas tenham como objectivo salvar vidas.

"É claro que, num caso como este, a proibição que foi imposta quanto ao crescimento de porcos em Israel não se aplica", explicou Daniel Shilo, do Conselho Rabínico Yesha.

Os militares torcem o nariz à medida, alegando que será "difícil" treinar um animal "impuro".


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Até quando?

Invadido por uma preguiça súbita nesta terra de desencanto, onde nada acontece. Por isso dias em branco no bloque.
«Só neste país!» um desabafo ouvido ao pequeno-almoço. Sempre esta ideia de que não somos o país, essa coisa indefinida que continua a ser pertença de algum poder oculto quase 30 anos depois. Até quando? Quando voltaremos a ser cidadãos?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, outubro 26, 2003

Objectivamente

JPP e MRS comentam com toda a objectividade a situação política em Portugal. Ainda bem que a isenção é critério! Valeu ter ido ver a Domadora Baleias e aquela vaia maior que o próprio Estádio da Luz. Na Catedral, Durão Barroso sorriu nervoso e quase caíu ou tropeçou pelo menos...

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sábado, outubro 25, 2003

Siga a festa

Depois do discurso do Senhor Presidente parece que a calma voltou à terra. Apesar dos desabafos narcísicos do Manuel Maria. E hoje será dia de se falar da inauguração da Catedral aqui ao pé de casa. Deve chegar para encher os telejornais. Hoje os políticos devem poder descansar e encontrarem-se todos na bancada VIP.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, outubro 24, 2003

Formação pós-graduada

Estas reuniões de formação pós-graduada são cada vez mais deprimentes. Na sala estão os prelectores, alguns internos mais ou menos obrigados e pessoal auxiliar. Eventualmente, alguns médicos amigos do promotor na estratégia ora agora levas-me tu, ora agora trago-te eu. Depois cumprimentamo-nos muito e felicitamo-nos e desejamos que tudo continue. Pois que continuem a aparecer medicamentos novos cada vez mais caros para que o investimento seja compensador nestas reuniões de (não sei se diga...) drug dealers.
Os temas são sempre os mesmos: a acromegalia, a terapêutica da obesidade (como se existisse alguma), o tratamento da baixa estatura (como se fosse doença) e da diabetes (como se ainda houvesse novidades). Uma nascente de fármacos novos a precisarem de ser vendidos! Eu não acredito que neste país com reuniões destas todos os fins de semana, ainda haja algum médico que já não saiba esta treta toda de cor!
Mas quando aquele cirurgião defendeu a compra e venda das bandas gástricas adorei. Os maus do Governo ou das SA não querem pagar, quando aquilo até é bom para o Hospital... E para os doentes, claro, sobretudo e até para mais ninguém, obviamente. Não podemos voltar para trás! Para os tempos de fome e da magreza. Claro, é fartar vilanagem, que no fim há sempre uma banda que espera por si. Essas coisas da prevenção são muito bonitas mas o progresso é o progresso e o modelo americano... Modelo americano, ora aí está. É exactamente aí que bate o ponto: o caminho é não ir por aí! O modelo está errado! O MODELO ESTÁ ERRADO! Alguém ouve? É preciso dizer às pessoas que está errado, que o caminho é outro. Depois as pessoas irão dizer aos senhores da política que não senhor, que esse modelo mítico é uma merda e que não votarão neles se eles não o rejeitarem e depois já é fácil. O dinheiro começará a ser investido onde deve ser. Curioso que na Holanda e nos países nórdicos a obesidade não aumenta estupidamente!
Por cá o negócio é promissor. A fazer fé nos resultados apresentados, teremos cerca de 40000 supergordos neste país. Logo, a solução será criar-se uma especialidade e serviços só para os cuidar, onde só se faça este tipo de tratamento. Vão ter para aí umas 200000 consultas e ainda há quem diga que isto é para especialistas!!! Será mas para esses superespecialistas em supergordos. Que tem a ver com isto a endocrinologia?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, outubro 22, 2003

Optimismo como programa

Antes de mais, deve ter-se uma atitude optimista. Qualquer outra, acaba por nos roubar para a inutilidade algum do tempo escasso em que navegamos. E já é tão pouco.
É muito gratificante encontrar pela manhã um doente recuperado, com ar de quem ainda atordoado, não percebeu que lhe terá acontecido para finalmente ter dormido e acordar com energia. Santos corticóides! Esta (a Endocrinologia) é uma especialidade pequena com grandes gratificações. Não vale a pena hipertrofiá-la contranatura, ela é suficiente em si. O resto são estratégias de poder.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, outubro 21, 2003

Descompresssão

Andei pelas nuvens depois de uma noite mal dormida. O pequeno prazer de conseguir quase perceber num só dia o que tem um doente neste hospital onde trabalho. Era assim mais ou menos que isto poderia funcionar, como uma rotina mais ou menos. Era simples e é de coisas simples que gosto. As condições estão lá, essa a vantagem insuperável que tem esta casa.
Que nos esperará?
Escrevi mais uma carta rude às forças do bloqueio...

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, outubro 20, 2003

Em boa hora PP

Saúde tem de ser responsabilidade dos Estados
Os estados têm de assumir responsabiliddaes na prestação de serviços públicos essenciais, entre os quais a saúde. Deixar tudo à inciativa privada seria um erro. Nenhum país consegui melhorar a qualidade da educação primária nem reduzir a mortalidade infantil sem a intervenção e ajuda do Governo. Mais:«a participação do sector privado na saúde, na educação e nas infra-estruturas não deixa de pôr problemas, sobretudo quando se trata de fornecer serviços aos pobres». A erradicação do analfabetismo, a prestação de cuidados de saúde de qualidade e o acesso a serviços essenciais como a água potável, o saneamento básico e a electricidade são fundamentais para diminuir o número de pobres, não bastando incrementar o crescimento económico».
Basta de subversão! Não foi para ouvir isto que estamos em democracia! O que vale é que os jovens hoje foram todos ver os quartéis e cantar o hino de mão no peito por convite, com obrigatoriedade de aceitação, feito pelo grande líder PP. Não fosse isso e teríamos corrido o risco de alguns terem conspurcado os castos ouvidos e olhos com o texto do Banco Mundial acima citado.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, outubro 19, 2003

Estou-me cagando...

