sábado, dezembro 31, 2005
sexta-feira, dezembro 30, 2005
Lapsos
A Crise
O PSI 20 subiu 13% no ano corrente. O Eurostoxx muito mais.
A economia está em crise. Qual? A da especulação financeira não será, certamente. A crise é sempre dos mesmos, dos que não têm iniciativa... Não dos trabalhadores na Bolsa.
Cinquenta por cento dos operários da construção civil não estão inscritos na Segurança Social. De quem é a culpa? Quem ganha com isso? Que ricos empresários!
Está explicada a enxurrada dos Colombos, a corrida aos Multibancos, o bom momento dos hotéis no fim do ano. Crise? Qual crise? A crise é sempre dos mesmos, porque quem nos governa são sempre os mesmos. Há 30 anos... E eu que não tenho nada a ver com isto, tenho de os aturar!
O chefe do Governo, continua a deslizar... nada de interromper as férias, depois do dói-dói no joelho. Ter um PM que faz esqui é chique! Ficamos contentes...
Ontem queixavam-se que os combustíveis iam subir. Curioso foi ver os entrevistados a referirem que já estavam habituados, bem fadistas. No mesmo TJ vi a notícia do fim da siesta em Espanha. Os entrevistados espanhóis diziam, simples, nem pensar! As atitudes são diferentes, os destinos também. Espanhóis e portugueses são diferentes. Uns levantam a cabeça, outros põem-se de cócoras ou em posição do alemão que perdeu a guerra.
Agora um bom tipo diz que no ano novo temos de olhar mais para cima (para Deus) e menos para nós próprios... Esta malta quando olha para cima fica ofuscada pela Luz. Depois não se queixem.
quinta-feira, dezembro 29, 2005
Fotografia
Como andar à caça. Ir ao terreno, apontar a arma, disparar. Apanhar o instante do tempo. Depois é na bancada que se observam as diferenças entre o que se viu e o que se apanhou. Finalmente, há a possibilidade de cozinhar para descobrir novos paladares. O gosto transfigurado, aparentemente, mais apelativo. Saciados, fica-se com vontade de novos tiros, novos olhares sobre os instantes. E escasseia o tempo de apanhar estes segundos. Inútil? Possivelmente, seguindo os critérios de utilidade do sistema.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Dias
terça-feira, dezembro 27, 2005
Falou!
No Jornal de Notícias hoje:
Problema grave é o da deslocalização de empresas estrangeiras. Nessa matéria, o presidente pode ajudar?
Há uma coisa que pode ser feita em Portugal, que eu sei que já foi feita noutros países. Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las a inverter essas motivações. Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.
Vai propor isso ao Governo?
Já o estou a propor aqui.
Onde é que isso foi feito?
Na Áustria, em relação a empresas que queriam mudar para outras paragens. Mas também noutros países, tenho a lista completa. Por outro lado, o investimento estrangeiro em Portugal está muito bloqueado. O presidente não pode fazer alguma coisa para ajudar a desbloquear? Se ajudar a aumentar o clima de confiança já faz alguma coisa. Esta é a fase em que Portugal devia concentrar o investimento estrangeiro nas chamadas médias empresas e internacionalizar.
O professor falou, finalmente. O professor propõe que se façam listas. A lista completa dos países ele já tem. Depois, o PR, segundo ele, nomeará um Secretário de Estado, que lhe irá fazer a lista das empresas. Feita a lista, adivinha-se o que se segue:
Pela madrugada, entram camiões TIR na empresa e sacam as máquinas. Na manhã seguinte, o Secretário consulta a lista e vai ao local. Está tudo vazio, o secretário confirma o nome da empresa, vai batendo à porta da Administração, mas só o silêncio lhe responde. Volta à tarde cabisbaixo e vai a Belém comunicar que eles já tinham deslocalizado. Vai ser uma lufa-lufa a fazer risquinhos na lista. Então criar-se-á a lista dos deslocalizados e põe-se nos jornais?
E assim seria este país se este professor fosse para Presidente. Primeiro, uma longa conversa com o PM, depois elaboração de listas sem fim e ordens do que se deve fazer. Melhor, vai dizer nos jornais (que ele não lia quando era PM) o que deve o Governo fazer. Na mesma entrevista, explica também que a equipa é boa, mas que ele será melhor treinador (raramente se engana) que o actual PR. É Cavaco no seu melhor! Claro como a água.
É disto que é preciso, que o professor fale para nos relembrar como é. Realmente. Será que o vão deixar dar mais entrevistas?
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Mail aberto
agora que os papéis amarrotados se acumulam ao lado dos contentores de reciclagem, chegou a hora de mostrar às gentes que um homem não se rende. Falta já menos de um mês para o prolongamento necessário, mas só se vai ao tempo extra, se soubermos estar ao ataque. Afinal, temos o público do nosso lado. À volta do quadrado, a Esquerda é maior que a Direita e como na Catedral é quando se joga para a frente, que as bancadas enchem, a malta vibra e os golos surgem, nem que seja no último minuto. Vai ser preciso fazê-los entender isso, estamos a jogar em casa, somos mais. Precisamos que percebam que um homem que se não rende, tanto mais que isso seria falta de educação, é o jogador que faz a diferença. É preciso afirmar a simpatia pelo Jerónimo e pelo Louçã e ao mesmo tempo mostrar a inutilidade de participar na sondagem que ambos procuram fazer para saber qual dos dois é maior. A sondagem é inútil e muita gente já entendeu que é você a alternativa de vitória frente ao adversário da Direita. Já agora, não o critique, pois este é daqueles que basta recordar. É preciso, relembrar 1995 às pessoas, o desemprego, a corrupção nos ministérios, os bloqueios na Ponte. Em 1996, na eleição para Presidente, elas ainda se lembravam, agora estão mais esquecidas, mas mostrem-se bem esses tempos que a memória se lhes avivará. Afinal, as pessoas não mudam assim tanto e este ainda nem fez qualquer acto de contrição do seu passado, continua homem das convicções que sempre teve e, só tacticamente, lerá jornais e admitirá que algumas vezes se engana. Pergunte-lhe cara a cara, que erros tem o governo Sócrates cometido, em que discorda ele e conclua que ele é o candidato desta política e do aprofundamento do neoliberalismo e afirme-se como óbvia alternativa a esse caminho. Deixe-nos acompanhá-lo no quadrado.
Jogue mais aberto e mais ao ataque, que o nosso problema não é a defesa. Aí estamos nós e bastará atacar forte para esta maioria o levar à vitória.
domingo, dezembro 25, 2005
Intervalo, pretensamente, lúcido
Não se questiona, quase por pudor, a intervenção no controlo das doenças geradas pelo ambiente perseguindo-se exaustivamente o controlo do tabagismo, das dislipidemias, da hipertensão arterial, da obesidade e da diabetes. Em nome desses combates, suprime-se muitas vezes boa parte da vida ou pelo menos alguma da parte boa que pode ter. Gastam-se fortunas a investigar neste campo, quase se esquecendo que o controlo destes males, é, afinal, a geração de outros mais silenciosos e devastadores.
Quatro acidentes depois, que o tempo está de chuva, cheguei, finalmente, a casa.
sábado, dezembro 24, 2005
Um dia especial
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Bet and win
O problema é que isto é realmente um jogo e não é proibindo o jogo formal que o real se esvai. Porque há muito que de jogo se trata, havia quem se dispusesse a fazer apostas. Ninguém se indigna realmente com a realidade deste jogo, por isso há quem se disponha a jogá-lo. Agora nem essa oportunidade lúdica nos resta. O jogo vai continuar e nós nem podemos brincar.
Estares
Ignorância e mitos
Mas é preciso acautelar-nos quando explicamos a outros aquilo que sabemos. Ensinar, provavelmente, mais não será do que trazê-los ao lado de cá onde estamos, fazer-lhes dar o salto.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Momento
segunda-feira, dezembro 19, 2005
A mudar
Um estudo comparativo realizado pelo STE, com base em dados do Banco de Portugal, sobre a evolução salarial nos sectores público e privado, permite concluir que nos últimos cinco anos os trabalhadores da administração pública perderam 7,74% do seu poder de compra face aos seus congéneres do sector privado.
Este é um dos resultados de estarmos reduzidos a uma minoria de 10% de votos de quem pensa que se pode fazer uma outra história diferente. Diferente da história única que o Império nos quer ditar.
