Há quinze dias que não sai de casa para o seu passeio habitual que incluia a visita obrigatória a algumas capelinhas de sua devoção. Um acidente isquémico desequilibrou-lhe a diabetes e atirou-o para o hospital.
Observação do dia:
-Como se chama?
-Augusto.
-Onde mora?
-Em casa.
-E que casa é esta, senhor Augusto?
-Um hospital.
-Como se chama este hospital?
-Hospital de São Cruel.
Parafasia ou lucidez, eis a questão.
quarta-feira, dezembro 19, 2007
terça-feira, dezembro 18, 2007
Separar as águas
A vozinha melodiosa do marketing alerta-nos para os riscos de, no futuro, podermos vir a sentar-nos em meia cadeira, assistirmos só à primeira parte do filme, termos, enfim, só meia vida. É a meia reforma anunciada. Se quisermos a vida inteira, teremos de a entregar às companhias de seguros e desde novinhos.
Nos hospitais, há também em curso uma espécie de meia reforma. O Ministro CC tem sido mal criticado pelas medidas acertadas que tem tomado, mas pouco se deve importar, porque enquanto barafustam contra o registo electrónico do ponto, o fecho das maternidades e dos serviços de urgência (medidas acertadas!), o fundamental vai passando alegremente. E o fundamental deste Ministro reformador, aquilo que a História irá registar do seu período, é o desenvolvimento crescente de um sistema de saúde cada vez menos serviço público e mais sistema privado, ou seja o começo do fim do Serviço Nacional de Saúde e o desenvolvimento do Negócio da Saúde. Não estaremos muito longe do anúncio em que nos avisarão dos riscos de meias cirurgias, meios internamentos, meia saúde, se não fizermos o tal seguro salvador da outra metade da saúde. (Metade é apenas um número, que pode muito bem aumentar até limites insondáveis). É neste contexto, que me parece «coerente» a ideia que por aí anda de que ele vai dar «um prémio» aos médicos, permitindo-lhes reduzir o seu horário de trabalho a 20 horas por semana. Sob o ponto de vista da despesa do ministério nada mais acertado, vai reduzir de forma substancial os gastos e, para cúmulo, os doutores até vão ficar contentes por terem mais tempo para irem ganhar dinheiro noutros lados. Bingo!
Só que, num contexto em que a procura aumenta, a empresa (Serviços de Saúde) que o Professor CC dirige toma a decisão de reduzir a oferta! Estranha estratégia esta. Quando se anuncia a possibilidade de aumentar as vendas, a gerência dispensa os vendedores. Para quê? Não acreditando que o seu objectivo seja deixar sem cuidados a população, resta a hipótese de ser essa uma forma que encontrou de libertar mão de obra para os novos patrões privados, o que pressupõe, é claro, a transferência dos cuidados dos doentes para os serviços de quem tanto tem andado a investir. Os mesmos Mellos, Espíritos Santos e Cia de sempre. Assim se assegura também o negócio. Mas não seria mais certo e mais sério, profissionalizar o sector público com envolvimento dos seus médicos a tempo inteiro, aumentando a produção, criando um Sistema de concorrência em que se acabasse de vez com a promiscuidade?
A opção em curso vai desresponsabilizar de forma progressiva o Estado dos cuidados de saúde, que até pagará numa primeira fase nos privados, mas depois, as coisas mudarão e chegaremos ao dia em que serão os doentes a pagar o restabelecimento da sua saúde e é se quiserem. É o princípio do utilizador pagador trazido para um campo onde o acho inaceitável em nome de princípios de solidariedade de que não deveríamos abdicar.
Nos hospitais, há também em curso uma espécie de meia reforma. O Ministro CC tem sido mal criticado pelas medidas acertadas que tem tomado, mas pouco se deve importar, porque enquanto barafustam contra o registo electrónico do ponto, o fecho das maternidades e dos serviços de urgência (medidas acertadas!), o fundamental vai passando alegremente. E o fundamental deste Ministro reformador, aquilo que a História irá registar do seu período, é o desenvolvimento crescente de um sistema de saúde cada vez menos serviço público e mais sistema privado, ou seja o começo do fim do Serviço Nacional de Saúde e o desenvolvimento do Negócio da Saúde. Não estaremos muito longe do anúncio em que nos avisarão dos riscos de meias cirurgias, meios internamentos, meia saúde, se não fizermos o tal seguro salvador da outra metade da saúde. (Metade é apenas um número, que pode muito bem aumentar até limites insondáveis). É neste contexto, que me parece «coerente» a ideia que por aí anda de que ele vai dar «um prémio» aos médicos, permitindo-lhes reduzir o seu horário de trabalho a 20 horas por semana. Sob o ponto de vista da despesa do ministério nada mais acertado, vai reduzir de forma substancial os gastos e, para cúmulo, os doutores até vão ficar contentes por terem mais tempo para irem ganhar dinheiro noutros lados. Bingo!
Só que, num contexto em que a procura aumenta, a empresa (Serviços de Saúde) que o Professor CC dirige toma a decisão de reduzir a oferta! Estranha estratégia esta. Quando se anuncia a possibilidade de aumentar as vendas, a gerência dispensa os vendedores. Para quê? Não acreditando que o seu objectivo seja deixar sem cuidados a população, resta a hipótese de ser essa uma forma que encontrou de libertar mão de obra para os novos patrões privados, o que pressupõe, é claro, a transferência dos cuidados dos doentes para os serviços de quem tanto tem andado a investir. Os mesmos Mellos, Espíritos Santos e Cia de sempre. Assim se assegura também o negócio. Mas não seria mais certo e mais sério, profissionalizar o sector público com envolvimento dos seus médicos a tempo inteiro, aumentando a produção, criando um Sistema de concorrência em que se acabasse de vez com a promiscuidade?
A opção em curso vai desresponsabilizar de forma progressiva o Estado dos cuidados de saúde, que até pagará numa primeira fase nos privados, mas depois, as coisas mudarão e chegaremos ao dia em que serão os doentes a pagar o restabelecimento da sua saúde e é se quiserem. É o princípio do utilizador pagador trazido para um campo onde o acho inaceitável em nome de princípios de solidariedade de que não deveríamos abdicar.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Espera
Consegui transmitir algum conhecimento, mas muito mais difícil que transmitir a ciência, é transmitir as maneiras, as atitudes, numa altura em que deixaram, em certa medida, de ser necessárias a quem as deve usar, porque pressupõem o abismo a todo o momento. Na falta da velha cultura, têm uma de suicidários, vivendo de crédito (mal parado, necessariamente) e sem qualquer esperança no futuro, tendo apenas por bússola o instante em que estão a sobreviver.
Por isso espero, quando nunca fiz esperar. Eu tinha esperança no futuro, eles nem por isso.
Por isso espero, quando nunca fiz esperar. Eu tinha esperança no futuro, eles nem por isso.
sábado, dezembro 15, 2007
Agradecimento
É bom sentir, passados 53 anos, que a surpresa ainda é das melhores coisas que nos podem acontecer. Nem de propósito, poder experimentar isto, neste clima das normas onde se pretende tudo prever e matar a surpresa. A vidinha toda programada, sem êxtases nem sobressaltos, não obrigado! Pode ser que isso facilite a administração do sistema, a geração do valor e o diabo que os carregue, mas tira a graça toda a esta coisa efémera do passar por aqui.
Obrigado por me surpreenderem!
Obrigado por me surpreenderem!
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Normas
Repetem-me, até à exaustão, nestas aulas que qualidade é satisfação do cliente. Curiosamente, pouco se pergunta ao cliente como quer ser satisfeito. Em vez disso, alguém disfarçado de deus vai estabelecendo normas (vendidas a peso de ouro), que um exército de auditores irão depois verificar e declarar a conformidade das acções. Assim se assegura a segurança e a qualidade, se criam manuais de procedimentos volumosos para autómatos executarem a voz de Deus. Aos poucos, por esta via, deixaremos de comer pataniscas, beberemos o café em copos de plástico, proibem-nos os produtos da horta, vai-se o queijo da serra e, ainda acabamos todos a cantar o hino de mão no peito como oração da manhã. Toda a autenticidade da diferença desaparecerá numa imposição eugénica que fará Hitler parecer um anjo. Por este caminho, em vez de uma vida, temos um dia-a-dia de morte certa e segura de acordo com a Norma. É para isso que andamos aqui? Qual o gozo do colesterol normal à custa de só se comer queijo fresco?
terça-feira, dezembro 11, 2007
Para variar a maledicência
Nenhuma primeira página de jornal, o telejornal abre com a vitória do Porto. Saber que em cada 1000 miúdos nascidos cá na terra, só 3,3 morrem no primeiro ano é um resultado desprezível que não interessa mostrar, tanto mais que a maior parte dos putos têm a mania estranha de nascer em hospitais públicos e as mães continuam a receber os cuidados de saúde materna pública. É um paradoxo isto que acontece e de tal modo inexplicável que o melhor é ignorar.
Mas não se pode ignorar tudo e vale a pena perguntar a quem se deve o que se pensa do que se faz. E mais uma vez, as «vítimas» surpreendem e, por isso, não serão NUNCA notícia.
Mas não se pode ignorar tudo e vale a pena perguntar a quem se deve o que se pensa do que se faz. E mais uma vez, as «vítimas» surpreendem e, por isso, não serão NUNCA notícia.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Nota breve
Giro ver, de repente nos parceiros da urgência aqui em baixo à direita, um pontinho verde na Austrália. Mundo pequeno.
Paris-Lisboa
1. Paris
Não tem sido fácil encontrar espaço no tempo. Hoje surgiu uma aberta para me lembrar de Paris outonal ainda sem frenesins de Natal e com os streeses de um tempo que querem acabar. Na Praça da Concórdia protestavam juízes, nas ruas da Sorbonne acumulavam-se as carrinhas azuis cheias de ninjas prontos para a acção, mas indiferente a tudo na praça um sem abrigo lançava, um após outros, resíduos de plástico e metal para dentro da fonte tentando acertar não se sabe muito bem onde, num jogo de pontaria de que só ele entendia as regras e em que, aqui e além, havia lugar a um esgar de vitória. A greve dos transportes acumulava os transportes na superfície e todos pareciam pacientes, compreendendo o desfilar do Outono.
Paris desta vez foi uma compreensão diferente. Fora do Verão, menos japoneses a tirar fotografias, as folhas castanhas e vermelhas pelo chão, eu mais sereno, talvez outonal também, gozei o frio azul do céu no vai-vém sem destino absolutamente planeado numa agenda preenchida. Do Arco do Triunfo à Concórdia num desentorpecer de pernas como ambientação e depois até à Ponte Nova, junto ao Sena por baixo do Outono sempre presente, sentindo a cidade mantida igual sempre que cá se vem e ao mesmo tempo sempre nova pela maneira como a vemos. Dia seguinte de Marais, museu Picasso e Place des Vosges num deambular por uma espécie de cidade de província dentro da outra. De tarde a ilha e o Quartier Latin e Saint Michel de correrias de compras. Livrarias e restaurantes olhados e saboreados com o tempo que tive. Noite em Monmartre com cantores de há 40 anos e pintores em fim de dia. Descida até Pigale passando ao lado do Moulin de la Gallete sem baile, apenas encantado de noite.
No terceiro dia, vestimos o fato de turista e fizémos a coisa completa, Versalhes de manhã e tour de ville pela tarde, subida à Torre Eiffel e acabado com passeata de barco no rio e jantar de racletes.
Faltava, no dia do regresso, a Opera onde a visita guiada ficou frustrada após mais de uma hora de espera (coisas de greves? francesices?). Ninguém disse o porquê, mas em férias tudo se tolera melhor. Para acabar o Museu d'Orsay para contemplar as impressões e as sompras suspensas que percorrem os vidros do fundo da estação.
2. Lanzarote
Aquilo é uma colónia de férias, de casinhas brancas pequenas em manchas dispersas no negro. Não quero saber, estava de férias e estava sol.
Timanfaya foi uma visão negra da lua com a surpresa de um passeio de camelo a que a chuva trouxe novidade. Estranho estar em cima do bicho, movendo-se absolutamente sem mudar as rotações, indiferente ao molhar das calças. No fim sorria com ar de camelo a ver a corrida até aos autocarros.
O dia seguinte foi de romagem a Cesar Manrique, de que guardo a visão de Mirador del rio ao norte da ilha e tento esquecer a Cueva de los verdes. Puerto del Carmen à noite é uma Albufeira sem graça. Choviscava à volta.
Na manhã seguinte, ainda escrevi na agenda:
Correr a cortina e ver a ilha lá ao longe. Abrir a janela e ver o mar. Choveu, mas no ar não existe o cheiro de terra molhada. Nesta terra não há terra, apenas um pó preto onde nos apoiamos há 300 anos. Aqui tem-se a percepção da limitação do tempo em que cá estamos. Sobre a lava solidificada andam líquenes que a vão tornar terra daqui a centenas de anos. Entretanto fomos e testemunhámos apenas um instante de vida. Nestes momentos é que aprendemos a medir as coisas.
3. Lisboa
Deram-me há dois dias uma medalha. Vai ser uma coisa preciosa daqui a alguns anos por recordar um tempo em que as pessoas eram funcionários (colaboradores, agora) de uma empresa (organização, agora) durante 25 anos na mesma casa. Foi um momento estranho porque éramos muitos a fazer anos e porque nestes anos nunca tinha visto alguns deles. Os nossos mundo estão fechados muitas vezes. Quie fazemos do tempo que temos? Que farão os CEO daqui a uns anos sem ninguém para medalhar? Valor, claro, gerarão valor. E o valor da estabilidade, não o é? Talvez seja, que ouvi dizer, em Paris, não na que visitei, mas noutra mais à volta, já vai havendo sobressaltos. Quem sabe se a precaridade não atingirá os donos do sistema, mais cedo do que eles pensam.
Não tem sido fácil encontrar espaço no tempo. Hoje surgiu uma aberta para me lembrar de Paris outonal ainda sem frenesins de Natal e com os streeses de um tempo que querem acabar. Na Praça da Concórdia protestavam juízes, nas ruas da Sorbonne acumulavam-se as carrinhas azuis cheias de ninjas prontos para a acção, mas indiferente a tudo na praça um sem abrigo lançava, um após outros, resíduos de plástico e metal para dentro da fonte tentando acertar não se sabe muito bem onde, num jogo de pontaria de que só ele entendia as regras e em que, aqui e além, havia lugar a um esgar de vitória. A greve dos transportes acumulava os transportes na superfície e todos pareciam pacientes, compreendendo o desfilar do Outono.
Paris desta vez foi uma compreensão diferente. Fora do Verão, menos japoneses a tirar fotografias, as folhas castanhas e vermelhas pelo chão, eu mais sereno, talvez outonal também, gozei o frio azul do céu no vai-vém sem destino absolutamente planeado numa agenda preenchida. Do Arco do Triunfo à Concórdia num desentorpecer de pernas como ambientação e depois até à Ponte Nova, junto ao Sena por baixo do Outono sempre presente, sentindo a cidade mantida igual sempre que cá se vem e ao mesmo tempo sempre nova pela maneira como a vemos. Dia seguinte de Marais, museu Picasso e Place des Vosges num deambular por uma espécie de cidade de província dentro da outra. De tarde a ilha e o Quartier Latin e Saint Michel de correrias de compras. Livrarias e restaurantes olhados e saboreados com o tempo que tive. Noite em Monmartre com cantores de há 40 anos e pintores em fim de dia. Descida até Pigale passando ao lado do Moulin de la Gallete sem baile, apenas encantado de noite.
No terceiro dia, vestimos o fato de turista e fizémos a coisa completa, Versalhes de manhã e tour de ville pela tarde, subida à Torre Eiffel e acabado com passeata de barco no rio e jantar de racletes.