Só para dizer que me estou cagando para os que se estão efectivamente cagando para o segredo de justiça e divulgam aos jornalistas para estes divulgarem à gente segredos que só à justiça interessam. Estou-me cagando também para os jornalistas que colaboram nestas merdas. E se todos o fizessemos, conseguiríamos fazer um monte suficientemente grande para entrar no guiness. Não sei é se ainda haveria jornalistas para dar a notícia ou se teriam ficado todos sufocados lá por baixo.
Mas desde quando é que um desabafo em privado, tem relevÂncia jornalística? País de cuscos!
Solidariedade com o Ferro Rodrigues!
Já estou farto de acessório. Não é necessário estra sempre a recorrer-se a estes truques para se não ter de explicar os problemas reais do país: porque temos mais desempregados, ordenados mais baixos, continuamos sem saúde, etc.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sábado, outubro 18, 2003

Intrigado

Onde andarão as moscas quando chove?
Uma dúvida que sempre me assalta por estes dias, quando as não encontro à mesa para almoçar.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, outubro 16, 2003

Inquietação

Este é um monólogo com o futuro. Como será este fenómeno quando for sistematizável? Por enquanto, vou coleccionando as impressões ao fim do mês. Dentro de algum tempo, encherei um dossiê, que talvez me dê algum gozo a ler.
Há dias assim, que passam sem se dar por eles. Mas muito rápidos...

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, outubro 15, 2003

Lucidez sff

A passividade com que vejo aceitar a ideia dos contratos de trabalho individuais irrita-me. Não consigo ficar indiferente, embora a coisa me não diga respeito. Então andamos tantas dezenas de anos a fazer conquistas sindicais, para agora acabar tudo, cada um por si? E a história oriental das varas, já não é falada nas escolas?
Depois são os problemas de saúde pública da nossa sociedade,a obesidade, a depressão. Por que há mais depressão agora? Porque cada vez isto tudo é menos tolerável? Se calhar não fomos geneticamente preparados para sermos seres isolados, não estamos adaptados às fúrias do liberalismo reinante. E comemos, comemos. E para que tudo fique perfeito, há uns senhores que procuram a cura com uma pílulas. Atolhamo-nos na abundância, paralisados por ritmos de trabalho insanos para descobrirmos as tais soluções que não mexem nas causas das coisas, seguindo sempre uma lógica de aumento progressivo de consumo, de todos os consumos. Para quando alguma lucidez?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, outubro 14, 2003

Sem título 2

Como é infinitamente maior a hora da descolagem em comparação com a da aterragem. Nas coisas mais pequenas todas as grandes contradições.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Sem título

Cheguei a um estado em que anseio pelas horas de 90 minutos e não com esta brevidade que vão tendo.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, outubro 13, 2003

Fui ler e achei lindo

No Barnabé já há alguns dias

História de Martins da Cruz contada às crianças
Era uma vez um senhor que queria ser primeiro-ministro. Esperou, esperou. Mas, entretanto, tinha de trabalhar para ganhar dinheiro. Houve um senhor muito bonzinho, dono de um banco, chamado Ricardo Salgado, que lhe arranjou um emprego. E houve outro, também muito bonzinho, que o deixou, a ele e alguns amigos dele, trabalharem na Universidade dele.

Alguns anos depois, o senhor que queria ser primeiro-ministro conseguiu finalmente cumprir o seu sonho. E como estava muito agradecido ao senhor da Universidade, deu-lhe um lugar de ministro. Mas o senhor da Universidade tinha uma filha de quem gostava muito, mesmo muito. A catraia estava sempre a arranjar-lhe problemas. Ficava na casa das embaixadas mesmo depois do pai ir embora e a casa já não ser dele, queria ser médica, mesmo não tendo notas para entrar na Universidade. Como o senhor que já era ministro gostava muito dela, fazia-lhe sempre as vontades. Foi assim que pediu a um outro senhor para fazer uma lei só para ela. O outro senhor queria trabalhar lá no ministério e sair dum emprego fraquinho que tinha, com um ministro que tratava das universidades e que era um bocadinho totó.

Então, esse senhor que estava à procura de um novo emprego fez tudo para a menina entrar na Universidade. Foi muito mau e enganou o seu chefe, de quem era amigo há mais de 30 anos e que lhe tinha dado aquele emprego que, sendo fraquinho, era honesto. Mas a menina era muito traquina e quando conseguiu entrar na Universidade disse aos amigos. Os senhores das televisões ficaram a saber tudo e foram contar a toda a gente.

Quando isto se soube, o chefe do senhor que queria um emprego novo teve de dizer que a culpa era dele e despedir-se. O pai da menina disse que, palavra de honra, não tinha nada a ver com a história. E o primeiro-ministro não se esqueceu quem o ajudou quando precisou de ajuda. Por isso não mandou embora o pai da menina. A menina, coitadinha, é que teve de ir estudar para o estrangeiro.

Moral da história: Para o mal e para o bem, pensa sempre a quem dás emprego.


Mas terá mesmo sido a menina traquina que foi contar a história ou alguém que não gosta muito do pai da menina quiz repor a Verdade? Na verdade, a história não acaba. Vai-se fazendo, ora com verdades, ora com mentiras, mas cá a vamos fazendo.


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Na consulta

- Pois é, o senhor devia deixar de fumar.
- A minha vida é complicada, sabe?
- Vou mostrar-lhe uma coisa. Ora veja, vamos pôr aqui os seus valores de idade, nível de colesterol, tensão arterial, nível de açúcar no sangue, história familiar de doenças do coração e vamos calcular o seu risco de ter um problema vascular grave (acidente vascular cerebral ou enfarte do miocárdio) nos próximos 10 anos... Quer ver? Não sendo fumador, o risco é de .... 8%. Agora, vamos admitir que fuma e vamos ver o valor...: 25%!
- Porra!
Assim, com toda a espontaneidade. Às vezes, fazem-me rir os meus doentes. É com estas expressões de verdade com que gosto de encher o tempo.