As duas faces da mesma moeda que nos governa (?) mostram desta forma a sua incompetência de gestão do país e perseguem na caminhada de destruir todo o Estado, abdicando de tudo o que pudesse ser administração do que dá lucro, abdicando de tudo isso em favor do interesse privado. Dessa forma, contudo, também perderãop, elews próprios, o significado de existir. Ficaremos cada vez mais entregues a nós próprios, sem esperança e sem rumo. Morto o Estado, jogaremos cada um para seu lado, o caos manifestar-se-á. É por aí que os cegos avançam em manada. Ou o pesadelo terminará um destes dias.
Como aconteceu há uns tempos na Noruega, lendo os nossos jornais, ontem não terá havido eleições na Bolívia. Mas, na verdade, algures, o soldadito boliviano Che Guevara olha-nos com aquele sorriso doce. Há qualquer coisa a mudar, na verdade.
domingo, dezembro 18, 2005
Será?
Publicado no Expresso só estranho que o Jerónimo ainda esteja à frente do Louçã. Por que se passa de cerca de 60% para a minoria? Foi o choque Sócrates, é óbvio. A dificuldade é perceber, porque será que os 4 tipos da esquerda (ao menos eles, que os jornalistas são o que são e se calhar nem têm que se meter no assunto) não perguntam ao da direita, quais as medidas em que discorda da Socrática política. No seu estilo PR-PM, vai reduzir de novo a idade da reforma, reisntituir os direitos perdiso pelos professores, magistrados, militares? Se agora fosse já PR teria impedido essas leis? Perecebe-se a dificuldade de Soares, que está nesta coisa nem se percebe bem porquê e ficava-lhe mal atacar o «amigo» que o promoveu a candidato. Alegre ainda não se decidiu a pôr em causa os «camaradas» porque acha que não está certo fazê-lo, ainda tem noções de honradez de outros tempos. Jerónimo e Louçã andam nisto para contar espingardas, uma espécie de segunda divisão, sem apuramento à vista.
A continuar a coisa ainda vamos ter primeira dama a tratar dos netos ou a corrigir os pontos dos alunos enquanto o PR está a oferecer jaquinzinhos de jantar à Rainha de Inglaterra e a comer bolo rei de boca cheia... e Sócrates, livra-se dos Soares (mais do filho que do pai) e do Alegre. PSD e CDS estão de férias até dia 22 de Janeiro à noite?
A origem das coisas
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Mais um dia
Como todos os dias tem sol e às vezes chuva ou frio ou calor consoante a região em que se está. No fundo, é o clima que condiciona o aspecto dos nossos dias. E também a forma como os sentimos. Depois os dias terminam sempre da mesma forma, com o sol a despedir-se até depois e ficamos na esperança de outro dia a mais que hoje. Nem se sabe ao certo para que o quereremos, mas temos uma esperança inata de que haja algures um dia diferente, que realmente nos surpreenda. Depois, logo pensaremos, para que o quereremos.
Nalguns dias olhamos talvez mais para nós, logo pela manhã, ao espelho. OK, estás com bom aspecto, ainda só mais crescido…
sábado, dezembro 10, 2005
Férias
No aeroporto ao fim da tarde chegam aos balcões de check-in carregados com volumes de televisões, altas-fidelidades, micro-ondas, embrulhados em cartão sobre o que escreveram em letras negras, como eles, o destino. Voltam à terra transportando os bens de lá (cá). Alguns por lá ficarão, outros voltarão para novos regressos com novas cargas.
Ao vê-los imaginei o caminho errado por que optaram (eles ou quem?), o caminho da viagem de vai-vem, consequências de independências não se sabe bem de quem. Percebo a ideia infeliz do nacionalismo, este desejo que não entendo de pertencer a uma terra com arame à volta e não de um mundo sem cancelas. Seria lindo naquele dia de reinício de trabalhos nas Nações Unidas, ver o Secretário-Geral embaraçado no discurso dizer, «comunico à Assembleia o pedido de não independência destes países africanos e asiáticos» apresentando de seguida uma lista infinita de países a exigirem a integração de pleno direito no bem-estar que fabricam para o hemisfério norte.
Alguns dos tiranetes que os dominam tentariam ainda um movimento de resistência apoiado pelos fabricantes de material de guerra, mas não seria longa a luta.
Foi neste clima de irrealidade que iniciei a viagem até Cabo Verde. Um jantar TAP e uma audição de Carmina Burana depois começava a descer para uma ilha que não via. Eram quase 3 da madrugada.
Na rua o ar era morno e seco, mas a camisola vestida não incomodava. Seca foi a espera até tudo estar pronto para a partida para o hotel. Logo seguida pela surpresa de um percurso asfaltado e em auto-estrada. Pouco africano. O começo do Sal sem sal. À hora a que chegamos o hotel na Ponta Negra era um poiso desejado e já entrevisto na Net uns dias antes. No dia seguinte, sob o sol, já parecia estar em Marraquexe sem montanhas. Funana no deserto da ilha do Sal.
Está-se bem. Areia à Algarve, praia longa como a minha (mesmo sem falésia), Primavera em Dezembro no morno do ar que continua todo o ano e uma brisa ligeira, condições de convite à leitura do fim de Budapeste do Chico e depois do Quadrado do Manuel Alegre. Estirado nas esteiras nos intervalos de comer a comida europeia do tudo incluído. Sem o sal da lagosta nem da cachupa. Uma surpresa boa foi o fim do linguarejar em português, substituído pelo som do alemão e do italiano, tanto mais apropriado quanto estava a ler o Chico. Sabe-me sempre a férias este deixar de ouvir o linguarejado nacional. Para a irrealidade da localização contribuiu também a ausência do falar português dos locais que sempre me trataram inicialmente como se fosse italiano ou alemão nas saudações que faziam. Jambo! apetecia-me responder-lhes, mas afinal estava noutro local e sempre dizia bom-dia! Depois falavam em português claro, mas era como se português ali fosse raridade e era. Entre grogues e ponche e intervalos de estiramento os dias passam e percebo quanto me apetecia estar assim em férias sem a alvorada das 7 horas na visita a qualquer coisa. E perto das 6 da tarde, chega o pôr do sol, mais ou menos pintado destas zonas.
Depois do jantar, o «espectáculo» de musicol com meninas e meninos a dar à perna sob um som americanoide mais do Norte ou mais Central. Só na véspera de voltar um tocador de rabeca tocou em Caboverdês. Mas as mornas andam por outros lados na voz de Cesária, em tourné internacional.
E o tempo passa, por vezes à beira mar, outras na piscina embrenhado em leitura ou audição da Paixão de São Mateus. E acabados os livrinhos e na intermitência obrigatória da leitura das Intermitências da Morte a que a Ana me obrigou (um desconforto confortável), acabo por dar comigo a ler o Confessor de um tal Daniel Silva. Mais uma história pouco lisonjeira para a Santa Madre Igreja Católica e Romana. E fico a meditar na coincidência do êxito dos Dan Browns e companhia, sempre este malhar no Vaticano. Eu que não acredito em coincidências, deliro na possibilidade de uma campanha subreptícia anti-Vaticano induzida pelos senhores do Império, descontentes com a desaprovação de algumas das suas iniciativas a favor do «Bem». Por estes dias, lá longe, Harold Pinter faz uma alocução notável na recepção do Nobel. Sabe bem ler quem, mesmo nas circunstâncias de vida em que está, se recusa a deixar de pensar. E tantos vivos-mortos por aí se arrastam em vidas de nada!
Este far niente de brisa e morno foi interrompido, sem grande agitação pela volta à ilha com passagem por salinas de onde quase já não sai mais sal, banhos em água hipersalgada, visões de miragens e de lugares de nome (imagem de Buracona no início) de dificil leitura antes do horário nocturno. Por toda a ilha a presença constante do Benfica (Tud Po Benfica), aparentemente a grande marca de domínio colonial destas paragens.
Bom também a visão de crianças a vir da escola, promessa de futuro melhor, vestidos de igual numa imagem de pioneiros que já não serão, mas ainda lembrando Amílcar Cabral ou imagens da outra ilha onde o povo é gente mais que número de estatística de miséria.