Faltava, no dia do regresso, a Opera onde a visita guiada ficou frustrada após mais de uma hora de espera (coisas de greves? francesices?). Ninguém disse o porquê, mas em férias tudo se tolera melhor. Para acabar o Museu d'Orsay para contemplar as impressões e as sompras suspensas que percorrem os vidros do fundo da estação.
2. Lanzarote
Aquilo é uma colónia de férias, de casinhas brancas pequenas em manchas dispersas no negro. Não quero saber, estava de férias e estava sol.
Timanfaya foi uma visão negra da lua com a surpresa de um passeio de camelo a que a chuva trouxe novidade. Estranho estar em cima do bicho, movendo-se absolutamente sem mudar as rotações, indiferente ao molhar das calças. No fim sorria com ar de camelo a ver a corrida até aos autocarros.
O dia seguinte foi de romagem a Cesar Manrique, de que guardo a visão de Mirador del rio ao norte da ilha e tento esquecer a Cueva de los verdes. Puerto del Carmen à noite é uma Albufeira sem graça. Choviscava à volta.
Na manhã seguinte, ainda escrevi na agenda:
Correr a cortina e ver a ilha lá ao longe. Abrir a janela e ver o mar. Choveu, mas no ar não existe o cheiro de terra molhada. Nesta terra não há terra, apenas um pó preto onde nos apoiamos há 300 anos. Aqui tem-se a percepção da limitação do tempo em que cá estamos. Sobre a lava solidificada andam líquenes que a vão tornar terra daqui a centenas de anos. Entretanto fomos e testemunhámos apenas um instante de vida. Nestes momentos é que aprendemos a medir as coisas.
3. Lisboa
Deram-me há dois dias uma medalha. Vai ser uma coisa preciosa daqui a alguns anos por recordar um tempo em que as pessoas eram funcionários (colaboradores, agora) de uma empresa (organização, agora) durante 25 anos na mesma casa. Foi um momento estranho porque éramos muitos a fazer anos e porque nestes anos nunca tinha visto alguns deles. Os nossos mundo estão fechados muitas vezes. Quie fazemos do tempo que temos? Que farão os CEO daqui a uns anos sem ninguém para medalhar? Valor, claro, gerarão valor. E o valor da estabilidade, não o é? Talvez seja, que ouvi dizer, em Paris, não na que visitei, mas noutra mais à volta, já vai havendo sobressaltos. Quem sabe se a precaridade não atingirá os donos do sistema, mais cedo do que eles pensam.
segunda-feira, novembro 19, 2007
Perguntas e uma resposta
A liberdade, que termina onde começa a dos outros, passou de moda? Será que já só existe a «minha» e tenho direito a tudo? Mas nesse caso, quais os limites que me imponho, que sentido tem então a ética? Um homem isolado e todo poderoso não pode entender o sentido ético de aqui estar, porque isso só tem razão de ser na experiência de vida em grupo. Se a experiência for individualista e liberal, a ética é um absurdo, porque, de repente, se tem o direito a tudo e a vontade deixou de ter fronteiras para a acção. A selva renasce, ganha o mais forte, não o mais merecedor, porque mérito é um conceito ético e a ética perdeu o sentido de existir.
domingo, novembro 18, 2007
Futebol e fado
Quando vou a um espectáculo, aplaudo, fico indiferente ou pateio de acordo com o grau de apreciação que faço do desempenho dos actores. Num negócio, premeio, fico igual ou critico, de acordo com o retorno que me advém do investimento. O futebol de hoje não sei se é um espectáculo se um negócio, mas em qualquer das circusntâncias é lícito que quem está nas bancadas aplauda, fique quedo ou assobie os actores da coisa. O que já não parece normal é que haja uns a ganhar milhões, mesmo quando se refastelam em colchões e depois se manifestem incomodados com os assobios com que o seu mau desempenho é apreciado. Os actores não assobiam os espectadores, pode ser, senhor Cristiano Ronaldo e companhia? Não trabalharem e exigirem carneirada apoiante em nome de uma quase causa é excessivo. Tanto mimo, devia exigir protesto dos senhores jornalistas, mas esses andam demasiado empenhados a defender a pátria.
Depois do futebol da manhã, à noite os fados. Fados de Carlos Saura. Fados e não fado, possivelmente porque se não trata aqui tanto do Fado, mas mais dos fados de vários povos que se encontraram alguma vez no caminho. Essa a graça do filme, que não chega a ter uma história nem muito menos faz a história do fado deixando assim a possibilidade de ser documentário. O filme é um longo e esteticamente adequado Saurão para Trabalhadores com muito fado, de onde perspassa a ideia dos encontros dos povos e onde, à maneira do que diz Saramago, se não percebem as razões de certas fronteiras. Fado e flamenco são fados comuns, afinal. Custa a perceber o Caia entre Elvas e Badajoz e de todo se não entendem os protestos de alguns patrioteiros ofendidos por as mulheres da raia irem parir a Espanha. Não tanto pelo fado, mas por esta ideia, o filme Vale!
Depois do futebol da manhã, à noite os fados. Fados de Carlos Saura. Fados e não fado, possivelmente porque se não trata aqui tanto do Fado, mas mais dos fados de vários povos que se encontraram alguma vez no caminho. Essa a graça do filme, que não chega a ter uma história nem muito menos faz a história do fado deixando assim a possibilidade de ser documentário. O filme é um longo e esteticamente adequado Saurão para Trabalhadores com muito fado, de onde perspassa a ideia dos encontros dos povos e onde, à maneira do que diz Saramago, se não percebem as razões de certas fronteiras. Fado e flamenco são fados comuns, afinal. Custa a perceber o Caia entre Elvas e Badajoz e de todo se não entendem os protestos de alguns patrioteiros ofendidos por as mulheres da raia irem parir a Espanha. Não tanto pelo fado, mas por esta ideia, o filme Vale!
sábado, novembro 17, 2007
Vila Franca
Vila Franca de Xira sem tourada tem mais encanto. Pelo menos, eu prefiro-a com o museu recém-inaugurado (azar que o Presidente da fita tenha sido o Senhor que é, o que não deixa de destoar na parede da casa) onde se relembra o neo-realismo português da pintura ao cinema com literatura pelo meio.
Tenho vindo a perceber que nos fazemos dos quinze aos vintes. Por aí já estamos completos. Foi exactamente nessa altura que contactei e me enchi de Soeiro Pereira Gomes, Redol, Gomes Ferreira e me embalava o Acordai do Lopes Graça. Hoje percebi o quanto esta gente me fez também. Quer se queira quer não, há por aqui uma superioridade moral, que se não deve menosprezar. Foi uma altura em que se agiu, não por necessidade ou pelo desprezível cálculo, mas tão só pelo dever de agir. Nenhum incómodo impediu alguns da acção e a história foi-se fazendo como foi necessário.
Em dia de sorte, ainda pude desfrutar de uma conferência de Rui Vieira Nery sobre o neo-realismo na música e, na discussão, veio à baila o fado, que afinal, pasmei!, foi durante tempos canção do povo e de resistência. Por exemplo, «Não entres na igreja, cavador/é falsa a religião dessa canalha/os santos são de pau e sem valor/só deves dar valor a quem trabalha».
O Museu foi o motivo da deslocação, mas outro há para lá voltar: o Recanto do Ti Pedro, onde a começar nos perguntou se já tínhamos escolhido, para logo continuar a dizer se sabíamos escolher! Logo ali se viu que não estavamos numa correcta casa de pasto, mas muito mais que isso. Mesmo não estando nada arrependido da escolha feita, que incluiu uns deliciosos feijões «sezudos», para a próxima será o Senhor Pedro Miguel Gil a servir-me do que entender (só exigindo que venham também os tais feijões).
Tenho vindo a perceber que nos fazemos dos quinze aos vintes. Por aí já estamos completos. Foi exactamente nessa altura que contactei e me enchi de Soeiro Pereira Gomes, Redol, Gomes Ferreira e me embalava o Acordai do Lopes Graça. Hoje percebi o quanto esta gente me fez também. Quer se queira quer não, há por aqui uma superioridade moral, que se não deve menosprezar. Foi uma altura em que se agiu, não por necessidade ou pelo desprezível cálculo, mas tão só pelo dever de agir. Nenhum incómodo impediu alguns da acção e a história foi-se fazendo como foi necessário.
Em dia de sorte, ainda pude desfrutar de uma conferência de Rui Vieira Nery sobre o neo-realismo na música e, na discussão, veio à baila o fado, que afinal, pasmei!, foi durante tempos canção do povo e de resistência. Por exemplo, «Não entres na igreja, cavador/é falsa a religião dessa canalha/os santos são de pau e sem valor/só deves dar valor a quem trabalha».
O Museu foi o motivo da deslocação, mas outro há para lá voltar: o Recanto do Ti Pedro, onde a começar nos perguntou se já tínhamos escolhido, para logo continuar a dizer se sabíamos escolher! Logo ali se viu que não estavamos numa correcta casa de pasto, mas muito mais que isso. Mesmo não estando nada arrependido da escolha feita, que incluiu uns deliciosos feijões «sezudos», para a próxima será o Senhor Pedro Miguel Gil a servir-me do que entender (só exigindo que venham também os tais feijões).
sexta-feira, novembro 16, 2007
Revisão da semana
Mergulha-se na urgência do tempo, quando, finalmente, se percebem os seus limites. Apetece então, saborear os instantes, usá-los de uma forma selvagem, possuí-los na totalidade. Tal desfrute conduz, no entanto, à falta do tempo para aqui vir fazer o registo. É essa, possivelmente, a causa dos intervalos cada vez maiores entre os posts. Depois, um dia, surge um instante, em que se faz uma revisão breve, em forma de vertigem, como a paisagem que se escoa na janela do Alfa pendular e sai à maneira de registo uma enumeração de instantes.
1. A semana decorre numa sucessão de Domingos. É o gozo de estar de férias de uma forma diferente, iniciada por um Congresso sobre obesidade, onde, como é hábito, na quarta-feira seguinte tudo será como era na sexta-feira anterior. Para quem pode usar o Hotel foi agradável e a relação custo-benefício simpática… Cada vez mais a lucidez me impele a considerar estas reuniões como recreios, por vezes, de duvidoso merecimento, e, seguramente, de utilidade questionável. Como «louco manso, tentando antecipar algum futuro», lá fui dizendo que a obesidade é problema sem solução enquanto se não alterarem as suas causas. Outros preferem as corridinhas e marchas folclóricas ou a promoção do exercício, como se ainda restasse energia depois da sobrevivência do quotidiano. A prevenção não são consumos de sapatilhas de marca, mas muito mais, o combate ao consumo. Loucuras…
2. O êxito fabrica-se e antes que não exista é preciso afirmá-lo até que a voz lhes doa. Por mim, continuarei a fugir do auto-elogio, deixando, assim, aos outros apenas o esquecimento da obra. De outra forma, é demasiado deselegante para alguns padrões.
3. Tem sido enriquecedor o contacto com os Serviços da Segurança Social. Há um buraco imenso entre os dois lados da secretária. Do lado de lá, a frustração do contacto com a incompreensão da iletracia. Em português tentam comunicar, mas ao receptor não chega a mensagem simples, porque a distância é um oceano pacífico e de bons costumes. Ali ainda vejo a obediência do «porque eles é que podem». E pela quarta vez, irão buscar o papel que ainda falta, balbuciando que «são todos o mesmo». É urgente, pôr ali gente a traduzir conceitos e a adaptar serviços, na mudança que é possível.
4. Lá longe um rei mandou calar um presidente eleito. Só que o democrata é o rei, assim reza a Santa Madre Imprensa. Mas por mais que queiram o tal do Presidente não se cala e ainda lhes poupou a lembrança da varíola.
5. Por cá e a acabar a semana mais uma reunião corporativa em que, pasme-se, alguém pede à mítica Ordem autorização para fazer comunicações aos farmacêuticos sobre douta coisa que é isso da insulinoterapia. Passamos do cómico ao trágico quando se sugere que tal ciência se não passe, que a ela só os sábios endocrinologistas devem ter acesso. Investe então o louco farto de Idades Médias renascidas e a coisa acaba por poder ser feita nos moldes que o prelector considere serem os mais convenientes. Às vezes me amofino.
6. Na semana em que os diabéticos já são mais de um milhão, o poder, perante tanto voto potencial, decide oferecer insulina lenta e bombas infusoras à legião dos comilões. Bem vistas as coisas, a medida tem justiça enquanto atinja aqueles que realmente são vítimas da comida tóxica a que têm acesso. Menos justa será para outros que têm toda a possibilidade de optar e não o fazendo por facilitismo e negligência, vêem ao bolso de todos sacar os fundos que os tratam das consequências do vício. Esta é uma medida igualitária que tem pouco de equidade e menos de justiça distributiva. Aplicar-se-ia talvez neste consumo o princípio da proporção do pagamento em função do rendimento para dar mais responsabilidade e tornar a questão mais justa. Um milhão e meio de idosos com carências não retribuídas terão de levantar a voz e acenar com os votos, reivindicando a sua parte do bolo. Mas a sua fragilidade pouco lhes permite e o disparate continua.
1. A semana decorre numa sucessão de Domingos. É o gozo de estar de férias de uma forma diferente, iniciada por um Congresso sobre obesidade, onde, como é hábito, na quarta-feira seguinte tudo será como era na sexta-feira anterior. Para quem pode usar o Hotel foi agradável e a relação custo-benefício simpática… Cada vez mais a lucidez me impele a considerar estas reuniões como recreios, por vezes, de duvidoso merecimento, e, seguramente, de utilidade questionável. Como «louco manso, tentando antecipar algum futuro», lá fui dizendo que a obesidade é problema sem solução enquanto se não alterarem as suas causas. Outros preferem as corridinhas e marchas folclóricas ou a promoção do exercício, como se ainda restasse energia depois da sobrevivência do quotidiano. A prevenção não são consumos de sapatilhas de marca, mas muito mais, o combate ao consumo. Loucuras…
2. O êxito fabrica-se e antes que não exista é preciso afirmá-lo até que a voz lhes doa. Por mim, continuarei a fugir do auto-elogio, deixando, assim, aos outros apenas o esquecimento da obra. De outra forma, é demasiado deselegante para alguns padrões.
3. Tem sido enriquecedor o contacto com os Serviços da Segurança Social. Há um buraco imenso entre os dois lados da secretária. Do lado de lá, a frustração do contacto com a incompreensão da iletracia. Em português tentam comunicar, mas ao receptor não chega a mensagem simples, porque a distância é um oceano pacífico e de bons costumes. Ali ainda vejo a obediência do «porque eles é que podem». E pela quarta vez, irão buscar o papel que ainda falta, balbuciando que «são todos o mesmo». É urgente, pôr ali gente a traduzir conceitos e a adaptar serviços, na mudança que é possível.
4. Lá longe um rei mandou calar um presidente eleito. Só que o democrata é o rei, assim reza a Santa Madre Imprensa. Mas por mais que queiram o tal do Presidente não se cala e ainda lhes poupou a lembrança da varíola.
5. Por cá e a acabar a semana mais uma reunião corporativa em que, pasme-se, alguém pede à mítica Ordem autorização para fazer comunicações aos farmacêuticos sobre douta coisa que é isso da insulinoterapia. Passamos do cómico ao trágico quando se sugere que tal ciência se não passe, que a ela só os sábios endocrinologistas devem ter acesso. Investe então o louco farto de Idades Médias renascidas e a coisa acaba por poder ser feita nos moldes que o prelector considere serem os mais convenientes. Às vezes me amofino.
