domingo, julho 22, 2007

Rest from work


Depois, mais tarde, quando ler de novo estas notas, perceberei que, afinal, este tempo não teve a importância que, em tempo real, lhe atribuí. Foi um período quase violento, que o passar do tempo vai amenizar e tornar insignificante. Pouco significativas são as coisas que fazemos na maior parte das vezes, embora, por momentos, possamos ficar quase asfixiados pela sua carga instantânea (no instante).
São raros os que fazem coisas realmente importantes. Estava há dias, num dos pequenos-almoços deste tempo recente, a olhar para o calendário de parede e a ver o «Repouso depois do trabalho» de Van Gogh, a reprodução do mês de Julho e é nesses instantes que posso perceber a relatividade das coisas. Apesar de toda a barafunda e noites perdidas, a maioria de nós nunca fará nada que perdure, nada que aproxime de uma paisagem de trigo onde repousam dois camponeses no meio das medas, numa pausa do dia de trabalho. Nada faremos que valha a pena registar num calendário daqui a 100 anos. A questão é, portanto, perceber a razão da alienação. Tenho notado que há uma campanha instalada que quase nos sugere como programa que tenhamos um papel para estes tempos: a adoração dos ídolos. Curiosamente, é feita de forma a que a identificação que assim se estabelece, nos compense da insignificância de sermos, isto é, torna-se mais importante o distante do que aquilo que nos fica próximo, porque ficamos no além onde nunca chegaremos. Como se vivessemos num sonho inatingível e já atingido, porque sonho, ao mesmo tempo.
Desta forma, deixando de estar aqui, transportados para um além indefinido, abrimos o campo para que os ídolos, a maioria deles também bem insignificantes, aqui estejam usufruindo da vida. Nestes tempos, a Imagem, substituiu a religião e passou a ser o novo ópio.

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