sexta-feira, dezembro 31, 2004

A luz


A luz... Posted by Hello
São frágeis e trémulas estas luzes, mas contêm a força da pureza de alguma esperança. Vão durar nas cabeças das mãos que as seguram. Mais logo, outros fogos saltarão, fortes, mas fugazes, sem este poder de iluminação. As pequenas luzes, por vezes, iluminam bem mais do que os grandes holofotes que nos cegam.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Sorrisos pela vida


O sorriso angustiado, com as mãos cheias de nada, na espera da ajuda (imagem Reuters) Posted by Hello

Forças do mal

Como sempre acontece, quando o mar bate na rocha, são sempre os mesmos que se lixam. Agora bateu bem forte e lá estão os mesmos de sempre. Sempre as mesmas vítimas, independentemente da força do mal que gerou a desgraça. Desta vez, a força do mal foi natural. Natural não foi a outra força do mal, que sabendo que a onda vinha aí com uma hora de antecedência, esperou três horas para dar a notícia, para avisar os mexilhões. Aparentemente, em nome da defesa da imagem do turismo tailandês. Esta gente que sempre se governa com e pelas imagens... O resultado são milhares de mortos, um número sempre a crescer que hoje chega já aos 70000 e amanhã, talvez, aos 100000. Curiosamente, 100000, o número que a Lancet publicou sobre mortos na guerra do Iraque, inspirada por outra força do mal, os chefes do Império.
Se as forças do mal são naturais, aceitam-se. Menos aceitável é a tolerância com que se encaram as outras, as anti-naturais, que se movem por interesses pequenos e que são tanto ou mais perniciosas que as primeiras.
Que tal fazer como este grupo de cidadãos britânicos que escrevem ao PM Blair pedindo responsabilidades?

terça-feira, dezembro 28, 2004

Notas pós-natais

Tantos natais num mundo pequeno.

A culpa mais uma vez foi dos chineses. Encheram-nos o país de Pais Natais a trepar pelas paredes numa prova provada de que o Pai Natal não existe. Os muitos acabaram com o um. O Pai Natal tem de ser único. Se há muitos, deixa de existir. Os velhinhos ficam ali ao sol e à chuva sem conseguirem chegar à chaminé. Depois do paisito da bandeirinha, temos um país coca-colado.

O Natal foi frio e seco para desmentir os meteorologistas mais uma vez. Esteve igual e sem garra. Foi também uma contemplação de silêncios angustiantes. A fuga do humor ninguém sabe bem para onde. Uma onda gigante sobe e cai desamparada sobre tudo à volta, esmagando injustamente, reforçando a resignação. Todo o mundo pode deixar de ter sentido ao lado do silêncio. E dentro dele, como será?

Depois a fúria da Terra, a desmoronar-se no fundo dos mares. A contabilidade dos mortos sempre a aumentar. Debaixo da onda, na demonstração da impotência. Bizarramente, na altura em que se comemora o nascimento do Menino, ficamos a saber que outro menino foi arrancado dos braços da mãe. Não entendo estas fúrias dos deuses. Nós a celebrá-lo e logo acontece isto.

Só o grande Santana nos veio lembrar que é tempo de perdão, não deixando de afirmar o não perdão aqueles que fazem o que ele não faria. Se perdoasse não diria, não é?

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Oportunidade perdida

Não me interessa saber quanto custa publicar um suplemento de jornal para divulgar o que o Governo anda a fazer. Fazer publicidade aos actos que devem ser para melhorar a vida dos cidadãos, isso é que me preocupa. Será que são tão insensíveis que não sentem na prática as boas acções dos governos?
O que eu gostava hoje era de ter visto o candidato a substituto do actual governo vir a público dizer esta coisa muito simples: quando for Governo, proibiremos gastos institucionais que visem a publicidade aos actos dos dirigentes. Já ficava a saber de uma mudança. Assim, nada me garante que não irei ver com estes os mesmos outdoors a dizerem que fizeram e aconteceram...
Está triste esta terra.

terça-feira, dezembro 21, 2004

A consciência do carimbo

Eles são, na verdade, apenas números. Por isso, a ligeireza do carimbo no anúncio de que passaram a esta categoria. De repente, o sobressalto causado por alguém que se lembrou de pensar e pôr em causa esta coisa da relação custo-benefício. Na verdade, é diferente o preço de um minuto Rumsfelf do de um funcionário menor. Segundo a lógica de maior rentabilização possível dos recursos, o carimbo estava absolutamente certo. É como tantos outros princípios sem princípios, por exemplo, o utilizador-pagador. E do fundo da América, eis que emerge esta ideia contra-corrente de que afinal não cabe tudo nesta falta de princípios. Há, pois, limites para esta selvajaria liberal.
Alguns imaginarão que, ainda assim, pedir desculpa é bonito. Apesar de tudo, a loucura procura o perdão e vai agora começar a fazer como sempre deveria ter feito. Até pode ser pedagógico, tomar consciência pessoal do que anda a fazer, ter a noção de que também ele tem responsabilidade neste blog de várias postagens diárias. Por baixo da mão dele vão passar diariamente as cartas, vai ser mais real para ele, apesar de tudo. Que lhes faça bem ao sono e o não deixe dormir tão bem! O melhor seria, seguramente, ter de ir pessoalmente a casa das famílias contar as novidades.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Coitadinho

Já não bastava o que lhe aconteceu e revelou finalmente ao país, o grande Santana agora ainda é acusado pelo Expresso de ter guardado um hospital para ele. Mas, bem vistas as coisas, será que quem revela que «Tenho as costas cheias de cicatrizes das facadas que levei» (sic na TVI) não tem direito a assistência médica? Assim que haverá de estranho na recente revelação do Expresso: O 1º-MINISTRO, Pedro Santana Lopes, requisitou ao INEM o equipamento de emergência reservado ao acompanhamento de altas individualidades, fazendo-se acompanhar permanentemente por esses meios de socorro, no país ou no estrangeiro. O equipamento, uma espécie de unidade de cuidados intensivos móvel, foi solicitado ao Ministério da Saúde sob confidencialidade antes de Santana Lopes ir ao Brasil, em meados de Setembro, não tendo sido devolvido
Sinceramente, o que eu estranho é que não tenha feito queixa à Judiciária e não tenha posto no olho da rua a legião de guarda-costas que arranjou e o acompanham. Não sei mesmo se até o Ministro da Defesa não deveria ser responsabilizado. Afinal, sempre foi um ataque a uma figura do Estado. Se não pediu protecção a este, possivelmente, foi por prever que as facadas ainda não acabaram, embora historicamente, o homem que nos defende, pareça ser mais dado a sopas envenenadas... Realmente, nos dias que correm, todo o cuidado é pouco, coitadinho do homem!
E como se tudo isto não bastasse, agora até os aviões que o transportam se atrasam e não o deixam chegar ao Porto a horas. Há mesmo pessoas que não nasceram para ser Primeiro Ministro!

domingo, dezembro 19, 2004

Um país de fé

Continuam a fazer contas, como os alunos, que em vez de estudarem as matérias, vão imaginando as médias que poderão ter se... Se e mais se e depois as contas saem furadas e a média não chega e em vez dela chega antes a depressão.
O país agora rege-se pelo cálculo, não o matemático, mas o do golpe que melhor enganará a seu favor os idiotas que os mantêm. Primeiro, foi o casamento feito e desfeito vezes sem conta. Lá decidiram a separação, por nada de substancial, mas apenas porque parece ser mais eficaz em termos contabilísticos. Que diferenças programáticas apresentarão para que um tipo de direita vote no CDS ou no PSD? É um dilema, bolas! Afinal eles têm um programa comum, para quando forem maioria e antes também têm dois programas comuns? Votar à direita vai ser uma questão de fé.
Depois é a chamada esquerda com o pobre do líder da esquerda moderna a pedir sempre a maioria absoluta. Ainda não pensou bem no programa, a sua única preocupação é ter a tal maioria que depois lhe permitiria fazer o que lhe apetecer. O homem quer os votos também na base da fé. Se acreditam em mim, votem em mim, é a sua mensagem Só que nós gostamos de votar em algo mais real e concreto e sem necessidade de fé.
O pobre do Bloco ora se liga ora se desliga. Não sabem muito bem o que será mais conveniente. Não, não se trata de conveniência política de execução de um determinado programa, mas somente de conveniência estratégia. Que efeito terá dizer-se que se vai apoiar o PS? Como irá comportar-se a fé, perante tal dito?
Finalmente, o PC pede a não-maioria absoluta. Também sem especificar nenhum programa. Também apelando a uma questão de fé (até estes, santo Deus!). Apenas para depois poderem ter algum poder de intervenção, alguma negociação mais ou menos limiana.
Acho que todo este apelo a fé, que vai de uma ponta à outra, só existe porque deixaram de ter fé na inteligência deste povo, porque desprezam o seu saber. Espero que estejam enganados, ou seja, ainda tenho fé. Eu, o último dos crentes.
Mas era bem melhor, mais mobilizador que a discussão fosse outra, mais real, terrena. Que analisassem, por exemplo, até que ponto isso da inevitabilidade das privatizações da saúde, do ensino, da segurança social é assim tão inevitável. Que dissessem o que pensam exactamente sobre este tema para se perceber quais as diferenças entre o PS e o PSD, por exemplo. Afinal, parece que nem tudo é assim tão linear e tão definitivo. Parece que a história ainda continua. Numa das pontas da Europa,como na Gália, resiste-se ao modelo e com êxito, perante as loucuras imperiais. Sem alargamento do número de excluídos na saúde, por exemplo. Parece ainda haver lugar para o Estado, um Estado melhorado, mas com solução para o problema que afinal o Privado não resolve. Afinal a Finlândia, terra de impostos elevados, parece ser competitiva e não fica propriamente em Marte, está dentro do Mercado global... Afinal, como diz Boaventura Sousa Santos, A economia de mercado só é socialmente útil se a sociedade não for de mercado. Para isso, é necessário que os "bens sociais" como a saúde, a educação e o sistema de pensões sejam produzidos por serviços públicos, não sujeitos à lógica do mercado. Uma coisa é reformar para viabilizar o sistema nacional de saúde, de educação e de pensões (Finlândia), outra coisa é privatizá-los sob o pretexto de que são irreformáveis ou inviáveis (Portugal).
Será que vai haver tempo para se discutirem temas simples como este ou não mereceremos mais dos políticos que temos do que cálculos de como nos poderão melhor enganar?