6. Na semana em que os diabéticos já são mais de um milhão, o poder, perante tanto voto potencial, decide oferecer insulina lenta e bombas infusoras à legião dos comilões. Bem vistas as coisas, a medida tem justiça enquanto atinja aqueles que realmente são vítimas da comida tóxica a que têm acesso. Menos justa será para outros que têm toda a possibilidade de optar e não o fazendo por facilitismo e negligência, vêem ao bolso de todos sacar os fundos que os tratam das consequências do vício. Esta é uma medida igualitária que tem pouco de equidade e menos de justiça distributiva. Aplicar-se-ia talvez neste consumo o princípio da proporção do pagamento em função do rendimento para dar mais responsabilidade e tornar a questão mais justa. Um milhão e meio de idosos com carências não retribuídas terão de levantar a voz e acenar com os votos, reivindicando a sua parte do bolo. Mas a sua fragilidade pouco lhes permite e o disparate continua.
sexta-feira, novembro 02, 2007
Certidão
Aos tantos de tal nasceu, no local indicado e averbado vem que casou e faleceu. Assim, tudo numa página, primeiro em letra bem desenhada como se fazia há oitenta e tal anos, depois em letra mais jovem. Cabe tudo numa página apenas. Assim passam as pessoas pelos arquivos no registo que fica da sua passagem.
terça-feira, outubro 30, 2007
Outpatient
Uma consulta é um encontro de emoções. Logo a abrir, a afirmação de uma que não foi ouvida no inquérito de ontem: ''isto está a parecer-se cada vez mais com um hospital!''. São estas que nos fazem ganhar os dias.
Depois, a penúltima doente, com a tristeza dos olhos que transpiram por uma gata ascítica terminada ontem para não mais sofrer. ''Era um cancro que a tomou toda'' Coitadinha! Apenas o consolo da morte piedosa. ''O seu colega (!) anestesiou-a, antes de lhe pôr fim e parecia que tinha um sorriso por baixo dos bigodes''. Hoje não queria que lhe dissesse nada sobre dietas, apenas uma espécie de colinho.
Uma consulta é muito maior que os números, vai muito além dos tempos de espera, da entrada e saída dos doentes no consultório.
Depois, a penúltima doente, com a tristeza dos olhos que transpiram por uma gata ascítica terminada ontem para não mais sofrer. ''Era um cancro que a tomou toda'' Coitadinha! Apenas o consolo da morte piedosa. ''O seu colega (!) anestesiou-a, antes de lhe pôr fim e parecia que tinha um sorriso por baixo dos bigodes''. Hoje não queria que lhe dissesse nada sobre dietas, apenas uma espécie de colinho.
Uma consulta é muito maior que os números, vai muito além dos tempos de espera, da entrada e saída dos doentes no consultório.
segunda-feira, outubro 29, 2007
Que fazer, privatizar o Governo?
Privado melhor que o público? Anda por aí esta questão recorrente. Numa semana comparam-se os colégios dos meninos família com as escolas da populaça e conclui-se que a nata é da Opus Dei. Sugestão, enviem-se os miúdos da Curraleira para o Planalto e a coisa resolve-se. Alternativa, destrua-se a Curraleira, que estão a perturbar os resultados.
Hoje ficamos a saber que perguntaram a 300 eleitos o que achavam dos serviços públicos e privados e a resposta, uma vez mais, foi clara: Privado melhor do que o público! (Embora haja algumas melhorias!!) Claro, o Governo encomandante do inquérito tem feito já alguma coisita. Fica-me a dúvida sobre se o Governo é público ou privado. Tivesse eu possibilidade de encomendar um estudo à Universidade Católica e logo veríamos.
Hoje ficamos a saber que perguntaram a 300 eleitos o que achavam dos serviços públicos e privados e a resposta, uma vez mais, foi clara: Privado melhor do que o público! (Embora haja algumas melhorias!!) Claro, o Governo encomandante do inquérito tem feito já alguma coisita. Fica-me a dúvida sobre se o Governo é público ou privado. Tivesse eu possibilidade de encomendar um estudo à Universidade Católica e logo veríamos.
domingo, outubro 28, 2007
O silvo metálico da vingança
Sweeny Todd é uma história amoral, dizem. É curioso como a amoralidade é sempre atribuída a quem reage contra a prepotência e nunca contra quem domina prepotentemente. Isso é a norma que muitas vezes está bem longe da ética. A vingança metafórica de comer as bestas é, afinal, merecida. Possivelmente, indigesta.
Um bom bocado de teatro, só estragado pela deficiência de alguns intérpretes. A certa altura, ansiei que tivesse legendas tal era o grau de incompreensão do texto (cantado?).
Um bom bocado de teatro, só estragado pela deficiência de alguns intérpretes. A certa altura, ansiei que tivesse legendas tal era o grau de incompreensão do texto (cantado?).
quinta-feira, outubro 11, 2007
Pôr do sol
Pôs-se o sol era quase meio-dia. Sem a beleza quente dos dias anteriores, mas com toda a calma serena do mundo num só instante inadiável e definitivo. Alguns dizem que renasce.
quarta-feira, outubro 10, 2007
A árvore
Seca, mirrada, continua de pé na beira do caminho. Olhei para ela com fome de esperança apesar de serem quase 11 da noite. Sempre nos agarramos a imagens quando o que resta já é pouco. A sua aridez ainda foi um bafo de esperança naquele momento, numa tentativa de ligar o que não está, realmente, relacionado.
terça-feira, outubro 09, 2007
A recta e o círculo
segunda-feira, outubro 08, 2007
O défice de Sócrates
A vida pública tem destas coisas. Ouvem-se protestos. Classificar os protestos de insultos deve ser obra de terceiros. Quando um Primeiro Ministro, se acha insultado, deve recorrer aos tribunais e esperar serenamente o julgamento de quem o ofende. Agir de outra forma, é falta de cultura democrática.
domingo, outubro 07, 2007
Quase no céu
1. A sensação das férias andava longínqua. De repente cheguei ao fim do Domingo e percebi que amanhã não vou trabalhar. Até já o tinha sentido todo o fim-de-semana, o tempo mais comprido. Sabe bem. Consegue até ouvir-se com mais tranquilidade que um nortista, básico tenha ganho ao aparelho do PSD para grande escândalo da primeira página do Expresso, que melhor não teve que referir que há no PSD quem não concorde com as directas, fazendo desaparecer da primeira página qualquer referência ao dito cujo. Mais um impressionante exercício de isenção jornalística.
2. Dias depois fico a saber que os atletas de alta competição deixam de pagar impostos. É o prémio para a função anestésica que induzem. Cientistas emigrados e Saramagos desterrados, procurem outras Espanhas para pagarem vossos impostos!
3. Scolari sem vergonha foi pedir redução da pena. Conseguiu! Estes tipos estão muito pouco seguros da honestidade das mãezinhas e, depois, quando alguém lhes fala delas, perdem-se da cabeça e são perdoados. Confesso que se alguma vez a minha fosse posta em causa, mais não passaria pela minha cabeça do que lamentar a má informação do palrador.
4. Mas eu sou de poucos medos e de menos dramas. O mundo tem e dá-me sentido. Sobretudo compreendo a migalha que nele sou e isso dá uma grande satisfação pela bondade que tem tido para comigo. Os grandes acontecimentos são, quase sempre, bem pequenos e coisas naturais. Uns para nos fazerem sorrir, outros para nos lembrarem que somos finitos e que daqui a 100 anos possivelmente já nem existiremos nas memórias.
5. Gozar este Verão encomendado em Outubro andando por aí entre sabores e paisagens. Relembrar a concha de São Martinho, observada de Salir. Trincar um palmilho a ver passar as tias no calçadão. Subir ao Sítio para ver o areal despojado de vacas que não puxam barcos no areal da Nazaré. Descer (pela primeira vez!) à vila, junto à praia a ver o peixe a secar guardado por mulheres, quase de uniforme como nas fotografias de outro tempo. Ficar no Camões a reincidir no Expresso, bebericando água do Luso, olhando o molhe com pescadores na espera calma dos peixes. Nunca chegam? E que importa isso, se o momento foi gozado?
6. E ainda ter tempo para perceber que me encanta mais a imagem das gaivotas a saltar da arriba e a fazerem-se ao mar, fortes ainda que inseguras sobre a rocha onde pousarão, do que a outra do ninho onde, numa chilreação angustiada, esperavam pela comida que lhe vomitavam os pais. Celebro, neste tempo, a liberdade do voo!
quarta-feira, setembro 26, 2007
Menino guerreiro
Às vezes é de onde menos se espera que elas surgem. O menino guerreiro acaba de dar um exemplo de comportamento cívico. Durante uma entrevista foi interrompido porque estava a chegar o super Zé e não foi de meias medidas, saíu dos estúdio acabando com a entrevista. Realmente, não há pachorra para tanta idiotice editorial e só é pena que esta atitude venha a ser completamente arrasada pelos donos da verdade no dia seguinte por ter partido de um special one tão frágil e atacável.
terça-feira, setembro 25, 2007
Regresso a casa
Decidi calar-me sobre o resto da viagem, simplesmente, por estar farto e cansado. Depois tenho sempre aquela sensação desagradável do regresso. O que gostava era de ficar e sacar de lá aqueles de quem gosto.
É realmente doloroso ver alguém defender o senhor Treinador a quem a pátria tanto deve e chega a ser supresa ver o senhor engenheiro a ser melhor fora do que dentro. É sempre comovente, ver propor nas Nações Unidas a sua defesa e a abolição globalizada da pena de morte. E se ele ficasse por lá em vez de voltar para fazer propostas internas de continuar a acabar com tudo o que é nosso?
É também comovente a solidariedade com a selecção de rugby. Perdem tudo, mas são simpáticos. Estranhamente ainda se apoia gente assim e há sorrisos solidários, apesar de toda a propaganda do vencer de qualquer forma, a todo o custo, com todo o sacrifício pateta.
É realmente doloroso ver alguém defender o senhor Treinador a quem a pátria tanto deve e chega a ser supresa ver o senhor engenheiro a ser melhor fora do que dentro. É sempre comovente, ver propor nas Nações Unidas a sua defesa e a abolição globalizada da pena de morte. E se ele ficasse por lá em vez de voltar para fazer propostas internas de continuar a acabar com tudo o que é nosso?
É também comovente a solidariedade com a selecção de rugby. Perdem tudo, mas são simpáticos. Estranhamente ainda se apoia gente assim e há sorrisos solidários, apesar de toda a propaganda do vencer de qualquer forma, a todo o custo, com todo o sacrifício pateta.
quinta-feira, setembro 20, 2007
À volta da Ronda
Início de dia terminado em ases, muitas ases. Tantas que me afugentaram, empurrando-me até ao Rijks. Ok, Rembrandt é um mestre, sabe manejar a luz de forma quase perfeita, mas o que pinta? Burgueses, tira fotografias antes de tempo ou nem isso. Que fotografia não é o registo do instante, mas a sua provocação e o resultado deve ser a reflexão sobre o registo provocado. A arte tem a necessidade de transmitir mais alguma coisa além do fotojornalismo. A própria Ronda é grande pela inovação do instantâneo,do movimento intrínseco das personagens, antes da fotografia. Mas fica-se por aí. Falta-lhe a mensagem, aquilo que nos acrescenta alguma coisa depois do instante do ver. Sem isso, é um mero exercício de habilidade.
A entrada devia ter desconto, Vermeer foi passear para Tóquio. Aí já é povo que trabalha. O quadro em passeio fica também na galeria pessoal.
quarta-feira, setembro 19, 2007
Duas coisas boas
Comecei bem o dia com Drugs for diabetes: are we getting value for Money? No! Transparência e limpeza: o objectivo das companhias farmacêuticas é fazer dinheiro. O resto são malabarismos.
Pude depois ir ao Begijnhof, aquele cantinho único desta cidade, sempre difícil de encontrar. Mas as coisas únicas são difíceis, só que valem todo o esforço.
Duas coisas boas num dia de anúncio de mais nuvens. Aproveitar enquanto o sol dura.
Pude depois ir ao Begijnhof, aquele cantinho único desta cidade, sempre difícil de encontrar. Mas as coisas únicas são difíceis, só que valem todo o esforço.
Duas coisas boas num dia de anúncio de mais nuvens. Aproveitar enquanto o sol dura.
terça-feira, setembro 18, 2007
Andando...
Ainda mal refeito das referência ao progresso dos holandeses na área dos costumes depois do passeio pós-prandial do jantar ao Red District, onde, sobretudo as mulheres, acharam o máximo a ideia de elas pagarem impostos e terem cartão de sanidade, fui, debaixo de chuva forte, fazer como os holandeses, apanhar o eléctrico para ir até ao emprego. A alternativa seria ir de bicicleta, mas não tenho a perícia deles, que conduzem pasteleiras com uma mão no guiador, outra no guarda-chuva e vão fazendo tangentes em percursos de chicana por entre turistas distraídos e molhados.
A Feira da Diabetes é das maiores onde estive. Nem falta um lago e relva artificial. Tem malabaristas e outros artistas sempre em movimento. Aqui e além, de microfone em punho, alguém grita como numa das Feiras de província. Mas aqui não se dá nada ao preço da chuva, nem se entregam dez items pelo preço de um. Aqui dá-se tudo, depois do bilhete e do hotel, dão-se muitas canetas na esperança que escrevam as palavras mágicas nas receitas, aquelas que estão por todo o lado, mostrando a inovação. E é um corrupio de caça aos sacos para levarem toda a tralha em promoção. Fazem fila para a prendinha e; daí a pouco, andam vergados de sacada cheia. Nos intervalos da feira, passa a ciência, para mim, por vezes, demasiado científica.
De tal forma que foi uma boa opção, depois do sol aparecer, apanhar o eléctrico de volta e deixar-me ir até ao Museu Van Gogh.
A ideia básica era rever os Comedores de Batatas, um dos quadros da minha galeria seleccionada. Ver de novo, aqueles trabalhadores rurais, em fim de dia, serenamente desfrutando aquilo que criaram. Não me parecem cansados, mas tranquilos, que é assim que fica quem usa o produto do seu trabalho. Estarão felizes na sua rudeza, não exalam bom cheiro, mas o trabalho no campo não deve pintar-se com perfume (diz-me o autor no audiotour). Nem de propósito para ilustrar a minha escapadela ao trabalho por troca com o prazer, fiquei ali em frente da «Natureza morta com Bíblia» no contraste entre o dever apregoado no livro dos livros e a «Joie de vivre» de Zola. E que bem que sabe a vida no momento, sem ser adiada! Quinze anos depois, os quadros encolheram ou será que a surpresa da primeira visão, torna maior o que vemos? Mesmo mais pequeno, ficou mais belo e há coisas que se não compram ao metro quadrado.
Assim refeito, foi possível suportar uma conversa sobre hemoglobina glicosilada ou média da glicemia, que mais parece uma pescada de rabo na boca, sem se perceber onde começa e acaba, tão circular é o discurso.
Perante a reafirmação ao jantar da nacional-admiração-saloia da liberdade de costumes, não me contive na evocação do Império Romano. Progresso é outra coisa, não?
segunda-feira, setembro 17, 2007
Boa!
Eu já tinha arregaçado as mangas e de gravata nunca estou. Sou um precursor na luta contra a infecção!
E agora será que alguns deixarão de ver doentes para poderem andar de gravata?
E agora será que alguns deixarão de ver doentes para poderem andar de gravata?
Buying sickness (mas não compro tudo o que me vendem)
Na mesa-de-cabeceira, um bilhete, cientificamente baseado em investigações citadas, avisava-me que a roupa de cama de alta qualidade prolonga o período de sono em 53 minutos. Não tive oportunidade de entrar neste estudo e, por isso, a média foi sobreavaliada. Realmente, os lençóis são de boa qualidade e o colchão não fica atrás, mas a mim o que me prolonga o sono são outros pormenores, que aqui não tenho… Por isso, às 7 da manhã já estava bem desperto.
