Há uma ligação patológica aos objectos que nos paralisa na altura da sua destruição. Temos receio de virmos a necessitar invariavelmente daquilo que não usamos durante anos. É um comportamento absolutamente irracional, mas não percebo por que não deito fora os artigos de há 10 anos, a esfinge de plástico pintada da cor do bronze, a Exame Informática de há seis ou sete anos. Mas não será criando novo espaço para o lixo que dele me livro. Ando um dia inteiro neste dilema, esquecendo-me que, com os diabos, ainda estou de férias. Acumulei pilhas de artigos de revistas, de livros, tenho um ardor de pó na garganta.
Enquanto me lembrar vou ser selectivo nos papéis que me invadem a casa todos os dias. Terei de ter menos medo. Mas, mesmo no meio do lixo, surge algo que me faz recear o radicalismo de implodir todos estes anos de papel acumulados. Uma citação de Aristóteles: «We need relaxation for we cannot work constantly. We need amusements and recreation to restore, to recreate ourselves for our occupation. But the goal of being occupied should only be to obtain leisure». Tinha sido um desperdício ter deitado isto fora sem dar conta, por isso destruir anos de lixo tem de ser uma actividade cautelosa. Limpar a mata dá trabalho, mas pode evitar os fogos.
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