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, outubro 12, 2003

Mais dois dias úteis

Pela primeira vez dei comigo a constatar que estava na casa de férias. Não pelas que aqui passo, mas pelas passadas e que vão estando dispostas nas paredes, nas casas do Brasil, nos quadros naif de Salvador, nas estampas dos museus de Nova Iorque e Amsterdão, no quadro aborigene da Austrália. Daqui fui directo para o som da Ella Fitzgerald e o quadro ficou quase perfeito numa tarde de chuva convidando ao recolhimento.
E tudo depois de um almoço em Guisado (temos nomes de terras próprias para almoçar) um pouco depois da Retorta (na vizinhança das Caldas), que é Solar dos Amigos e Ilha do Paraíso. Se perder o cartão, aqui fica o telefone 262877135. Arroz de feijão e costeleta de meio quilo depois de chouriço de arroz ou cozido à portuguesa em meia dose familiar. Tudo simples, sem salamaleques aprendidos em escola de hotelaria, mas com serviço com conhecimento de vida. Quase como em casa de família.
Para continuar perfeito mais uma má exibição dos craques da selecção. Pode ser que nos fiquemos pela primeira eliminatória. Nem todos os guarda-redes devem ser como este da Albânia que sofria de lumbago.
O domingo, pelo contrário, foi dia de sol para passear pela praia a pôr o Kaos de gatas a correr atrás de paus, que teimosamente sempre leva para a sombra da falésia e nunca para ao pé de mim. Determinado este cão. Sabe o que quer.
Em resumo, um fim de semana simples ao alcance de poucos.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, outubro 10, 2003

De volta e em grande

Acabo de ir espreitar o abrupto
e vejo que JPP voltou em grande estilo. É preciso pôr os jornalistas na ordem. Mas continua a não dizer nada sobre os Ministros Ou talvez diga nalgumas entrelinhas.
Para mais tarde eu recordar (ninguém me lê...:(), aqui transcrevo:
TRANSPARÊNCIAS

Os blogues de jornalistas são um elemento muito positivo para uma maior transparência. Eles retratam de uma forma mais límpida o pensamento que está por detrás das notícias, assim como o movimento subjectivo de amizades e inimizades, de gostos e ódios, que tão importante é no modo como se escreve uma notícia. Saber tudo o que se possa saber sobre as opiniões, políticas e outras, das pessoas que interferem na esfera pública, é muito vantajoso. E, como se vê, nos blogues de jornalistas, a agenda política é dominante e agressivamente empurrada. Pedro Mexia tinha razão, na sua análise no Dicionário do Diabo, sobre o carácter pushy de alguns blogues dos jornalistas.

Mas a opacidade é a regra nos meios mediáticos, os menos escrutinados dos que intervêm na esfera pública. Múltiplos canais de influência entre o poder político e os media não têm qualquer escrutínio, desde os que se fazem através dos negócios dos donos dos jornais e televisões, até a práticas que o público em geral desconhece, como os pequenos almoços com os directores dos jornais em “off”. Por exemplo, o público em geral devia saber que jornalistas foram assessores de Marques Mendes ou de Jorge Coelho, ou de ministros com funções similares, ou de outros membros do governo, ou de grupos económicos, e tenho a certeza que, se o soubesse, perceberia melhor os mecanismos de influência que funcionam nas redacções. Devia-se igualmente saber como trabalham as empresas de relações públicas e de “imagem” e como é que antigos e actuais jornalistas colaboram em conjunto, promovendo ou denegrindo “produtos”.

É evidente que os cargos formais não contam tudo, há toda uma outra teia de amizades e influências, de “fontes” privilegiadas e contratos não escritos – "eu dou-te informações, tu passas-me as notícias que me interessam" – de difícil escrutínio. Favores, privilégios e cunhas são, e isso é indesmentível, o pão-nosso de cada dia. Há tantos exemplos: convites para viagens apetecíveis, trabalhos extra a convite de fundações, avenças de empresas, promoção cultural. Saliente-se que não falo apenas do domínio estrito do político: há situações bem complicadas na área económica, onde uma notícia vale milhões, e, mesmo onde ela vale apenas dezenas, como no domínio do jornalismo cultural, grupos e coteries abundam.

Em Portugal, todas estas redes são desconhecidas do público em geral, embora noutros países, como no Reino Unido e nos EUA, e, mais recentemente, em França, comece a haver informação detalhada. Com mais ou menos incorrecções, o livro sobre o Le Monde inclui um retrato de toda a teia de relações entre os jornalistas e o poder, mas duvido que fosse possível escrever em Portugal um livro semelhante. Mas que faz falta, faz.


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Já que ninguém diz

Para um observador independente como eu (saiu-me bem esta!), esta história do Paulo Pedroso é curiosa e merece algumas reflexões. Discute-se agora muito se devia ou não ter ido à AR depois de ter sido posto em liberdade, se a Justiça está a ser politizada e mais isto e mais aquilo. É claro que se fosse um cidadão qualquer, as televisões não transmitiam em directo a saída da prisão (até parecia o Mandela...) e se calhar o homem tinho era ido ter directamente com os pais e a namorada depois de apanhar o autocarro ali na rua. Se não houvesse televisões, mesmo que tivesse ido ter com os companheiros de trabalho, não teria nenhum efeito. Portanto, o problema não é os políticos terem os mesmos direitos que os cidadãos comuns, o problema são os meios de informação. Este Big Brother em que se transformou a nossa vida está a dar cabo da gente. Até porque se não fossem as TVs se calhar nem havia nada daquela recepção e festa. Muita desta festa é para a imagem ou seria festa genuína sem relevância política. Ponha-se uma câmara à frente de alguém e logo a mão passa pelo cabelo, se fica a pensar no melhor plano e se o som está aberto acabam-se as bocas. Deixamos de ser nós. Não se deve confundir a imagem com o real. E o risco maior é deixarmos de ser reais mesmo quando não há câmaras e passarmos a estar sempre a pensar na imagem que estamos a passar. No fundo, se calhar o Paulo Pedroso não pensou na imagem e deixou-se ir um pouco pela realidade que ia dentro dele e deu esta embrulhada. Moral da história: com os jornalistas, todo o cuidado é pouco.
E nesta confusão toda acho estranho que ninguém peça contenção aos meios de informação. Seria menor o share, menor a receita, mas todos ganhavamos. teríamos a possibilidade de ser um pouquito mais autênticos.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, outubro 09, 2003