Pela janela confirmei o boletim meteorológico que tinha lido no weather report da BBC: chuva a molhar tolos, céu cinzento, quase a prolongar a noite dando a sensação de que o dia ainda não nasceu. Assim vivem grande parte do ano, coitadinhos.
Depois foi sofrer o simpósio «From diabetes management to cardiovascular event prevention», realizado na Convention Factory, uma antiga fábrica onde já se produziu e agora se consomem conceitos para ajudar a consumir coisas feitas pela aldeia global fora. Aqui vim encontrar Sir Alberti e, coincidência, o Dr. Bryan Brewer, que na minha ignorância, me tinha sido apresentado no livro do Cassels como o vendedor de estatinas para todos, cientista com ligações financeiras a oito farmacêuticas. Agora mudou (ou terá ampliado?) o âmbito da actuação e apareceu a dizer qualquer coisa do género o rimonabant corrige praticamente todos os factores de risco cardiometabólico e quase mo apresenta como excelente hipoglicemiante oral. Num dos gráficos mostra como depois de usado, os ácidos gordos vão abaixo, a adiponectina sobe, os lípidos melhoram, a obesidade visceral quase desaparece. Ficam tão corrigidos os doentes, que se deprimem cinco vezes mais do que os que tomam placebo. Who cares? Nesta coisa está obviamente coligado com mais uma mão cheia de sumidades. Não pude deixar de reparar que o triângulo da terapêutica da diabetes que o Eurico Lisboa nos ensinava (dieta, exercício físico, medicamentos), se transforma agora num ponto. Ficou sem base nem altura, perdeu a área, mas ampliou a geração do valor: drogas e insulina, porque o estilo de vida não se contesta, nem modifica ou citando um dos peritos que citava Mark Twain, «quando penso em exercício, o melhor é sentar-me e esperar que passe». Não esquecendo obviamente de tomar a pílula e uma injecçãozita de insulina, já agora, para continuar a sebar durante muitos anos. E a esta missa, assistiram mais de 2000, na maioria crentes, aqui trazidos, passeados e alimentados pela Sanofi Aventis.
Valeu a volta para apreciar a inclinação dos prédios da terra. Alguns muito mais vergados do que em Pisa. Fiquei ontem a saber que estão assentes em estacas sobre o mar e que o vaivém das águas tem destas consequências. Mas até agora nenhum caiu, ao que me tranquilizam. Tanto mais que estou a escrever isto num deles que já leva quase 400 anos de pé e também está meio tombado. É um pouco perverso, mas até me dá algum gozo estar aqui, debaixo do mesmo tecto que o Dr. Brewer, sem ter tido a necessidade de fazer quase nada por isso. E ele...
Pela janela confirmei o boletim meteorológico que tinha lido no weather report da BBC: chuva a molhar tolos, céu cinzento, quase a prolongar a noite dando a sensação de que o dia ainda não nasceu. Assim vivem grande parte do ano, coitadinhos.
Depois foi sofrer o simpósio «From diabetes management to cardiovascular event prevention», realizado na Convention Factory, uma antiga fábrica onde já se produziu e agora se consomem conceitos para ajudar a consumir coisas feitas pela aldeia global fora. Aqui vim encontrar Sir Alberti e, coincidência, o Dr. Bryan Brewer, que na minha ignorância, me tinha sido apresentado no livro do Cassels como o vendedor de estatinas para todos, cientista com ligações financeiras a oito farmacêuticas. Agora mudou (ou terá ampliado?) o âmbito da actuação e apareceu a dizer qualquer coisa do género o rimonabant corrige praticamente todos os factores de risco cardiometabólico e quase mo apresenta como excelente hipoglicemiante oral. Num dos gráficos mostra como depois de usado, os ácidos gordos vão abaixo, a adiponectina sobe, os lípidos melhoram, a obesidade visceral quase desaparece. Ficam tão corrigidos os doentes, que se deprimem cinco vezes mais do que os que tomam placebo. Who cares? Nesta coisa está obviamente coligado com mais uma mão cheia de sumidades. Não pude deixar de reparar que o triângulo da terapêutica da diabetes que o Eurico Lisboa nos ensinava (dieta, exercício físico, medicamentos), se transforma agora num ponto. Ficou sem base nem altura, perdeu a área, mas ampliou a geração do valor: drogas e insulina, porque o estilo de vida não se contesta, nem modifica ou citando um dos peritos que citava Mark Twain, «quando penso em exercício, o melhor é sentar-me e esperar que passe». Não esquecendo obviamente de tomar a pílula e uma injecçãozita de insulina, já agora, para continuar a sebar durante muitos anos. E a esta missa, assistiram mais de 2000, na maioria crentes, aqui trazidos, passeados e alimentados pela Sanofi Aventis.
Valeu a volta para apreciar a inclinação dos prédios da terra. Alguns muito mais vergados do que em Pisa. Fiquei ontem a saber que estão assentes em estacas sobre o mar e que o vaivém das águas tem destas consequências. Mas até agora nenhum caiu, ao que me tranquilizam. Tanto mais que estou a escrever isto num deles que já leva quase 400 anos de pé e também está meio tombado. É um pouco perverso, mas até me dá algum gozo estar aqui, debaixo do mesmo tecto que o Dr. Brewer, sem ter tido a necessidade de fazer quase nada por isso. E ele...
domingo, setembro 16, 2007
Amesterdão como Titel
Engraçado tenho um layout todo a falar holandês!
O grupo tem tanto de estranho como de grande. A Diabetes é transversal e faz trazer aqui um batalhão de possíveis clínicos gerais, a fazer fé no meu desconhecimento da maior parte das caras.
Amesterdão às onze da noite é uma cidade fantasma. Devem estar todos na caminha ou no Red District. Após algumas instruções sobre como se chega ao Centro de Congressos, que parece ficar a uns cinco quilómetros, e mais alguns dados sobre hábitos da cidade ou a origem, na Feira da Ladra, das suas 600000 bicicletas para os seus 750000 habitantes, da informação sobre os horários desfasados de funcionamento da cidade, começando às 6, 7, 8 e 9 da manhã e com trabalho ou não aos fins-de-semana, semana de 4 dias para as mulheres que rodam no levar das crianças às escolas em bicicletas com avançado tipo carroça do avesso (o tirante vai atrás), chegámos ao Hotel Pulitzer na beira do canal.
Agrada-me que fique no centro, perto da Dam e até que o Centro de congressos fique lá longe. Nestes dias era o que estava a precisar.
Ainda assim, amanhã, terei de fazer o frete de ir ao Simpósio da casa, com saída daqui às 8 da manhã…
O grupo tem tanto de estranho como de grande. A Diabetes é transversal e faz trazer aqui um batalhão de possíveis clínicos gerais, a fazer fé no meu desconhecimento da maior parte das caras.
Amesterdão às onze da noite é uma cidade fantasma. Devem estar todos na caminha ou no Red District. Após algumas instruções sobre como se chega ao Centro de Congressos, que parece ficar a uns cinco quilómetros, e mais alguns dados sobre hábitos da cidade ou a origem, na Feira da Ladra, das suas 600000 bicicletas para os seus 750000 habitantes, da informação sobre os horários desfasados de funcionamento da cidade, começando às 6, 7, 8 e 9 da manhã e com trabalho ou não aos fins-de-semana, semana de 4 dias para as mulheres que rodam no levar das crianças às escolas em bicicletas com avançado tipo carroça do avesso (o tirante vai atrás), chegámos ao Hotel Pulitzer na beira do canal.
Agrada-me que fique no centro, perto da Dam e até que o Centro de congressos fique lá longe. Nestes dias era o que estava a precisar.
Ainda assim, amanhã, terei de fazer o frete de ir ao Simpósio da casa, com saída daqui às 8 da manhã…
sábado, setembro 15, 2007
Crescimento
Realmente, passar de um a cinco passos, é progredir quinhentos por cento!
Da mesma forma que os vencedores me não movem, se calhar por estar a ficar velho, começo a sentir o encanto estético da fragilidade. A superação da tarefa impossível ontem é bem mais bela que o record conseguido com esgar de sofrimento. Uma tem um sinal de esperança lá metido, a outra o peso da dor dos derrotados, que nisto das vitórias, a de um, é sempre feita das derrotas de muitos mais.
Da mesma forma que os vencedores me não movem, se calhar por estar a ficar velho, começo a sentir o encanto estético da fragilidade. A superação da tarefa impossível ontem é bem mais bela que o record conseguido com esgar de sofrimento. Uma tem um sinal de esperança lá metido, a outra o peso da dor dos derrotados, que nisto das vitórias, a de um, é sempre feita das derrotas de muitos mais.
sexta-feira, setembro 14, 2007
Manipulação (de punho cerrado)
Como se vê na imagem, Scolari não «tocou nem um cabelinho do rapaz». Vê-se igualmente um cidadão de boca aberta, possivelmente, a dizer Oh, Felipe, que maneira estranha você tem de abrir os braços. Cuidado que podem levar a mal!
Não tenho grande admiração por vencedores crónicos e até reservo alguma ternura pelos perdedores. Mas quando os vencedores crónicos usam estratégias de fuga em frente para a sua sanha triunfante, aí quase que perco a paciência e, da falta de admiração, passo ao desprezo. É que também não gosto nada que me tomem por idiota.
O Felipe até pode ser boa pessoa, mas então é o Scolari que é uma besta. Vice-versa também serve. Mas, considerando que é a primeira que está certa, estou a assistir a um espectáculo triste de branqueamento da besta. O Felipe estava triste, o Scolari estava furibundo. Aliás, acho que só um tipo assim se rala com os cumprimentos à família. Um tipo triste acaba por lamentar, ter pena de quem os profere e deseja-lhe melhores dias. Só que, naquele momento, o Scolari deu um empurrão ao Felipe que deve ter caído de cu no chão e ficou sozinho em cena. Até me pareceu ver o Felipe a ir-se embora e foi nesse momento que, subitamente, o Scolari começou a correr para dentro do campo e numa forma estranha de abrir os braços (quem abre os braços levantando apenas um e, por sinal, de punho cerrado?)chegou à cara do cara. Convencido que ninguém teria visto (!!!) o Scolari negou tudo, manifestou ter sido roubado, insinuou coisas sobre o homem de preto. É um hábito deste ganhador (que tem ganho, mas não tem feito ganhar assim tanto) dizer umas coisas que pode, mais tarde, dizer que não disse (há tempos dizia que havia uns adversários que corriam muito...), só que, desta vez, o vídeo tramou-o. E eis que, no dia seguinte, o Felipe (ou terá sido o Scolari) montou uma operação de desculpas, claramente para se tentar safar, para ver se consegue uma pena mais pequenita. Scolari a corar ao sol para ficar mais branqueado.
Que ele o faça, até entendo. É o Scolari a fazer de Felipe e a fazer-nos de parvos. Mas isso também tem sido uma constante da sua carreira por cá. Basta lembrarmo-nos das bandeirinhas nas janelas para vermos o jeito que ele têm para manipular. Nota-se que não me entusiasma o vencedor. Aliás, em toda a estadia, apenas uma coisa apreciei neste líder, a sua atitude face aos jornalistas ao, repetidamente, lhes não dar confiança, não governando pela imagem. Os pobres construtores de imagens não tiveram alternativa perante os resultados. Agora, perante a oportunidade de clarificarem algumas coisas, cedem, branqueiam. Como as vedetas que falham golos de baliza aberta. Em nome de que Deus?
Não tenho grande admiração por vencedores crónicos e até reservo alguma ternura pelos perdedores. Mas quando os vencedores crónicos usam estratégias de fuga em frente para a sua sanha triunfante, aí quase que perco a paciência e, da falta de admiração, passo ao desprezo. É que também não gosto nada que me tomem por idiota.
O Felipe até pode ser boa pessoa, mas então é o Scolari que é uma besta. Vice-versa também serve. Mas, considerando que é a primeira que está certa, estou a assistir a um espectáculo triste de branqueamento da besta. O Felipe estava triste, o Scolari estava furibundo. Aliás, acho que só um tipo assim se rala com os cumprimentos à família. Um tipo triste acaba por lamentar, ter pena de quem os profere e deseja-lhe melhores dias. Só que, naquele momento, o Scolari deu um empurrão ao Felipe que deve ter caído de cu no chão e ficou sozinho em cena. Até me pareceu ver o Felipe a ir-se embora e foi nesse momento que, subitamente, o Scolari começou a correr para dentro do campo e numa forma estranha de abrir os braços (quem abre os braços levantando apenas um e, por sinal, de punho cerrado?)chegou à cara do cara. Convencido que ninguém teria visto (!!!) o Scolari negou tudo, manifestou ter sido roubado, insinuou coisas sobre o homem de preto. É um hábito deste ganhador (que tem ganho, mas não tem feito ganhar assim tanto) dizer umas coisas que pode, mais tarde, dizer que não disse (há tempos dizia que havia uns adversários que corriam muito...), só que, desta vez, o vídeo tramou-o. E eis que, no dia seguinte, o Felipe (ou terá sido o Scolari) montou uma operação de desculpas, claramente para se tentar safar, para ver se consegue uma pena mais pequenita. Scolari a corar ao sol para ficar mais branqueado.
Que ele o faça, até entendo. É o Scolari a fazer de Felipe e a fazer-nos de parvos. Mas isso também tem sido uma constante da sua carreira por cá. Basta lembrarmo-nos das bandeirinhas nas janelas para vermos o jeito que ele têm para manipular. Nota-se que não me entusiasma o vencedor. Aliás, em toda a estadia, apenas uma coisa apreciei neste líder, a sua atitude face aos jornalistas ao, repetidamente, lhes não dar confiança, não governando pela imagem. Os pobres construtores de imagens não tiveram alternativa perante os resultados. Agora, perante a oportunidade de clarificarem algumas coisas, cedem, branqueiam. Como as vedetas que falham golos de baliza aberta. Em nome de que Deus?
quinta-feira, setembro 13, 2007
Alta tensão
1. A chafurdice continua. É francamente de mau gosto que se publiquem extractos de diários privados. Pela simples razão de que o são. Porque, por agora, os factos lá descritos apenas são possibilidades remotas de qualquer coisa ou mesmo de coisa nenhuma. Possivelmente, até os culpados terão o direito a terem o seu recanto de desabafo, sem possibilidade de divulgação não autorizada. Seguramente, mais, quem o poderá não ser. A mim não me interessam estes noticiários. São muito maus exemplos de informação. Há tensão no ar.
2. Scolari mostrou ontem que ataca bem com a esquerda. Não fosse a esquiva pronta do jovem e quase teríamos KO. O herói da bandeirinha na janela, da equipa Portugal, da unidade nacional, revelou o seu sul-americanismo. Anda tensa esta gente.
2. Scolari mostrou ontem que ataca bem com a esquerda. Não fosse a esquiva pronta do jovem e quase teríamos KO. O herói da bandeirinha na janela, da equipa Portugal, da unidade nacional, revelou o seu sul-americanismo. Anda tensa esta gente.
terça-feira, setembro 11, 2007
Propriedade vs usofruto
Não lhes basta serem cúmplices a maior parte do tempo, uivarem quando não estão um com o outro. Tal é a unidade que chegam a não comer quando separados. Bem nutridos, de barriga cheia, de onde lhes vem a necessidade de afirmarem um ao outro a propriedade das batatas fritas, a ponto de se morderem na disputa? Há coisas que não entendo nos cães, como há outras que os homens não entendem em mim.
