quarta-feira, setembro 10, 2003

Indiferença

O mais chocante é a falta de curiosidade. Passar-se uma visita de enfermaria (fora de horas já é habitual...), mas ainda por cima com diálogos ao nível da Bancada Central, num hospital universitário onde novidades terapêuticas são ouvidas sem questionar nada, é deprimente. Que aconteceu para não se questionarem mecanismos de acção, efeitos adversos, poblemas éticos? Tudo parece ser natural, a maior das rotinas. A grande rotina da indiferença perante tudo, a pensar não se sabe bem em quê.
A depressão aumenta ainda mais quando se percebe ou me apercebo que esta é uma atitude geral perante todas as coisas. Ouvimos indiferentes os atentados, as invasões feitas com pretextos que não existiam afinal e ficamos indiferentes. Até que a bomba nos estoire debaixo dos pés e, indiferentes, explodamos em pedacinhos pequeninos. Aliás, depois deixaremos de ser notícia. Fomos só mais um pedacinho do espectáculo, do show que tem de continuar. Estamos todos pendurados das imagens, mas não as digerimos, apenas as olhamos como algo consumível e que rapidamente se deita fora. Será que isto começa em pequenino quando necessitamos tanto dos brinquedos, mas só até os termos? Por que fazemos isto aos nosso filhos?
E estamos na véspera do dia que mudou o mundo. Dantes eram precisos 10, agora basta 1. Sinais de que estamos mais rápidos, mas também muito mais indiferentes. Vamos voltar a ver as imagens todas de torres a cair, com os habituais comentários do horror, mas sem ninguém a perguntar porquê. O mais fácil é sermos os bons e eles os maus. Assim, tudo muito simplesinho como comer hamburger com batatas fritas (congeladas, evidentemente).

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