Insípido

Esperava mais de uma última lição. Não deixou de ser curioso, ter alguma graça, mas aqui e além foi demasiado auto-elogiosa, uma exposição de um curriculum pessoal sem concurso à vista e com a garantia de não argumentação. Foi também muito burguesa a lição, muito a imagem da família, do poder. Teria preferido algo mais leve, mais ousado nas perspectivas a transmitir a quem fica, mas houve muito de insatisfação com a vida que aí vem o que me parece ser sempre sinal de algum desapontamento com a vida que foi. Faltou o humor que alivia a dor destes momentos. Em 40 e tal anos de vida de Medicina, quase tudo mudou. O Prof Palma Carlos percebeu o fim da Medicina Interna e desenvolveu a Alergologia, mas recusa aceitar a ideia, porque isso diminui o seu poder. Poder? No fundo, esse parece ser o drama destes homens que mais do que a função privilegiam a imutabilidade da vida. Mas a vida é função e mudança.
Reflexo dramático do estado das coisas nesta Escola a referência do Prof. JLA ao facto de ver mais o jubilado fora do Hospital que lá dentro. Com que então, os cientistas encontram-se na Ópera e nos Concertos e não no local onde conjuntamente (!!!) tratam os doentes?
Fruta do tempo, esta lição foi um bocado com sabor a plástico, tipo MacDonalds, limpinha e desenxabida.
Da mesma forma não aprecio muito esta técnica com que, agora, qualquer telefonista de loja nos atende o telefone. Dizem o nome (que logo esquecemos), e depois de saberem o nosso iniciam sempre o discurso com ele (depois de cada pausa para música). Procura-se um reforço de comunicação, mas realmente, apenas me sabe a plástico também, a imagem, sem qualquer sentido emocional, físico. Puro marketing. Às vezes quase tenho saudades do ar mal disposto e genuíno do atendimento de outros tempos sem tantos cursos de formação de como deve ser-se. Era-se mais, se calhar. Mais substância, talvez.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quarta-feira, outubro 08, 2003

Para variar a onda

O Paulo Pedroso acaba de sair da prisão preventiva. É bom ver alguém deixar de estar preso sem culpa formada. Deve ser lixado! Espero que a solidariedade da recepção entre os amigos o compense.
Neste dia em que o Arnold Schwarznegger foi eleito governador da Califórnia, que alguma coisa nos faça sorrir. Também já não tinha sido mau que a Teresa Gouveia tivesse substituído o ministro papá. São as pequenas alegrias desta triste terra encostada na Europa.


Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Espero que volte JPP

Confesso que estou a ficar sem ideias. Se ao menos tivesse imagens como o abrupto ainda podia encher os dias do blog.... Coitado do homem, ficou sem pio, já não chegavam os 5 dias que abalaram o ministério, ainda agora esta aliança do PSD com o PP para as europeias... Será que o PP o deixa ser deputado europeu?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, outubro 07, 2003

Tudo bem

1. Deve fazer parte do cromo, da maneira de ser Governador do Banco de Portugal, mas o discurso deste socialista parece-me cada vez mais um discurso liberal. Ou não entendi bem ou para o Dr. Vitor Constâncio, este Governo tem uma política económica quase perfeita. A economia está no bom rumo e os desempregados devem estar cada vez mais satisfeitos com a sua situação e tranquilizados porque o défice está a ser corrigido, o que é óptimo para prato principal. Como sobremesa a senhora ministra das Finanças, garante que o IRC vai mesmo baixar. É a recuperação económica em marcha.
2. O Ministro foi tratar da filha. E vão dois. Agora é assim, sentido de estado (com letra pequena claro) que isto quer dizer da situação da coisa, isto é do partido. Um tipo faz asneiras, demite-se e tem sentido de estado? Mas que gaita vem a ser esta, não deveria se tivesse sentido de Estado não ter feito burrice, não ter sido ingénuo, etc.? Ou se acha que fez tudo bem, sentido de Estado não seria manter-se firme na sua posição, apurar responsabilidades e processar quem levanta boatos infundados? Ou estamos na ditadura dos jornalistas? Ao estado a que isto chegou com esta gente honrada!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, outubro 06, 2003

Pobre Papa

Não vai ter grandes hipóteses Sua Santidade a partir deste momento: a maioria dos portugueses acha que deve resignar. Há certos estudos de opinião que são fundamentais para a história da humanidade e por isso os nossos jornalistas os encomendam. Que seria do futuro do Papa se não soubessemos o que pensam os portugueses sobre a sua resignação? O sentido patológico da morbidez tem destes excessos. Cria-se esta sede de drama para se terem notícias e noticiar já está a ser desencadear a notícia. Vamos lá a ver o que SS vai decidir depois desta indicação...
Mais vale continuar à procura de quem fez o requerimento da filha do diplomata! Parece ser mais notícia e pode esclarecer alguns pormenores meios estranhos desta história.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

domingo, outubro 05, 2003

Palavra de honra

Rápidos passam os fins de semana.
Imaginei o Ministro naquela reunião em Roma. Que lhe iria dentro da cabeça? E os outros saberiam da história cá de casa? Será que lhe passou por momentos essa dúvida? O país, no entanto, ficou tranquilizado porque um Ministro que agiu dentro da lei se demitiu (e não se percebe bem porquê) e o outro garantiu sob palavra de honra que não pediu favores nem falou com o Ministro demitido. Foi traído pela filha ou então aconselhou-a mal porque o pedido que fizeram era legal mas pecaminoso (se não fosse ninguém se demitia). Ma se assim é como vai continuar a ser Ministro? E se a filha podia entrar legalmente no curso, por que razão vai ser desterrada. Quem não deve, não teme diziam-me no passado. Já não é assim agora, onde estes negócios são feitos mais na base do que parece e aparece na TV... Esta história cheira-me a mal contada.
E espero bem que a palavra de honra ainda seja o que foi e não seja uma imagem de estilo.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, outubro 03, 2003