Agradável tempo de intervalo em início de férias que vão durar ainda mais uma semana, mesmo sem a possibilidade de audição do resto da Paixão à beira-mar, que ficou guardada numa caixinha pequena algures num banco de avião.
E o tempo decorre na imortalização dos tempos decorridos. Ontem foi a visão dos tempos de há quinze anos, quando o cinema começou cá em casa. Hoje olho muitos centímetros de caixinhas de fitas enroladas, cheias de memórias e o difícil é perceber por onde começar a gravar os tempos que foram, mas que voltam quando faço estas coisas. É óptimo estar de férias, mesmo com o remorso do trabalho que falta fazer.
quarta-feira, novembro 30, 2005
Sinais dos espaços
A crueldade da insistência
terça-feira, novembro 29, 2005
Clique
segunda-feira, novembro 28, 2005
Uma mão cheia de notícias
O Banco Alimentar reuniu mais nem sei quantas toneladas de alimentos em comparação ao efectuado no ano passado. Conclui-se pela generosidade do Povo português, nisto se incluindo Gente com ordenado mínimo e reformados, que sabem o que custa estar sem arroz em casa. Não sei se no tal Povo devem ser incluídos os proprietários das grandes superfícies, que lucraram com a venda do acréscimo de produtos. Mas também já sabíamos que eles são devotos da Economia muito mais que generosos. Não fosse isso disponibilizariam, gratuitamente!, umas quantas toneladas nestes eventos de solidariedade. Na verdade, preferem também engordar à custa da generosidade do tal Povo. Por isso, os excluo do grupo.
Não bastassem já estes acontecimentos fiquei a saber que se pagam 3 milhões de contos/ano de horas extraordinárias a médicos no hospital onde trabalho.
Algumas reflexões:
1. Se um médico ganhasse em média 6000 contos/ano (e não ganham, em média, nada que se pareça, pois a maioria não irá além dos 3000/ano!!!!), teríamos capacidade com essas horas extra de contratar 500 médicos (full-time!!!) para fazer esse trabalho ou seja teríamos quase uma equipa B do hospital.
2. Se pagam 3 milhões de contos de horas extra, o senhor Ministro anda enganado quando diz que há médicos a mais. Ou não será evidente? Horas extra, é porque os quadros não chegam para assegurar o serviço ordinário...
3. Como contribuinte, exijo que os gestores comecem a gerir... até porque hoje os trabalhadores que recolhem o lixo nas ruas do Porto iniciaram uma greve, porque parece que é ilegal pagarem-lhes um suplemento pelo trabalho que fazem. Explicando melhor, geralmente ganham cerca de 500 euros por mês dos quais 25% são o tal excedente ilegal... Portanto, Rio e companhia decidiram cumprir a Lei e querem pagar-lhes 375 €/mês. Depois não se admirem se o lixo se acumular e eles começarem a fazer fogueiras na cidade, mesmo antes do S. João. É que com estes chorudos vencimentos legais, a malta não tem dinheiro para o aquecimento central...
domingo, novembro 27, 2005
Fundos seguros ou seguros ao fundo
sexta-feira, novembro 25, 2005
O pesadelo americano
Curiosamente, é também a descoberta de que há mais mundos. Um filme que vale todos os minutos.
Um pesadelo num dia que celebra outro há 30 anos. E sempre se descobre outra saída, algumas duram mais do que outras a perceber, porque nem sempre alguém nos faz um roteiro.
quarta-feira, novembro 23, 2005
Mediquês
Mensagem:
Os ensaios clínicos, randomizados, enfatizam a necessidade de baixar o colesterol de forma reduzir os eventos coronários. O racional desta afirmação é tirado das conclusões da avaliação do folouape (?) de doentes e passa a incorporar as gaidelaines (?) das Sociedades ....
Não foi bem isto que ele disse, mas disse assim.
terça-feira, novembro 22, 2005
Os limites da prescrição
segunda-feira, novembro 21, 2005
domingo, novembro 20, 2005
Os números e a guerra
Não é por causa disto....
nem por causa disto sequer, que se deve pôr em causa a participação numa Guerra. As razões para se fazer uma guerra, são seguramente outras e prendem-se com o que se acha serem os riscos que corremos e a justiça de os corrermos. Depois, há que ver no «nós», o que diz nos diz respeito, realmente. Até que ponto o majestático «nós», não diz respeito exclusivamente a alguns, a «eles», que, por terem o poder falam por nós. Não é por se poder morrer que se não vai à guerra, mas deve ir-se só quando se percebe, realmente, por que se vai.
sábado, novembro 19, 2005
Pedras
Também se pode ser pequeno na desgraça. Mas é a isto, que os Impérios reduzem os seus mortos, sob a capa hipócrita da dor. Chamam-lhes os maiores de entre todos, na esperança garantida de que outros mais se disponham a defender (nem eles sabem o quê) a perpetuação dos seus domínios.
Um morto é um drama muito grande. Para alguns, seguramente, não passarão de mais uma pedra cravada no relvado. Por cada uma, pergunte-se, se terá valido a pena. (Imagem: A sementeira do Império - colhida em Arlington, Washington)
sexta-feira, novembro 18, 2005
Os bons e os maus
Mais uma notícia de hoje em que fica bem demonstrada a incapacidade do Estado e a boa fé e excelência dos Privados.
Gente sem dúvidas
quinta-feira, novembro 17, 2005
Segurança necessária
Sua Exa até deve saber destas coisas da Saúde e nós também sabemos que as coisas poderiam estar bem melhores. Não é bonito é deixar-se ir pela tentação de se atiçar contra os trabalhadores para dar bom ar para a populaça. E se realmente sabe destas coisas, crie as leis, os mecanismos que tornam a Saúde um negócio apetecível. Seja empreendedor. Aqui bem perto do Hospital que o senhor diz ter mil pessoas a mais, erguem-se hospitais como cogumelos em bosque molhado; diariamente, basta ouvir rádio para ver como nos querem tratar da saúde; toda a banca e seguros a investir alegremente e, como é óbvio, não o fazem para perder dinheiro. Este sector é rentável! Desenvolva as condições para que o seu sector seja competitivo, criativo e gerador de receita e não o ataque, não o destrua, para dar lugar à concorrência. A República precisa de um Serviço Nacional de Saúde de qualidade, competente e prestigiado com gente empenhada em defendê-lo contra as iniciativas do capital privado. Há gente a mais, talvez. Possivelmente, muitos dos que gerem hoje os seus serviços já com a ideia de destruindo-os, desacreditando-os, poderem amanhã instalar-se ao serviço dos privados. Estão, obviamente, a mais. Que fazer? Acabar com a promiscuidade, criar dois sectores concorrenciais e que ganhem os melhores. De outra forma, uns irão ter saúde com os seguros que vão pagar, os outros ficarão à porta por não estarem seguros. Segurança é preciso!
quarta-feira, novembro 16, 2005
Relatório breve sobre taxas moderadoras
Andam a dizer que vão aumentar as taxas moderadoras. Será verdade?
Objectivo:
O senhor Ministro é que sabe qual é.
Métodos:
Ir ao google e escrever: taxas moderadoras correia de campos.
Resultados:
2005-04-12 05:50:55
Governo não vai "mexer" nas taxas moderadoras
O Ministro da Saúde garante que o Governo não vai mexer nas taxas moderadoras. Correia de Campos, em declarações à TSF, disse sem margem para equívocos qual a política do Governo nesta questão.
O desmentido de Correia de Campos surge, depois de ter dado uma entrevista à Rádio Renascença, em que a hipótese de subir as taxas moderadoras nos casos de falsas urgências foi noticiada.
Agora o responsável pela pasta da Saúde vem esclarecer, em declarações à TSF, que a única coisa que referiu foi um exemplo teórico de difícil execução.
«Não há nenhuma intenção de a curto prazo fazer qualquer mudança. É uma ilusão completa pensar-se que as taxas moderadoras podem financiar o sistema de saúde», explicou.
«É um exemplo muito difícil de operacionalizar, só se pode realizar quando os cuidados de saúde primários estiverem em contacto com os hospitais em permanência e quando for possível os hospitais conseguirem marcar por computador no dia seguinte a visita ao centro de saúde», acrescentou.
«É uma especulação completamente infundada, sobre um exemplo teórico, concluir que o Governo está a preparar medidas, não está, ponto final parágrafo», rematou ainda Correia de Campos.