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Gestos

Vir de propósito ao hospital e pedir uma receita de um medicamento apenas para chegar à fala com o médico. Como se fosse clandestino. Depois, abre o jogo e diz-me, doutor posso deixar-lhe estas garrafas de vinho do Alentejo? Como se de uma carga secreta se tratasse. São coisas destas que me fazem sorrir.
Para explodir tenho os comentários de quem nunca pode ver mais um doente dos que os que tem marcados, venham eles de onde vierem, às vezes de mais de cem quilómetros.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Farto

Mas só irão discutir políticas de alianças, só contabilidade pré e pós eleitoral? Mas os jornalistas deste país não conseguem ter mais curiosidade, perguntar ao Engº candidato a PM, o que vai fazer exactamente, em que vai ser diferente do Dr. ex-PM? Não é nas linhas gerais que são diferentes, aí da extrema direita à extrema esquerda, todos vão fazer as mesmas promessas. Têm de ser questionados no concreto, espremidos ou ficaremos com a noção habitual de que são todos iguais e depois a abstenção ganhará as eleições. É isso que se quer, desacreditar ainda mais a dita democracia?
E a horda de potenciais abstencionistas também tem de ser responsabilizada. No fundo se acham que os políticos não servem, substituam-nos!

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Estou bem com o tempo

Não me entusiasma a ideia de serem 2 vezes 25. Isso seria voltar a um tempo de muitas dúvidas e caminhos de grandes inclinações. Não, não encontro vantagens nessa adrenalina, prefiro o caminhar em terreno plano ainda sem horizonte à vista. Felizmente, tenho a lucidez suficiente para perceber que não tenho 25 e também a sorte de estar bem comigo nos 50, sem saudades dos 25. Já me habituei ao contínuo do tempo e percebi o que são os artifícios dos relógios. Só neles a fragmentação existe, na realidade o tempo é uma sucessão sem paragens nem mudanças, um empilhar de peças sem fim. Quando se olha para baixo (ou para trás) podemos deliciar-nos mais ou menos com a perfeição da torre que as peças formam. É no cume dela que continuamos e pouco importa imaginar outros caminhos, quer antes quer em frente. É nesta altura, talvez só muito recentemente, que comecei a gozar o prazer de estar neste momento, sem inquietações, numa observação serena da paisagem.
Não tenho nenhuma ciência do viver, mas as coisas têm saído bem, espontaneamente. Até as grandes obras, que todos, alguma vez na vida, sentimos ter de deixar, já aí estão nas dúvidas próprias dos seus tempos, aparentemente bem cimentadas e prontas para o caminho. Um dia talvez cheguem a este patamar de contemplação e tenham a sorte de apreciar, como eu, que 50 é melhor que 2 vezes 25. É o que lhes desejo hoje.
Por coincidência, foi também este o ano em que os 2 fizemos 25 anos. Só neste contexto, melhor que 50, é 2x25 e o caminho está aí à espera da continuação da caminhada, na descoberta de novos horizontes e paisagens, no gozo mútuo das surpresas tranquilas dos sentidos.
Aqui chegado, tudo o resto é muito pouco, momentos de passar, passatempos apenas. Mas até esses foram momentos de sorte. Foi cheia a estrada da clandestina certeza da chegada à luz naqueles tempos do breu. Aquela manhã em que o exílio desapareceu no horizonte e surgiu, de repente, a possibilidade do caminho ser aqui. Mesmo a amargura de Novembro acabou por ser bem vinda. A vida se encarregou de lhe dar algum sentido. Teria sido outro o caminho, também com alegrias, que isto de bem-estar é mais um estado de espírito. E agora, a felicidade, de na descida à escuridão, saber que somos mais e mais a resistir. Um destes dias, quem sabe, de novo irromperá a madrugada. Tentarei fazer por isso.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Finalmente

Finalmente a decisão da separação por ordem das bruxas. Ainda assim, fica o desafio de tentar perceber em que diferem aqueles que de trapinhos juntos viveram estes mais de dois anos. Ah pois!, não foram só uns mesitos. Irão separados para parecerem diferentes? Pensarão que a memória é ainda mais curta do que é? Ilusionistas!
Vai ser curioso ouvi-los e será que o Paulinho vai correr as feiras ou será delas corrido?

A palavra às bruxas

Do caldeirão das bruxas continua a sair um fumo negro e o minuto vai acabar por entrar no guiness. Este país pequenino de longos minutos vazios enquanto as bruxas decidem.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Olhares para dentro

As dificuldades de ser diferente e ao mesmo tempo tão igual a tantos. O corpo e a sua importância para que nos aceitem ou será ao contrário? No fundo, a incompetência para ser-se regrado e controlar os impulsos pelo chocolate ali ao pé.
Olhem para mim, uma tradução estranha, no sentido de alguém que procura a sua imagem sem a encontrar como quer e, nessa busca, fica cego ao que o rodeia, possivelmente, ao mais importante e eterno. Angústias de meia idade pela futilidade do êxito transitório.
Também mais um retrato do meio em que se move a fauna dos artistas, intelectuais e que tais.
Gostei de ver ontem pela manhã.
E no dia dedicado às artes, a tarde no Teatro a ver «Democracia». Assim, estaria melhor, com aspas, que este conceito é complexo. A história de Willi Brandt e o seu traidor espião de leste. O relacionamento de pessoas e a história e as angústias da vida pública, na evolução das ideias, na procura de se estar no tempo em que se está, com os olhos postos no futuro. A vertigem dos jogos dos partidos, a interminável sacanice dos homens e a ascenção do poder da imagem, do efeito inesperado nas massas ululantes, os excluídos da democracia. Poderá haver democracia, se continuarmos na história de personagens e figurantes? A peça corre o risco da identigficação do seu título com a queda de um muro. A queda daquele muro não é tanto o início da democracia, mas muito mais a vitória de um sistema, o liberalismo, ele próprio gerador de muitos muros que bloqueiam o caminho até ela. No fundo, naquele dia criou-se a ilusão do fim da história, da inevitabilidade do primarismo selvagem da hipervalorização do individulal sobre o colectivo. Não me parece que seja este olhar para cada um de nós e a cegueira para com o que está à volta, que nos vai levar onde queremos ir. Teremos, definitivamente de olhar para fora de nós, para o importante e eterno. Até lá teremos democracia, mas apenas com as aspas. O poder do povo virá quando a indiferença acabar e todos participarmos.

domingo, dezembro 12, 2004

O longo minuto por culpa das bruxas

Pronto, o Sr Lopes demitiu-se! A partir de agora, fica o exemplo para quando se é despedido com justa causa. No dia seguinte, telefona-se ao patrão e diz-se, fique sabendo que me demito! Não faz mal este país não ter governo. Desgovernado já andava antes... Evolução na continuidade, portanto. Nada de novo. E afinal, vários dias depois de o PP já saber muito bem o que ia dizer ao País no minuto seguinte a falar o PR, aqui estamos roídos de curiosidade sem sabermos se, afinal, temos ou não casamento... E o António até já tinha feito o retrato. O homem lá faz aquela cara de general, peito feito, menear de cabeça, olhos projectados ora para baixo, ora para cima, (quanto tempo passado ao espelho!) mas sobre a ligação, nada para decepção deste país.
Parece que foram à bruxa (que ele até já foi perito dessas técnicas quando andava de Jaguar), mas como acontece nestas coisas, os resultados das consultas não serão muito concordantes... Terão de consultar mais? E o minuto vai crescendo...e nós à espera

sábado, dezembro 11, 2004

Imagem de casamento anunciado


(Antonio, no Expresso, hoje) Posted by Hello
Não resisto a mostrar...

O casamento do dia

Conheço vários tipos de casamentos, os por amor, os por conveniência e os por necessidade. Os primeiros são aqueles que mais gratificam os que têm esse privilégio e os familiares, geralmente são os que melhores frutos dão. Os segundos agradam à família, apesar da indiferença das partes. No futuro há uma sobrevivência garantida. Os casamentos de necessidade são tolerados pelos familiares apesar da tensão dos noivos e por todos são vividos com grande apreensão. Mas afinal, a necessidade justifica o acto e o futuro logo se vê, mas não se antevê que seja brilhante. A necessidade, contudo é inultrapassável. É uma aposta de jogadores à beira da falência.
Julgo pertencer a este tipo, o casamento que anunciam hoje mais para o fim do dia. Um dos noivos já afirmou que só ele é responsável e que todos os erros da relação serão do outro. Mau prenúncio nas vésperas do casório. A família do outro já disse que este não vale nada, é um falido. No entanto, sabe segundo que a língua viperina do primeiro revelará em público todas as confidências feitas entretanto. O casamento permite ao primeiro uma última esperança de continuar vivo à custa da conta corrente do segundo, embora o mais certo seja a ruína dos dois. Mas está naquela de não haver já nada a perder. É-lhe da natureza o risco desesperado. E quando vier o divórcio, logo gritará bem alto a incompetência do parceiro de necessidade de hoje e ainda culpará a família, que assim o orientou agora, numa tentativa de sobrevivência. No fundo, o que é, não o deve a oção sua, foi assim orientado. É o que ele diz, pelo menos.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Sem explicações

