Subitamente, este ano, foi invadido por uma necessidade urgente de salvar o Natal. Aconteceu quando entrei há dias num Centro Comercial e deparei com o ar alucinado dos frequentadores. Má cara, ansiedade, cansaço, ar de derrota. Um ar de estou por tudo, quero é safar-me disto depressa. Andar de vamos lá a despachar isto, quase de castigo.
Não admira, depois de se andar um ano inteiro a tentar sobreviver sem olhar para o lado, estão destreinados desta coisa da solidariedade. Uma palavra em vias de extinção. O Natal começa a ser uma realidade contranatura. Transformou-se em mais uma época de consumo. E é nesta altura que a chatice do consumo atinge o máximo e se torna insuportável ou apenas se aguenta num estado de alucinação. O Natal, este Natal, é triste de ver.
Mas se calhar ainda é possível haver outro.
Medidas de emergência para salvar algo ainda do Natal deste ano:
1. Levar necessariamente um sorriso nos lábios. Facilita o diálogo com os vendedores, coitados, completamente cilindrados pelas enchentes de clientes.
2. Não levar ideias muito bem definidas do que se quer oferecer. Isso, geralmente, não existe à venda. Deixemo-nos contagiar pelo que via surgindo. No fim das contas ainda há algumas coisas engraçadas por aí.
3. Sorrir outra vez quando chegar a hora de pagar. Ficar feliz porque a fila já acabou.
4. Não ir a seguir para a fila dos embrulhos. Tem muito mais piada comprar papel e fitas de seda e ir para casa treinar-se na arte do embrulho. Assim, se evita ter as prendas todas rotuladas com as marcas das lojas, o que faz perder toda a graça. Que isto de dar é a arte da surpresa.
5. Olhar para o tempo gasto nas compras como um tempo ganho (incluir o tempo de filas de automóvel, a procurar o estacionamento). Afinal para que queremos o tempo, será o resto tão necessário e inadiável?
Para o ano que vem e para todos os outros
Começar o Natal em Janeiro, dedicando uma compra ou duas por mês para uma ou duas pessoas. Tem a vantagem de estendermos o espírito da época, o verdadeiro, a todo o ano. Pensar nos amigos o ano inteiro sem stresse, com a calma e o cuidado que nos devem merecer os amigos em todos os dias do ano.
Talvez assim se possa fazer um Natal que valha a pena.
Possivelmente, escrevi tudo isto porque quando desejava Boas Festas a uma doente hoje, ela me disseque esta era a época do ano que mais odiava. O Natal para ela era uma espécie de insulto.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt
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