Conclusão:
Cada um que a tire... que eu já tenho dito que a moeda tendo duas faces, não deixa de ser a mesma
A comissão é para não fazer nada (haja lucidez)
E assim vamos nós, hoje com 430000 desempregados (7,7%!!) e um Ministro, politicamente correcto, a afirmar-se preocupado. Mas afinal a culpa é da nossa amiga Economia, que não há maneira de despertar... Será que os sucessivos Governos não têm tido Ministérios da Economia e das Finanças? É que dizem estas coisas com um ar tão cândido que até parece. Há quantos anos andamos nós nesta dança PS-PSD? Haja vergonha!!
segunda-feira, novembro 14, 2005
O Pro Cavaco
Começa a ser urgente combater a depressão deste país e esta campanha triste. Alegremo-nos!
domingo, novembro 13, 2005
Instantes
Fico subitamente espantado sempre que acontece olhar aqui em baixo e perceber que afinal é um dia antes. Pois, 14 é só amanhã. Ganhei um dia. :)
quarta-feira, novembro 09, 2005
Dúvida
-O quê? O Estado não é de direito, mas de direita? Não há direito...
terça-feira, novembro 08, 2005
Concursos
Esta fixação dos concursos públicos na objectividade (que tem por trás a noção de justiça) é um risco para os sistemas e para as pessoas envolvidas e nem o recurso a grelhas de características diversas, por mais variados que sejam os critérios a avaliar, resolvem o problema da subjectividade e as inerentes injustiças associadas. Muitas vezes, o problema nem se põe. O que se trata nesses casos é de fazer uma grelha que coloque em primeiro o candidato que se escolheu antecipadamente. É o faz de conta que tantas vezes acontece. Na verdade, o problema só se coloca quando se procura ser objectivo e imparcial. Aí percebe-se que se está a pedir o impossível.
Fazer escolhas em concursos públicos é quase como se fossemos escolher uma mulher para casar com outro. Se gostamos dele, procuramos alguém de quem gostamos, se não gostamos, seleccionaríamos a que achassemos pior. Só que isso seria sempre de acordo com os nossos objectivos e nunca com as necessidades do contemplado. E depois da escolha feita, lavamos as mãos e vamos à nossa vida. Esta ausência de consequências pessoais da escolha que fazemos é que é preocupante para o sistema. Já que a escolha terá sempre critérios de subjectividade a dominá-la, ao mesno que sentíssemos, no futuro, as consequências da escolha. Como quando seleccionamos a mulher com quem vamos viver. A escolha pode não se vir a mostrar a mais acertada, mas na altura em que foi feita, foi a mais honesta possível e o empenhamento na selecção foi total. E, curiosamente, os critérios que usámos foram quase todos subjectivos.
Em resumo, era bem mais honesto e justo que os directores de serviço, simplesmente, escolhessem os seus colaboradores e depois tivessem as consequências das escolhas feitas. Inclusivamente, optando pelo tipo de concurso que melhor achassem conveniente. Se a escolha fosse certa, o serviço produziria, ele continuaria a dirigi-lo. Se as escolhas fossem erradas, sofreria as consequências. O processo ganhava transparência, o sistema público, afinal, usava métodos de selecção usados nos privados, onde ninguém os contesta. E era fácil de implementar isto. Era só garantir o que a lei preconiza, a exigência de os directores o serem em comissão de serviço por 3 anos, com possibilidade de substituição caso não tenham cumprido ou haver outro com melhor programa para o triénio seguinte. Legislam, legislam e não cumprem nada!
segunda-feira, novembro 07, 2005
Que bestas!
Adoráveis estes nossos comentaristas políticos, professor Marcelo incluído! A objectividade sempre como espuma que esvoaça no discurso.
Abençoado liberalismo que terminará com todos os males do mundo. Afinal, foram as preocupações sociais que marginalizaram das cidades estes tipos, que os desempregaram, que lhes tiram a esperança. O liberalismo tudo lhes tem dado, só que eles são uns ingratos, uma escumalha, uns burros que nada entendem. Umas bestas! Que cada um identifique as bestas deste processo.
domingo, novembro 06, 2005
Pelos últimos dias
A obesidade foi o tema de três dias de trabalho de manhã até à noite, que agora quase começa às 5 da tarde. Mais do que a chuva, isto chateia-me no Inverno, os dias curtos.
Durante 3 dias pretendi que algumas pessoas reflectissem sobre a obesidade. Fiz-lhes um programa, que teve mais de metade do tempo para pensar sobre o problema e uns intervalos vespertinos para publicidade que garantisse o tempo das manhãs.
Ainda não percebi a razão por que as reuniões marcadas para as 9 horas têm sempre de começar depois das 9 e meia. Logo isso começa a chatear-me. Mas enfim. Pior que isso é a incapacidade de reflexão. Há qualquer coisa que bloqueia as ideias, que não deixa ir além do óbvio. É claramente, óbvio, que a obesidade está a ter um crescimento absurdo neste mundo globalizado e que esta crise surgiu no últimos 15 anos. Logo, a genética está inocente nesta epidemia. É o ambiente, estúpidos! É, igualmente, óbvio que é a alimentação e o sedentarismo que leva ao problema. Vai daí, a receita até é fácil: melhor comida (menos energia ingerida), mais exercício (mais energia consumida) e toda a gente com obesidade começaria a emagrecer. Só que os gajos são estúpidos e não se portam bem. Deve ser só para chatear os médicos! Os obesos e os pais dos obesos, que esses são outros monstros que passam o tempo a atafulhar os seus filhos de açúcar e batatas fritas. Cambada de preguiçosos e pais negligentes que só lhes dão comida junk. Portanto, para maioria destes crânios, vamos continuar a fazer recomendações, a educar as pessoas (Oh, como gostam de educar a populaça!), a dizerem-lhes para irem cozinhar e fazer corridinhas (de preferência com ténis de marca ou no Ginásio da moda lá da zona). Ok, só que as pessoa há mais de 15 anos, só porque são estúpidos até à última potência, não fazem nada disso e continuam a engordar que nem porcos.
Quando se tenta ir à causa das causas da obesidade, a coisa fica turva. Para mim e até me provarem o contrário, a coisa passa-se assim: 1) é preciso dar cabo daquela sensação chata que nos pede para comermos, aquilo que todos mais ou menos conhecemos; 2)até sabemos que uma pera, seria melhor que uma merendinha lá no bar, mas não há pêras no bar e até não houve tempo ontem para ir comprar fruta ( a mercearia do bairro tem-na mais cara que no supermercado e este foi morar para longe), logo comemos aquilo que há; 3)depois uns franceses e uns americanos, fizeram umas contas e mostraram com toda a clareza que os açúcarados e as gorduras são bem mais baratos que as frutas e os bens da horta, logo, para resolver o problema da tal sensação, o mais sensato em termos de racionalidade económica é mesmo comer aquilo que se não devia comer; 4) isto é o que faz quem conta os euros, os outros até têm empregada para ir ao supermercado comprar o que devem. São os que engordam menos, claro, que isto da obesidade também é privilégio dos mais pobres; 5) são os mesmos que andam diariamente sentados nos carros em filas pelas ICs 19 e que tais ou de pé nos transportes públicos e perdem nisso todos os dias umas 3 horas e depois não têm o tal tempo para ir fazer jogging... (e fazem bem, porque lá nos sítios onde vivem, ainda lhes tiravam as sapatilhas e tinham de ir descalços o resto do precurso até casa); 6)é que os gajos até nem são estúpidos, não têm é dinheiro!