Só que isto é muito mais importante que todas as explicações que nos dêem hoje, porque isto não tem explicação. Eles também são gente e vivem no mundo em que estamos. Farto de política de vistas curtas, este sistema económico está profundamente errado, é preciso mudá-lo, as reformas são urgentes. É urgente o fim do Liberalismo, esta praga que nos consome. Há uma série de idiotas que nos governam que precisam ser demitidos e rapidamente:
At risk: 1,000,000,000 of the world's children
One billion children are at risk today from war, poverty and hunger, failed by the world's governments
By Stephen Khan

12/10/04 "
The Independent" -- They are a billion strong. Diseased, malnourished, uneducated, they are a people on the run from wars that take the lives of their brothers and sisters. And they are all children - half the children on earth today.In shocking revelations yesterday, the grim reality of daily life for the world's innocent generation was laid bare. More than one billion children are now being denied the healthy and protected upbringing promised by the 1989 Convention on the Rights of the Child. For them - the forgotten masses - violence, poverty and Aids are all that the year's end will bring. In Darfur in Sudan, wretched shivering souls wait for their parents in refugee camps. In Haiti, they huddle in shelters, having lost homes and parents to floods. In Iraq, they trample through the rubble of bombed-out homes.More than one in six children is severely hungry. One in seven has no access to health care.Despite debt reduction schemes and the vast sums of cash donated by individuals around the world, one factor keeps more than a billion children in a state of poverty. And that factor is war - usually over natural resources such as diamonds, oil and coltan, a mineral used in mobile phones, which are exported to the West.As two reports showed yesterday, perhaps the most chilling statistic of all is the number of young lives snatched by conflict. Since 1990, 3.6 million people have been killed on the front line in wars around the word - almost half of them were children.Survival, though, is merely the start of further great struggles to reach maturity. A billion continue to be "denied a childhood" - 20 million are forced from homes and communities by fighting. The world's political leaders are failing them, according to the United Nations Children's Fund (Unicef). Governments are not delivering on long-held promises to protect their rights.At least 640 million children do not have adequate shelter, while 140 million have never been to school. Safe water is something that 400 million children are denied while 500 million live without basic sanitation. And 90 million starved.From the heart of Africa, where conflict last year tore through nation after nation, to Latin America, where hurricanes uprooted families, and Asia, where floods and landslides swept whole towns away, it is clear that one group of people pays more than any other - the young and defenceless.Yet it needn't be that way. "What we are saying in this report is that choices made by political leaders in many cases are very often negative when it comes to children," the executive director of Unicef, Carol Bellamy, told reporters in London at the launch of The State of The World's Children.Despite signing the UN Convention on the Rights of the Child, many governments are failing to fulfil its principles, the report claims. The convention commits signatories to provide a healthy, protected and decent childhood for every person born.Yet last year, 30,000 under-fives died preventable deaths. And while child mortality rates fell by a fifth over the decade, more than 10 million children perished in 2003.The shadow of Aids lingers long. Half a million children under 15 died of the disease last year and 2.1 million children across the world live with HIV. Fifteen million children have lost a parent to Aids - 80 per cent of whom live in sub-Saharan Africa.Unicef says the solution is clear. Goals set by the UN in 2000 to lift poverty across the globe could be achieved at a cost of £52bn. Last year the world's nations spent £712bn on weapons. And it is those guns, mortars, mines and shells that maintain the status quo of suffering.While more than 1.5 million children died in the front line of combat zones in the years since 1990, the actual number of deaths indirectly caused by war is much, much higher. The true global figure is perhaps impossible to gauge.Another survey into one of the world's most battle-scarred regions was released yesterday and it provides an astonishing picture of death and destruction wreaked by the machines of death. With the security situation once again rapidly deteriorating in the Democratic Republic of Congo, the International Rescue Committee issued a mortality survey which revealed that six years of bloody conflict in the country have claimed 3.8 million lives.Teams of physicians and epidemiologists found that between January 2003 and April 2004, more than 1,000 people a day died in excess of normal mortality rates. Of nearly 500,000 additional deaths, half were children.Tony Blair, who has described Africa as a scar on the conscience of the world, has pledged that Britain will take the lead on ending poverty, debt and war on that continent.His Commission on Africa is about to launch a report setting out a strategy. The challenge before him is great. For this is the continent that remains the ultimate example of international failure. © 2004 Independent Digital (UK) Ltd


Como querem que me sinta, quando me veem com conversas do tipo, não acham que devemos tratar com hormona de crescimento, as crianças que não têm deficiência de secreção, mas estão baixinhas? É que não há mesmo pachorra para alienados!

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Até amanhã

Anda à solta o disparate. O PR lá está hoje a perder um dia de trabalho, a ouvir os partidos que lhe vão lá dizer o que já disseram repetidamente a toda a comunicação social. E que vão repetir até à exaustão, à saída do Palácio. Já sabemos, obrigado!
Fez bem, conduziu bem o processo, foi táctico? Amanhã dirá. A mim pouco me interessa. Apenas lamento que tenha decidido tão tarde. A decisão era há uns meses atrás, porque um governo destes já se sabia o que daria, que teria de ser posto a andar por indecente e má figura. Por isso fez bem, embora tarde. Este atraso tem consequências graves, pois Ferro Rodrigues, malgrè tout, não é a mesma coisa que Sócrates. E haveria Jerónimo se a dissolução tivesse sido na altura certa? Devia ter dissolvido a Assembleia, se o que achava mal era o governo? Claro, a Assembleia deve ser responsabilizada pelos seus actos e ter aceite este governo é razão suficiente para a mudar. Uma decisão política acertada. Ainda espero que não tenha agido tacticamente, isto é, por achar que o PS de Julho não oferecia garantias. O actual oferece bem menos!
Portanto, que se lixe a forma, o conteúdo está certo: todos para a rua! Neste momento estou bem mais curioso com o que dirá o supercompetente PP, que já ontem sabia, mas não dizia. Poderá aceitar uma aliança com este PSD turbulento e mal gerido e safar-se, pessoalmente, a um julgamento popular ou estará numa de afirmação da sua qualidade e não poderá casar-se com Santana e avança sozinho? E Santana, dominado que foi no governo, teme assim tanto o dominador, que precisa de o convencer ao casamento? Fico na expectativa até amanhã, esperando bem, que seja o primeiro dia do fim da vida política destes dois, casados ou separados tanto faz.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Beau Sejour

Lembro-me de puto olhar da varanda do 405 aquele portão grande ali em frente. Na altura, ia-se buscar, na cafeteira, o leite à vaca da quinta das campaínhas. Ainda agora parece que me lembro do calor desse leite ainda morno e puro como dizia a minha avó. Mais tarde a porta fechou de vez. Naquela altura, ainda os eléctricos passavam na Estrada de Benfica. E havia outras passagens a caminho da Carregueira em marcha ou passo de corrida com gritos surdos de Angola é nossa. Alguém me dizia também que de quando em vez no fundo da coluna havia um sussurro que dizia, já foi... Pelo Inverno, aconteciam as cheias e pelo portão jorrava um rio que alagava a Estrada e os carros paravam. Apareciam bombeiros e homens de galochas. Da janela do primeiro andar contemplei muitas vezes a grande quinta.
Mas só agora, entrei pelo portão aberto de par em par. A quinta que foi da Baronesa da Regaleira, de Barões enriquecidos no Brasil e de outros acabou na posse da Câmara Municipal de Lisboa e passou, finalmente, a ser Beau Sejour, com jardins e palácio aberto a todos. Finalmente, foi possível perceber porque pararam os prédios daquele lado da Estrada e sentir um pouco do que era Benfica noutros tempos. Um trabalho de recuperação permite agora realçar o trabalho que os irmãos Bordalo Pinheiro por ali fizeram. Ganhei um jardim onde ninguém estava nesta manhã, como se um lugar de calma não pudesse fazer parte da cidade onde nos movemos. Ainda bem, espero pelo Verão que virá para ali me sentar na companhia de um livro. Poucos vão ler isto aqui. Assim, está garantida a calma desse momento. Os que lerem podem vir, fico bem acompanhado.
PS: Tentei fazer um link para a CML (www.cm-lisboa.pt) para aqui deixar algumas notas mais sobre o Beau Sejour. É isto que se obtém. A câmara da capital de Portugal tem este belo site!!! Pesquisando no Yahoo, ainda encontrei uma saudação do Dr João Soares... O ex-Presidente Santana, actualmente ex de muito mais coisas e que prometia um governo virtual (conseguiu!) era assim que lidava com a informação na Internet. O que ele gosta é de placards pela cidade e centrais de informação.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Há tipos lentos

Três vezes lhe perguntou. As razões de tanta dúvida pergunto eu. Três vezes? Por que terá aquilo que ouviu induzido tanta pergunta? O ralhete deve ter sido forte. Apesar de tudo, mantinha a esperança de algum perdão e perguntou, perguntou três vezes. A resposta veio, como devia, sem perdão. Aqui d'el rei então, que já se não perdoa o imperdoável, que já não se tolera mais a incompetência de um governo prematuro e mal incubado.
Lá mais para o fim da semana, também nós, iremos saber as razões do Presidente. É uma curiosidade. Este país todo já sabe há muito quais as razões porque devia ser demitido este governo. Já todos tínhamos percebido que não havia outra saída. Estranhámos foi a entrada. E perdemos com isto, pelo menos perdeu-se um PS onde o vácuo não governava completamente como agora parece ser o caso.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Land of Plenty

