quarta-feira, janeiro 30, 2013

A luta (de classes) continua


É porque investir é uma coisa tão complexa, que os investidores têm, obrigatoriamente, que ser bem remunerados. Mais complexo ainda será dispensar o dinheiro para investir e é por isso, que os banqueiros têm ainda que ganhar mais do que os investidores. Simples é trabalhar, CRIAR TODA A RIQUEZA, para investidores e banqueiros, formar pessoas, tratar as doenças e todas essas coisas menores e essa é a razão por que esses devem ser menos bem pagos. Depois há os inúteis sociais, que só consomem, os desempregados, que ainda assim dão jeito existirem para que os que trabalham não sejam tão reivindicativos e justificam uns meses de subsídio. Finalmente, os reformados, outra corja de inúteis que em vez de morrerem persistem em sacar ao Estado as pensões de reforma.
Na verdade, são bem poucos aqueles para quem se governa e como é fácil governar para apenas esses, em comparação com a dificuldade que seria governar para todos. Ficam muitos de fora? Que importa? É a luta de classes (que foi abolida por decreto neoliberal)!

terça-feira, janeiro 29, 2013

Eles


Quando se vai a um hospital, a um tribunal, à caixa Geral de Aposentações ou a uma repartição de finanças há algum grau de conforto e modernidade, que se não encontra quando se tem de ir a um serviço de segurança social. Aqui os ambientes são mais escuros, faltam lâmpadas de iluminação ou os maus tratos nas paredes são frequentemente mais óbvios. A outra diferença encontra-se nas manjedouras de atendimento, onde os espaços individuais são bem mais estreitos prejudicando toda a privacidade necessária, aqui mais do que noutras situações, e no nível de equipamento, por exemplo informático, que os funcionários utilizam. O ruído das pancadas dos carimbos é um must por aqui.
Este ambiente faz que do outro lado das mesas se encontrem funcionários desmotivados, deprimidos mesmo, com o que estão ali a fazer, um enorme frete. Carimbam papéis e informam mecanicamente que a resposta irá para o domicílio. Quando? Ninguém sabe, talvez um ou dois meses. Não riem, estão cansados, têm derrota nas faces. Adivinha-se que, como os utentes, estão descrentes. Dizem, «eles» é que sabem, são quem decide, quem manda. Sempre «eles», os todo-poderosos, que nos roubaram até o «nós». Nunca perguntam sequer que vida é esta na dependência absurda e exclusiva d´«eles»? Será que um dia despertarão e vão-se a «eles»?
Um Estado que diferencia os ambientes desta forma, é um Estado que fez uma opção de classe. Realmente, quem vem a estes Serviços de Segurança Social, são maioritariamente uns tipos «dispensáveis» que apenas «dão despesa» ao Estado Social. No limite do pensamento gaspariano-coelhal, estaríamos muito melhor se não existissem e não justificam, seguramente, qualquer investimento em conforto.

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Botero


Aquele quadro que tanto poderia seu o primeiro como o ultimo da exposição, relembrou-me que mesmo a representação da morte pode conter em si o renascimento da vida anunciado pela tocha iluminada do anjo que desce sobre algo que parece estar ali definitivamente caído. Olhando-o relembrei-me que há uma história que ainda não acabou, apesar desta hibernação de quase dois meses, onde muitas vezes o impulso de aqui vir foi adiado pela inércia de reiniciar amanhã. E houve tantos e variados motivos!
Ainda agora, há poucos dias, a festa do regresso aos mercados (ou a continuação do endividamento) numa hosana infindável da direita governante, poderia ter sido uma boa razão. Mas não chegou para me reacender a vontade, porque, na verdade, foi apenas um estrebuchar antes de uma morte anunciada, essa sim definitiva, a exibir em breve na nossa frente.
Em vez disso, a arte como fator de renascimento, é uma causa bem mais interessante. A arte que cada um vê com os seus próprios filtros, revelando-se com significâncias distantes consoante os olhos que a veem. Para os organizadores desta Via Sacra, ao que pareceu pelos comentários dos guias do museu, uma exposição reveladora de alguma religiosidade tardia na vida de Fernando Botero, para mim, pelo contrário, o regresso ao tema das séries mais recentes do autor, a denúncia da violência ou da tortura dos homens, revelado na crucificação do cristo com Nova Iorque em fundo ou na apresentação do Homem na frente de uma vila da Colômbia. E, possivelmente, também não é por acaso que o anúncio do anjo ocorre na frente de um cemitério colombiano, isto é, num qualquer lugar de gente que não domina. Há por ali uma morte que ri nos rostos das caveiras, anunciando algo que está para vir mais cedo do que alguns esperarão.