Quando chove em Lisboa, é frequente este caos. Fica tudo parado e nós agitamo-nos dentro dos carros, apesar da sinfonia nº 1 de Prokofiev. Subitamente, surge na parede a frase, A vida não é... dia sim dia não! Deve haver assim pelo menos dezenas de escritos nesta cidade, gritos de gente que gostava de viver todos os dias. Estar vivo, independentemente da chuva, do tempo cinzento, com uma vontade infinita de estar nos dias sim todos os dias. A vida é muito mais do que aquilo que nos querem deixar ter e, cada dia que passa, é menos eterna para nos darmos ao luxo de passarmos distraídos por ela. A vida é todos os dias se lhe soubermos encontrar um sentido, se percebermos que não estamos sós a escrever nas paredes em actos clandestinos, se percebermos que os que nos dão os dias não apenas o fazem porque os deixamos ter sempre dias sim. Quando deixaremos de ser, seres adormecidos, a escrever aqui e por aí, sempre sem nos encontrarmos, varas isoladas prontas a ser quebradas uma a uma com toda a facilidade pelos que têm todos os dias.
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