Naquela terra há isto que nem se imagina. Vagabundos que não entendem por que razão não gostam deles, como é possível que alguém que não seja comunista ou terrorista, comemore a queda das suas torres, que esperaram até ao fim que não caíssem e deixassem aquele enorme buraco na Terra da Abundância. E há outros, raros, que viram os outros não gostar deles e vão lá à origem tentar perceber o incompreensível. Talvez levar também a mensagem de que há mais mundos. Quantos americanos vêem Wim Wenders?

domingo, dezembro 05, 2004

Vieira da Silva


Posted by HelloVieira da Silva

Silêncio de domingo

Lisboa fica tranquila neste tempo de domingos solarengos e algo frios num brilho ajudado pelo azul forte do céu. As ruas vazias, o silêncio do jardins de Outono, ali ao pé do Museu, que já foi fábrica de sedas.
Vieira da Silva é uma ilustração deste país que a negou, a comprovação, uma vez mais, de que somos bons artistas e maus patronos (patrões). Um fado triste. Felizmente, há mais mundos e ela teve a sorte de os ir ver. Por isso, hoje a temos no que nos deixou.
Pelas rectas e curvas das linhas dos quadros a tela perde o plano. Da imagem abstracta salta a boca do túnel ou a cidade que se levanta, quase para fora do quadro. É o silêncio da cidade, como o que é visível das alturas de uma torre de vidro em Manhatan. Os emaranhados do silêncio, quer seja nas linhas das cidades, nos jogos de cartas ou de xadrez. Uma tranquilidade sem fim, na transmissão tridimensional da vida que nos mostra. Vem-me à memória o silêncio uniplanar de Mondrian. Só que aqui algo renasceu, pela perspectiva, para a diversão dos olhos.
Esta exposição de Vieira da Silva, actualmente em Lisboa, deu-me ainda uma imagem mais tranquila da cidade onde, por estes dias, todos se esconderam nas compras dos Centros Comerciais.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Renovado

Hoje estou-me nas tintas para o que se passa por aí. Hoje é um dia importante na minha vida. Vou fazer a última urgência nocturna. Tenho reparado que alguns colegas reagem a isto com alguma saudade, alguns até gostam do serviço de urgência, das noitadas mais ou menos em claro. Eu não, aliás, nunca gostei. Ao fim de todos estes anos, também acho que já prestei serviço cívico suficiente. Tenho direito a estar tranquilo sem ter de sentir o dia seguinte a correr lento, as horas meio paradas. Estou ansioso por sentir as semanas de 7 dias, a minha cama garantida todas as noites que eu quiser. :)

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Patético

Luís Delgado ainda estrebucha. Este texto é uma pérola de resistência. Há quem perante a evidência, a negue e, como diz o outro, «quando a evidência está nas coisas e a inteligência não está nas pessoas, nada feito». Mas lá que é patético, é.
Mota Amaral tenta um pequeno golpe. Mas afinal quem anunciou a dissolução da Assemblei foi o PM, antecipando publicamente uma conversa que tinha estado a ter com o PR... Um tiro açoriano...
João Jardim é que sabe: são todos (PR, Cavaco Silva, jornalistas do contnente e mais alguns) uma cambada de comunistas. Já se viu deitar um Governo abaixo só porque vinha aí um maderense... acabar com o provincianismo. ("Tenho a impressão que há em Lisboa quem se assuste com a entrada de madeirenses em funções governativas na República porque toda a gente sabe o que nós pensamos do sistema político e que, nós a irmos para lá, é para meter aquilo tudo na ordem").
Euro News via AvantGo: Contando o início da história: «...Santana Lopes assume a chefia do Governo. A nomeação do antigo presidente do Sporting para primeiro-ministro mereceu uma chuva de críticas vindas de quase todos os sectores». Voilá a grande mais-valia curricular de Santa Lopes! Com um curriculo destes, estava, obviamente, condenado à derrota.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Notas depois do que ouço por aí

Mas é claro que o PSD tem de estar disposto a aprovar o Orçamento. Que outra coisa poderia esperar-se? Certamente que, convencidos de que vão ganhar as próximas eleições, terão toda a vantagem em governarem até lá com este Orçamento e continuarem depois a dar continuidade ao Orçamento que propuseram. Como é que há gente que pode pensar que seria de outra forma? Vão, aliás, mostrar na próxima campanha eleitoral que tinham toda a razão em tudo o que fizeram, que o PR só veio fazer o país perder algum tempo e este coro de unanimidade condenando a ´política deste governo (eu nunca tinha visto tanta gente de acordo desde o Ferraz da Costa à CGTP, é obra!) é que está enganado. Eles são o soldado que marcando passo ao contrário, são os únicos da formatura no passo certo. E ainda se vão rir ao verem o PR assinar a aprovação deste Orçamento e vão dar realce à coisa, se calhar, mostrando a incoerência do acto.
Vai ser uma campanha alegre! O Portas a mostrar que eles é que eram a moeda boa deste governo e o Sócrates a explicar por´que é contra as reduções dos Impostos e por aí além vai haver um pouco de tudo.
Na verdade Sampaio, está a sair melhor do que a encomenda. A estratégia maquiavélica de que falei em Julho parece estar em marcha. O PS agora está mais compostinho, apesar de ter um líder de plástico e a imagem do PSD está bem mais arruinada com o descontentamento generalizado que tanta asneira fez nascer. Estão criadas as condições para uma vitória fácil do PS ou seja para substituir a principal agência empregadora do país nesta democracia de alterne. Dentro da lógica desta brincadeira do papelito dobrado há ainda assim um aspecto positivo; com esta situação, não haverá necessidade de voto útil no PS, o que pode permitir que os que ainda nos não governaram, eventualmente mais votados, possam vir a ter algum papel a partir de Fevereiro, contrariando, de alguma forma, a vitória do novo plástico.

Agitação

Regressado da sua longa viagem a Saturno, eis que chega JPP. Cheio de energia de agit-prop aí está ele a empurrar o Grande Líder e a acusar os jornalistas. Como era bom ser Ministro da Propaganda de um futuro ex-Primeiro Ministro... E só não será se tivermos memória, que é uma coisa que nos tem faltado ciclicamente. Há que estar atento, que o saco de gatos já está a começar a ser desatado e a bulha vai ser grande.
PP passou a noite, à porta fechada, a encher os pulmões. Virá logo, peitaça feita, mostrar como são os bravos da terra. E dirá forte, Eu fico! (desempregado?)

terça-feira, novembro 30, 2004

Governo de indy(gestão)

Acabou!
Afinal o Santana chegou ao fim da lista telefónica sem alternativa capaz.
Agora são só mais uns dias. Depois, não venham atribuir culpas aos outros. Façam o favor de se não enganarem. Uma ajuda: lembre-se do vosso estado de espírito nas vésperas das últimas eleições, das penúltimas e das ante-penúltimas, lembrem-se de como estavam fartos dessa gente. Não deixem que os outros escolham por vocês e escolham os que ainda não foram eleitos. Dos eleitos anteriores já nos fartamos muitas vezes! Nada de alternâncias democráticas, precisamos de alternativas: os até agora não eleitos!

Métodos

-Estou, quem fala?
-Boa noite, sou o Pedro, desculpe incomodá-lo...
-Realmente, são três e meia da manhã, já reparou?
-Não, não tinha reparado, isto desde que durmo a sesta, é assim. À noite, tenho insónias. E hoje fui posto a fazer horas extraordinárias pelo Chefe...
-Mas quem é você afinal?
-Não me conhece? Como é possível que ainda me não conheçam todos? Eu bem me parecia que precisávamos de uma Central de Informação, mas o Chefe não deixou. Bem...
-Não me diga que é o Santana Lopes...
-Claro que sou. Estava a telefonar-lhe porque preciso de alguém para Ministro do Desporto...
-Mas que raio é que lhe deu? Donde é que você me conhece? Não sabe ao menos que eu sou da Oposição? Mas que método é que você usa para escolher ministros?
-Estou desesperado, esgotei a minha lista de amigos. Agora lancei mão da Lista Telefónica, estou a contactar um a um todos os Drs. e Eng.os. Não me diga também que não, por favor...
-Claro que digo! Quem é que há-de querer fazer parte do seu Governo. Não, desculpe lá mas vocês têm empregos muito precários para o meu gosto. Gosto de ter emprego por mais de 3 dias! Com licença.
-Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

segunda-feira, novembro 29, 2004

Às vezes, é preciso desligar a máquina.

Os médicos, com toda a sua generosidade, cometem por vezes erros por excesso de optimismo. Perante casos desesperados e sem retorno, há, frequentemente, a vontade de recorrer a artifícios para manter a vida do que naturalmente morreria por insuficiência interna. Era bem mais piedoso, muitas vezes, deixar morrer o doente. Todos acabariam por sofrer bastante menos. E tanto o fazem quando a vida está bem avançada nos anos, como nos recém-nascidos, muitas vezes com malformações insuperáveis. Nestes casos, as incubadoras e os ventiladores podem fazer sobreviver o malformado durante mais uns tempos, mas, quase sempre, a história apenas leva a um maior sofrimento dos familiares e dos que estão em volta. Como diz o Povo, na maioria das vezes, era bem melhor o Senhor levá-lo, porque quem torto nasce...
Mas como sabemos, nem só os médicos cometem destes erros. O exemplo está aí. Espera-se uma atitude de generosidade, o desligar da máquina. Para isso precisa-se da coragem necessária do Chefe. Será que tem ou assume-se na sua incompetência para o cargo?