O exercício dirigido à inteligência de todos os crânios que meditam é mais ou menos este: Por que terão eles que morar nas periferias? Por que não têm maiores salários que lhes permitissem escolher melhores alimentos? Por que só têm 1 hora por dia para estarem na cozinha? Ou de outra forma, por que será que o crescimento da Dona Economia, não lhes melhora as condiçõe sde vida? Pois, enquanto o fosso continuar a aumentar, a epidemia aumenta e o vírus que a causa (o capitalismo, neo-liberalismo) prolifera. E vai afirmando que a culpa é das pessoas, elas podem escolher (ouvi isto duas vezes neste Congresso!!!). Não podem nada escolher, ou ainda não perceberam que ter as montras da Hermès não aumenta o poder da escolha a ninguém. Essa opção será só para os mesmos de sempre, eles é que poderão escolher e escolhem pelo bom, como os outros também escolheriam se pudessem. Mas não podem! Conseguiu ser surpresa para mim, que até nesta coisa simples da obesidade, a luta de classes afinal ainda continua a existir. De um lado a Indústria alimentar a berrar a liberdade de escolha e a impossibilidade de proibir regulando, do outro os que não beneficiam com a batata frita a berrar pela legislação proibicionista e reguladora. Proibir a publicidade à junk food, a existência de lojas de comida rápida num raio de distância das escolas, as máquinas de vendas de comida em escolas e locais de trabalho, por exemplo. Regular, manipulando preços de comida, taxando a má comida, subsidiando a boa. Mais Estado, obviamente! E até estou optimista, pois, a despesa com a obesidade promete ser tanta que até o Estado vai estar condicionado a intervir. Pode é ter de ser com outros actores, mas mesmo com os actuais, a coisa promete.
Mas sente-se que este combate é desigual. De um lado, uns que não têm capacidade de marketing porque nada ganham com o investimento publicitário, do outro os todo-poderosos para quem os custos dos anúncios são um factor gerador de maior poder. Poderá o Estado perceber o problema e investir limitando a ganância dos poderosos de agora? Aí começará a controlar-se a epidemia, atacando o vírus, matando-o. Mas não há outro caminho.
Foi curioso passar pela SIC a dizer estas coisas. Foi curioso, perceber que aquela imagem cativante dos estúdios que nos mostram em casa, é afinal um espaço escasso, frio, quase um armazém de paredes negras a toda a volta, exceptuando o que está na frente das câmaras. E viver aquele frenesim, aquela falta de tranquilidade. Perceber, finalmente, que de cada vez que falei da casa das causas a pobre jornalista sentia uma necessidade incontida de passar à frente para outro tema. Foi bom sentir-me incómodo.
terça-feira, novembro 01, 2005
Nem amadores, nem maus profissionais, s.f.f.
Parece que os transportes públicos aumentaram hoje 4%. Nós os que andamos de carro, teremos de concordar que esta foi mais uma medida popular (foi para o povo, né?), do senhor engenheiro. Este parece ser profissional, a política é que é a errada.
terça-feira, outubro 25, 2005
Falam, falam e têm poucas dúvidas
A diabetes é aquela doença de que padecem cada vez mais doentes. Uns estudos mostraram que o bom controlo da doença (ter o açúcar no sangue em níveis mais perto do normal) melhora as complicações ou chega mesmo a evitá-las. Daí a busca do controlo perdido, uma odisseia em que se empenham médicos e doentes, para que os vendedores de drogas gozem o filme. Nessa busca de níveis baixos, muitas vezes, exagera-se e o doente tem hipoglicemias. Isso pode fazer com que, se for a conduzir, por exemplo, perdndo os sentidos, tenha um acidente que o maltrate a ele e a quem com ele se cruze naquele instante. Daí a ideia de limitar a capacidade de conduzir a estes doentes. Um curioso parecer, encostado a um discurso do poder, proclama que pode guiar quem tiver um bom controlo da doença. À primeira vista, parece correcto. Bom controlo, melhor! Pois é, mas não, bom controlo é maior risco daquilo que poderá impedir um diabético de conduzir, é maior risco de hipoglicemia. Mais curiosa ainda a proposta de que o atestar do bom controlo tenha de ser feito por um especialista. Na verdade bom controlo com vista à prevenção do risco é não ter hipoglicemias, sobretudos, as que se não sentem. Um segredo que só os próprios doentes poderão identificar. Ou seja só eles poderão atestar se andam ou não bem controlados. E já agora, será que os diabéticos têm risco acrescido de acidentes? Alguém expedito responde com um, claro que sim! Há sempre pessoas que raramente têm dúvidas...
segunda-feira, outubro 24, 2005
Uma das grandes diferenças
Esa es la gran diferencia entre el sistema capitalista que promueve el consumismo irracional, el egoísmo y la locura, que lleva a la gente a saquear un comercio cuando viene una hecatombe de esta naturaleza, y nuestra sociedad socialista, donde se hace un enorme esfuerzo por la equidad, la solidaridad y la justicia, valores a los cuales jamás renunciaremos, subrayó el Comandante en Jefe.
Não irá faltar quem veja nestas afirmações, reproduzidas do Granma, algum fanatismo e mesmo algum reflexo de senilidade de quem as profere. A esses apetece-me dizer-lhes que reflictam um pouco. Pode bem valer a pena...
quinta-feira, outubro 20, 2005
Vão-se lixar!
Quando saí de casa ia com vontade de aderir à greve. Para meu espanto, ao chegar à consulta, vejo toda a gente a trabalhar. Quem eram? Os súbditos do São Precário. Todos a trabalhar, disciplinadamente. Se alguém pode ter razão de queixa, penso que serão eles. Se perante a ofensiva desembolada do liberalismo se põem a jeito em prece maometana, digo-vos: vão-se lixar! Ia eu tramar os doentes que vieram para ser consultados, marcando-lhes outra data (isto é, ter de fazer consultas a dobrar noutro dia), abdicar de um dia de receita em nome de quê? Eu tenho um lugar garantido, um ordenado confortável e se me lixaram a reforma isso até pode compreender-se porque nasci no ano errado. Se eles, os que estão a perder todos os direitos, abdicam assim com toda a facilidade de lutar, por que devo eu estar solidário? Que se lixem! Parece ser esta a linguagem que gostam, o sistema que preferem, o cada um por si. Não, agora não é impossível fazer greve. Conheci um tempo em que fazer greves era difícil. Não era só emprego que estava em causa, eram visitas esperadas, ou férias forçadas. Mas ainda assim, lutava-se, porque sabíamos que havia outros ao nosso lado, não vivíamos sozinhos no mundo. Se a vossa opção é o cada um por si e o resto que se lixe, então vão-se lixar!
Haja paz
Prémio a notícia mais velha do ano.
Por que será que uma notícia velha consegue sê-lo? Um contrasenso. Andou a ameaçar este tempo todo e, finalmente, consuma o acto. Imagine-se o que será este homem a tomar decisões. Cala-se, diz que dirá depois. Entretanto vai falar com os netos, os filhos , a Maria, os amigos e alguns meses depois lá tomará a decisão. Tem as suas vantagens. Imagine-se que o Bush pensa usar a base das Lages numa futura invasão de um qualquer Irão. O homem irá meditar, ao fim de uns meses, decide-se. Pode ser que entretanto já se tenha percebido, com toda a clareza, que os argumentos da invasão eram injustificados (como é hábito) e a coisa se não faça. E assim se percebe a insuspeita qualidade deste homem. Muitas vidas teriam sido poupadas se já fosse Presidente há uns tempos atrás. Só iraquianos teriam sido cerca de 30 por dia. Americanos uns 2000 e tal.
terça-feira, outubro 18, 2005
Bibá bola
Futebol 1 - Saúde 0
Mesmo que o site da OMS/WHO continue a ignorar o português. Mas que importa a saúde comparada com o futebol?
terça-feira, outubro 11, 2005
Pós-eleitoral 2
Continue neste rumo e um destes dias ainda se vai queixar de agitação excessiva...
Pós-eleitoral
domingo, outubro 09, 2005
Velha raposa?
sexta-feira, outubro 07, 2005
Muro e vergonha
quinta-feira, outubro 06, 2005
Cúmplices
Ou será este um país de cúmplices?
Depois há uma série de candidatos que parece que o não são. Nos telejornais são sempre os mesmos. Ainda não percebi se o Jerónimo é o candidato do PC em Lisboa (e no resto do país também...), mas realmente só o tenho visto a ele nos telejornais. Pelo Bloco parece que o Anacleto se candidata em todas as Câmaras também.
Apesar de as conferências da Câmara poderem passar a ter outro nível de discussão, decidi não votar no filósofo alternativo e como isto é local, vou votar no Partido do droguista meu vizinho. Parece que há um tal Ruben do grupo dele que se candidata a Presidente da Câmara... Vai ganhar um voto à custa do droguista.