Temos novela

Não sei ao certo o que disse o pai-Ministro, mas no rodapé do ecrã gigante da Sala de Alunos pude ler que na AR o senhor garantiu que a filha não vai ocupar a vaga. Hilariante. Será que a jovem, numa atitude de rebeldia, não se aconselhou com o pai sobre o pedido de favorecimento e fê-lo sem dar cavaco? Se assim não foi, o pai-Ministro afinal não só é ingénuo como me parecia de manhã, é quase mau pai também. É que se teve conhecimento da ilegitimidade e não a contrariou é ingénuo e agora outra coisa não deve fazer que não seja demitir-se. O facto de ela não vir a frequentar a Faculdade em nada diminui a responsabilidade política e se a situação não for ilegal, ao menos que alguém aproveite. Sacrifique-se o pai, safe-se a filha (se tiver a coragem de aguentar os colegas e o resto!). Vá-se o Ministro, mas fique o pai.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Ingenuidade

Sinceramente o que mais me impressiona nesta história da filha do ministro não é o golpe, mas a ingenuidade destes homens. É desde há muito óbvio que ser político neste país implica uma espécie de virgindade imaculada. Se é possível ser-se ingénuo a nível pessoal, como serão os riscos da ingenuidade nas tarefas que lhe são confiadas?
Depois gostei de ficar a saber que os filhos dos diplomatas têm a porta das nossas faculdaes escancaradas. É entrar meninos! Também é assim para os filhos dos emigrantes, não é?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sábado, setembro 27, 2003

Fim de semana 2º dia

A planura lá em baixo cheia de castanhos, dourados e verdes enche-nos o olho logo pela manhã.
O caminho hoje começa na direcção de Beja, com a intenção de antes de se chegar a Pisões, virar à esquerda para Quintos e depois seguir para Vale de Russsins . No cruzamento que dá acesso à terra, a estrada acaba ou seja segue em frente por um estradão e é por aí que se avança. Sempre em frente até surgir no cimo de um monte à esquerda uma camioneta de passageiros. Deixamo-la à esquerda e continuamos sempre em frente até começarmos a descer para a ribeira. Lá chegados, temos de a passar (fácil está seca) e começar a subir uma estrada direita ao céu e seguir sempre em frente à espera de encontrarmos finalmente Amendoeira. Surge depois de seguirmos por cima de vários montes de sobreiros e ao fim de uma estrada ladeada por um aramado limitante de vacas. De repente, algum alívio por se ter voltado ao asfalto e vermos logo em frente as placas a anunciar o Pulo do Lobo. Desce-se sempre aconselhados pelas indicações até ao parque de estacionamento lá na margem direita do Guadiana. Um local deserto, com o silêncio só cortado pelo rugir da água que subitamente acalma num extenso lago, onde o rio quase parece ter parado. E ninguém a toda a volta.
Há então que seguir até Mértola, voltando à Amendoeira.
Mértola é uma mancha na encosta na margem direita do Guadiana. Um castelo e uma Igreja Matriz que antes fora Mesquita e uma visita ao Museu islâmico, onde um filme mostra hábitos comuns em árabes e portugueses. Afinal, somos um bocado pretos também senhor PP e não aprece vir ao mundo nenhum mal. E volto a não perceber as Cruzadas do Bush e Cia.
Seguimos depois na estrada para Serpa até chegarmos ao desvio para Pomarão, que tomamos para chegarmos a este porto fluvial onde alguns iates esperam no meio do rio. Nas paredes do café os sinais de cheias antigas em dias bem menos calmos que os de hoje, certamente.
Regressar em sentido contrário pela estrada que lá nos levou e seguir na direcção de Santana de Cambas onde entramos para iniciar a descida para as Minas de São Domingos, pela estrada que lá ao fundo ocupa a velha linha de comboio das minas. Passadas algumas pontes com lombas respeitáveis, entramos numa paisagem de chão amarelado aqui e além matizado de vermelhos mais ou menos escuros e finalmente, chegamos às ruínas das minas. Vêem-me à lembrança por momentos, paisagens de Yellowstone.
Seguimos depois para a vila das Minas onde alinhadas as casas do bairro operário, têm ruas de terra batida como as das cidades do deserto na Tunísia. O mundo não é assim tão diferente... As pessoas também e garanto, as classes ainda não acabaram!
Volta-se à estrada de Serpa até aparecer, em Vale do Poço, a indicação de Pulo do Lobo, agora a ser visitado na margem esquerda já perto do pôr do sol.
E pronto, o dia acaba na esplanada do café Alentejano na praça da Câmara de Serpa, onde possíveis professores tomam café depois das notícias do ranking e cachorros soltos vão correndo de um lado para o outro despreocupadamente. Como tudo o que se passa por aqui... Eu começo a estar preocupado... com a semana de trabalho a começar já amanhã à noite. Calma que amanhã ainda é dia útil até às nove da noite!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Públicos e privados

A campanha prossegue. Como quem não quer a coisa e envolvidos na capa de objectividade, os nossos órgãos de informação vieram hoje dizer-nos como grande conclusão que os melhores colégios são os privados. O São João de Brito é o maior! Óptimo, a mensagem está passada: se querem que os vossos filhos cheguem a Medicina, ponham-nos neste colégio de excelência. Cuidado com as escolas públicas, aquilo são professores de segunda. É como os médicos, alguns só trabalham na «Caixa»... Os pobres dos «cientistas» que fizeram este «estudo», esqueceram-se de nos dizer alguns dados como por exemplo, de que classe social são os alunos das escolas privadas e das públicas, o que aprenderão em casa uns e outros, será que se fossem usados alunos equivalentes nessas variáveis, os resultados dos colégios públicos seriam iguais aos das escolas privadas?
Não é justo ter de ouvir estas barbaridades a caminho do Pulo do Lobo.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, setembro 26, 2003