domingo, novembro 28, 2004

Fim-de-semana

Parece que a Democracia é afinal o melhor dos mundos, sobretudo porque não existe outro melhor. Assim mais coisa menos coisa, falava Churchill, interpretando a democracia como aquele jogo que se joga de tempos a tempos com uns papelinhos dobrados em quatro. Depois fica-se contente porque ganham os que dantes perderam.. Uns anos depois voltam a ganhar os derrotados de agora. A isto chama-se alternância democrática e continuamos a viver todos infelizes porque a nossa História não é a deles e por isso termina sempre desta maneira diferente. Lembro-me de ouvir o meu professor de História falar de governo do Povo. E lembro-me de na altura ter ficado intrigado quando li que havia escravos lá na democracia em que o Povo governava. No meio de tudo isto não me importava nada de ter uma História feliz, mesmo que não houvesse da tal democracia de que falam tanto. O que eu queria mesmo era ver o Povo a governar!
Por estes dias, tentam convencer-me que votar com o papelinho é mais democrático que votar de braço no ar dizendo a todos que penso desta maneira. Elogia-se uma atitude de cobardia, critica-se a frontalidade. Tenho dúvidas!
Por estes dias, Cavaco Silva faz o discurso de apresentação da candidatura, criticando os maus políticos que aí estão, abrindo o caminho a si próprio (bom político, lembramo-nos todos da altura em que já se não podia suportar mais a sua arrogância). Agora, ouço alguns novos socialistas quase aplaudir o homem, quando ele lhes está a entrar no espaço. Fico espantado!
De repente, vem uma pessoa na auto-estrada e lá caiu mais um Ministro. Já nem há espanto, virou rotina. Só falta saber quem será o seguinte. Mas quando um amigo se refere a outro falando de falta de coordenação e de lealdade... Ainda fico impressionado!
Chove devagar, as pereiras estão castanhas na beira da estrada, o chão das Caldas está forrado de folhas de plátano. Gosto. Só por isso, não acabo um destes dias a olhar para os astros como o JPP.
Adenda: Um dia depois de escrever este texto, encontrei este outro escrito por um prémio Nobel, que também fala de democracia. Recomendo a leitura ( muito mais do que a do meu, claro)

quarta-feira, novembro 24, 2004

O país assiste

Ele bem dizia que ia mudar um ou dois secretários de Estado. Mas já que estava com a mão na massa, mudou também alguns ministros. O homem é mesmo de impulsos.
O país assiste, delicia-se com as celebridades. E a festa continua, cada vez mais louca. Alto astral e fé em Deus.

terça-feira, novembro 23, 2004

Perigo!

O Império continua a atacar, mesmo quando se disfarça de benfeitor e nos quer dar comida. Que acontecerá, quando não conseguirmos produzir alimentos sem o seu apoio? Esta gente é mesmo perigosa. O mundo está a ficar cada vez mais perigoso e em nome de muito pouco, enquanto a informação faz o papel de ópio do povo nos nossos dias, bombardeando-nos com pequenos dramas para nos manter alheados dos verdadeiramente grandes, levando-nos por uma espiral de regressão, sem qualquer esperança de futuro se não pararmos isto.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Verdades e mentiras deste mundo

Basta um acidente de viação para termos duas versões dos acontecimentos, porque nem sempre a declaração amigável é possível. Por que ansiamos por uma informação isenta quando duas forças se combatem numa guerra?
Naqueles tempos, percebia claramente que não chegava ouvir o Telejornal nem ler os jornais para saber a verdade. À noite, lá me punha a ouvir a Rádio Portugal Livre e a Rádio Moscovo. Obviamente, também não contavam toda a verdade, contavam a sua.
Depois de Abril constatámos que assim tinha sido, a verdade era diversa.
Por que havemos agora de só ouvir a CNN? Há mais informação na Net, pelo menos até ver... Aproveitemos, que isto das verdades tem muito que se lhe diga. Mudam-se os tempos, mudam-se as fontes.

A caminho da Amadora-Este

Corremos sérios riscos quando nos confinamos a rotinas e a circuitos mais ou menos isolados de funcionamento. Dantes ia para a escola de transporte público e sempre havia histórias, conversas que se apanhavam aqui e ali. No carro fica-se nas mãos da TSF e de outros que tais que nos mostram sempre histórias idênticas. Ou é o Santana que vai nomear um ou dois secretários de estado (ele nem sabe quantos são, exactamente!) ou o Pinto da Costa a queixar-se dos árbitros e a glorificar o fêquêpê ou um engenheiro da Vodafone a explicar-nos que o excesso de segurança social na nossa vida não é conveniente porque nos tornamos menos produtivos (e nem pergunta para quem e em nome de quê). As histórias novas, só mesmo quando nos metemos no Metro ou andamos de autocarro. Às vezes os motoristas de táxi também as têm boas.
Hoje, num percurso de cinco estações pude constatar o elogio da pregação de um pastor americano ouvido em cassetes, a possibilidade e a necessidade de montar mais uma igreja na Pontinha (parece que basta falar na Câmara e «estivesse cá o Menari e já estava, que ele era dos que andava com a gente na rua»), a felicidade pelo facto de o puto lá em casa já andar a aprender inglês (vai para a escola e já diz à professora, Jizas seive as). Fantástico, a igreja está cada vez mais frequentada e felizes os pastores. Lembrei-me da minha ida ao Harlem no Verão. Ainda há por aqui alguém que acredita nalguma coisa, mesmo ao lado, a caminho da Amadora-Este. Bem aventurados! Os outros fiam-se na Virgem e é o que se vê.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Olho a sexta-feira

Tem dias em que gosto de ficar a olhar para o tempo a passar, a vê-lo escorrer nas lembranças de outros momentos. Sair daqui, ainda que ficando e olhar os intervalos do pesadelo, na certeza de que não pode persistir eternamente, porque, como diz o povo, não há mal que sempre dure. É o meu estado de guerrilheiro sentado na montanha à procura do horizonte, maior nestes dias de céu azul de muito frio.
E ficar aqui, só, a ver as palavras que não chegam, assim, serenamente, tendo afinal um livro para escrever e muitos outros para ler, mas só pelo prazer da contradição, não o fazer. A areia vai descendo na ampulheta na impossível contagem dos grãos de areia. E eles caem, decididos, sem parar nunca. De repente, nem me sobressalto, por ter passado mais uma semana. A dúvida que me assalta é a dimensão da duna que ainda não caiu pelo estreito.

quinta-feira, novembro 18, 2004

A cavalo dado...

A cavalo dado, devemos olhar o dente. Alguns mordem (quase diria de leitura obrigatória).

Contributo para a história de uma guerra depois de acabada

Ele decretou o fim da guerra no dia 1 de Maio de 2003. Tinha-a começado a 20 de Março. Rápido, um cowboy verdadeiramente eficaz, à americana.
Mais uma vez, fui hoje consultar o blog do George W e completei a visita com uma passagem pela CNN. Conclusão, morre-se muito depois do fim da guerra, o que torna a paz uma situação de risco...
Alguns números:
Março/Abril 2003 (a guerra ganha...): 137 mortos; depois de Maio 2003: 1060 mortos.
Dados de mortalidade homóloga (traduzindo mortos mensais em 2003 vs 2004):
Maio: 37 vs 84
Junho: 30 vs 41
Julho: 46 vs 56
Agosto: 36 vs 67
Setembro: 30 vs 82
Outubro: 43 vs 65
Novembro: 82 (30 dias) vs 57 (em 15 dias)
Confirma-se, os primeiros dados são de 2003 e os segundos de 2004! Até quando irá continuar a cowboyada? Números redondos, teremos 100 iraquianos mortos por cada americano, portanto bastará fazer as contas... o Iraque tem cerca de 25 milhões de habitantes (ou tinha...). A vitória está garantida, oh yeah!

quarta-feira, novembro 17, 2004

Post em branco

Na busca de mais público, eis a partir de agora a versão em inglês, às vezes, bem cómico. Experimentem, a tradução! Clicar à direita na bandeira!

É a guerra, estúpidos!

São as imagens de sempre. Não há novidades nisto. Só o horror, o mesmo de sempre. A guerra não é bonita, nunca!Estes homens, noutro sítio, seriam pessoas perfeitamente normais. A culpa é de quem os brutaliza e os põe ali.

terça-feira, novembro 16, 2004

Doutoramentos

A cerimónia de doutoramento começa e acaba nisso mesmo, num cerimonial. À partida já se sabe que o candidato a doutor está ali, apenas, para passar por mais uma cerimónia. Os elementos do júri sabem também que lhes compete terem algumas tiradas a dar para o culto e inteligente para abrilhantarem a cerimónia. É assim uma espécie de Tourada à antiga portuguesa, com fatos de cerimónia e esforços de boa faena. Geralmente, o candidato passa vários meses em casa, isto é, sem trabalhar (pelo menos no serviço público) a preparar-se para a coisa, o júri elabora alguns dias antes uns textos mais ou menos apressados para a coisa sair menos mal. Na altura certa, lá se reunem na cerimónia ridícula, trajados comme il faut, cumprimentando-se e saudando-se uns aos outros. Só nas saudações deverão gastar 20% do tempo de intervenção. Discute-se aquilo que muitas vezes mais não é do que um artigo publicável numa revista de médio impacto e depois apresentam-se duas comunicações como se fossem conferências de curta duração numa qualquer reunião dessas que tanto por aí abundam. Pois bem, há mais cuidado com a ortografia. Posto isto, dadas as ferroadas convenientes caso seja indicado de acordo com as circunstâncias, sai mais um Doutor por extenso. Nem se discute o curriculo do candidato...
Assisti mais uma vez a uma cerimónia detsas hoje. Com a inovação louvável de um dos membros do júri não estar com fato de gala. Com a tradição entediante de outros realçarem os seus valores do passado, levados ao extremo da invocação de oito século de tradição na apologia da oração académica. Parece ser aquela obrigação de agradece-me a mim, que eu agradeço-te a ti para nossa glorificação conjunta. No meio da oração, alguns dos membros mergulham religiosamente a cabeça entre as mãos juntas tal a sonolência induzida numa aula Magna à meia luz. O António, sem beca, olhava vagamente o espaço depois de algumas intervenções significantes. Pensaria na Califórnia, talvez. Por momentos percebi esta Faculdade: o passado ora, o presente dorme, o futuro emigra.
Será que quero passar por isto?

