É possível que escolher objectivamente a qualidade seja uma impossibilidade. Há sempre subjectividade na decisão, o que é qualidade para um, é-o menos para outro. Portanto, o critério de escolha é necessariamente não universal. Parece-me, pois, que este mito da objectividade na selecção de candidatos é apenas isso, um mito. Por mais voltas que dermos, sempre que escolhemos pessoas, são os critérios subjectivos ou emocionais, muito mais importantes que os critérios objectivos e racionais.
Esta fixação dos concursos públicos na objectividade (que tem por trás a noção de justiça) é um risco para os sistemas e para as pessoas envolvidas e nem o recurso a grelhas de características diversas, por mais variados que sejam os critérios a avaliar, resolvem o problema da subjectividade e as inerentes injustiças associadas. Muitas vezes, o problema nem se põe. O que se trata nesses casos é de fazer uma grelha que coloque em primeiro o candidato que se escolheu antecipadamente. É o faz de conta que tantas vezes acontece. Na verdade, o problema só se coloca quando se procura ser objectivo e imparcial. Aí percebe-se que se está a pedir o impossível.
Fazer escolhas em concursos públicos é quase como se fossemos escolher uma mulher para casar com outro. Se gostamos dele, procuramos alguém de quem gostamos, se não gostamos, seleccionaríamos a que achassemos pior. Só que isso seria sempre de acordo com os nossos objectivos e nunca com as necessidades do contemplado. E depois da escolha feita, lavamos as mãos e vamos à nossa vida. Esta ausência de consequências pessoais da escolha que fazemos é que é preocupante para o sistema. Já que a escolha terá sempre critérios de subjectividade a dominá-la, ao mesno que sentíssemos, no futuro, as consequências da escolha. Como quando seleccionamos a mulher com quem vamos viver. A escolha pode não se vir a mostrar a mais acertada, mas na altura em que foi feita, foi a mais honesta possível e o empenhamento na selecção foi total. E, curiosamente, os critérios que usámos foram quase todos subjectivos.
Em resumo, era bem mais honesto e justo que os directores de serviço, simplesmente, escolhessem os seus colaboradores e depois tivessem as consequências das escolhas feitas. Inclusivamente, optando pelo tipo de concurso que melhor achassem conveniente. Se a escolha fosse certa, o serviço produziria, ele continuaria a dirigi-lo. Se as escolhas fossem erradas, sofreria as consequências. O processo ganhava transparência, o sistema público, afinal, usava métodos de selecção usados nos privados, onde ninguém os contesta. E era fácil de implementar isto. Era só garantir o que a lei preconiza, a exigência de os directores o serem em comissão de serviço por 3 anos, com possibilidade de substituição caso não tenham cumprido ou haver outro com melhor programa para o triénio seguinte. Legislam, legislam e não cumprem nada!
1 comentário:
http://dn.sapo.pt/2005/10/31/suplemento_negocios/camara_combina_autos_disciplinares_p.html
Uma notícia a ter em conta ;). Afinal a esquerda anda direita.
Miguel
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