Não me entusiasma a ideia de serem 2 vezes 25. Isso seria voltar a um tempo de muitas dúvidas e caminhos de grandes inclinações. Não, não encontro vantagens nessa adrenalina, prefiro o caminhar em terreno plano ainda sem horizonte à vista. Felizmente, tenho a lucidez suficiente para perceber que não tenho 25 e também a sorte de estar bem comigo nos 50, sem saudades dos 25. Já me habituei ao contínuo do tempo e percebi o que são os artifícios dos relógios. Só neles a fragmentação existe, na realidade o tempo é uma sucessão sem paragens nem mudanças, um empilhar de peças sem fim. Quando se olha para baixo (ou para trás) podemos deliciar-nos mais ou menos com a perfeição da torre que as peças formam. É no cume dela que continuamos e pouco importa imaginar outros caminhos, quer antes quer em frente. É nesta altura, talvez só muito recentemente, que comecei a gozar o prazer de estar neste momento, sem inquietações, numa observação serena da paisagem.
Não tenho nenhuma ciência do viver, mas as coisas têm saído bem, espontaneamente. Até as grandes obras, que todos, alguma vez na vida, sentimos ter de deixar, já aí estão nas dúvidas próprias dos seus tempos, aparentemente bem cimentadas e prontas para o caminho. Um dia talvez cheguem a este patamar de contemplação e tenham a sorte de apreciar, como eu, que 50 é melhor que 2 vezes 25. É o que lhes desejo hoje.
Por coincidência, foi também este o ano em que os 2 fizemos 25 anos. Só neste contexto, melhor que 50, é 2x25 e o caminho está aí à espera da continuação da caminhada, na descoberta de novos horizontes e paisagens, no gozo mútuo das surpresas tranquilas dos sentidos.
Aqui chegado, tudo o resto é muito pouco, momentos de passar, passatempos apenas. Mas até esses foram momentos de sorte. Foi cheia a estrada da clandestina certeza da chegada à luz naqueles tempos do breu. Aquela manhã em que o exílio desapareceu no horizonte e surgiu, de repente, a possibilidade do caminho ser aqui. Mesmo a amargura de Novembro acabou por ser bem vinda. A vida se encarregou de lhe dar algum sentido. Teria sido outro o caminho, também com alegrias, que isto de bem-estar é mais um estado de espírito. E agora, a felicidade, de na descida à escuridão, saber que somos mais e mais a resistir. Um destes dias, quem sabe, de novo irromperá a madrugada. Tentarei fazer por isso.
2 comentários:
Parabéns Pai :p Love u...
Parabéns!
Abraço do Miguel Peixoto
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