terça-feira, setembro 18, 2007

Andando...


Ainda mal refeito das referência ao progresso dos holandeses na área dos costumes depois do passeio pós-prandial do jantar ao Red District, onde, sobretudo as mulheres, acharam o máximo a ideia de elas pagarem impostos e terem cartão de sanidade, fui, debaixo de chuva forte, fazer como os holandeses, apanhar o eléctrico para ir até ao emprego. A alternativa seria ir de bicicleta, mas não tenho a perícia deles, que conduzem pasteleiras com uma mão no guiador, outra no guarda-chuva e vão fazendo tangentes em percursos de chicana por entre turistas distraídos e molhados.
A Feira da Diabetes é das maiores onde estive. Nem falta um lago e relva artificial. Tem malabaristas e outros artistas sempre em movimento. Aqui e além, de microfone em punho, alguém grita como numa das Feiras de província. Mas aqui não se dá nada ao preço da chuva, nem se entregam dez items pelo preço de um. Aqui dá-se tudo, depois do bilhete e do hotel, dão-se muitas canetas na esperança que escrevam as palavras mágicas nas receitas, aquelas que estão por todo o lado, mostrando a inovação. E é um corrupio de caça aos sacos para levarem toda a tralha em promoção. Fazem fila para a prendinha e; daí a pouco, andam vergados de sacada cheia. Nos intervalos da feira, passa a ciência, para mim, por vezes, demasiado científica.
De tal forma que foi uma boa opção, depois do sol aparecer, apanhar o eléctrico de volta e deixar-me ir até ao Museu Van Gogh.
A ideia básica era rever os Comedores de Batatas, um dos quadros da minha galeria seleccionada. Ver de novo, aqueles trabalhadores rurais, em fim de dia, serenamente desfrutando aquilo que criaram. Não me parecem cansados, mas tranquilos, que é assim que fica quem usa o produto do seu trabalho. Estarão felizes na sua rudeza, não exalam bom cheiro, mas o trabalho no campo não deve pintar-se com perfume (diz-me o autor no audiotour). Nem de propósito para ilustrar a minha escapadela ao trabalho por troca com o prazer, fiquei ali em frente da «Natureza morta com Bíblia» no contraste entre o dever apregoado no livro dos livros e a «Joie de vivre» de Zola. E que bem que sabe a vida no momento, sem ser adiada! Quinze anos depois, os quadros encolheram ou será que a surpresa da primeira visão, torna maior o que vemos? Mesmo mais pequeno, ficou mais belo e há coisas que se não compram ao metro quadrado.
Assim refeito, foi possível suportar uma conversa sobre hemoglobina glicosilada ou média da glicemia, que mais parece uma pescada de rabo na boca, sem se perceber onde começa e acaba, tão circular é o discurso.
Perante a reafirmação ao jantar da nacional-admiração-saloia da liberdade de costumes, não me contive na evocação do Império Romano. Progresso é outra coisa, não?

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