A incerteza do futuro e o medo toldam-nos a racionalidade, tornam-nos místicos. Foram, se calhar, estes medos e as fés associadas, que há seis anos fizeram cair torres. São eles que continuam a chacina actual.
domingo, setembro 09, 2007
Gone with the wind
Ei-los que partiram, incomodados com o ambiente, renegando as promessas, aproveitando as oportunidades de um sistema judicial evoluído. E provavelmente fizeram bem, antes que o povinho assanhado lhes causasse dano. É que este pacato povinho muda facilmente de opinião e os santos de ontem, podem muito bem tornar-se diabos hoje. Depois é um pouco imprevisível e gosta de fazer os esconjuros usando as suas técnicas. O que ainda me surpreende é ver como a Aldeia reage e de lés-a-lés os telejornais se enchem de peritos a discutir o que não sabem. O livro continua aberto, mas temos de nos contentar com a passagem natural das páginas. Geralmente, o mistério só se resolve nas últimas páginas. Pelo meio suspeita-se de muita gente e todos os suspeitos estavam, afinal, inocentes.
A mim bastava-me que informassem a população que não se devem deixar crianças sozinhas enquanto se vai jantar, que isso é uma atitude negligente. Ele há coisas que acontecem. Depois poderiam, quando chegassem à última página do livro, contar-me o epílogo. Chegava. Ficava informado. Assim, não informam, especulam, confundem, baralham, ajudam a desviar a atenção de outros problemas maiores. Mas, afinal, é para isso que lhes pagam.
A mim bastava-me que informassem a população que não se devem deixar crianças sozinhas enquanto se vai jantar, que isso é uma atitude negligente. Ele há coisas que acontecem. Depois poderiam, quando chegassem à última página do livro, contar-me o epílogo. Chegava. Ficava informado. Assim, não informam, especulam, confundem, baralham, ajudam a desviar a atenção de outros problemas maiores. Mas, afinal, é para isso que lhes pagam.
sábado, setembro 08, 2007
Torre Bela
Escondido, quase clandestino, a Torre Bela foi hoje mostrada a mais 5 pessoas. Tive a sorte de estar entre elas. Pude ver (recordar-me) que era a esperança que gerava os sorrisos e os cânticos, não a eficiência, propalada pelo ódio. Na mudança para a eficiência é fundamental não comprometer a esperança e, aos muitos, pouco interesse terá a eficiência criada, só para uns poucos.
Ladrões da esperança
A habituação acaba por levar à normalidade. Começa a ser tão constante a divulgação da tragédia, que ela se torna cada vez mais normal, quase necessária ao bem(?)-estar. Uma boa notícia não deixa de ser vista com desconfiança, ou, se o não for, pelo menos com a impressão da sua inutilidade. É o que se chama uma não-notícia. Apenas a calamidade é notícia, porque a isso nos habituámos(aram). A imposição do instante real, apaga o sonho do projecto e ficamos sem rumo. Sem objectivos não se anda ou limitamo-nos a ir andando, que é a forma mais absoluta de estarmos para(lisa)dos, isto é, para destruição (lise).
Tive a sorte de passar por períodos de grande sonho. O sonho da Igualdade (iniciado em França no século XVIII, aprofundado em 1917 e ainda presente pelos anos 60-70 fora num período de adolescência privilegiada) e o da Liberdade (entreaberto em Abril de 74). Nos anos 60 era um puto rodeado de esperanças, que culminaram no proibido proibir de 68. E os telejornais, cheios das realizações do Regime, ainda assim, eram optimistas. Aos medos que havia, resistíamos, por haver valores mais importantes que tudo, até do que a vida. Se nos mandavam para uma guerra idiota, emigrávamos, fintando os lobos, mas não encarneirávamos. Se nos tentavam calar, gritávamos. Mas resistia-se sempre.
São diferentes os tempos de agora. Passámos a viver a um prazo muito curto e sem garantias (tradicionalmente endividados), com o problema de termos de sobreviver cada vez mais tempo e ficámos cercados pelo Medo. Os medos do Bin Laden, das mudanças climáticas, dos assaltos aos Bancos, dos roubos por esticão, dos engarrafamentos do tráfego, das subidas das taxas de juro, dos malefícios do tabaco, enchem as notícias de agora. O curioso é que a maioria desses perigos nem nos diz respeito directamente. Por que nos avisam tanto e enchem os nossos tempos com notícias destes medos? Com tanto medo instantâneo, conseguiram roubar-nos o tempo da esperança e, na verdade, quando alguém é vítima de um roubo, o produto aproveita a outro-alguém, ao ladrão. A habilidade é que, para cúmulo, este ladrão nos é apresentado como amigo (por exemplo, os nossos amigos Bancos, que tão generoso empréstimos nos fazem). Ficamos roubados e agradecidos por sobrevivermos o instante, cheios de medo da morte, não percebendo o nosso papel de mortos-sobreviventes. Manipulados, deixámos de ser responsáveis. Sem Deus, deixámos de nos temermos e perdemos o remorso. Quem apenas tem como desígnio sobreviver, quem vive numa guerra permanente, não se importa com a forma como resolve cada momento do conflito, qualquer habilidade serve para ir em frente e o erro ou o golpe, perdida a responsabilidade e o remorso, só existe quando tem consequências, quando se é descoberto. E, mesmo nessas circunstâncias, muitas vezes pode ser um mal que vem por bem. Até a privação da liberdade (isso existe para os oprimidos permanentes?)pode ser a criação de um espaço para a escrita de um livro que logo se transforma em best-seller pela história éxtraordinária que pode contar. Tem é de ter tragédia e manha.
Chegámos assim aos super-heróis e celebridades. Aos que têm uma história para contar.
Sem esperança, atingimos o absurdo.
Tive a sorte de passar por períodos de grande sonho. O sonho da Igualdade (iniciado em França no século XVIII, aprofundado em 1917 e ainda presente pelos anos 60-70 fora num período de adolescência privilegiada) e o da Liberdade (entreaberto em Abril de 74). Nos anos 60 era um puto rodeado de esperanças, que culminaram no proibido proibir de 68. E os telejornais, cheios das realizações do Regime, ainda assim, eram optimistas. Aos medos que havia, resistíamos, por haver valores mais importantes que tudo, até do que a vida. Se nos mandavam para uma guerra idiota, emigrávamos, fintando os lobos, mas não encarneirávamos. Se nos tentavam calar, gritávamos. Mas resistia-se sempre.
São diferentes os tempos de agora. Passámos a viver a um prazo muito curto e sem garantias (tradicionalmente endividados), com o problema de termos de sobreviver cada vez mais tempo e ficámos cercados pelo Medo. Os medos do Bin Laden, das mudanças climáticas, dos assaltos aos Bancos, dos roubos por esticão, dos engarrafamentos do tráfego, das subidas das taxas de juro, dos malefícios do tabaco, enchem as notícias de agora. O curioso é que a maioria desses perigos nem nos diz respeito directamente. Por que nos avisam tanto e enchem os nossos tempos com notícias destes medos? Com tanto medo instantâneo, conseguiram roubar-nos o tempo da esperança e, na verdade, quando alguém é vítima de um roubo, o produto aproveita a outro-alguém, ao ladrão. A habilidade é que, para cúmulo, este ladrão nos é apresentado como amigo (por exemplo, os nossos amigos Bancos, que tão generoso empréstimos nos fazem). Ficamos roubados e agradecidos por sobrevivermos o instante, cheios de medo da morte, não percebendo o nosso papel de mortos-sobreviventes. Manipulados, deixámos de ser responsáveis. Sem Deus, deixámos de nos temermos e perdemos o remorso. Quem apenas tem como desígnio sobreviver, quem vive numa guerra permanente, não se importa com a forma como resolve cada momento do conflito, qualquer habilidade serve para ir em frente e o erro ou o golpe, perdida a responsabilidade e o remorso, só existe quando tem consequências, quando se é descoberto. E, mesmo nessas circunstâncias, muitas vezes pode ser um mal que vem por bem. Até a privação da liberdade (isso existe para os oprimidos permanentes?)pode ser a criação de um espaço para a escrita de um livro que logo se transforma em best-seller pela história éxtraordinária que pode contar. Tem é de ter tragédia e manha.
Chegámos assim aos super-heróis e celebridades. Aos que têm uma história para contar.
Sem esperança, atingimos o absurdo.
quinta-feira, setembro 06, 2007
Nessun dorma
domingo, setembro 02, 2007
FDS
sábado, setembro 01, 2007
Mais vento leste
sexta-feira, agosto 31, 2007
Vento leste
Vá que está de cinco estrelas. Vento leste, sabe? Sempre me fascinam estas pesoas que sabem dos ventos e dos tempos. Dos tempos do clima, não dos que faltam a toda a gente, nem se percebe muito bem porquê.
Vou, pois então, gozar o vento leste e a visão das Berlengas escondidas (no nevoeiro?).
Vou, pois então, gozar o vento leste e a visão das Berlengas escondidas (no nevoeiro?).
quinta-feira, agosto 30, 2007
Estatísticas
O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1 dólar por dia (PPP)e pobreza moderada como viver com entre 1 e 2 dólares por dia.(Wikipedia)
About 1 billion people—one fifth of the world's population—live on less than $1 a day. Poverty incidence has decreased from 29 percent of global population in 1990 to 18 percent in 2004. At current trends, the poverty Millennium Development Goal (MDG) of reducing extreme poverty by 50 percent from its 1990 level by 2015 will be achieved. At the global level, 12 percent of the population in developing countries will live on $1 a day or less in 2015.Povertynet)
Uma mensagem optimista de que estaremos a melhorar. Acho curiosa esta definição do Banco Mundial, porque considera que para os pobres 1 dólar é a mesma coisa durante 15 anos. Com razão, quem nada compra por incapacidade financeira nem tem inflação, vivem tão mal hoje como há 15 anos, não dando conta de que os preços variam acompanhando os rendimentos per capita.(ver figura) (E os rendmentos do Império aumentam sempre que vão à guerra, será?)
Aos pobres resta uma solução: arranjarem algum e fazerem o investimento no sítio certo. Bastava que vissem a evolução do DJ e teriam o seu problema resolvido.
Que tal subir o limiar de probreza e fazer depois as percentagens? Muito incómodo, talvez.
About 1 billion people—one fifth of the world's population—live on less than $1 a day. Poverty incidence has decreased from 29 percent of global population in 1990 to 18 percent in 2004. At current trends, the poverty Millennium Development Goal (MDG) of reducing extreme poverty by 50 percent from its 1990 level by 2015 will be achieved. At the global level, 12 percent of the population in developing countries will live on $1 a day or less in 2015.Povertynet)
Uma mensagem optimista de que estaremos a melhorar. Acho curiosa esta definição do Banco Mundial, porque considera que para os pobres 1 dólar é a mesma coisa durante 15 anos. Com razão, quem nada compra por incapacidade financeira nem tem inflação, vivem tão mal hoje como há 15 anos, não dando conta de que os preços variam acompanhando os rendimentos per capita.(ver figura) (E os rendmentos do Império aumentam sempre que vão à guerra, será?)
Aos pobres resta uma solução: arranjarem algum e fazerem o investimento no sítio certo. Bastava que vissem a evolução do DJ e teriam o seu problema resolvido.
Que tal subir o limiar de probreza e fazer depois as percentagens? Muito incómodo, talvez.
terça-feira, agosto 28, 2007
Mais uma baixa na Alta competição
Mais uma vítima da Alta Competição. Valeu a pena? Sim, os fabricantes de desfibrilhadores portáteis vão agradecer.
A importância de mais uns centímetros
Ainda agora cheguei a casa e a TSF não se cala com o raio dos centímetros. Por 3 cm, apenas. Isto dos centímetros divide muito a opinião pública. Frequentemente, ouço dizer que mais centímetro menos centímetro isso é perfeitamente insignificante. O significado está além dos centímetros. Por outro lado, diariamente, todos apanhamos com rajadas de spam a oferecerem mais uns centímetros. Vivemos num mundo muito milimétrico. Que tinha a senhora ganho com mais uns centímetros? Uma medalhita para pôr no armário lé em casa, um jantarzito com o Engenheiro daqui a uns dias? Não, se calhar, um novo contrato com quem lhe fornece os sapatos, a camisola ou o calção. Para ela os centímetros teriam sido importantes, para nós, duvido. Aliás, faz-me alguma confusão que, nos dias de hoje, com tantos transportes, alguém se lembre de percorrer distâncias aos saltos (sobretudo não sendo cangurú). Mais confusão me faz que alguém valorize uma coisa destas, mais centímetro menos centímetro. Mas se isto é motivo de notícia, importância deve ter. Só que eu não consigo ver.
segunda-feira, agosto 27, 2007
O Dia Seguinte é sempre o dia de ontem
O jogo demora uns 90 minutos mais uns pós de tempo. Mas a coisa estende-se pelos prognósticos antes do jogo (e toda a gente já sabe que só os do final são relevantes depois do que disse Mestre João) e pasme-se pelo Dia Seguinte (que até se perpetua em blog). O Dia Seguinte é o espaço onde até à náusea se descasca o jogo do dia anterior, o erro do árbitro, a lambada do defesa, a canelada do atacante, foi passe, não foi passe, em resumo, o local onde todos são roubados, onde todos enganam, onde ainda é possível pôr em causa a autoridade que nos rege (o árbitro). E fica-se nesta coisa algumas horas de discurso, onde muito se constrói a opinião pública. No fim a populaça fica mais bem esclarecida e no dia seguinte ao Dia Seguinte já pode esgrimir argumentos com o colega ou o Chefe (disponível para este tipo de argumentação, apenas). O capital de contestação gasta-se assim e o Chefe sorri.
Um jogo de 90 minutos dura, assim, dias de uma conversa interminável e discurso inflamado. E ainda se queixam dos intermináveis discursos do Comandante!!! Benditos sejam os dele, que são bem ditos.
Um jogo de 90 minutos dura, assim, dias de uma conversa interminável e discurso inflamado. E ainda se queixam dos intermináveis discursos do Comandante!!! Benditos sejam os dele, que são bem ditos.
domingo, agosto 26, 2007
Silly season
Anda polémica acesa lá por Braga. Olhando a fotografia do D Peculiar de pau na mão, fica a dúvida da razão. O báculo baqueia encurvando no sentido certo, olhando o chão e a questão é que nesse desvio da rectidão, o símbolo deixa de o ser. Até já antes de andarem às costas do Obélix, sempre os menhires apontaram ao céu. Aliás, a sê-lo, já estava incompleto pela falta de assistência na base, que as coisas para o serem, devem ser completas. Quem contesta afinal, as mulheres, os homens ou será o arcebispo que vê beliscada a sua memória? O Presidente da Junta parece contestar as dimensões, segundo refere a notícia. Será que o tamanho importa, senhor Presidente?
quinta-feira, agosto 23, 2007
Agora
De alguma forma me conforta a mensagem com letra negrito No tasks due que a minha Palm me mostra quase todas as manhãs. É daquelas mentiras convenientes e simpáticas que às vezes usamos. Esta induzo-a eu, não escrevendo as tais tarefas, nunca. Muito melhor é deixar acumular a pilha das tasks de forma imprecisa sem quadradinhos de verificação de cumprimento. E a pilha vai subindo (mais do que a recuperação da Bolsa nos últimos dias) e quanto mais sobe, mais vontade tenho de a não incomodar. Gera-se mesmo uma nova tarefa que é a definição do critério de escolha da tarefa a realizar. Porquê esta e não a outra? Nunca me sinto à vontade com a atribuição de privilégios, prioridades e coisas assim. Até podem as não escolhidas ficar tristes, não? Nesses momentos sabe bem é espreguiçar-me, pensar no poeta que bem sabia que nada melhor é ter um livro para ler e não o fazer e deixar-me ficar à espera que algumas das tarefas passem de prazo. Realmente, uma grande parte das argolas da pilha das tarefas estavam lá apenas pelo acaso do ter de ser, sem nenhuma justificação realmente válida. Porque aquilo que é urgente num instante, muda no que se lhe segue e não há futuro que justifique o desperdício do presente. Mas andam(os) para aí todos numa grande correria até ao dia em que, de repente, todas as pilhas se desvanecem e tudo muda de significado. É um instante supremo de lucidez. Agora, é bastante.
quarta-feira, agosto 22, 2007
Bicicletas de Manhattan
A notícia dizia que os estudantes da cidade de Nova Iorque se estavam a organizar para acabarem com a oxidação das bicicletas que decorre do seu abandono pelos alunos finalistas da NY University. São miúdos jovens que acabado o curso, nem as libertam das correntes a que as prenderam nas ruas de Manhattan, abandonando-as simplesmente, obrigando outros a quebrarem as grilhetas antes da colheita para a lixeira. Agora, vão pôr um aviso e se o dono as não libertar, são eles que as libertam e entregam aos caloiros num acto de reciclagem. Sinais dos tempos.