Fim de semana 1ºdia

O plano incluía chegar a Moura o mais cedo possível para fazer por maus caminhos a viagem até Serpa. Não deixámos de ir a Moura procurar o início do trajecto que seria, à vinda da Vila, virar depois da barragem do Alqueva. Só que a barragem tinha fechado o caminho e por isso houve que rever o road book. Passa então a ser assim, depois de passar Alqueva (a aldeia) e a bomba de gasolina da estrada, com uma escavadora candidata a museu colocada no cruzamento vira-se para Marmelar e vamos até aparecer uma capela à direita. Aí sai-se da estrada e entra-se no estradão a subir até se chegar aos eucaliptos, onde se inflecte ligeiramente à esquerda e se inicia a descida até uma estreita estrada asfaltada. Aí chegados, virando à esquerda podemos espreitar em baixo as antigas minas de ferro. Voltando para trás depois de as vermos e sempre no estradão continuamos em frente até chegarmos ao bairro operário das minas onde se pode parar a refrescar a garganta na Cantina, o tasco local. O dono explica-nos que a capela da Orada terá sido mandada construir por um rei que mandava os soldados para as batalhas e ficava por ali a rezar (orar e daí o nome), que o homem não era de ir para a frente de batalha. Mas isto era só naqueles tempos, os nossos reis de hoje bem gostariam de ir para o Iraque, para a linha da frente defender o mundo livre. Só que têm de ficar a mostrar-nos em discursos que a causa do desemprego são os imigrantes (temos dois desses perigosos seres (ucranianos, possivelmente) na mesa do lado a confirmar a tese) e para poderem continuar a cruzada não vão poder ir... Uma pena!
Depois de refrescados, seguimos em frente para Brinches e Serpa sem grandes sobressaltos.
A Pousada de São Gens apesar de algumas deficiências (desconhecimento do pessoal sobre a região, ausência de mapas da região, infiltrações na casa de banho, mau isolamento entre os quartos) promete ser um sítio agradável para estar este fim-de-semana, tanto mais que está com pouca gente.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, setembro 25, 2003

A estratégia parece ser mostrar que o serviço público de saúde é ingovernável e entregar progressivamente ou de acordo com o que deixarmos tudo na mão dos privados. Seguradoras, bancos e já agora as Farmácias...
Agora até começam a chegar aos Serviços de Urgência já não só os que antes tinham ido à Farmácia ver a tensão arterial e eram enviados a correr porque tinham a «tensão junta», mas também os diabéticos descontrolados (!!) com 250 mg/dL na picadinha do dedo. Um gozo meus senhores... E isto vai ser pago do nosso bolso. Que também vamos continuar a pagar mais fitinhas, mais agulhas, mais insulina e antidiabéticos orais muito mais caros. E eles vão continuar a ter um livrinho verde, cheio de objectivos e registos em branco, sem nada. E vamos também pagar o tal livrinho verde. E no fim continuarão a ser amputados, a cegar, a acabar na diálise e a ter os enfartes do miocárdio. Em Cuba, descem-se 2% nas hemoglobinas glicosiladas (isto é, controlam-se!) com educação alimentar e apoio médico. Mas esta é outra história que não vende comprimidos, insulina, canetas e tirinhas, nem compensa a Associação Nacional de Farmácias.
Gostei daquela afirmação de que os médicos não percebem nada de medicamentos a propósito dos genéricos. O problema é também que os farmacêuticos sabem pouco de doenças e de doentes nem se fala!
(depois de passar os olhos por um blog de confrade)
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Um abraço senhor Presidente

É sempre incómodo ver alguém com projecto demitir-se. Alguém que acreditou ser possível e compreende já não ser mais possível. São muitas horas de trabalho e de sonho que se vão na impotência de se não poder continuar.
Resta a solidariedade de quem reconhece o que se fez e a consolação da possível absolvição da história. Um abraço para si que não me vai ler quase de certeza.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, setembro 23, 2003

Direito à vida

Começamos a não ter alternativa no momento em que deixamos de controlar a aplicação da descoberta da solução. Deixou de ser permitido pesquisar para resolver o problema. Hoje pesquisa-se para encontrar uma solução. Uma vez encontrada, compete aos accionistas estabelecer se vai ou não ser usada a descoberta, isto é, impor a sua rentabilidade no mercado. Não basta hoje encontrar-se algo que melhore a qualidade de vida e a saúde das pessoas, é preciso que os doentes tenham a capacidade de comprar o método. Caso contrário, os legítimos proprietários (os investidores) vão negar a sua aplicação, podendo até destruir a descoberta se a acharem não rentável. Desta forma este caminho colectivo que andámos na procura das soluções começa a ter duas velocidades consoante há capacidade para comprar ou não. A partir de agora temos uma Medicina para bons pagadores e outra para os outros, a saúde deixou de ser um direito universal, passou a ter o valor de um objecto material qualquer. Poderia ser assim e não ter consequências, mas a saúde tem outra palavra associada, vida. Logo, a vida passaria, a partir do momento em que este conceito fosse aceite, a ser também mercadoria. Será que chegamos lá? Para compensar as consciências sempre se pode ir com cartazes para a rua barafustar contra o aborto. Pela vida, não é, seus hipócritas embushados?
O direito à vida tem realmente insondáveis dimensões. Não é compatível com patentes de medicamentos contra a sida que impedem a sua utilização no tratamento de populações africanas, definitivamente sem capacidade de pagar. A Santa América de Bush fez um donativo para combater a sida. Generosos ou foi só para facilitar a compra dos tais medicamentos às companhias americanas que os produzem?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Entrei!

A excitação é imensa, apesar de ser uma história de entrada antecipada. Faltava só a confirmação, o preto no branco. Uma festa entrar para Medicina onde as médias mínimas continuam acima dos 18.
O numerus clausus deve justificar-se pelo mercado, isto é, se a perspectiva é haver excesso de médicos num futuiro próximo. Mais lamentável seria justificá-los pela falta de capacidade de formação. parece que nem uma nem a outra são condições neste momento. Por isso porque será esta limitação nas entradas? Carência de médicos pode ser igual a redução de prescrições, menos despesa com a Saúde. Não acreditamos, pois não?
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, setembro 22, 2003

Subsí­dios

O teatro São Carlos tem problemas por dificuldades de financiamento. Este é um dos temas que recorrentemente me assalta: para as pessoas que lá vão, será lícitoque haja subsídio dos nossos impostos? Os ricos que paguem a Ópera! Pelo menos enquanto a saúde e o ensino forem pagos. Curioso que alguns dos que acham que a Cultura tem de ser apoiada são dos primeiros a aprovar os pagamentos da saúde e do ensino.
E Mail:fernandobatista@netcabo.pt

