Cosi fan tutte tem essa coisa boa de mostrar onde mora a sabedoria, no Velho filósofo e na Criada Despina. Os outros são medrosos, cheios de cuidados com a imagem, agarrados ao ter de ser.
Mas é também denúncia clara:
Che vita maledetta
È il far la cameriera!
Dal mattino alla sera
Si fa, si suda, si lavora, e poi
Di tanto che si fa nulla è per noi.
È mezza ora che sbatto;
Il cioccolatte è fatto, ed a me tocca
Restar ad odorarlo a secca bocca?
Non è forse la mia come la vostra,
O garbate signore,
Che a voi dèssi l'essenza, e a me l'odore?
É a denúncia da desigualdade de forma doce, com chocolate.
quinta-feira, novembro 30, 2006
quarta-feira, novembro 29, 2006
Dimensão
É pobre a obra de quem se enterra com ela e grande a que persiste depois de nós. Os maiores são os que estão substituíveis a toda a hora, porque criaram uma dimensão de irreversibilidade nos processos. Mas quando, durante toda a vida, o mundo de algumas pessoas nunca as ultrapassou, começando e terminado sempre nos seus limites, não se poderá esperar que outra coisa possam fazer que anunciar o dilúvio depois deles. Compreender essas suas limitações e perdoar-lhes, é também obrigação de quem fica. Com toda a serenidade, cabe a nós que continuamos o caminho, mostrar a realidade como ela é.
terça-feira, novembro 28, 2006
A Baixa
Ir à Baixa é sempre regressar a um tempo distante, aquela fotografia de boné e gabardina tirada à la minute no passeio dos Restauradores e aos cromos que se trocavam nas escadas da Estação do Rossio, à subida ,Rua do Carmo acima, com falta de ar, até ao aerosol salvador do alergologista milagreiro que me espicaçava o antebraço.
Também às decorações de Natal bem mais discretas do que as bolas de agora. E havia menos homeless nos passeios. Vivemos num tempo de exuberância.
Hoje achei as ruas bem mais largas, a Sá da Costa e a Bertrand persistem em não sair do lugar. A raiva só surgiu quando vi o Lourenço e Santos substituído por uma qualquer loja Calzedonia e, claro, mas essa já tinha dado conta noutras idas, a loja dos brinquedos onde tantas vezes encostei o nariz para sonhar substituída nem sei bem por que coisa. Ainda não consigo olhar direito para os invasores. Mas a Estação do Rossio foi lavada e está bem bonita até que a poluição uma vez mais a pinte de negro.
Também às decorações de Natal bem mais discretas do que as bolas de agora. E havia menos homeless nos passeios. Vivemos num tempo de exuberância.
Hoje achei as ruas bem mais largas, a Sá da Costa e a Bertrand persistem em não sair do lugar. A raiva só surgiu quando vi o Lourenço e Santos substituído por uma qualquer loja Calzedonia e, claro, mas essa já tinha dado conta noutras idas, a loja dos brinquedos onde tantas vezes encostei o nariz para sonhar substituída nem sei bem por que coisa. Ainda não consigo olhar direito para os invasores. Mas a Estação do Rossio foi lavada e está bem bonita até que a poluição uma vez mais a pinte de negro.
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segunda-feira, novembro 27, 2006
Instantes
domingo, novembro 26, 2006
Amadeo
" Vivo numa casa muito pequena, mas as minhas janelas dão para um mundo muito grande."
Confúcio ( 551 - 479 a. C. )
Vou lembrar-me desta exposição de Amadeo, não tanto pelos quadros que vejo, mas pela entrada na exposição. Uma fila! Num país onde as filas costumam ser apenas no trânsito, fico satisfeito por esperar, imaginando que o interesse por estas coisas está a aumentar. Rapidamente (a fila também não era assim tão grande) surge a explicação para o entupimento. Por motivos de segurança, as senhoras não podem entrar com malas de mão!!! Isso mesmo, não se trata de mochilas ou guarda-chuvas, malas de mão mesmo que pequenas, mínimas mesmo. O funcionário da empresa de segurança esclarece que se trata de uma norma determinada pelo valor da obra exposta. Amadeo Souza Cardoso é, como se sabe um pintor de obras valiosas. Vai daí, toda a gente tem de entrar de mão e ombros a abanar. O presumível responsável desta situação chama-se Paulo Salgueiro. Já o imagino a organizar a segurança de uma exposição de Van Gogh ou Picasso. De certeza que obrigará os visitantes a entrarem nus.
Depois, olhando os quadros, fico com a impressão de que Amadeo fez aquilo que os portugueses para serem grandes (na sua terra) devem fazer, emigrar. Quanto ao que vi não me parece ser assim tão grande. Viveu num tempo de originalidade, viu a pintura que se fazia em Paris e integrou-se. Depois colocou umas casinhas de aldeia dentro dos quadros e essa parece-me ser a sua diferença. Tudo o mais já tinha visto em muitos outros. O resto é a histório do peixe e do aquário. Pode ser-se um peixe pequeno em aquário grande, ou tendo o mesmo tamanho, pode ser-se um grande peixe em aquário pequeno. A dimensão é a mesma quando se é pequeno. Tudo é relativo, mas a pequenez pode sufocar.