Mas a questão, para mim, até nem é ecológica. O chocante nesta história, mais do que o lixo que resulta, é a relação das pessoas com as coisas, a atitude usa e deita fora, a ausência de laços. Mas isto deve ser por, quando era miúdo, ter desejado ter uma bicicleta e não ter conseguido.
Mas a questão, para mim, até nem é ecológica. O chocante nesta história, mais do que o lixo que resulta, é a relação das pessoas com as coisas, a atitude usa e deita fora, a ausência de laços. Mas isto deve ser por, quando era miúdo, ter desejado ter uma bicicleta e não ter conseguido.
quinta-feira, agosto 16, 2007
T(r)emores de terra
Sempre que há uma catástrofe deste género, sou confrontado com este tipo de notícia. Por que razão se dá esta notícia? Será para tranquilizar familiares de portugueses deslocados no local ou para celebrarmos o facto de desta vez os tugas não estarem no local errado? No primeiro caso, restabelecidas as comunicações e sabendo que há quase 2 telemóveis por português, a notícia é redundante. No segundo caso, choca-me a celebração. É que nestas alturas, talvez seja mais peruano que português e o que choca é que aquelas casas sejam feitas daquela forma e que sob elas morram mais uns milhares. O que choca é que já nem nos terramotos sejamos iguais. Enquanto que no Japão ou nos EUA, aquilo abana, mas morrem meia dúzia, no Perú, na Índia, na Tailândia os abalos são bem maiores. Todos no mesmo planeta e globalizado, não é?
Entretanto o sistema abala porque na sede do Império os empréstimos que pagam os empréstimos que pagam os outro empréstimos, começam a converter-se em dádivas e o Mercado inflacionado pelo marketing que se aguente... Vai haver uns quantos que vão comprar na altura certa do jogo e daqui a uns tempos estarão a celebrar a sua enorme visão, recompensados do seu trabalho no Casino. E os terramotos continuarão a ser ainda mais diferentes. É para isto que aqui estamos?
Entretanto o sistema abala porque na sede do Império os empréstimos que pagam os empréstimos que pagam os outro empréstimos, começam a converter-se em dádivas e o Mercado inflacionado pelo marketing que se aguente... Vai haver uns quantos que vão comprar na altura certa do jogo e daqui a uns tempos estarão a celebrar a sua enorme visão, recompensados do seu trabalho no Casino. E os terramotos continuarão a ser ainda mais diferentes. É para isto que aqui estamos?
terça-feira, agosto 14, 2007
Basta!
Não preciso de mais indicadores económicos, não me interessa a evolução do PIB, da taxa de desemprego, do crescimento ou abrandamento do crescimento económico, se este índice continua, persistentemente, a evoluir desta forma, a Política em curso está errada. E haja a honestidade intelectual de não se afirmar que os mais pobres, apesar do aumento do fosso para os mais ricos, estão um pouco mais ricos do que estavam. Uma política que gera este valor, está errada. É preciso outro caminho e duvido que passe por reduções de Impostos ou por garantias de sigilo bancário. Lá no tecto da Europa nem os Impostos são mais baixos, nem o sigilo está mais garantido que por cá.
segunda-feira, agosto 13, 2007
Dúvidas e certezas
Em dias assim, quando as decisões são complexas, quase que nos vemos crescer. Dominados pela incerteza, percebe-se melhor o jogo da vida. É o papel da sorte que domina e toda a ciência matemática, subitamente, serve apenas para conferências de suposições, todas longe da verdade e da realidade que importa. Há uma necessidade maior de instinto do que de razão e o caminho faz-se, passo a passo, seguramente com avanços e os recuos que surgirem, em direcção a qualquer coisa. Fica-se infantil, graças a deus.
Nestes instantes, percebe-se também melhor, que ser médico é demasiado duro e grande e que, gerir a vida no meio da dúvida, é bem maior que criar mais valor num balanço contabilístico anual. Como converter em números a gestão da incerteza? Emerge então a arte e fica-se absolutamente intolerante com os marchands. Reforço a certeza da necessidade técnica de agir sem constrangimentos que limitem o instinto e a certeza da necessidade imperiosa de um Serviço Nacional de Saúde, universal e gratuito, que permita a liberdade de escolha. É para isto que alguns nos querem levar?
Nestes instantes, percebe-se também melhor, que ser médico é demasiado duro e grande e que, gerir a vida no meio da dúvida, é bem maior que criar mais valor num balanço contabilístico anual. Como converter em números a gestão da incerteza? Emerge então a arte e fica-se absolutamente intolerante com os marchands. Reforço a certeza da necessidade técnica de agir sem constrangimentos que limitem o instinto e a certeza da necessidade imperiosa de um Serviço Nacional de Saúde, universal e gratuito, que permita a liberdade de escolha. É para isto que alguns nos querem levar?
domingo, agosto 12, 2007
Por aí
Há semanas excessivamente rápidas. Fica-se até atordoado com o passar do tempo na vertigem em que se está. Baralham-se os tempos do tempo, o presente fica preso no passado do futuro. Haverá, não haverá, só importa agora e quando nos damos conta já foi. Somos o que fazemos ou o que fizémos e deixamos, mas o tempo não acaba. Teremos uma continuidade na vida que temos? O que nos continua?
Ainda me parece que somos feitos de um contínuo. Aliás, mesmo quando ela diz que Foi Assim (não leio o livro dela, nem o da Carolina nem o do Fernando Póvoas por uma questão de higiene) para se desculpar da sua tergiversação na vida, estou convencido que há um fio condutor, a necessidade imperiosa de protagonismo. É isso que a move, é esse o seu programa. Esta semana parece que se converteu a fé católica. Possivelmente, se necessário, amanhã entrará na Opus Dei, ou não, que talvez eles sejam mais exigentes e a não aceitem.
Que espaço temos para a coerência hoje? Como é tão fácil abdicar do sentido da vida, de um rumo em que se acredita?
Individualizaram-nos e perdemo-nos, porque, afinal, somos inviáveis sem uma causa colectiva.
Que alguém nos indique o caminho.
Ainda me parece que somos feitos de um contínuo. Aliás, mesmo quando ela diz que Foi Assim (não leio o livro dela, nem o da Carolina nem o do Fernando Póvoas por uma questão de higiene) para se desculpar da sua tergiversação na vida, estou convencido que há um fio condutor, a necessidade imperiosa de protagonismo. É isso que a move, é esse o seu programa. Esta semana parece que se converteu a fé católica. Possivelmente, se necessário, amanhã entrará na Opus Dei, ou não, que talvez eles sejam mais exigentes e a não aceitem.
Que espaço temos para a coerência hoje? Como é tão fácil abdicar do sentido da vida, de um rumo em que se acredita?
Individualizaram-nos e perdemo-nos, porque, afinal, somos inviáveis sem uma causa colectiva.
Que alguém nos indique o caminho.
sábado, agosto 04, 2007
Não ser Deus
Na porta do frigorífico vão-se acumulando os testemunhos de passados de conhecer o mundo, instantes mais ou menos mágicos de um roteiro já relativamente vasto. São activos garantidos de um projecto de futuros sempre incertos. E não vale a pena o recurso à inferência estatística, que isso é ciência mentirosa, absolutamente inútil para o caso. Na verdade, a esperança de vida transcende largamente a Esperança de Vida, que é sempre e apenas uma média. De nada servem as médias, em nada nos ajudam a ser deuses. Arriscado e inútil é tentar sê-lo, baseados em ciências que se não aplicam à pessoa, porque só são verdade para o conjunto da população. Os outliers são sempre possíveis e neles está, com frequência, a esperança, que importa nunca roubar. Assim, sábio foi o outro quando disse que os prognósticos, realmente, só no fim do jogo.
Guardar o já jogado, manter-se em jogo e tudo o mais será, na altura certa, mais uma seriação de presentes, que é mandatório não impedir de serem.
Guardar o já jogado, manter-se em jogo e tudo o mais será, na altura certa, mais uma seriação de presentes, que é mandatório não impedir de serem.
sexta-feira, agosto 03, 2007
Escritos e feitos
Quando, como agora me aconteceu, passo os olhos sobre um «trabalho» médico português publicado, fico, a maioria das vezes, com esta situação estranha de que serve ou serviu mais ao emissor do que aos potenciais leitores. Aquilo deu um trabalho (daí o nome habitual) do caraças a fazer, montes de horas perdidas em pesquisa, revisões e custou literalmente a produzir. Mas o que lá está, já esteve algures, é uma sequência interminável de citações, do tipo «uns fazem assim», «outros de outra forma», sem emissão de experiência própria, a maior parte das vezes inexistente, porque, em vez de fazer, estiveram a ler e a escrever e os que fazem, raramente escrevem por falta de tempo, tão absorvidos estão na produção, porque estes, os que escrevem, pouco fazem. O cúmulo, é porem os escritores a darem ordens sobre a forma de fazer aos que fazem. Mas é muito habitual. Raramente, se publica para dizer qualquer coisa, é mais para se chegar a qualquer coisa onde só se chega pela escrita. É uma esquizofrenia funcional.
quinta-feira, agosto 02, 2007
quarta-feira, agosto 01, 2007
Inflexível insegurança
Duas crianças morreram no interior de um automóvel nos Estados Unidos. A mãe levou-as para o emprego, porque a baby siter faltou. Entre o risco das consequências de faltar ao emprego e o outro risco, escolheu o segundo e errou. Risco por risco numa sociedade de risco, onde se tenta escolher o risco menor e os cálculos falham. Depois as cadeias de televisão farão o resto, mostrarão até à exaustão a negligência. E ninguém falará da inflexível insegurança do sistema.
terça-feira, julho 31, 2007
Idos que ficam
Foram-se embora ontem, os dois de uma vez só. Conheci-os do alto de um balcão do Monumental, que também já partiu. Cada um deles, imprimiu-me o pouco do que sou, como todas as marcas com que nos vamos encontrando. Era o tempo de um cinema que continuava em conversas na Paulistana, também partida. Será que hoje alguém vai até ao café discutir o que acabou de ver no cinema? Era o tempo que ninguém sabia o preço de produção dos filmes e só nos interessava o que neles víamos. E davamos, por bem empregues os vinte e cinco tostões (mais coisa menos coisa, que a memória também não é o que foi) do bilhete.
segunda-feira, julho 30, 2007
Pandora
Four million Iraqis - 15% - regularly cannot buy enough to eat.
· 70% are without adequate water supplies, compared to 50% in 2003.
· 28% of children are malnourished, compared to 19% before the 2003 invasion.
· 92% of Iraqi children suffer learning problems, mostly due to the climate of fear.
· More than two million people - mostly women and children - have been displaced inside Iraq .
· A further two million Iraqis have become refugees, mainly in Syria and Jordan . (in Oxfam)
A liberdade é uma noção que designa, de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano.
Assim reza a Wikipedia sobre o termo Liberdade.
Pois foi em nome da liberdade (desta??) que há uns anos o Império atacou. E o resultado é hoje denunciado . Que consequências saberemos tirar do atentado à liberdade, que a invasão do Iraque constituiu? A ganância cega (nem sequer foi a curiosidade desta vez), amplamente denunciada pelas gralhas, entretanto neutralizadas, terá avaliado mal o resultado da abertura da caixa. O resultado está aí exposto. Será que também desta vez se não libertou o «mal que acaba com a esperança»? Muitas vezes, olhar à volta faz temer que até isso terá um pouco acontecido, tal é a submissão e incapacidade de reacção da gente, que segue nesta procissão de desilusão e desesperança, a multidão que sussurra, o que se há-de fazer?
Tenho saudade dos dias em que havia alguém que resistia, alguém que dizia, não! Dos dias em que havia a República e o Diário de Lisboa com discurso diferente da manada informativa, da certeza que se tinha de que aquele tempo ia ter fim, um dia qualquer às três e tal. E agora neste tempo de liberdades consentidas em que nem sequer é necessário engolir o Avante, para onde foi a resistência, que nos livre da submissão e servidão?
· 70% are without adequate water supplies, compared to 50% in 2003.
· 28% of children are malnourished, compared to 19% before the 2003 invasion.
· 92% of Iraqi children suffer learning problems, mostly due to the climate of fear.
· More than two million people - mostly women and children - have been displaced inside Iraq .
· A further two million Iraqis have become refugees, mainly in Syria and Jordan . (in Oxfam)
A liberdade é uma noção que designa, de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano.
Assim reza a Wikipedia sobre o termo Liberdade.
Pois foi em nome da liberdade (desta??) que há uns anos o Império atacou. E o resultado é hoje denunciado . Que consequências saberemos tirar do atentado à liberdade, que a invasão do Iraque constituiu? A ganância cega (nem sequer foi a curiosidade desta vez), amplamente denunciada pelas gralhas, entretanto neutralizadas, terá avaliado mal o resultado da abertura da caixa. O resultado está aí exposto. Será que também desta vez se não libertou o «mal que acaba com a esperança»? Muitas vezes, olhar à volta faz temer que até isso terá um pouco acontecido, tal é a submissão e incapacidade de reacção da gente, que segue nesta procissão de desilusão e desesperança, a multidão que sussurra, o que se há-de fazer?
Tenho saudade dos dias em que havia alguém que resistia, alguém que dizia, não! Dos dias em que havia a República e o Diário de Lisboa com discurso diferente da manada informativa, da certeza que se tinha de que aquele tempo ia ter fim, um dia qualquer às três e tal. E agora neste tempo de liberdades consentidas em que nem sequer é necessário engolir o Avante, para onde foi a resistência, que nos livre da submissão e servidão?
domingo, julho 29, 2007
Imagens
No ecrã da esquerda o monstro vai tomando forma, inesperado e impiedoso. As imagens vão sendo adquiridas uma atrás da outra numa sequência imparável e esmagadora. Em paralelo, no ecrã da direita vão desfilando cockers spaniels num prenúncio de aquisição de companhia futura da técnica de imagiologia. A profissional adquire as imagens do monstro ao mesmo tempo que a pessoa vai estudando o comprimento do pelo, os tamanhos, as cores a afabilidade dos cockers, numa atitude de alguma indiferença perante os monstros a que a rotina da sua vida já a habituou. A imagem da esquerda é coisa, apesar de vinda de pessoa, e é a imagem à direita que justifica os afectos. Há, nestes tempos, uma transferência dos afectos das pessoas para as coisas, que são mais fáceis, menos trabalhosas, mais domináveis. Uma esquizofrenia de solidão nesta sociedade de imagens com ressonâncias mais ou menos magnéticas.
sábado, julho 28, 2007
sexta-feira, julho 27, 2007
Negligência?? (ou horror à matemática)
IMC segundo jornalista da Visao: Divide-se o peso pela altura e multiplica-se por 2. O problema é quando é superior a 40, o que nos leva direitinhos para a cirurgia bariátrica. Por exemplo, se pesa 40 kg e mede 1,70 m, tem um IMC de cerca de 47, segundo a senhora jornalista. Você é um palito gordíssimo a precisar de cirurgia urgente.
