sábado, outubro 23, 2004

A vila

Os medos de ontem não serão os medos de amanhã. Cada geração reinventa os seus medos, porque os medos se formam nas experiências dos quartos escuros por onde passamos. E esses espaços de criação, como a água dos rios onde nunca nos banhamos duas vezes, estão em permanente mutação. Os conselhos de anciãos por muito que possam aconselhar, acabarão sempre por esbarrar na curiosidade e no, não será tanto assim, dos ouvintes jovens. Será essa a origem dos ciclos da história?
O refúgio na vila inverosímil acaba, afinal, numa viagem às cegas à procura da salvação que vem do mal de que se não pode falar. A sugestão de que o regresso não será o caminho? Possivelmente, as soluções terão de ser encontradas caminhando em frente e não às arrecuas. O mal estará aqui, nas cidades, mas é aqui que temos de o destruir e continuar o caminho, identificando o monstro e apunhalando-o para seguirmos em frente, até à luz, mesmo que, por vezes, o avanço se faça às apalpadelas e caindo nos buracos. Só assim nos salvaremos.
Gosto de encontrar alguma lógica e moralidade em todas as artes por mais aparentemente abstractas que pareçam. Daí esta tentativa de redescobrir a vila.
Ou será que o amor é a arma que nos mata o medo e nos leva em frente pela vida?

1 comentário:

Oma Eddie disse...

O amor não mata o medo, mas leva-nos em frente pela vida. O amor não mata o medo, mas faz-nos ter medo dele próprio. O amor não mata o medo, mas faz bem. Porque não me parece que a humanidade se divida em amor e ódio, mas sim em amor e medo.

"A coragem é a arte de ter medo sem que ninguém o perceba"