sexta-feira, outubro 10, 2003

Já que ninguém diz

Para um observador independente como eu (saiu-me bem esta!), esta história do Paulo Pedroso é curiosa e merece algumas reflexões. Discute-se agora muito se devia ou não ter ido à AR depois de ter sido posto em liberdade, se a Justiça está a ser politizada e mais isto e mais aquilo. É claro que se fosse um cidadão qualquer, as televisões não transmitiam em directo a saída da prisão (até parecia o Mandela...) e se calhar o homem tinho era ido ter directamente com os pais e a namorada depois de apanhar o autocarro ali na rua. Se não houvesse televisões, mesmo que tivesse ido ter com os companheiros de trabalho, não teria nenhum efeito. Portanto, o problema não é os políticos terem os mesmos direitos que os cidadãos comuns, o problema são os meios de informação. Este Big Brother em que se transformou a nossa vida está a dar cabo da gente. Até porque se não fossem as TVs se calhar nem havia nada daquela recepção e festa. Muita desta festa é para a imagem ou seria festa genuína sem relevância política. Ponha-se uma câmara à frente de alguém e logo a mão passa pelo cabelo, se fica a pensar no melhor plano e se o som está aberto acabam-se as bocas. Deixamos de ser nós. Não se deve confundir a imagem com o real. E o risco maior é deixarmos de ser reais mesmo quando não há câmaras e passarmos a estar sempre a pensar na imagem que estamos a passar. No fundo, se calhar o Paulo Pedroso não pensou na imagem e deixou-se ir um pouco pela realidade que ia dentro dele e deu esta embrulhada. Moral da história: com os jornalistas, todo o cuidado é pouco.
E nesta confusão toda acho estranho que ninguém peça contenção aos meios de informação. Seria menor o share, menor a receita, mas todos ganhavamos. teríamos a possibilidade de ser um pouquito mais autênticos.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

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