De matemática não gostam. Pensar não usam. Alguém pode acreditar na sua singeleza de escrita?
De matemática não gostam. Pensar não usam. Alguém pode acreditar na sua singeleza de escrita?
quinta-feira, julho 26, 2007
quarta-feira, julho 25, 2007
O risco de facilitar o medo
Há quem ande por aí a passar entre as gotas da chuva,´pé ante pé, numa esperança absurda de não se molhar. Não vão conseguir. A meio do caminho estarão prontos a ser torcidos. São uma turba de silenciosos, com pés de lã, que andam tentando parecer estar parados. São subservientes para cima e frequentemente castigadores para baixo. São a falta de carácter, os desvertebrados, os sim-senhores. São os sempre abstinentes nas eleições, os que se queixam deles (dos outros, claro), os tais que tudo podem. São os furiosos da iniciativa privada, das liberdades de oportunidades, os que detestam os impostos. São os que riscaram da boca a solidariedade. São cobardes. A cobardia, é, nestes dias, um dos traços preocupantes destes tempos nesta terra. Não dizem o que pensam, na miragem das migalhas que lhes hão-de atirar. O pior é já nem sentirem a falta de dizer, destreinados que ficaram de pensar, atrofiaram-se-lhes as células neuronais. Vegetam, convencidos que isso é a vida. Por isso, tudo lhes corre bem.
Ter medo é coisa de gente de coragem. Por isso, o poeta, estará provavelmente enganado quando se levanta preocupado com o medo. Esse medo é hoje sentimento de uns poucos, que ainda acreditam na coisa colectiva, por não entenderem o triunfito pessoal. Deixou de ser sentir conjunto na terra de futuro precário, onde tudo estará bem, se a safa pessoal for possível. O pequenino triunfo pessoal à custa do que for preciso. O cumprir ilusório da imagem das celebridades. A ilusão de que pode sobrar algum lugar. Esta descaracterização (falta de carácter) da gente é bem mais preocupante do que a falta de liberdade. O medo só triunfa quando se lhe facilita a existência.
Ter medo é coisa de gente de coragem. Por isso, o poeta, estará provavelmente enganado quando se levanta preocupado com o medo. Esse medo é hoje sentimento de uns poucos, que ainda acreditam na coisa colectiva, por não entenderem o triunfito pessoal. Deixou de ser sentir conjunto na terra de futuro precário, onde tudo estará bem, se a safa pessoal for possível. O pequenino triunfo pessoal à custa do que for preciso. O cumprir ilusório da imagem das celebridades. A ilusão de que pode sobrar algum lugar. Esta descaracterização (falta de carácter) da gente é bem mais preocupante do que a falta de liberdade. O medo só triunfa quando se lhe facilita a existência.
terça-feira, julho 24, 2007
Reforma patológica
Mais um caso de uma professora a quem recusaram a reforma por motivos de saúde. É curioso, epidemiologicamente, que até agora apenas aconteçam estes casos com professores. Será até motivo para estudo da maior incidência deste tipo de patologias na classe e associação com eventuais factores de risco? Assim, de repente, parece que o trabalho na construção civil terá algum papel na prevenção de certas doenças. Mas adiante. O que achei extraordinário foi a argumentação produzida. Trata-se de uma senhora com cancro do pâncreas, que foi submetida a uma exérese do órgão e na mesma altura ressecção de intestino e esplenectomia. Pela descrição parece óbvia a justiça da reforma antecipada. Estranhei, pois, que neste contexto, a doente alegasse que não podia dar aulas por ter ficado diabética. Há qualquer coisa que não soa bem. A diabetes não é impedimento para ser jogador profissional de futebol e sobem-se montanhas de 5000 metros tendo-se diabetes. Por que se não podem dar aulas?
Como pagador de Impostos (e, indirectamente, de reformas por doença) não posso também de deixar de exigir um grande rigor na declaração de incapacidades e na fiscalização dessas alegadas incapacidades. Não me parece tolerável, por exemplo, que alguém se reforme da sua actividade por motivos de doença e continue tranquilamente a trabalhar, em actividade equivalente, no sector privado. Espero que estes casos não existam, obviamente. Mas exige-se uma fiscalização como no caso das baixas por doença. No mínimo!
Como pagador de Impostos (e, indirectamente, de reformas por doença) não posso também de deixar de exigir um grande rigor na declaração de incapacidades e na fiscalização dessas alegadas incapacidades. Não me parece tolerável, por exemplo, que alguém se reforme da sua actividade por motivos de doença e continue tranquilamente a trabalhar, em actividade equivalente, no sector privado. Espero que estes casos não existam, obviamente. Mas exige-se uma fiscalização como no caso das baixas por doença. No mínimo!
segunda-feira, julho 23, 2007
Ibéria
Saramago profetizou: «Portugal acabará inevitavelmente por se integrar em Espanha». Não acredito: Espanha já tem problemas que lhe cheguem! Por isso, a jangada ficará onde está, uma parte agarrada à Europa, o resto no cú dela.
domingo, julho 22, 2007
Rest from work
Depois, mais tarde, quando ler de novo estas notas, perceberei que, afinal, este tempo não teve a importância que, em tempo real, lhe atribuí. Foi um período quase violento, que o passar do tempo vai amenizar e tornar insignificante. Pouco significativas são as coisas que fazemos na maior parte das vezes, embora, por momentos, possamos ficar quase asfixiados pela sua carga instantânea (no instante).
São raros os que fazem coisas realmente importantes. Estava há dias, num dos pequenos-almoços deste tempo recente, a olhar para o calendário de parede e a ver o «Repouso depois do trabalho» de Van Gogh, a reprodução do mês de Julho e é nesses instantes que posso perceber a relatividade das coisas. Apesar de toda a barafunda e noites perdidas, a maioria de nós nunca fará nada que perdure, nada que aproxime de uma paisagem de trigo onde repousam dois camponeses no meio das medas, numa pausa do dia de trabalho. Nada faremos que valha a pena registar num calendário daqui a 100 anos. A questão é, portanto, perceber a razão da alienação. Tenho notado que há uma campanha instalada que quase nos sugere como programa que tenhamos um papel para estes tempos: a adoração dos ídolos. Curiosamente, é feita de forma a que a identificação que assim se estabelece, nos compense da insignificância de sermos, isto é, torna-se mais importante o distante do que aquilo que nos fica próximo, porque ficamos no além onde nunca chegaremos. Como se vivessemos num sonho inatingível e já atingido, porque sonho, ao mesmo tempo.
Desta forma, deixando de estar aqui, transportados para um além indefinido, abrimos o campo para que os ídolos, a maioria deles também bem insignificantes, aqui estejam usufruindo da vida. Nestes tempos, a Imagem, substituiu a religião e passou a ser o novo ópio.
terça-feira, julho 10, 2007
Uma mortandade...
Às vezes as notícias deixam de ser importantes já de tão banais e o que é importante é o título da notícia... Hoje em Google Notícias, mais uma perola (ou como eu gosto dos escribas):
TVNet
Ataque suicida mata 17 mortos
Correio da Manhã - 3 horas atrás
O terrorista suicida, fez-se explodir perto de um comboio da NATO “matando 17 civis, entre os quais alguns estudantes”, avançou o General Mohammad Qasem, chefe da polícia provincial, sublinhando que cerca de 30 pessoas tinham ficado feridas. ...
Atentado no Afeganistão fez pelo menos 17 mortos Fábrica de Conteúdos
Ataque suicida deixa pelo menos 17 mortos no Afeganistão estadão.com.br
TVNet
Ataque suicida mata 17 mortos
Correio da Manhã - 3 horas atrás
O terrorista suicida, fez-se explodir perto de um comboio da NATO “matando 17 civis, entre os quais alguns estudantes”, avançou o General Mohammad Qasem, chefe da polícia provincial, sublinhando que cerca de 30 pessoas tinham ficado feridas. ...
Atentado no Afeganistão fez pelo menos 17 mortos Fábrica de Conteúdos
Ataque suicida deixa pelo menos 17 mortos no Afeganistão estadão.com.br
quinta-feira, julho 05, 2007
Gente diferente
Já uma vez aqui escrevi sobre Sobrinhos em país de tias. É um oásis disponível num deserto imenso e chato. Sempre fresco, de cada vez que fala a sério, somos surpreendidos com alguma novidade. Centímetros ou quilos? A resposta sai rápida: quilos ou centímetros, porquê, se os quilos são afinal uma função cúbica dos centímetros.
No dia seguinte, a conferência de Jorge Sampaio, outro momento de pensamento reflectido, claro e generoso.
Aconteceu em dois dias seguidos e dei conta, possivelmente, porque é raro.
No dia seguinte, a conferência de Jorge Sampaio, outro momento de pensamento reflectido, claro e generoso.
Aconteceu em dois dias seguidos e dei conta, possivelmente, porque é raro.
segunda-feira, julho 02, 2007
Seguir
Ainda não consigo ficar completamente indiferente perante a constatação da ausência de sentido que algumas vidas têm. Custa-me que se possa andar por aí, sem um rumo minimamente justificável. Só para chatear o vizinho, parece-me ser curto como programa. Desprezível.
Mas estou a ficar melhor ao ver que, afinal, a caravana vai passando, apesar dos latidos. Realmente, se ainda fosse ladrar que se ouvisse.
Mas estou a ficar melhor ao ver que, afinal, a caravana vai passando, apesar dos latidos. Realmente, se ainda fosse ladrar que se ouvisse.
domingo, julho 01, 2007
FDS
Nada teria justificado não ter assistido à felicidade quase espanhola daqueles dois.
Nem ter adiado uma sardinhada em nome de pouca coisa. Tão pouco recusar a visão de um ninho.
FDS das coisas que gosto. Matérias bem melhores que o Código do Trabalho ou os sistemas de gestão de desempenho. Exame quinta-feira? Logo se vê.
Nem ter adiado uma sardinhada em nome de pouca coisa. Tão pouco recusar a visão de um ninho.
FDS das coisas que gosto. Matérias bem melhores que o Código do Trabalho ou os sistemas de gestão de desempenho. Exame quinta-feira? Logo se vê.
sexta-feira, junho 29, 2007
Pleno emprego ou a briga do poderzinho?
No concreto, um grupo tira os processos e coloca-o com todo o alinhamente o cuidado numas caixinhas. A seguir, outro grupo (com chefia diferente), retira os processos das caixas e redistribui pelas salas respectivas, onde os doentes irão ser vistos. É óbvio que seria uma tarefa gigantesca pedir aos primeiros que os separassem, de início, pelas salas...
Se por vezes houvesse menos pre(ocupação) com a ocupação dos outros, ficariam libertos para se ocuparem daquilo em que os outros, na sua opinião, se não ocupam. Nesta indecisão de saber quem tem de se ocupar e querendo não ficar prejudicado, há esta solução ridícula: divide-se a ocupação pelos dois grupos, mas tem-se o cuidado de a dobrar previamente. Assim a coisa fica equilibrada. Faz-se a mesma coisa duas vezes, dividindo o trabalho por dois. A nossa função pública tem coisas realmente curiosas... Mas na função privada, os mecanismos do absurdo e dos pequenos poderes não estarão, também, seguramente ausentes. O que falta é alegria, na generalidade. A menos que tudo faça parte de uma política de pleno emprego e, nesse caso, até se percebe. Lembro-me, sempre, da imagem no aeroporto de Havana há uns anos em que duas funcionárias limpavam o chão, uma de vassoura e outra de pá.
Bons voos
quarta-feira, junho 27, 2007
É a vida ou talvez não
Quem joga o jogo do poder sempre se arrisca a alguma humilhação. Depois fará o Balanço que melhor entender, mas esta posição de marginal ao sistema tem sempre a vantagem de garantir o benefício da dúvida e o apoio dos amigos. Palmadas nas costas não faltarão, sendo as primeiras as dos que enfiaram as bolas negras no caldeirão. Por isso a humilhação nunca existe nestes casos, porque das duas uma, ou realmente o trabalho tinha valor e a consciência desse facto, faz ter pena do júri, ou se estava a tentar aceder ao poder e se tinha consciência que a coisa nem seria assim de tão boa qualidade e, portanto, a derrota é intimamente sentida como justa, não humilha. Depois a queda será sempre atenuada pela rede da presumível injustiça do sistema. Pelo menos será assim que a marabunda perceberá o acontecimento. E tudo continua, porque afinal as coisas mesmo importantes não são estas. Ser livre, por exemplo, é bem mais importante.
terça-feira, junho 26, 2007
B (de ?)
Com avidez parola, o nosso nacional-jornalismo facilmente se deixa seduzir pela sensação do básico e exótico. Primeiro foi com João Jardim, agora com o senhor comendador da T-shirt preta. Têm aquele estilo caceteiro de(a) Madeira, um misto de subdesenvolvimento e pato-bravismo, que faz delirar as redações dos nossos debitadores de notícias. Daí se amplificr o insulto de mau gosto, que a arrogância saloia dos dólares gera. A continuar assim, vai juntar-se ao Mourinho no lote dos tipos que não deveriam poder ser do Benfica, por o não merecerem. Alguém tem de lhes ensinar que o poder ou o dinheiro que abre portas do poder não são valores e que, afinal, o principal de uma colecção de arte não é o seu valor em dólares, mas entendê-la.
segunda-feira, junho 25, 2007
Fumar dá lucro!
Nestes dias em que o tempo me não deixou cá vir, ainda dei comigo a pensar que um dia talvez consiga descobrir a forma de desencher o tempo. Vamos ver.
Mas hoje não resisti ao ler a notícia do prejuízo de fumar. Diz-se na notícia, coma superficialidade característica dos nossos jornalistas e de alguns professores universitários, que o vício do tabaco causa prejuízo ao país calculado em 423 milhões de euros. A ser assim, eu digo que o vício de fumar, não dará prejuízo, mas lucro. A receita do Imposto sobre o tabaco prevista no Orçamento de Estado para o ano de 2005 foi de 1,22 mil milhões de euros...
Mas hoje não resisti ao ler a notícia do prejuízo de fumar. Diz-se na notícia, coma superficialidade característica dos nossos jornalistas e de alguns professores universitários, que o vício do tabaco causa prejuízo ao país calculado em 423 milhões de euros. A ser assim, eu digo que o vício de fumar, não dará prejuízo, mas lucro. A receita do Imposto sobre o tabaco prevista no Orçamento de Estado para o ano de 2005 foi de 1,22 mil milhões de euros...
terça-feira, junho 12, 2007
Aula de ficar com mais dúvidas
Fico sempre com mais dúvidas quando se trata do Santo Mercado, da livre concorrência, da igualdade de oportunidades. Ensinado numa Universidade Católica ainda mais reforça a ideia de necesidade de fé nesta Ciência Social. Com que então, todos podemos correr de forma igual? Só que nesta corrida de 100 metros onde todos podemos correr de igual forma, põem uns a começar a corrida a 10 metros da meta e, depois, por cada vitória, os derrotados são ainda penalizados na corrida seguinte, passando a partir uns metros mais atrás do que já antes partiam. Assim, a desigualdade cresce e os vitoriosos são cada vez menos e, maior, a multidão dos vencidos. Ou não será esta a história do Mercado?
Mercado como a meta final da ciência económica, parece-me uma questão de fé e sem a generosidade de outros fundamentalismos.
