sexta-feira, outubro 24, 2003

Formação pós-graduada

Estas reuniões de formação pós-graduada são cada vez mais deprimentes. Na sala estão os prelectores, alguns internos mais ou menos obrigados e pessoal auxiliar. Eventualmente, alguns médicos amigos do promotor na estratégia ora agora levas-me tu, ora agora trago-te eu. Depois cumprimentamo-nos muito e felicitamo-nos e desejamos que tudo continue. Pois que continuem a aparecer medicamentos novos cada vez mais caros para que o investimento seja compensador nestas reuniões de (não sei se diga...) drug dealers.
Os temas são sempre os mesmos: a acromegalia, a terapêutica da obesidade (como se existisse alguma), o tratamento da baixa estatura (como se fosse doença) e da diabetes (como se ainda houvesse novidades). Uma nascente de fármacos novos a precisarem de ser vendidos! Eu não acredito que neste país com reuniões destas todos os fins de semana, ainda haja algum médico que já não saiba esta treta toda de cor!
Mas quando aquele cirurgião defendeu a compra e venda das bandas gástricas adorei. Os maus do Governo ou das SA não querem pagar, quando aquilo até é bom para o Hospital... E para os doentes, claro, sobretudo e até para mais ninguém, obviamente. Não podemos voltar para trás! Para os tempos de fome e da magreza. Claro, é fartar vilanagem, que no fim há sempre uma banda que espera por si. Essas coisas da prevenção são muito bonitas mas o progresso é o progresso e o modelo americano... Modelo americano, ora aí está. É exactamente aí que bate o ponto: o caminho é não ir por aí! O modelo está errado! O MODELO ESTÁ ERRADO! Alguém ouve? É preciso dizer às pessoas que está errado, que o caminho é outro. Depois as pessoas irão dizer aos senhores da política que não senhor, que esse modelo mítico é uma merda e que não votarão neles se eles não o rejeitarem e depois já é fácil. O dinheiro começará a ser investido onde deve ser. Curioso que na Holanda e nos países nórdicos a obesidade não aumenta estupidamente!
Por cá o negócio é promissor. A fazer fé nos resultados apresentados, teremos cerca de 40000 supergordos neste país. Logo, a solução será criar-se uma especialidade e serviços só para os cuidar, onde só se faça este tipo de tratamento. Vão ter para aí umas 200000 consultas e ainda há quem diga que isto é para especialistas!!! Será mas para esses superespecialistas em supergordos. Que tem a ver com isto a endocrinologia?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

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