E fico à espera que o vulcão francês entre em erupção...
quarta-feira, outubro 05, 2005
Vamos preencher-lhe as expectativas
Espera-se que com o impuso que dará, possivelmente, o próximo fim-de-semana, possamos aproximar-nos das expectativas deste homem, que hoje se lamentou desta forma curiosa:
"Há uma conflitualidade social relativamente às medidas do Governo muito abaixo do que seria de esperar em Portugal", sublinhou o primeiro-ministro.
Ele quer mais, está desiludido com a distracção do seu povo. Alguma vez teremos de seguir o líder e fazer-lhe a vontade.
O exemplo de França até pode ser interessante, tanto mais que é uma terra onde têm surgido, desde 1789, passando por 68, algumas novidades interessantes para mais tarde recordar.
(imagem colhida no Libération)
terça-feira, outubro 04, 2005
Por uma Campanha Alegre
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não o dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Foi enquanto ouvia o Manuel Alegre ontem na SIC Notícias, que me veio à lembrança esta coisa muito velha desta Pátria. Já o Camões dizia prenunciando as fátimas ixaltinadas e os loureiros de sempre, essas coisas velhas como os hábitos que fazemos de cócoras.
Aos poucos fui percebendo melhor que, mais do que o realismo da descrença, vale muitas vezes, muito mais, o desejo de acreditar. É que a esperança sabe bem melhor que a vil tristeza. Por isso, a quem tem alma grande, sempre vale a pena cantar à gente surda e endurecida. Até que a voz nos doa, lutaremos por mudar este fado. Façamos uma Campanha, Alegre!
segunda-feira, outubro 03, 2005
Alegre e Tarrafal
Finalmente, hoje, foram homenageados pelo PR, isto é, um pouco por todos nós, os que pereceram ou sobreviveram ao Tarrafal.
Estranhei ausências (deviam andar a distribuir canetas e sacos plástico ou estão ainda em cura de águas), mas gostei de quem disse Presente!
domingo, outubro 02, 2005
Será verdade?
Por isso e para os que aqui possam vir fica o resumo de Eugénio Rosa, publicado no Informação Alternativa:
Os lucros líquidos das 500 maiores empresas em Portugal somaram, em 2004, 3.111 milhões de euros (623,7 milhões de contos), tendo aumentado neste mesmo ano 42,1% relativamente a 2003. Se considerar o período 2001‑2004, o aumento dos lucros destas empresas atingiu 86,7%. Estes dados mostram que a crise económica não está a afectar as maiores empresas, revelando-se até como anos dourados, contrariamente ao que sucede com as pequenas e médias empresas.
Este aumento de lucros tem-se verificado simultaneamente com um aumento menor de vendas e de crescimento do VAB (riqueza criada). Por ex. em 2004, os lucros cresceram 42,1%, as vendas 7,1% e o VAB 21,3%. Aquele crescimento dos lucros parece ter sido conseguido fundamentalmente pela redução da percentagem do VAB destinada ao pagamento de impostos ao Estado e ao pagamento de remunerações aos trabalhadores.
Em 2004, cerca de 15% de toda a riqueza criada no nosso País já era controlada pelas 500 maiores empresas, tendo-se verificado uma tendência de aumento contínuo nos últimos 4 anos. Efectivamente, entre 2001 e 2004, o VAB destas 500 empresas aumentou de 16.080 milhões de euros para 18.554 milhões de euros. E estas empresas empregavam em 2004 apenas 6,1% da população empregada.
Em 2004, a Autoeuropa, uma das maiores empresas a funcionar em Portugal, continuou a não divulgar dados de natureza económica e financeira. Em 1999, os lucros da Autoeuropa atingiram 12,3 milhões de contos e, em 2000, cerca de 16,2 milhões de contos; portanto, num ano apenas aumentaram 32,5%. A partir de 2000 a Autoeuropa deixou de divulgar dados de natureza económica e financeira, tendo imposto pouco depois um congelamento de salários aos seus trabalhadores por 3 anos, que se prolonga até Setembro de 2005, determinando uma redução do poder de compra dos salários dos trabalhadores em cerca de 8%.
Mesmo em relação às estruturas representativas dos trabalhadores da Autoeuropa, a empresa tem dito que são dados confidenciais, violando a lei portuguesa (art.º 503 do Código do Trabalho e art.º 358 da Lei 35/2004). É evidente que a Autoeuropa, ao ocultar aquilo que outras empresas a funcionar em Portugal, mesmo estrangeiras, divulgam todos os anos, para além de ser uma violação da lei, levanta suspeitas na opinião pública que esta empresa teria todo o interesse em esclarecer.
sábado, outubro 01, 2005
Eu apoio!
Só por falta de memória, certamente. Ainda não ouvi ninguém da direita derrubada dizer, preto no branco, quando voltarmos ao Governo as reformas voltam para os 49 anos, os subsistemas de saúde vão ser todos reinstituídos depois de terminados por este Governo, demitiremos todos os recém-nomeados, mas não os substituiremos pelos nossos. Já toda a gente se esqueceu do início do ano lectivo do ano passado, das trapalahadas dos programas informáticos e de quem eram amigos os que os fizeram? Já estão esquecidos dos ministros que tinham filhas que entravam em Medicina ao colo da diplomacia? Já não se lembram de quem vestiu o país de tanga?
E quando o Cavaco gaguejante é quase Presidente, será que já acabou o buzinão e o homem já lê jornais e engana-se algumas vezes?
Raios partam o Alzheimer! Mas para pior já basta assim. Há mais mundo, oh gentes!
Há mais candidatos a presidentes. Vamos dizer-lhe que o apoiamos, escrevendo o nosso nome aqui. Eu fui o 2613º.
quinta-feira, setembro 29, 2005
Não dá...
Temos é de perceber que a terra não dá, se nada lá for semeado. A sementeira é o custo. As ervas daninhas o produto (se nada for semeado, claro).
Vem isto a propósito do facto vivido de uma extensão de 3 metros para colocar uma tomada ser uma obra que, num hospital central e universitário, demora 15 dias a realizar.
terça-feira, setembro 27, 2005
Um bom debate
Foi comovente ver o Dono das Farmácias estar preocupado com o bem estar dos doentes, da população em geral, dos contribuintes, a abdicar da percentagem nas receitas, a procurar reduzir o nível das receitas. Com o ar sério que o poder tem, aquela mostra de ser respeitável, que se desmonta em dois tempos. Basta olhar para a natureza das coisas e para a história da ANF.
Foi igualmente comovente ver a jornalista a acreditar que o Ministro está para durar, e a ajudar a desmontar o embuste do Cordeiro.
Nem faltou um industrial a mostrar abertura a novas reduções de preços dos medicamentos.
Mas há sempre alguma coisa que não corre bem. Desta vez foi a APDP a tentar mostrar que os diabéticos são os únicos doentes crónicos do mundo e a reivindicar a medicação gratuita. E os asmáticos, os dementes, os deprimidos e todos os hormonodeficientes e etc, etc? É que bem espremidos, teremos medicação de borla para todos e depois não queremos mais impostos, não é? Era preciso alguém ter explicado a diferença entre diabetes tipo 1 e tipo 2.
Já agora, também não percebi qual seria o problema de termos farmácias públicas, do Estado. Mas isso é coisa que também só passa pela cabeça de povos ensandecidos como os suecos...
domingo, setembro 25, 2005
Ruído
Por mim, algum ruído sabe-me a música. Anima-me. Fico sempre animado quando os aparelhos ficam desafinados por algum ruído ambiente. As interferências construtivas e reparadoras. Depois há silêncios concordantes que nada dizem, mas a estagnação é mal cheirosa.
