Começamos a não ter alternativa no momento em que deixamos de controlar a aplicação da descoberta da solução. Deixou de ser permitido pesquisar para resolver o problema. Hoje pesquisa-se para encontrar uma solução. Uma vez encontrada, compete aos accionistas estabelecer se vai ou não ser usada a descoberta, isto é, impor a sua rentabilidade no mercado. Não basta hoje encontrar-se algo que melhore a qualidade de vida e a saúde das pessoas, é preciso que os doentes tenham a capacidade de comprar o método. Caso contrário, os legítimos proprietários (os investidores) vão negar a sua aplicação, podendo até destruir a descoberta se a acharem não rentável. Desta forma este caminho colectivo que andámos na procura das soluções começa a ter duas velocidades consoante há capacidade para comprar ou não. A partir de agora temos uma Medicina para bons pagadores e outra para os outros, a saúde deixou de ser um direito universal, passou a ter o valor de um objecto material qualquer. Poderia ser assim e não ter consequências, mas a saúde tem outra palavra associada, vida. Logo, a vida passaria, a partir do momento em que este conceito fosse aceite, a ser também mercadoria. Será que chegamos lá? Para compensar as consciências sempre se pode ir com cartazes para a rua barafustar contra o aborto. Pela vida, não é, seus hipócritas embushados?
O direito à vida tem realmente insondáveis dimensões. Não é compatível com patentes de medicamentos contra a sida que impedem a sua utilização no tratamento de populações africanas, definitivamente sem capacidade de pagar. A Santa América de Bush fez um donativo para combater a sida. Generosos ou foi só para facilitar a compra dos tais medicamentos às companhias americanas que os produzem?
Correio: fernandobatista@netcabo.pt
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