Mercado como a meta final da ciência económica, parece-me uma questão de fé e sem a generosidade de outros fundamentalismos.
domingo, junho 10, 2007
sexta-feira, junho 08, 2007
Aprender sempre
Nem tudo está perdido se reconhecermos que a força da unidade pode vencer a imagem da força do poder instituído. Saibamos apenas não nos render perante o primeiro embate, que, seguramente perder uma batalha não significa, necessariamente, perder a guerra. Aprendamos com os animais.
quinta-feira, junho 07, 2007
American Standard
Cada vez mais se sente no mundo a dominância do American Standard. Em quase todas as áreas de actividade, tem vindo a imperar de forma mais contundente. Mesmo nas coisas banais do dia-a-dia, o American Standard domina. O Império estende os seus valores. Dificilmente se resiste.
Quando lá estou, é quando mais aprecio o American Standard. Dá bons momentos de alívio e permite-me descarregar de forma adequada toda a minha apreciação relativamente aos American Standard. Passe a publicidade, faço-o com gosto nos padrões americanos.
Quando lá estou, é quando mais aprecio o American Standard. Dá bons momentos de alívio e permite-me descarregar de forma adequada toda a minha apreciação relativamente aos American Standard. Passe a publicidade, faço-o com gosto nos padrões americanos.
quarta-feira, junho 06, 2007
Toronto
Nunca as cidades são iguais depois das primeiras vezes que as vi. É com as reobservações que começam os defeitos. Toronto está mais alta, cheia de condomínios de vidro. Também não sei, exactamente, se esta foi alguma vez uma cidade bonita, como Praga, por exemplo. Será Lisboa menos bela porque a vejo mais? Ainda assim, Toronto tem o Path para brincarmos às toupeiras e lá continuo a encontrar pretos de todas as cores até aos brancos, como se o mundo tivesse encontrado um ponto de encontro. Mas mais ainda, tem a viela que gosto de possuir nas cidades. Em Amesterdão tenho uma que é um canto de paz, aqui também. Fica por cima da Bloor St, com uma entrada discreta por um centro comercial, a Hazelton Av. Galerias de arte, antiquários e, sobretudo, silêncio que se ouve no meio da metrópole. Pequenina, mas suficiente.
As cataratas de Niagara também foram mal percebidas em dia de chuva. Pior quando, havendo que ser politicamente correcto, tem de se ceder aos caprichos de um grupo, que vive de almoçaradas e refúgios em lugares quentes. Parece que vêem a paisagem no restaurante onde a não vêem, como se fizessem mais uma marca numa lista de controlo. Consumido. Vamos embora.
Mais uma vez, os meus agradecimentos aos melhores doentes do mundo.
As cataratas de Niagara também foram mal percebidas em dia de chuva. Pior quando, havendo que ser politicamente correcto, tem de se ceder aos caprichos de um grupo, que vive de almoçaradas e refúgios em lugares quentes. Parece que vêem a paisagem no restaurante onde a não vêem, como se fizessem mais uma marca numa lista de controlo. Consumido. Vamos embora.
Mais uma vez, os meus agradecimentos aos melhores doentes do mundo.
sábado, junho 02, 2007
Cá estamos
sexta-feira, junho 01, 2007
Barbaridades
A revista da Continental é uma surpresa. Página sim, página sim dá a ideia da importância do segundo melhor negócio depois das armas. Em página inteira, são os anúncios das clínicas com letras de grande tipo anunciando os Best Doctors in New York. Como os sabonetes ou um qualquer detergente que lava mais branco. Definitivamente, não me revejo nesta identificação da saúde como bem de consumo para promoção de companhias seguradoras donas de nós.
E também os anúncios de fármacos milagrosos que nos não deixarão envelhecer, como se isso fosse coisa ruim e não um acontecimento natural, desejavelmente apreciado. Nesta terra da liberdade de ser ignorante e devorador da palha fornecida pelo marketing diz-se «HGH is known to reverse hemorrhoids, multiple sclerosis, ankylosing spondylites, macular degeneration, catarats, colitus, fibromyalgia, angina, chronic fatigue, diabetes, hepatitis C, rheumatoid arthritis, high blood pressure, sciatica, helps kidney dialysis and heart and stroke recovery». Impune e despudoradamente, mente-se. É a isto que chamam imprensa livre ou o direito de enganar. Só que são sempre os mesmos os enganadores e os enganados.
A aproximação a New York decorre assim entre a estupefação e alguma irritação. Aliviada pelo espectáculo de Barbara, assistente de bordo, cinquentona, pouco mais de metro e meio de pessoa, bem anafada, cabelo pintado louro, esparvoado de madeixas, que logo à entrada nos saudou com um esganiçado oh folks how r u? e que ao longo da travessia, corre, pula, meneia a cabeça, não pára, sempre em gritinhos, qual cocker inquieto. Uma boa ilustração deste mundo bárbaro onde irei chegar daqui a pouco, tão bem ilustrado por esta Barbara.
E também os anúncios de fármacos milagrosos que nos não deixarão envelhecer, como se isso fosse coisa ruim e não um acontecimento natural, desejavelmente apreciado. Nesta terra da liberdade de ser ignorante e devorador da palha fornecida pelo marketing diz-se «HGH is known to reverse hemorrhoids, multiple sclerosis, ankylosing spondylites, macular degeneration, catarats, colitus, fibromyalgia, angina, chronic fatigue, diabetes, hepatitis C, rheumatoid arthritis, high blood pressure, sciatica, helps kidney dialysis and heart and stroke recovery». Impune e despudoradamente, mente-se. É a isto que chamam imprensa livre ou o direito de enganar. Só que são sempre os mesmos os enganadores e os enganados.
A aproximação a New York decorre assim entre a estupefação e alguma irritação. Aliviada pelo espectáculo de Barbara, assistente de bordo, cinquentona, pouco mais de metro e meio de pessoa, bem anafada, cabelo pintado louro, esparvoado de madeixas, que logo à entrada nos saudou com um esganiçado oh folks how r u? e que ao longo da travessia, corre, pula, meneia a cabeça, não pára, sempre em gritinhos, qual cocker inquieto. Uma boa ilustração deste mundo bárbaro onde irei chegar daqui a pouco, tão bem ilustrado por esta Barbara.
quinta-feira, maio 31, 2007
Mudança
A persistência terá valido a pena. Gratifica verificar que a razão que julgo ter, tem finalmente, luz verde para seguir. Ou seja, «tramei-me». Ainda não vou livrar-me tão cedo de tudo isto. Mais quadradinhos no horizonte, mais «dê lá um jeito» se adivinham. Com sorte, alguém acabará por beneficiar alguma coisa.
terça-feira, maio 29, 2007
Desejo
segunda-feira, maio 28, 2007
Farto
A coisa mexe devagar, devagarinho. Ninguém tem pressas até vir o dia da aflição. Depois, em cima do momento, qualquer coisa se arranjará.
Custa, quando não se anda aqui pelo título da notícia ou pela ilusão do poder. (Com a lucidez que me resta, sei que esse é dos Jardins Gonçalves deste mundo e mora por aí nos offshores). Era divertido estar noutro sítio, noutro tempo, em companhia de outra gente, mas estamos condenados a viver aqui, agora e com esta marabunda. Realisticamente, as saídas não são muitas. É útil ser-se lúcido e procurarem-se as alternativas exequíveis. Que cada coisa que se faz, tenha mesmo importância, sem a ilusão do valor que lhe imaginamos e, se não quiserem fazer o esforço de acordar, então continuem o sonambulismo em que mergulharam. Mais vale ser solidário com quem merece e fica, às vezes, para trás, sacrificado em nome de altos desígnios ilusórios.
Custa, quando não se anda aqui pelo título da notícia ou pela ilusão do poder. (Com a lucidez que me resta, sei que esse é dos Jardins Gonçalves deste mundo e mora por aí nos offshores). Era divertido estar noutro sítio, noutro tempo, em companhia de outra gente, mas estamos condenados a viver aqui, agora e com esta marabunda. Realisticamente, as saídas não são muitas. É útil ser-se lúcido e procurarem-se as alternativas exequíveis. Que cada coisa que se faz, tenha mesmo importância, sem a ilusão do valor que lhe imaginamos e, se não quiserem fazer o esforço de acordar, então continuem o sonambulismo em que mergulharam. Mais vale ser solidário com quem merece e fica, às vezes, para trás, sacrificado em nome de altos desígnios ilusórios.
sábado, maio 26, 2007
Premissas
Perigoso é estabelecer uma teoria baseada em premissas inconsistentes. Quando se aplica a cruz de Marshall ao campo da Saúde, é fundamental identificar com clareza a oferta e a procura e perceber a originalidade deste sector, onde, em princípio me parece, que o consumidor que procura não anda longe do fornecedor que oferece. Complicado, pois, encontrar neste negócio pontos de equilíbrio, tanto mais que se pretende fazer pagar a conta a terceiros mal informados. Convém ter a lucidez bastante para não inventar soluções de problemas resolvidos, não importar teorias de resolução de quem só tem manifestado ineficiência. Na verdade, nos EUA gastam-se 13% do PIB em Saúde e só cerca de 25% da população se encontra coberta por um regime público ou social de financiamento!!! Entre nós e na maioria dos países de Europa, a cobertura é de 100% e os níveis de gastos em função do PIB andam pelos 10%. Quem tem de mudar?
Combater o desperdício, racionar, mas nunca perder o controlo do sistema entregando-o a privados ansiosos de lucro. Os tais que sabem que «depois do negócio das armas, este poderá ser o segundo melhor negócio». Mais uma vez, um problema de premissas: não se trata de um negócio, mas de um direito! O direito de não pagar quando se é obrigado a consumir, o direito que os doentes têm, a terem a solidariedade dos saudáveis, porque, doentes e saudáveis, não vivem na selva, apesar, de essa ser outra premissa que nos querem impôr.
Combater o desperdício, racionar, mas nunca perder o controlo do sistema entregando-o a privados ansiosos de lucro. Os tais que sabem que «depois do negócio das armas, este poderá ser o segundo melhor negócio». Mais uma vez, um problema de premissas: não se trata de um negócio, mas de um direito! O direito de não pagar quando se é obrigado a consumir, o direito que os doentes têm, a terem a solidariedade dos saudáveis, porque, doentes e saudáveis, não vivem na selva, apesar, de essa ser outra premissa que nos querem impôr.
sexta-feira, maio 25, 2007
F... (futebol)
O que acho mais estranho é a normalidade como se encara esta fatalidade dos jogos de futebol de alto risco. Mobiliza-se a polícia, fazem-se conferências de imprensa e noticiam a coisa como natural, sem um comentário de lamento, até de indignação, porque é com os impostos que pagamos que estes riscos são suportados.
A final da taça é naturalmente uma guerra e ninguém se indigna com isso?
A final da taça é naturalmente uma guerra e ninguém se indigna com isso?
quinta-feira, maio 24, 2007
Sabedoria chinesa
Conta-se que na China há um curioso método de escolha dos médicos. Cada vez que morre um doente a um médico, desenham uma cruz na porta do clínico. Os médicos eleitos pelos doentes são os que têm maior número de cruzes!
Noutros locais, os eleitos são os jornalistas, gestores e outros mestres e professores. Só esses, que não tratam ninguém, têm as portas limpinhas. Para que servem? Os chineses é que sabem.
Noutros locais, os eleitos são os jornalistas, gestores e outros mestres e professores. Só esses, que não tratam ninguém, têm as portas limpinhas. Para que servem? Os chineses é que sabem.
sexta-feira, maio 18, 2007
Por este país acima e abaixo
Lembro-me deste país de mulheres de negro e ainda recordo os relatos das sardinhas comidas aos terços, neste país. Era um país dos sem voz onde algumas das histórias tinham de ser contadas às escondidas, porque neste país havia ouvidos pelas esquinas e eles dominavam tudo. Comiam tudo como dizia a canção do Zeca. O que provavelmente não sabiam é que mesmo depois de despejados numa madrugada às 3 e tal, continuariam a habitar as cabeças dos que vivem neste país. Passados todos estes anos, este país continua a ser pertença de outros que fazem acontecer coisas só possíveis neste país. Este país em que outrora havia não só a esperança de mudar e a certeza de um dia acabar com aquele país, converteu-se num país de gente fadista, dominada pelo destino deste país. Continuam a ser eles que fazem este país, nunca somos nós, pobres manipulados. Como se os países fossem feitos por uma espécie de marcianos e não por nós que cá estamos. Ainda por cima, agora, em que fazer um país não nos faz perder o emprego nem leva à prisão. Mas os senhores de outros tempos entranharam nos genes dos que falam deste país com o desprezo das vítimas, este atavismo. Somos realmente todos, excepto os donos deste país, gente esforçada, pagadora de impostos, incapaz de aceitar um favorecimento pessoal, aceitar um subsídio, dar um golpe na fila. Somos uma corte angelical do Diabo que nos conduz. Ou, se calhar, somos um bando de impotentes incapazes de mudar prontos a todo o momento em embarcar numa euforia de campeões europeus ou grandes libertadores de um qualquer Timor. Depois do voo, a queda e a depressão de assentar os pés na terra e sentir este país.
Vem isto a propósito de um prazer pessoal que tenho que é andar na classe Conforto do Alfa. Em primeiro lugar, aqui toda a gente paga o seu bilhete, ninguém anda por conta. Depois é um tilintar constante de telemóveis e falhas de rede, que os e as exasperam. Neste país só funciona o ACP e Brisa, vai dizendo a superexecutiva enquanto trata das próximas férias em Marrocos. Que horror, agora descobriram Marrocos e está difícil arranjar hotel. Sim, de 5 estrelas, um relais chateaux ou mesmo um Palácio que, esclarece, é menina de Palácios como muito bem saberá (o namorado?). E também há o advogado, que afinal vai para não sabe bem onde, se para o tribunal se para o local da peritagem. Tudo em tempo real, perguntas e respostas nos intervalos das quedas da rede. Ou a secretária que marcou mal o bilhete e agora vai duas horas depois do que queria, mas ainda bem, que se deitou tardíssimo. E não param os trimmmmm. Neste país é assim, a este ritmo infernal se trabalha, sem tempo para olhar as papoilas na beira da linha ou campos roxos de alfazema. E a pressa é tanta que querem chegar mais depressa, de TGV, ganhar meia hora. Para terem mais tempo para o trimmm-trimmm. Neste país, são estes os verdadeiros vencidos da vida, que não têm, correndo sempre atrás de uma imagem que lhes vendem, da cenoura que se acena aos burros.
Vem isto a propósito de um prazer pessoal que tenho que é andar na classe Conforto do Alfa. Em primeiro lugar, aqui toda a gente paga o seu bilhete, ninguém anda por conta. Depois é um tilintar constante de telemóveis e falhas de rede, que os e as exasperam. Neste país só funciona o ACP e Brisa, vai dizendo a superexecutiva enquanto trata das próximas férias em Marrocos. Que horror, agora descobriram Marrocos e está difícil arranjar hotel. Sim, de 5 estrelas, um relais chateaux ou mesmo um Palácio que, esclarece, é menina de Palácios como muito bem saberá (o namorado?). E também há o advogado, que afinal vai para não sabe bem onde, se para o tribunal se para o local da peritagem. Tudo em tempo real, perguntas e respostas nos intervalos das quedas da rede. Ou a secretária que marcou mal o bilhete e agora vai duas horas depois do que queria, mas ainda bem, que se deitou tardíssimo. E não param os trimmmmm. Neste país é assim, a este ritmo infernal se trabalha, sem tempo para olhar as papoilas na beira da linha ou campos roxos de alfazema. E a pressa é tanta que querem chegar mais depressa, de TGV, ganhar meia hora. Para terem mais tempo para o trimmm-trimmm. Neste país, são estes os verdadeiros vencidos da vida, que não têm, correndo sempre atrás de uma imagem que lhes vendem, da cenoura que se acena aos burros.
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