segunda-feira, novembro 15, 2004

Mau prognóstico

Mau prognóstico o meu quando há meio ano lhe marquei a consulta para hoje. Automaticamente, o processo surgiu-me em cima da secretária, mas o acto não foi realizado como agora se diz. Ela morreu há uns meses com uma hemorragia por rotura de um aneurisma. Hoje passei os olhos pelo processo. Tinha-se queixado, várias vezes, de cefaleias nos dois anos anteriores. Foi ao neurocirurgião, fez TAC do crânio e estava tudo bem. Estava até ao momento em que tudo aconteceu.
Quantas vezes a dúvida de se o que nos dizem é físico ou psíquico? Até onde ir, até onde pensar que é físico, até onde investir? Ao fim destes anos todos, esta é a dúvida maior que me assalta tantas vezes. Sem solução nesta profissão complexa, muito mais arte e intuição que ciência tantas vezes.

domingo, novembro 14, 2004

Dia mundial da diabetes


Posted by Hello Dia mundial da diabetes
A ideia é simples. Mas identificadas as causas - a sociedade insana que nos sedentarizou e nos oferece comida a cada esquina - a proposta qual é? Ir fazer marchas simbólicas, isto é, consumir ténis de marca? Pois, muito mais fácil do que pôr em causa a insanidade do american way of life! Sempre uma estratégia de aumento do conumo, procurar soluções de maior consumo a juzante para um problema que se reduzia com menor consumo a montante.
E as vendas, pá? Engordem, sejam diabéticos, os nossos MacDonalds precisam de vender, os nossos laboratórios produzem as pílulas que precisam e nós precisamos de as vender também. God bless o sistema!

sábado, novembro 13, 2004

Sábado à sombra

Se formos ao Google buscar por metabolic syndrome encontramos mais de 1130000 referências. Veja-se pois, a importância desta coisa. Trata-se efectivamente duma coisa, não é uma doença, nem um conjunto de sinais com significado próprio, de que decorra um qualquer tratamento específico ou um prognóstico particular. É um agregado de patologias, diferentes de acordo com a entidade que define a coisa, que existe num mesmo indivíduo e na base do qual está sempre o mesmo, uma sociedade que leva a estilos de vida e hábitos insanos, menos actividade física e mais consumo de alimentos. Os genes não aguentam tal modificação e as doenças aparecem: obesidade, diabetes, hipertensão, elevações dos lípidos. É o resultado da globalização dos costumes.
À conta desta coisa passei um sábado de sol, à sombra numa reunião de 40 pessoas em mais uma acção de formação em que umas quinze debitaram a ciência, para que nada contribuíram, para as outras que também já teriam lido os mesmos livros. A maior parte do programa foi sobre medicamentos, consumo das drogas que combatem os resultados do excesso sem nada o contrariarem. Um desfraldar de conhecimentos em leitura de diapositivos, a maioria em inglês, na forma original como foram cedidos pela empresa farmacêutica. É curioso como mesmo assim, as pessoas ainda se acham com direitos autorais sobre as suas apresentações e torcem o nariz quando as deixam no meu computador para serem apresentadas.
No fim há um ar de contentamento no ar. E eu não percebo porquê. Será que fingem?

sexta-feira, novembro 12, 2004

Miseráveis!

Vão fazer um Congresso este fim de semana. Vão explicar como vai ser bom em 2006 (sobretudo nos 3 meses anteriores às eleições). A retoma está aí. Basta ler o grande economista Luís Delgado desde há cerca de 2 anos.
Mas, no mesmo momento, um desqualificado órgão de informação (até apoiou o Kerry, veja-se só!) publica mais esta calúnia infame:
Em média, por dia, 310 pessoas ficaram sem trabalho nos últimos três meses .
Desemprego bate recorde dos últimos oito anos.
Sempre esta maneira negativa de ver as realidades, esta falta de confiança nos nossos maiores, no grande Santana.
O Presidente, de forma positiva, optimista e de bandeira na janela, passeia por Milão promovendo a Arquitectura Nacional. Apoiado, senhor Presidente!
O espectáculo vai continuar.

Quando vai chegar a nossa vez?


Quando vai chegar a nossa vez? Posted by Hello
Os donos do Império fizeram contas à sua esperança de vida e sentaram-se tranquilamente, dizendo: Ok, isto não nos diz respeito!
Mas contudo, alguma base de apoio pode estar em risco: Glaciers, sea ice and tundra will melt, contributing to global sea level rise. By the end of the century, sea levels could rise by up to one meter. A warmer Arctic will contribute up to 15% of this rise. Today there are 17 million people living less than one meter above sea level in Bangladesh, while places like Florida and Louisiana in the US, Bangkok, Calcutta, Dhaka and Manila are also are risk from sea level rise.
Andamos a fazer figura de urso. É o que me parece.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Arafat


Posted by Hello
As folhas caídas ficam mais vivas quando calcadas. Quase falam no estalido que deitam e um cheiro único sobe da terra. Daqui a algum tempo será sobre este fermento que nascerá de novo a Primavera.
Ele também caíu hoje com esperanças de Primavera naquele sorriso frágil que nos deixa para sempre na memória.

terça-feira, novembro 09, 2004

O blog do George

O George W tem um blog. Visite-o, quase todos os dias acrescenta uns post(mortem)...

Outono no país de Inverno

Não tenho dúvidas que se não fosse ela, estas férias teriam sido diferentes. Desde o momento em que a vi recentemente, percebi que tinha de lá voltar. Por ela me decidi ir até ao Porto nesta época em que a chuva e o frio já ameaçam. Nesta altura ela enche o Porto, por onde passasse ela estava presente e assim me acompanhou os dias mesmo antes de a voltar a ver.
Já não sei quantas vezes tinha ido ao Porto sempre a reuniões. Até agora, o Porto era para mim um hotel na Boavista e um percurso da estação de Campanhã até lá e volta. Pelo meio havia uma excursão a Gaia para ouvir uma funcionária de uma das Caves explicar-me o processo de fabrico do Vinho do Porto e os vintages. O Porto era assim uma coisa estranha, muito vista e nada percebida. Desta vez, por causa dela, tudo foi diferente.
Comecei a visita pela Bolsa, que afinal o não terá sido muito. Prenda de reis em decadência a uma Associação de Comércio em ascensão, que ergueram das ruínas de guerras civis, um edifício evocador do seu bem-estar. Passada a Sala das Nações logo à entrada e subidas as escadas de acesso ao primeiro andar, vimos o Tribunal do Comércio, a sala de reuniões da Associação do Comércio do Porto e a visita vem a acabar com o Salão Árabe, um mergulho nas Mil e Uma Noites, de um sonho de rainha de tempos em que afinal os árabes não eram assim tão terroristas. Já chovia quando saímos e passámos pelo Mercado Ferreira Borges onde os periquitos se preparavam para serem expostos. Pela Rua das Flores ainda vimos algumas das casas de outrora, mas agora sem vestígios de flores, substituídas que estão pelas bandeiras esfarrapadas de Portugal (ou será da selecção) devidamente acompanhadas pelas do FCP. Quase sem dar conta já estávamos na Torre dos Clérigos. No reconhecimento que só os passeios a pé permitem fazer das cidades, avançámos para a maravilha da Livraria Lello, com paragem para chá no primeiro andar e depois até aos Aliados e sucessivamente, para o Café Guarani com telas da Graça Morais, para o Mercado do Bolhão e Rua de Santa Catarina antes de chegarmos à Sé, à porta da qual um bloco de granito caiu nem se sabe bem como. Depois de um breve passeio pelo interior onde na tarde se casava gente do norte, descemos encosta abaixo serpenteando pela Ribeira até ao ponto de partida. Pronto, estava feito um grande U, que depois mais tarde se pode contemplar do outro lado, de Gaia, não, sem antes, provar uma francesinha no Uma velha tinha um gato, um nome que só no Porto poderia ser identificação de café-bar. A farncesinha lá se comeu por entre remorsos calóricos.
O primeiro dia de visita acabou com a ida para o hotel em Gaia, onde nos esperava um quarto no 20º andar com vistas para qualquer tão indefinida que poderia certamente ser uma cidade qualquer americana cheia de luzes e néon. Mas não era, aqui era Gaia igual a tantas outras, um grandioso armazém do Porto que do hotel se não avista. Daqui só mesmo o Gaia Shopping, com torres de néon. E nada disto teria percebido se não fosse ela.

No segundo dia de estada na cidade repetimos a dose de Porto depois de uma descida para o abismo desde o tabuleiro superior da Ponte D Luiz até ao rio por uma vereda à direita de quem vai até ao rio vindo de Gaia. Depois uma épica subida dos mais de 200 degraus da torre dos Clérigos e nova passagem pelas ruelas da Ribeira, com roupa e cachecóis do FCP estendidos das janelas, em descida lenta até ao D. Tonho, onde nos esperavam bacalhaus em várias confecções. Era então hora de descobrir a ligação ao outro Porto, o da Boavista, e fomos à procura passando ao longo da margem direita, rio abaixo, até à foz e ao Castelo do queijo, com viragem de reentrada pela Avenida da Boavista, num Porto novo, encorpado, mas sem o sabor de vintage da Ribeira. Um Porto sans noblesse (snob), cheio de sinais exteriores de riqueza, tantas vezes associado a algum vazio de interior. Plástico. É do outro que gosto e foi para vê-lo em conjunto e à noite que valeu a pena ir ao Cais de Gaia, um bom miradouro do Porto fino e puro dentro do U que conheci nestes dois dias. E tudo por causa dela.