Roubo a trova:
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não
Tinha de ser, a atitude não é de agora e antes que o agora comece a ficar como o dantes, ele tinha de tomar a atitude e tinha de ser agora. Com todo o ruído e ainda bem.
sábado, setembro 24, 2005
Alegre!
quinta-feira, setembro 22, 2005
A nova lei
quarta-feira, setembro 21, 2005
Sempre os mesmos culpados
terça-feira, setembro 20, 2005
Tempos
segunda-feira, setembro 19, 2005
As voltas que isto dá
Vai ser divertido ouvi-los a falar da ingovernabilidade e de outras catástrofes que se avizinham, perplexos. Como está a ser possível que a saudade de alguma esquerda comece a crescer? Há já muitos anos também eu tive a ilusão de que o caminho estava aberto e a estrada era em frente até à completa libertação. Afinal, tudo era mais complexo e, se calhar, a história está agora a repetir-se. Apenas noutro contexto.
domingo, setembro 18, 2005
Mais ou melhor
sexta-feira, setembro 16, 2005
Lisboa vista de perto (sem cheiro)
Surpresa, só ver Lisboa em aproximação cada vez maior, mais e mais até ver a minha rua ou será mesmo o meu carro? Só estas coisas como o Googleearth valem a pena. Não se veem os candidatos.
quinta-feira, setembro 15, 2005
Comentar o comentário
Há espirais de violência que não se acabam lançando gasolina na fogueira. Quem ateia o fogo é, para mim, o principal responsável. E os imperadores têm sempre tendência a não pedir desculpa. Já assim foi na Idade Média, na Inquisição e em todos os Vietnames que o meu interlocutor anónimo quiser considerar. Quando muito, as desculpas vêem envergonhadas alguns séculos depois. Mas o tempo hoje anda mais depressa… Tempos diferentes para agir, também, diferente.
E pronto, quando a pancadaria começa, todos são culpados. Todos os terroristas, incluindo os que lançaram a primeira pedra, se calhar por maioria de razão.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Sua culpa
Quando vai pedir desculpa pela intervenção no Iraque? Ou quem é o real culpado de tudo isto?
Défice
Cada vez precisamos mais de dimensão humanista, algum espaço para meditar além do défice. Isto é, ter estatura de gente. Precisamos de saber que na Noruega, o tal país mais rico do mundo, a esquerda ganhou porque as pessoas não querem o fim do Estado, porque sabem que o neoliberalismo não é o fim da história, porque se incomodam com os dispensáveis da sociedade. Porque isso não é estético. Precisamos saber que temos uma relação de rendimento entre ricos e pobres escandalosa e participação do trabalho no PIB ridícula. Precisamos que isso venha nos nossos jornais e revistas. Que se passa que agora dizem todos o mesmo? Antes de 74, ao menos tinhamos a noção que a República e o Diário de Lisboa nos diziam coisas diferentes dos outros. Nem que fosse pelo tamanho da bola negra que a censura lá punha. Mas agora, as notícias são iguais, mais ou menos com alinhamentos diferentes, mas as mesmas. O país tem um défice muito maior que o défice orçamental. De informação. E este não é corrigível com gente de Santa Comba ou de Boliqueime.
domingo, setembro 11, 2005
A data
sexta-feira, setembro 09, 2005
Volta Manel!
Também lá fora continuam a destruir o Velho. Com pouca argumentação além dessa, mas lá vão publicando sondagens de vitória cavacal. Por momentos, parece-me que Soares tem os níveis de aceitação jornalística que tinha o Santana Lopes, o que mostra o estado a que Isto chegou. Esta pequena história é ingrata. Já se esqueceram que foi este homem que acabou com a revolução em 75, que meteu o socialismo na gaveta e fez muitas outras diabruras que tais. E ainda passou tão pouco tempo... Ou estarão a preparar-se para comentar os futuros banquetes de jaquinzinhos e bolo rei no palácio de Belém? E uma primeira dama a desviar cobertores em aviões? Grande caixa, boas vendas!
Esta coisa está preta. Por isso termino com um provérbio africano: «Um homem velho sentado consegue ver muito mais além do que um jovem no cimo de uma árvore».
Volta Manel, que isto está triste.
quinta-feira, setembro 08, 2005
A preparar o terreno
Enquanto me lembrar vou ser selectivo nos papéis que me invadem a casa todos os dias. Terei de ter menos medo. Mas, mesmo no meio do lixo, surge algo que me faz recear o radicalismo de implodir todos estes anos de papel acumulados. Uma citação de Aristóteles: «We need relaxation for we cannot work constantly. We need amusements and recreation to restore, to recreate ourselves for our occupation. But the goal of being occupied should only be to obtain leisure». Tinha sido um desperdício ter deitado isto fora sem dar conta, por isso destruir anos de lixo tem de ser uma actividade cautelosa. Limpar a mata dá trabalho, mas pode evitar os fogos.
terça-feira, setembro 06, 2005
Serenidade
Também o congresso decorre sem sobressaltos, excepto os meus. Nada justifica que se perca a oportunidade de encontrar os resultados que ainda não existem. É um auto-desafio com cumprimento exigível até ao fim do ano.
domingo, setembro 04, 2005
Em Gotemburgo
No isolamento de mundo em que andei nem notícias tive do furacão de New Orleans. Vejo agora a América que eu sei que existe. Help! Help! Help! Um grito repetido, doloroso, que se entranha em nós. Estive ali naquela ponte caída, naquele Centro de Congressos, naquela avenida do hotel W, passei por Atchafalaia e já chovia, chovia muito naqueles dias em que lá estive. Como estará o Café du Monde? O homem do saxofone voltará a tocar? E o Jazz Preservation Hall, terá sido desta vez que morreu? Só vejo nestas imagens a dor, que alguma inconsequência não soube evitar. A tal América que eu sei que existe. A tal que não é exemplo para nada, apesar de o reclamar e exportar, mundo fora, um modelo vazio de acentuação de desigualdade crescente e perversa, selvagem, direi mesmo. Está tudo descrito, como um fado, no Futuro do Sucesso de Robert Reich que também vou lendo nestes dias. Quando iremos acordar? Que nos despertará?
Talvez as lições da selva onde se aguçam os sentidos na busca da sobrevivência, só, nessa função de grande dignidade. Ao menos os búfalos cheiram os leões, percebem-nos na vizinhança e sabem unir-se em grande manada e os leões vão esconder-se mais à frente. Mas a manada sabe unir-se e avançar segura contornando o predador.
O safari continua a povoar-me de ensinamentos. As imagens do espaço longo continuam a acompanhar-me. Vou deixar aqui mais uns momentos que por lá registei, dia 26 de Agosto, na espera de voltar a ter um acesso, que agora chegou em Gotemburgo:
Nota: Escrito depois do desastre que comprometeu a visão do texto no computador, num clima de sentimento de negligência e irritação com a história. Embora já aliviado por ter a sensação de outras negligências bem mais complicadas pelas quais não me lembro de ter passado. De qualquer forma, vou escrever com alguma raiva pelo sucedido.
De pouco vale, estar-se num ambiente acolhedor, na beira da piscina numa tarde de clima ameno se soubermos que é perigoso passarmos a porta que nos levaria à rua e ao deambular pela cidade. Mas desde o primeiro instante, quando nos trancam a porta do shutle, que se fica com a noção de que assim vai ser. Nairobi é, dizia-se no Lonely Planet uma cidade perigosa, com pequenas áreas de alguma segurança. Tudo aqui o confirma, quando, por exemplo, o porteiro nos diz que só será seguro ir até ao Banco de táxi… O que restou foi ficar prisioneiro na beira da piscina, à espera de libertação matinal para zonas mais recônditas, onde os males das cidades se façam sentir menos.
Depois de um despertar entusiástico pelas seis da manhã, começámos por aguardar a chegada do jeep, que, claro, tinha ido esperar-nos ao Nairobi Safari Club…
Com algum atraso, sempre recuperável quando se está de férias ( e se calhar todos os atrasos são recuperáveis, porque, verdadeiramente, só a morte o não é e essa todos achamos que nunca chega atrasada) lá fomos saindo de Nairobi, com trânsito meio caótico na outra faixa da auto-estrada, observando a maior densidade que já tinha visto de carrinhas de oito lugares, aqui chamadas matatus e que, na verdade, são uma espécie de táxis. Quase se poderia dizer que esta é a cidade onde mais se anda de táxi. Faltam os transportes públicos. A alternativa parece ser a de táxi ou a pé. Como na véspera já tinha notado, anda por aqui muita gente a trabalhar para a linha, em marcha rápida.
Na nossa ignorância, perguntamos ao Charles (o guia) se iríamos ver animais pelo caminho. Não, senhor, até Samburu, apenas iríamos ver pessoas. E assim foi acontecendo. Sempre na beira da estrada, gente a pé, uns sozinhos outros acompanhados por molhos à costas, ou as mais variadas cargas transportadas sobre bicicletas que vão sendo empurradas à mão. Quanto mais penetramos para Norte, mais surgem na beira da estrada crianças que nos acenam como há muitos anos se fazia nas aldeias em Portugal.