Abertura ao diálogo

Hoje acrescento uma linha aos textos, o e-mail. Vou tentar perceber se isto é lido por mais alguém...
E Mail:fernandobatista@netcabo.pt

domingo, setembro 21, 2003

Bem comum

Ontem vi serviço público na RTP2. Um documentário canadiano inserido no programa Sinais do Tempo. É de aproveitar antes que acabe!
Falava de bens comuns, o que nos tempos que correm de individualismo selvagem já é quase uma heresia. De forma bastante objectiva foi-nos mostrado que a água, as sementes, a genética, a saúde, as moléculas base dos medicamentos não podem ser consideradas como meras mercadorias. São propriedade colectiva (que horror!) da vida de todos nós. Que lucidez e é tão simples.
Nestes tempos de destruição sistemática do Serviço Nacional de Saúde através do sofoco financeiro dos hospitais públicos para os tornar baratinhos na hora da aquisição pelos privados era bom que alguém tivesse visto a angústia da médica que negou o transplante cardíaco ao doente (matando-o!) e com isso foi promovida (por ter aumentado o lucro do hospital). Era bom que perguntássemos às pessoas se é esse o caminho que querem. É tempo de substituir a miserável pergunta se querem que os impostos sejam aumentados, pela outra que poderá ser querem que os impostos sejam mais bem aplicados? Se calhar, queremos. Queremos ser solidários com os doentes e não defender o ponto de vista individualista e miserável que manda pagar quem está doente. Com efeito, se não tenho doenças por que hei-de pagar? É do individualismo mais abjecto! Pior que isso, só mesmo o negócio da saúde, que no limite consiste em ganhar dinheiro à custa da infelicidade dos nossos semelhantes (era assim que se dizia dantes).
É triste ver os médicos quase entusiasmados com a perspectiva de deixarem de trabalhar para o maldito Estado sem se darem conta que vão mudar apenas de patrão. No entanto, o Estado era ainda controlável, os novos patrões respondem apenas perante os accionistas e não perante o Povo. E o bem estar dessa gente (o lucro) é afinal o prejuízo de todos os utentes que vão ter de pagar pelo serviço o custo mais o lucro.
É urgente lutarmos pela nossa água comum, pelas nossas sementes comuns, pela nossa genética ou qualquer dia os nossos corpos ainda acabarm propriedade registada destes accionistas. As nossas acções (luta sem tréguas contra este estado de coisas) são urgentes! Mas anda tudo cego? Alguém vai aceitar contratos individuais de trabalho nos Hospitais?

quarta-feira, setembro 17, 2003

Ouvi dizer

Alguém contratou alguém para nos vir dizer que a nossa produtividade é baixa. Nada que já não desconfiássemos. Dei comigo a pensar em serviços que conheço. E também concluí que é a produtividade suficiente para justificar simultaneamente alguns dos piores salários para os empregados e dos melhores estatutos de vida para a classe empresarial, na Europa. O que é uma injustiça dupla, pois afinal os trabalhadores portugueses são bons quando bem dirigidos, não é? Então o que não presta é a classe dirigente, a tal mais bem paga...
Hoje, chegou a notícia que Portugal é o país que menos gasta com os estudantes do Ensino Superior. Terá isto alguma coisa a ver com o problema da produtividade? É capaz, continuamos a ser uma terra de patos bravos!
Dois dias seguidos a pensar na territa é preocupante. Só que o Bushismo continua e irrito-me só de pensar que continua a reinar na Terra grande. Pois, mas a história ainda não chegou ao fim. Haja saúde!

terça-feira, setembro 16, 2003

Pecados sociais

Acordei com a TSF a anunciar sete pecados sociais:
1. Egoísmos individualistas, pessoais e de grupo
2. Clivagem entre ricos e pobres
3. Corrupção
4. Desarmonia do sistema fiscal
5. Irresponsabilidade nas estradas
6. Comercialização do fenómeno desportivo
7. Exclusão social
E não citavam Chomsky. O diagnóstico era da Carta Pastoral. Não está mal como programa. Como vai reagir o nosso Santo Governo. PP de mão no peito, pedirá o quê ao seu Deus? Que ilumine os Bispos?

segunda-feira, setembro 15, 2003

País longe

Os suecos querem manter-se fora do euro. Mas mais importante que isso, fiquei a saber que naquele país votam suecos, chineses, indianos, portugueses, quem lá vive e trabalha. Ou seja não há Portas fechadas a separar uns dos outros, nacionalismozinhos pequeninos. Assumem-se globalmente naquela ideia utópica que tenho de ser Terreno. Quanta energia se pouparia. Mas o não no referendo não deixa de me parecer contraditório, tanto mais que algumas forças da dita esquerda, apoiaram esta atitude. Haverá receios de perda de independência face às decisões económicas da Europa? Contraditório ou a abertura é uma miragem?
É um país estranho, frio, de grandes noites e dias intermináveis. Onde os políticos insistem em ser pessoas normais, sem segurança e são misteriosamente mortos. E por que há suicídios no Paraíso?
Há com efeito, alguma irrealidade naquelas paragens. Falta de sofrimento real que ainda assim será preferível a um sonho lúcido? Vi ontem o Vanilla sky, um filmezito apesar de tudo com essa mensagem.

domingo, setembro 14, 2003

Três reflexões sobre a natureza dos homens

1. Num acidente a mota é abalrroada. Fumega no chão. O objecto tinha acabado de sair do stand de vendas e teve o azar de encontrar um condutor meio distraído que não travou o carro a tempo. O motard inconsolável fumegava também e acabou por aliviar a sua tensão aos murros e pontapés no desgraçado do automóvel. Aceitamos amolgar mais facilmente uma pessoa que o nosso objecto de estimação.
2. O que acontece quando um cão assalta a travessa dos bifes? Um grande grito para minimizar os estragos e possivelmente uma vergastada condicionadora. Isto é, um acesso de raiva momentâneo, justificado. Dentro de 24 horas, tudo está esquecido e o bicho volta a ter as festas do costume. E se formos roubados, por um amigo? Contentar-nos-emos com a penalização legal? Será que lhe vamos perdoar alguma vez? Porque será mais fácil perdoar aos animais que aos nossos semelhantes?
3. O Paulo Portas voltou a falar. E descobriu que a causa do desemprego em Portugal são os imigrantes. Claro, os pretos, não é PP? Assim que os conseguir mandar para África vamos deixar de ter desemprego, vai haver uma corrida para as carrinhas paradas junto ao Colombo a contratar pessoal para as obras às 7 e meia da manhã. Todos brancos ou terão de ser loiros também? E fica também resolvido o problema da habitação. Casas abarracadas para todos os brancos desempregados e baratas devolutas nos bairros periféricos da cidade. É da natureza dele.
A boa novidade é que retitrando o socialismo da constituição, o emprego sobe em flecha, passaremos a ganhar como os Europeus e por aí fora. O homem anda com pouca imaginação ou tem mais vocação para partir governos do que para construir. Ele agora nem pode celebrar a recusa dos suecos aderirem ao euro... deve ser por isso que lhe dá para estas coisas. Ou então está a preparar-se para ir com as Forças Armadas para o Iraque...