Ao terceiro dia, dentro da Fnac do Gaia Shopping, era o tempo e o espaço de esperar pelo comboio em que a Sofia vinha. Uma boa loja, onde se passeia devagar o desejo de consumo numa manhã de feriado enquanto o comboio não chega.
E lá chegou e fomos até ao Cais ver o U do Porto e alarvar no Tromba Rija, onde já tinha acrescentado os depósitos de gordura há algum tempo atrás. Impróprio para quem faz dieta, óptimo para quem gosta de comer. Uma boa visão antes de zarpar até às terras frias da fronteira entre Minho e Trás-os-Montes. Estalagem do Morgado, um local onde o silêncio tem voz na chegada, quase à noite. Sente-se o frio da terra na visão do lago da barragem e enche-se o tempo sentado na poltronas do vestíbulo enquanto se devoram títulos de revistas, dispostas sobre a mesa. O almoço ainda actuante afasta-nos a tentação do jantar. Não acredito muito, que aqui tivesse vindo parar se não fosse ela. Assim, tive o prazer imenso do silêncio.

O quarto dia (2 de Novembro) cedo com a tenebrosa visão da CNN. Bush ganhava de forma indesculpável as eleições nos EUA. Uma América cheia de medo recusava-se a ter esperança. Se isto fosse apenas um problema deles, até acho que era bem feito. Que comessem do que gostam. O problema é que se calhar não será bem assim. Mas disto ela não tem culpa nenhuma. Isto foi um epifenómeno na história destas férias.
Por causa dela, hoje fomos fazer um circuito pelo Gerês. Fruto de um engano inicial, daqueles em que devíamos virar à esquerda e seguimos pela direita, acabámos em Pitões das Júnias em busca de um mosteiro. No fim de uma calçada de pedra, uma seta de madeira apontava o caminho a 300 metros. Andados 100, um entroncamento, um caminho para cima e outro para baixo, duas marcas, amarela e vermelha, numa pedra em frente. O problema dos caminhos para baixo é a subida que sempre implicam, pior é o prognóstico quando serpenteiam monte abaixo e se não lhes vê o fim, nem o objectivo que nos move. Neste caso era o Mosteiro. Mas lá fomos com a probabilidade de 50% garantida. Ao fim de algum desnível, ouve-se a água no rio e avista-se o granito do Mosteiro. Abandonado, a porta fechada, ninguém. Ainda o resto de um claustro e de uma provável cozinha. Pelo buraco da fechadura ainda se pode espreitar a Santa no altar.
Curiosamente, o caminho de volta, a subir, pareceu mais curto. Era a primeira vez que subir me parecia mais curto que a descida de igual tamanho. Percebi nesse momento que é a incerteza que torna o caminho longo. Sabe bem saber o que nos espera, mas parece que há quem goste mais das emoções da adrenalina. Garantia ou iniciativa privada, adrenalina para cansar os sentidos. É claro que prefiro a primeira via. Mas hoje, lá longe, foi a outra que ganhou.
Depois saímos pela Galiza e logo se notam as diferenças das casas e das estradas até entrarmos em Castro Laboreiro, um Gerês onde nunca tinha estado e onde, desta vez cheguei por causa dela. Lamas de Mouro era um destino com promessas de Outono vegetal em folhas castanho-avermelhado. Algumas, sim, mas nada sem impressionar. Alguma melhoria na descida para Soajo com visões de jovens mulheres carregando molhos de lenha. O que as fez ficar por aqui? O mesmo, que noutra dimensão, nos vai fazendo ficar, nesta limitação absurda de pertencermos a um país só pela circunstância de aqui nos terem parido. As montanhas que as envolvem, lhes tolhem os horizontes e lhes asfixiam a vida ainda pesam nos dias em que falamos de globalização. Para quando globalizarmos em vez de sermos globalizados? Continuo pela paleta de tons de Outono dos abetos, carvalhos, castanheiros e fetos até chegar a Soajo em busca de espigueiros de outro século na eira que era comunitária. Aí, imagino escamisadas, cânticos e espigas vermelhas.
Continuo o circuito até à fronteira de Lindoso e de novo em Espanha (ou na Galiza?). Que mania esta a dos países e nações, qual a diferença que faz estar do lado de cá ou do de lá? Mais à frente reentro pela Portela do Homem para o verdadeiro festival do Outono ainda que perturbado por uma chuva progressivamente mais intensa, que nos faz parar nas Caldas do Gerês, onde, a custo, lá nos serviram um chá, sem torradas. Já imaginaram a ciência de fazer uma torrada, numa tarde chuvosa de um dia de semana? Meu país pequeno...
Lembrava-me então de um Mosteiro, à beira do qual se comia. Isso me levou a São Bento da Porta Aberta. Mas, não, a memória não condizia com a visão em directo. Apenas a certeza de aqui não ser.
Voltei atrás e subitamente uma placa despertou a memória. Abadia. Uma só palavra, despertou todas as certezas, era lá! De imediato, as secreções salivares foram despertadas no entusiasmo de ser desta que lá chegaria. Cheguei, mas a escuridão do edifício era de mau prognóstico. E foi. Jantares só por encomenda e à segunda e terça é dia de descanso do pessoal. Regressei com a satisfação da redescoberta e vingamos a frustração na Pousada de São Bento com bacalhau com broa e rojões com sarrabulho acabados com pudim de abade de Priscos e companhia sortida de outros doces. Dias não são dias. Jantei, certamente, melhor que o George W que a esta hora faz o seu discurso de vitória. Resisto à indigestão da ideia.

Com os olhos satisfeitos de Outono, hoje é dia de regressar ao Porto por causa dela. Finalmente, Serralves e a visita que motivou estes dias. Ela, ali está em exposição até Janeiro. Passeio uma vez mais pela inquietação desta mulher e saio mais uma vez inquieto também. Afinal, ela tinha sido a causa de tudo isto.
Faltava o Majestic para o Porto estar completo. Foi lá que fomos desfrutar toalhas de linho nas mesas e um serviço de escola. Francesinhas fotogénicas e arroz de marisco mais banal preencheram alguns espaços vazios a esta hora já tardia. Uma boa experiência antes do regresso a Lisboa para uma paragem breve antes da descida ao Algarve. De uma ponta a outra este país num só dia. País pequenino...

O resto dos dias foram passados na surpresa do betão crescente no Algarve, com ar solarengo em Novembro, mais aproveitado por estrangeiros que portugueses. De tal forma que sentados num restaurante, logo nos saúdam com um hello! e nos oferecem cardápios em inglês. Depois, são toscos. Perguntamos que vinho têm e a resposta sai espontânea: Branco e tinto! Há 1800 restaurantes em Albufeira, a informação foi da senhora do Posto de turismo. Não sei se será verdade, mas até me custa a crer. Meu país de estalajadeiros!
Portimão é mais betão e os restaurantes agora são ao lado da ponte. Continua a cheirar a sardinha, a música está na rua. Forte e feio, foi um bom lugar para a cataplana de tamboril com digestão feita numa esplanada a mirar o rio e a ler uma entrevista de João Lobo Antunes, para sentir a diferença que alguns fazem. Ele foi aonde há iguais, mas mesmo assim voltou. Porquê?
Lagos está igual ou assim me pareceu antes de um pôr do sol na praia para os lados de D. Ana.
No dia do regresso ainda uma passagem por Sagres, naquele espaço de silêncio das ondas furiosas na falésia com pescadores pendurados, na espera do peixe que se nega. Bom início de tarde antes de começar a subir a Costa Vicentina até Aljezur com passagem pela fortaleza da Arrifana, com restaurante fechado e vistas largas e bem abertas sobre o oceano.
Mais logo, uma merenda ao pôr do sol, na Comporta (Ilha do Arroz) antes de sobreviver às melgas que atacam furiosas nesta hora junto ao ferry.

Uma semana de paisagens transformadas. Parece que de alguma maneira redescobri paisagens com ressonâncias antigas e diferentes. Uma modernidade snob quase sempre numa terra de vendilhões de serviços com estradas rápidas para chegarmos ao Centro Comercial (melhor dito, Shopping Center). O resto são cais de armazém com vidros partidos, barcos estacionados, fábricas abandonadas. È um país vestido de Inverno em tempo de Outono. Ainda haverá esperança de Primavera?




sexta-feira, outubro 29, 2004

e o sonho de uma big picture...


Posted by Hello
Tentarei as fotografias, para esquecer a triste realidade. Vou ver se encontro o senhor Presidente que também deve estar de férias. Que descanse e venha restaurado que o mês que aí vem pode ser um mês de oportunidades a não perder. Ainda assim, caso acorde um destes dias, pode vir a ficar melhor na fotografia da história. Ainda pode vir a ter uma big picture!

Bad picture

Este país põe-me triste. Hoje, Portugal foi representado na cerimónia de assinatura da Constituição europeia pelo seu PM. Já imaginaram o que será mostrar um dia aos nossos netos a fotografia e como seremos capazes de lhes explicar que neste tempo este era o PM. Às vezes até gostava que não houvesse fotografias para memória futura.
Vou de férias à procura de imagens melhores.

