domingo, setembro 21, 2003

Bem comum

Ontem vi serviço público na RTP2. Um documentário canadiano inserido no programa Sinais do Tempo. É de aproveitar antes que acabe!
Falava de bens comuns, o que nos tempos que correm de individualismo selvagem já é quase uma heresia. De forma bastante objectiva foi-nos mostrado que a água, as sementes, a genética, a saúde, as moléculas base dos medicamentos não podem ser consideradas como meras mercadorias. São propriedade colectiva (que horror!) da vida de todos nós. Que lucidez e é tão simples.
Nestes tempos de destruição sistemática do Serviço Nacional de Saúde através do sofoco financeiro dos hospitais públicos para os tornar baratinhos na hora da aquisição pelos privados era bom que alguém tivesse visto a angústia da médica que negou o transplante cardíaco ao doente (matando-o!) e com isso foi promovida (por ter aumentado o lucro do hospital). Era bom que perguntássemos às pessoas se é esse o caminho que querem. É tempo de substituir a miserável pergunta se querem que os impostos sejam aumentados, pela outra que poderá ser querem que os impostos sejam mais bem aplicados? Se calhar, queremos. Queremos ser solidários com os doentes e não defender o ponto de vista individualista e miserável que manda pagar quem está doente. Com efeito, se não tenho doenças por que hei-de pagar? É do individualismo mais abjecto! Pior que isso, só mesmo o negócio da saúde, que no limite consiste em ganhar dinheiro à custa da infelicidade dos nossos semelhantes (era assim que se dizia dantes).
É triste ver os médicos quase entusiasmados com a perspectiva de deixarem de trabalhar para o maldito Estado sem se darem conta que vão mudar apenas de patrão. No entanto, o Estado era ainda controlável, os novos patrões respondem apenas perante os accionistas e não perante o Povo. E o bem estar dessa gente (o lucro) é afinal o prejuízo de todos os utentes que vão ter de pagar pelo serviço o custo mais o lucro.
É urgente lutarmos pela nossa água comum, pelas nossas sementes comuns, pela nossa genética ou qualquer dia os nossos corpos ainda acabarm propriedade registada destes accionistas. As nossas acções (luta sem tréguas contra este estado de coisas) são urgentes! Mas anda tudo cego? Alguém vai aceitar contratos individuais de trabalho nos Hospitais?

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