segunda-feira, dezembro 10, 2007

Paris-Lisboa

1. Paris
Não tem sido fácil encontrar espaço no tempo. Hoje surgiu uma aberta para me lembrar de Paris outonal ainda sem frenesins de Natal e com os streeses de um tempo que querem acabar. Na Praça da Concórdia protestavam juízes, nas ruas da Sorbonne acumulavam-se as carrinhas azuis cheias de ninjas prontos para a acção, mas indiferente a tudo na praça um sem abrigo lançava, um após outros, resíduos de plástico e metal para dentro da fonte tentando acertar não se sabe muito bem onde, num jogo de pontaria de que só ele entendia as regras e em que, aqui e além, havia lugar a um esgar de vitória. A greve dos transportes acumulava os transportes na superfície e todos pareciam pacientes, compreendendo o desfilar do Outono.
Paris desta vez foi uma compreensão diferente. Fora do Verão, menos japoneses a tirar fotografias, as folhas castanhas e vermelhas pelo chão, eu mais sereno, talvez outonal também, gozei o frio azul do céu no vai-vém sem destino absolutamente planeado numa agenda preenchida. Do Arco do Triunfo à Concórdia num desentorpecer de pernas como ambientação e depois até à Ponte Nova, junto ao Sena por baixo do Outono sempre presente, sentindo a cidade mantida igual sempre que cá se vem e ao mesmo tempo sempre nova pela maneira como a vemos. Dia seguinte de Marais, museu Picasso e Place des Vosges num deambular por uma espécie de cidade de província dentro da outra. De tarde a ilha e o Quartier Latin e Saint Michel de correrias de compras. Livrarias e restaurantes olhados e saboreados com o tempo que tive. Noite em Monmartre com cantores de há 40 anos e pintores em fim de dia. Descida até Pigale passando ao lado do Moulin de la Gallete sem baile, apenas encantado de noite.
No terceiro dia, vestimos o fato de turista e fizémos a coisa completa, Versalhes de manhã e tour de ville pela tarde, subida à Torre Eiffel e acabado com passeata de barco no rio e jantar de racletes.
Faltava, no dia do regresso, a Opera onde a visita guiada ficou frustrada após mais de uma hora de espera (coisas de greves? francesices?). Ninguém disse o porquê, mas em férias tudo se tolera melhor. Para acabar o Museu d'Orsay para contemplar as impressões e as sompras suspensas que percorrem os vidros do fundo da estação.

2. Lanzarote
Aquilo é uma colónia de férias, de casinhas brancas pequenas em manchas dispersas no negro. Não quero saber, estava de férias e estava sol.
Timanfaya foi uma visão negra da lua com a surpresa de um passeio de camelo a que a chuva trouxe novidade. Estranho estar em cima do bicho, movendo-se absolutamente sem mudar as rotações, indiferente ao molhar das calças. No fim sorria com ar de camelo a ver a corrida até aos autocarros.
O dia seguinte foi de romagem a Cesar Manrique, de que guardo a visão de Mirador del rio ao norte da ilha e tento esquecer a Cueva de los verdes. Puerto del Carmen à noite é uma Albufeira sem graça. Choviscava à volta.
Na manhã seguinte, ainda escrevi na agenda:
Correr a cortina e ver a ilha lá ao longe. Abrir a janela e ver o mar. Choveu, mas no ar não existe o cheiro de terra molhada. Nesta terra não há terra, apenas um pó preto onde nos apoiamos há 300 anos. Aqui tem-se a percepção da limitação do tempo em que cá estamos. Sobre a lava solidificada andam líquenes que a vão tornar terra daqui a centenas de anos. Entretanto fomos e testemunhámos apenas um instante de vida. Nestes momentos é que aprendemos a medir as coisas.

3. Lisboa
Deram-me há dois dias uma medalha. Vai ser uma coisa preciosa daqui a alguns anos por recordar um tempo em que as pessoas eram funcionários (colaboradores, agora) de uma empresa (organização, agora) durante 25 anos na mesma casa. Foi um momento estranho porque éramos muitos a fazer anos e porque nestes anos nunca tinha visto alguns deles. Os nossos mundo estão fechados muitas vezes. Quie fazemos do tempo que temos? Que farão os CEO daqui a uns anos sem ninguém para medalhar? Valor, claro, gerarão valor. E o valor da estabilidade, não o é? Talvez seja, que ouvi dizer, em Paris, não na que visitei, mas noutra mais à volta, já vai havendo sobressaltos. Quem sabe se a precaridade não atingirá os donos do sistema, mais cedo do que eles pensam.

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