quinta-feira, outubro 20, 2005

Vão-se lixar!

Hoje é um dia negro. Mais logo haverá uma guerra de percentagens de adesão à greve, que nisto de jornalismo de investigação, eles não se metem.
Quando saí de casa ia com vontade de aderir à greve. Para meu espanto, ao chegar à consulta, vejo toda a gente a trabalhar. Quem eram? Os súbditos do São Precário. Todos a trabalhar, disciplinadamente. Se alguém pode ter razão de queixa, penso que serão eles. Se perante a ofensiva desembolada do liberalismo se põem a jeito em prece maometana, digo-vos: vão-se lixar! Ia eu tramar os doentes que vieram para ser consultados, marcando-lhes outra data (isto é, ter de fazer consultas a dobrar noutro dia), abdicar de um dia de receita em nome de quê? Eu tenho um lugar garantido, um ordenado confortável e se me lixaram a reforma isso até pode compreender-se porque nasci no ano errado. Se eles, os que estão a perder todos os direitos, abdicam assim com toda a facilidade de lutar, por que devo eu estar solidário? Que se lixem! Parece ser esta a linguagem que gostam, o sistema que preferem, o cada um por si. Não, agora não é impossível fazer greve. Conheci um tempo em que fazer greves era difícil. Não era só emprego que estava em causa, eram visitas esperadas, ou férias forçadas. Mas ainda assim, lutava-se, porque sabíamos que havia outros ao nosso lado, não vivíamos sozinhos no mundo. Se a vossa opção é o cada um por si e o resto que se lixe, então vão-se lixar!

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