sábado, setembro 13, 2003

Pausa

Haja agora um intervalo de fim de semana. Finalmente, consegui escrever 3 dias seguidos para mais tarde recordar. É esta a principal finalidade destes registos. Teria sido bem engraçado ter agora, por exemplo, as recordações do crescimento das filhas, os pormenores de quando nos diziam... Pois, terei de ir procurar nos apontamentos, não me lembro.

sexta-feira, setembro 12, 2003

Depois de um dueto imprevisto (com cenário vermelho) na SIC Notícias

Há gente assim, daquela que nega a evidência. depois de afirmarem o fim das classes, agora insistem que as guerras não estão baseadas nas desigualdades, na existência de pobreza e riqueza, mas antes em ideias religiosas, em conceitos filosóficos profundos. Sempre que olho um miúdo a apedrejar tanques israelitas, terei, segundo eles, de passar a ver um filósofo ou um alienado religioso e não um tipo sem esperança de coisa nenhuma. São seres manipulados por, imagine-se, elites ricas, que o fazem em nome de convicções medievais. Por que será que nenhum desses seres do mal consegue recrutar seguidores para a acção entre habitantes de regiões do globo bem instalados na vida, por exemplo, na Escandinávia?
E como é possível aceitar-se o crescimento da desigualdade como uma fatalidade? Como se tudo isso fosse próprio da natureza humana. Sem um pouquinho de indignação. E seguem em frente sem olhar para os lados, vidrados no vazio.
Ao menos isso, pareceu-me que estava a mudar em New York quando lá estive em Junho. Pareceu-me haver algum olhar para o lado, para os outros, ao contrário daquela coisa que me irritava das outras vezes que lá tinha estado: aquele seguir em frente, alheado de tudo, com sorrisos falsos politicamente bem educados. Teremos de passar pelo sofrimento extremo para nos comportarmos humanamente? Não bastará aprender com a História?

quinta-feira, setembro 11, 2003

Em nome de quê?

11 de Setembro... já lá vão 30 anos. As coincidências são incómodas. É difícil falar-se hoje apenas do terrorismo de há dois anos, esquecendo o outro. Com efeito, faz agora 30 anos, uma acção terrorista derrubou um Presidente eleito democraticamente, que governava com apoio popular apesar do boicote surdo, mas enérgico do Imperialismo americano. Faz agora 30 anos e os documentos classificados vão ser cada vez mais expostos e a história vai escrever-se. Quem hoje fala em democracia, foi terrorista, então. Ou melhor, o conceito de democracia, na linguagem da elite americana dominante tem outra dimensão, é o sistema que permite a manutenção da actividade de rapina (no Chile havia uma operação Condor....) das grandes multinacionais americanas pelo mundo fora. Quem se opuser é anti-democrata, quem servir esse sistema (mesmo que seja um qualquer senhor medieval dirigente da Arábia Saudita) será um democrata.
Fundamentalismos são fundamentalismos, venham de onde vierem e devem ser tratados de forma igual. Só que no mundo livre da nossa televisão, o Chile passa à uma da manhã, a memória de há dois anos o dia todo e em prime time...
Esquecem-se, tenho esperança, que o fim da história não é isto onde estamos...
Há dois anos o mundo também ficou diferente, corremos mais riscos agora. Impressinou-me ouvir hoje a longa lista de atentados e mortos desde então. Inocentes. Como inocentos eram os que foram fechados no estádio e ouviram Victor Jara. Como inocente era o Allende, exemplo de Presidente que caíu de pé, no Palácio onde o Povo o colocara, com a dignidade de ter evitado chacinas ao não convocar o povo que o apoiava para a rua. Sim, os terroristas de então, teriam assassinado sem piedade muitos mais milhares do que os que caíram em NY faz agora dois anos.



quarta-feira, setembro 10, 2003

Indiferença

O mais chocante é a falta de curiosidade. Passar-se uma visita de enfermaria (fora de horas já é habitual...), mas ainda por cima com diálogos ao nível da Bancada Central, num hospital universitário onde novidades terapêuticas são ouvidas sem questionar nada, é deprimente. Que aconteceu para não se questionarem mecanismos de acção, efeitos adversos, poblemas éticos? Tudo parece ser natural, a maior das rotinas. A grande rotina da indiferença perante tudo, a pensar não se sabe bem em quê.
A depressão aumenta ainda mais quando se percebe ou me apercebo que esta é uma atitude geral perante todas as coisas. Ouvimos indiferentes os atentados, as invasões feitas com pretextos que não existiam afinal e ficamos indiferentes. Até que a bomba nos estoire debaixo dos pés e, indiferentes, explodamos em pedacinhos pequeninos. Aliás, depois deixaremos de ser notícia. Fomos só mais um pedacinho do espectáculo, do show que tem de continuar. Estamos todos pendurados das imagens, mas não as digerimos, apenas as olhamos como algo consumível e que rapidamente se deita fora. Será que isto começa em pequenino quando necessitamos tanto dos brinquedos, mas só até os termos? Por que fazemos isto aos nosso filhos?
E estamos na véspera do dia que mudou o mundo. Dantes eram precisos 10, agora basta 1. Sinais de que estamos mais rápidos, mas também muito mais indiferentes. Vamos voltar a ver as imagens todas de torres a cair, com os habituais comentários do horror, mas sem ninguém a perguntar porquê. O mais fácil é sermos os bons e eles os maus. Assim, tudo muito simplesinho como comer hamburger com batatas fritas (congeladas, evidentemente).