Com o habitual pretexto do descanso e da satisfação de algumas necessidades despertadas pelas necessidades que o tempo de caminho vai gerando, parámos numa Curio Shop, curioso nome como aqui se designam as lojas de vendas de bugigangas artesanais. Lá nos submetemos a uma sessão de bolsa com cotações de venda surreais e ofertas de compra indecentes, num jogo, por vezes, ridículo que pode fazer-nos pensar nos mecanismos da geração do preço de uma mercadoria. Não há modelo matemático, aqui se percebe que é pura especulação entre oferta e procura, uma luta de emoções, mais do que de razões ou reais custos. Desta vez até tivemos intervenção imperialista na discussão. Dois soldados ingleses que aqui se encontram em treino militar (fico a pensar se estarão realmente a preparar-se para defender a pátria, pois as condições de terreno que aqui verifico não me fazem lembrar muito a Grã-Bretanha) decidem informar-me que o preço que me pedem é ridículo. Fico na conversa com o vendedor, atemorizado, que o colonialismo já passou por aqui e ele vai-me dizendo, que já os expulsaram, mas que os gajos têm a mania e eu confirmo, que os tipos são imperialistas, que foi incrível a intervenção que os soldados ali tiveram na defesa do ocidental contra o infiel (leia-se explorado). Não fizemos negócio, mas solidarizamo-nos, a nossa discordância não deu guerra e terminamos com um Hakuna matata, se calhar convencidos, um e outro, que poderíamos ter ido mais longe.
Continuámos, até sermos, finalmente parados por uma operação stop, prática muito frequente por estas bandas ao que parece que na busca de armas. Depois ninguém revista coisa nenhuma e tudo segue. Hakuna matata.
O caminho continua com a observação frequente de múltiplas escolas junto à estrada, plantações de café e de fruta para conserva. Mais além, na vizinhança do Monte Quénia, surgem as grandes quintas de trigo à maneira de Out of Africa. Os restos do Império ainda presentes.
Numa segunda paragem numa Curio lá chegamos a um acordo só possível depois de oferta de uma caneta e umas tentativas de câmbio de dólares, euros e shillings quenianos…
A fase final do percurso até Samburu é uma penosa picada de terra batida (ou de costas batidas pelo jeep) que dura cerca de uma hora.
Entrada a reserva, pouco à frente surgem os primeiros elefantes para algum desespero do Charles, que já tinha visto bastantes. Mas acabamos por chegar a boa hora para almoço.
A Samburu Lodge é uma estalagem inspirada em bom gosto imperialista, com várias cabines isoladas ou em faixa junto a um rio, onde loco começámos por ver crocodilos e pouco depois mais elefantes e girafas. Isto ainda se vai tornar monótono… Mas não, depois do almoço, trilho fora, no jeep agora descoberto para podermos caçar melhor o que nos rodeia. Rapidamente, surgem gazelas, órixes, mais elefantes, antílopes elegantemente vestidos e galinhas da Guiné, que devidamente registamos. Numa pequena depressão da estrada o jeep engasga e vai abaixo por bateria fraca. A recarga surge rápida. Outro jeep aproxima-se pela frente, encosta para-choques no nosso e começa a empurrar. De súbito, o motor funciona provando uma vez mais que hakuna matata. E continuamos a caçada. Até ao fim do dia, ainda tivemos, leões, leopardo na árvore e no chão e búfalos. Pronto, já cá estão quatro dos big five. Isto está a render. A caçada destes últimos é feita com a ajuda dos rádios dos carros de turistas. A coisa começa quando alguém avista um destes bichos, depois faz-se uma chamada e cercam-se os ditos. Os cliques das máquinas não param. Apesar do gosto que isto me dá, depois de estar frente a um elefante ou um leopardo, imagino a sensação que terá dado em tempos a outros, carregar no gatilho em vez do disparador da máquina. Agora, percebo que este safari não passará de uma espécie de masturbação da caça. Acho que nestes instantes se percebe Hemingway ou mesmo o Miguel Sousa Tavares…
Há, ainda assim, o gozo da descoberta do animal, a escolha da pose quando possível e chega-se ao fim do dia com o corpo moído como já não sentia há muito dias e nem os macacos a miar nas árvores me impediram de rapidamente cair no sono. Ajudou o calor do início da noite, que às quatro e meia já não era assim tanto e acordei. O jogo ia continuar.
A manhã começa com a descoberta de zebras, além de uns agora desprezíveis elefantes, gazelas e outros que tais vistos na véspera. Mas sobretudo há a luz fresca do amanhecer, uma suave brisa no mato. Até que chega o momento da chita e das suas crias que, de um dos lados da estrada, olham, gulosas, os órixes, do outro. Fica-se por ali um pouco e sente-se que o grande momento já não é a descoberta do bicho, nem a contemplação das suas poses, mas o sonho de realização do Discovery Chanel. Quer-se caça, sangue, espectáculo selvagem. É curiosa a estética humana.
Depois dos animais e das frustrações (?) que nos causam, passamos ao número seguinte, a visita a uma aldeia Samburu. A coisa é um pouco folclórica, cheira a alguma falsidade, mas é ainda assim, reveladora deste mundo estranho em que estamos. Hoje, dia 26 de Agosto de 2005, no planeta terra ainda há quem faça fogo com dois paus, seja nómada, tenha por habitação coberta de bosta de vaca, formada por três cubículos menores que qualquer cozinha de prédio novo, onde habitam homem, mulher e filhos (além de uma pequena cabra, claro).
Começa-se depois o caminho inverso, mas durante mais de meia hora todos permanecemos calados.
A continuação do circuito é feita para Abardares, onde se almoça no Club de Golf. Aqui se entrega a bagagem para depois se partir de autocarro para The Ark, uma zona inesperada, em que subitamente se deixa o quase deserto e se penetra numa floresta densa. Floresta tropical de repente em África. Chega-se à estalagem The Ark e tem-se um briefing com todos os ingredientes de americanada. Nem as piadas giríssimas faltaram. Tem programa de alimentação de pássaros, chá, proibição do tabaco, obviamente, e promessas de toda a selva.
A estalagem tem quartos para ficar acordado a noite inteira. É por isso que não estão aquecidos (e está frio!) e a casa de banho é daquelas em que se não consegue cortar as unhas. Frente à estalagem há um lago. Nas margens do lago deitam sal, uma ideia que além de ser possivelmente geradora de hipertensão na bicharada (que adoram o sal, mais do que os portugueses bacalhau), lhes vai criando uma dependência. E é ver, dos três níveis de balcões, elefantes e búfalos, à vez, subirem ao palco. Através do vidro ou de uma guarita vê-se uma narração cénica tipo Manoel de Oliveira, com animais que se mexem vagarosamente de um lado para o outro, com algumas marradas e promessas de sexo. De tempos a tempos, entra em cena algum pequeno animal que cruza o palco de ponta a ponta. Nesta actividade, apesar de tudo repousante, os espectadores permanecem em silêncio conforme solicitado (salvo alguns espanhóis que se enganaram e ficaram na plateia em vez de subirem também ao palco). E a cena repete-se noite fora, iluminada por holofotes para encandeamento de animais, escravizados pela dependência do sal, sendo que quem quiser pode ficar de chamada. Tocam uma buzina se chegar algum dos bichos raros… Walt Disney produções nesta África com surpresas. Umas boas outras assim. Já passa da meia-noite, vou espreitar…
Depois disto houve o Lago Nakuru com as margens pintadas côr de rosa pelos flamingos equilibristas, dos espaços sem lime, os rinocerontes pachorrentos e Masai Mara dos caminhos sem fim, dos espaços sem limite. As carcaças feitas de noite para o alimento matinal dos leões e filhotes e dos abutres necrófagos. Os hipopótamos estacionados no rio Mara que os gnus recusam atravessar provavelmente por um receio meio inconsciente dos dentes de crocodilos. Houve a África grande do pôr do sol e da luz clara da manhã. Agora que já estou Out of Africa, algo dela me entranha e lembro-me de ter pensado que teria feito um poder como o de Cuba num país com os recursos que tem o Quénia. E a liberdade adquire alguns significados menos convencionais.
E eu que tenho esperança ainda acredito em alvoradas de luz, com a frescura que quero inspirar toda de uma vez, num acto de purificação apetecido.