Mundo mais seguro


Posted by Hello
Publicado na Lancet hoje. Só não sei se estes mortos contam para negativos, pois andam por aí a dizer que o mundo está agora mais seguro. Ou na forma sábia como uma portuguesa, residente nos EUA, dizia ontem na TSF, mais vale que morram os filhos dos outros que os nossos, por isso faça-se a guerra lá longe...
Como estamos lembrados, tudo começou porque houve um ataque nos EUA onde morreram 3000 americanos (embora tenham morrido muitas vezes em muitos noticiários, foram 3000). Para prevenir novos acidentes, foram ao Afeganistão. Depois havia umas armas invisíveis no Iraque e invadiram-no para continuar a obra. A seguir o Saddam veio abaixo e o tal mundo ficou mais seguro.
Não, não havia armas; não, parece que não havia ligação do Iraque com a al-Qaeda; mas esta acção era imperiosa a bem da segurança no mundo.

quarta-feira, outubro 27, 2004


 Posted by Hello

Na margem do silêncio

Os dias passam tristes sem notícias do PM. Estará doente, preparará as obras da sua futura residência de Verão? Não, não pode ser, ele não chega ao Verão, pois não?
Começa a ser inquietante esta ausência de notícias e respectivos desmentidos. Ou parece que agora a coisa já se estende ao Benfica. Robinho vem, Robinho fica. Os dirigentes do Benfica andam a desiludir-me, andam a parecer-se com os do FCP...
O PM deve ter descoberto que o melhor tratamento para o ruído era o silêncio.
Sendo assim, resta-me passar os olhos pelo passado, pelas fotografias das férias idas. Ficar a olhar o espaço.

terça-feira, outubro 26, 2004

O deserto e o grito


Posted by HelloEsta é uma América de que gosto, grande e vazia, silenciosa. Os telemóveis sem rede, a temperatura escaldante a fazer secar as alfaces durante o breve instante do almoço. Sem desfiles estridentes, sem fogos de artifício, sem balões azuis e brancos. Com um enorme silêncio para ouvir.

O deserto e o grito Posted by Hello

segunda-feira, outubro 25, 2004

Para quê?


Posted by Hello

Duas faces dos EUA Posted by Hello

Mais de mil!

Há um estranho silêncio na minha terra. Há uns dias que o Santana se calou com receio de se desmentir no dia seguinte e o país ficou ainda sem mais graça. Ou não! conforme agoira se diz...
Mas no mundo real continua a haver notícias, embora repetidas não deixam de ser notícias. Não, não estou a referir-me aos carros que rebentam diariamente no Iraque e que de há algum tempo para cá me acompanham, regularmente, na ida para o hopsital todas as manhãs. A outra notícia são as vítimas daquela notícia, os
Sanchez e Hernadez que regularmente caem e vão aumentando a contagem que quase ninguém noticia. Missão mais falhada não conheço: eles iam só à procura de armas de destruição em massa, não era? Ou não!

domingo, outubro 24, 2004

Vale tudo?

A cooperativa andava mal gerida já há uns tempos, sobretudo pela ineficiência dos cooperantes elegerem direcções capazes. Como o Benfica, percebem? Foi então que elegeram um presidente que vinha da concorrência, que antes negociava no mesmo ramo, numas lojas que também faziam abastecimento dos mesmos produtos.
Incapaz de perceber as razões do mau funcionamento, sobretudo completamente indiferente a essas causas e nada preocupado em encontrar as soluções, teve uma ideia genial: criar vales para que as pessoas pudessem ir abastecer-se onde quisessem, se a cooperativa não tem os produtos, que os procurem nas lojas que antes geria, por exemplo. Como se percebe, a cooperativa pode mesmo ir à falência que o actual presidente se está nas tintas, o negócio dele é outro e esse vai prosperar. Um destes dias, sai da cooperativa e vai até lá. Depois, logo fará a gestão como deve ser, modificará os preços, reservará o direito de admissão nos seus estabelecimentos e tudo correrá muito bem para ele. E para nós? Vivemos gerações de cooperantes e vamos deixar ir tudo por água abaixo? Não será mais inteligente demitir esta gerência quanto antes?

sábado, outubro 23, 2004

A vila

Os medos de ontem não serão os medos de amanhã. Cada geração reinventa os seus medos, porque os medos se formam nas experiências dos quartos escuros por onde passamos. E esses espaços de criação, como a água dos rios onde nunca nos banhamos duas vezes, estão em permanente mutação. Os conselhos de anciãos por muito que possam aconselhar, acabarão sempre por esbarrar na curiosidade e no, não será tanto assim, dos ouvintes jovens. Será essa a origem dos ciclos da história?
O refúgio na vila inverosímil acaba, afinal, numa viagem às cegas à procura da salvação que vem do mal de que se não pode falar. A sugestão de que o regresso não será o caminho? Possivelmente, as soluções terão de ser encontradas caminhando em frente e não às arrecuas. O mal estará aqui, nas cidades, mas é aqui que temos de o destruir e continuar o caminho, identificando o monstro e apunhalando-o para seguirmos em frente, até à luz, mesmo que, por vezes, o avanço se faça às apalpadelas e caindo nos buracos. Só assim nos salvaremos.
Gosto de encontrar alguma lógica e moralidade em todas as artes por mais aparentemente abstractas que pareçam. Daí esta tentativa de redescobrir a vila.
Ou será que o amor é a arma que nos mata o medo e nos leva em frente pela vida?

sexta-feira, outubro 22, 2004

Está inteiro

Loyola de Palacio, um nome que não dirá muito a muitos europeus, mas que mostra ser uma mulher decidida, a precisar de mulheres e homens que lhe moderem o discurso. Foi assim que manifestou a sua profunda esperança quando soube que Fidel tinha caído (caíu, mas ficou inteiro e em directo). Foi assim, que manifestou o respeito pela vida de outrém:
«Espero que ele morra quanto antes. Não digo que o matem, mas que morra, porque essa é a única via possível para a democratização de Cuba. A solução mais desejável seria o derrube do regime, mas isso não me parece muito provável. Não desejo a morte a ninguém, mas o desaparecimento de Castro seria a melhor solução»
É triste, mas geralmente este tipo de comentários vem sempre do mesmo lado, da mesma família de gente.
Para tristeza da senhora PP, ele está inteiro e continua, ainda que o cubram de gesso. E espero que o povo cubano continue inteiro a resistir a um bloqueio ignóbil que o impede de crescer.
Para perceber o mundo é importante passear, ir à procura da vida. É isso que alguns fazem. Outros não conseguem ir além da periferia dos hotéis onde os metem, do condomínio fechado onde vivem, do resort de luxo onde se escondem de férias.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Um voto e um anúncio

As crianças são o melhor do mundo, mesmo nos Estados Unidos! Vá lá papazada americana, façam a vontade aos putos por esta vez. Não, não é para os levarem a jantar ao MacDonalds, o que eles querem é viver um pouquito melhor entre as escolhas que lhes dão.

A caminho de onde?

Há coisas que nos deviam fazer pensar, só que talvez já não tenhamos muito tempo para o fazer. Ou se calhar teremos de ser rápidos a pensar para ainda virmos a ter algum tempo. Andamos a espezinhar o mundo e, também aqui, as maiores patadas vão sufocar os pés das criancinhas inocentes. Este relatório da WWF é para se olhar com atenção e um incentivo a retirarmos pé ante pé, em marcha atrás e rapidamente. Mais um aviso sério de que a globalização em curso é uma viela sem saída e pode muito bem ser o fim da história, mesmo de todas as histórias... Para que a história continue, teremos de dar uma volta a isto, com passos de gigante.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Erro e ética

Vivemos num tempo em que o erro deixou de ser humano. Ou será que deixou de se poder ser humano? Terão os humanos sido substituídos por máquinas infalíveis? Vem isto a propósito do erro do senhor Benquerença que agora alguns entusiastas desta infalibilidade querem processar judicialmente. Mas está tudo doido? Que raio deu a esta gente que agora só quer relógios suiços ou exigem mesmo dos atómicos com precisão ao milissegundo? Já imaginaram o que seria um mundo sem erros?
Neste caso exemplar, a ética foi completamente posta de parte. Por exemplo, todos se atiram ao desgraçado que errou, ninguém ao indutor do erro, ao que enganou voluntariamente, o guarda-redes. Ele dirá que foi mão de Deus como o outro e todos acharão imensa graça, mas afinal, foi ele o único que fez batota, que teve uma atitude eticamente reprovável. Mas a ética vale muito pouco na sociedade dos milhões e a defesa da propriedade parece valer tudo, incluindo a exigência da precisão, da infalibilidade do homem, do fim dos erros. Manter este estado de estar parece-me ser uma negligência que quase todos aceitam. Eu não! No fundo, parece que na nova ética, mais valorizado é o que mente com eficácia, do que o que diz a verdade e não vence. Ninguém quer punir o que enganou, mas o que errou.
Por exemplo, alguém imagina a importância que isto teria se o futebol não tivesse deixado de ser um desporto? Alguém quer voltar ao futebol-desporto, com muitos erros, mas com gente?

A vida não é... Posted by Hello

terça-feira, outubro 19, 2004

Dia sim

Quando chove em Lisboa, é frequente este caos. Fica tudo parado e nós agitamo-nos dentro dos carros, apesar da sinfonia nº 1 de Prokofiev. Subitamente, surge na parede a frase, A vida não é... dia sim dia não! Deve haver assim pelo menos dezenas de escritos nesta cidade, gritos de gente que gostava de viver todos os dias. Estar vivo, independentemente da chuva, do tempo cinzento, com uma vontade infinita de estar nos dias sim todos os dias. A vida é muito mais do que aquilo que nos querem deixar ter e, cada dia que passa, é menos eterna para nos darmos ao luxo de passarmos distraídos por ela. A vida é todos os dias se lhe soubermos encontrar um sentido, se percebermos que não estamos sós a escrever nas paredes em actos clandestinos, se percebermos que os que nos dão os dias não apenas o fazem porque os deixamos ter sempre dias sim. Quando deixaremos de ser, seres adormecidos, a escrever aqui e por aí, sempre sem nos encontrarmos, varas isoladas prontas a ser quebradas uma a uma com toda a facilidade pelos que têm todos os dias.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Novos hábitos


Guerra, 2003. Paula Rego. Posted by Hello
Esta manhã, como vem sendo hábito, explodiu mais um carro armadilhado no Iraque durante a passagem de um veículo militar americano. Como vem sendo hábito??? Mas foi assim que disseram hoje na notícia... Eu ouvi!