Confúcio ( 551 - 479 a. C. )
Vou lembrar-me desta exposição de Amadeo, não tanto pelos quadros que vejo, mas pela entrada na exposição. Uma fila! Num país onde as filas costumam ser apenas no trânsito, fico satisfeito por esperar, imaginando que o interesse por estas coisas está a aumentar. Rapidamente (a fila também não era assim tão grande) surge a explicação para o entupimento. Por motivos de segurança, as senhoras não podem entrar com malas de mão!!! Isso mesmo, não se trata de mochilas ou guarda-chuvas, malas de mão mesmo que pequenas, mínimas mesmo. O funcionário da empresa de segurança esclarece que se trata de uma norma determinada pelo valor da obra exposta. Amadeo Souza Cardoso é, como se sabe um pintor de obras valiosas. Vai daí, toda a gente tem de entrar de mão e ombros a abanar. O presumível responsável desta situação chama-se Paulo Salgueiro. Já o imagino a organizar a segurança de uma exposição de Van Gogh ou Picasso. De certeza que obrigará os visitantes a entrarem nus.
Depois, olhando os quadros, fico com a impressão de que Amadeo fez aquilo que os portugueses para serem grandes (na sua terra) devem fazer, emigrar. Quanto ao que vi não me parece ser assim tão grande. Viveu num tempo de originalidade, viu a pintura que se fazia em Paris e integrou-se. Depois colocou umas casinhas de aldeia dentro dos quadros e essa parece-me ser a sua diferença. Tudo o mais já tinha visto em muitos outros. O resto é a histório do peixe e do aquário. Pode ser-se um peixe pequeno em aquário grande, ou tendo o mesmo tamanho, pode ser-se um grande peixe em aquário pequeno. A dimensão é a mesma quando se é pequeno. Tudo é relativo, mas a pequenez pode sufocar.
sábado, novembro 25, 2006
Temporal
Árvores na linha, troços cortados pela água. Comboio parado durante mais de duas horas. Um silêncio inquietante, sobretudo depois de terem semi-fechado a luz da carruagem. Finalmente, comunicam-nos que não vamos poder prosseguir viagem. Como alternativa, iremos de autocarrro até Lisboa. Voltarão a falar connosco em breve. É curioso, como nesta altura começa a debandada dos passageiros. Saem sem saber para onde ir. Na verdade, os autocarros ainda não devem ter chegado, nem se sabe onde irão chegar, nem muito menos para onde se dirigirão. Alguns dos que ficam desenham cenários tenebrosos de circuitos infindáveis pelo país fora a satisfazer todos os destinos.
Uma meia hora depois, o revisor passa triunfante, anunciando que os autocarros chegaram. Chove copiosamente e o vento é de virar guarda-chuvas. Umas dez carruagens acabam de esvaziar em direcção ninguém sabe muito bem ao quê. É a coisas como esta que se chama banhada geral. Afinal, os autocarros, acabavam de chegar, cheios com os passageiros vindos de Aveiro, que fugiam precipitrando-se para a estação de onde saíamos, sem saber para onde íamos, quais os autocarros que apanharíamos. Vai para Lisboa? para o Entroncamento? De carro em carro, à procura. Um condutor berra, informando que aquilo não é um comboio, que se não pode entrar com as malas no autocarro, que têm de ser postas na bagageira, por baixo. Agora é dentro do autocarro, uns a entrar outros a sair... com as malas. Cá fora continua a banhada.
Já passava das oito da noite. A CP não nos deu nem uma sandocha. Acalmados com a expectativa de uma viagem rápida até Lisboa, tenho ainda assim de ir todo o tempo a ouvir o jovem do banco de trás, num palavreado que em programa de TV antes das dez dava um texto em piiiiii.....piiiiiiiiii quase contínuo. Está curiosa a linguagem nesta terra. Será que já não há escolas depois de terem acabado as famílias?
Ao fim de oito horas cheguei a Lisboa! E nunca me tinha sentido evacuado.
Uma meia hora depois, o revisor passa triunfante, anunciando que os autocarros chegaram. Chove copiosamente e o vento é de virar guarda-chuvas. Umas dez carruagens acabam de esvaziar em direcção ninguém sabe muito bem ao quê. É a coisas como esta que se chama banhada geral. Afinal, os autocarros, acabavam de chegar, cheios com os passageiros vindos de Aveiro, que fugiam precipitrando-se para a estação de onde saíamos, sem saber para onde íamos, quais os autocarros que apanharíamos. Vai para Lisboa? para o Entroncamento? De carro em carro, à procura. Um condutor berra, informando que aquilo não é um comboio, que se não pode entrar com as malas no autocarro, que têm de ser postas na bagageira, por baixo. Agora é dentro do autocarro, uns a entrar outros a sair... com as malas. Cá fora continua a banhada.
Já passava das oito da noite. A CP não nos deu nem uma sandocha. Acalmados com a expectativa de uma viagem rápida até Lisboa, tenho ainda assim de ir todo o tempo a ouvir o jovem do banco de trás, num palavreado que em programa de TV antes das dez dava um texto em piiiiii.....piiiiiiiiii quase contínuo. Está curiosa a linguagem nesta terra. Será que já não há escolas depois de terem acabado as famílias?
Ao fim de oito horas cheguei a Lisboa! E nunca me tinha sentido evacuado.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Chove lá fora
Peter Singer continua a ser um bom companheiro de viagem, agora, a caminho do Porto para uma reunião da Ordem dos Médicos. Há momentos em que estas companhias são fundamentais. Estar acompanhado num mundo em que quase tudo parece ser diferente, sabe muito bem.
Não se está tão longe da felicidade quanto muitas vezes se pensa. Temos, para a atingirmos, que definir com precisão os objectivos. É como irmos a um centro comercial, podemos ir com uma lista de compras precisa, daquilo que necessitamos e irmos sem ter pensado previamente o que precisamos. No primeiro caso viremos de lá com as nossas necessidades satisfeitas (se tivermos ido ao sítio certo), na segunda hipótese havemos de trazer uma quantidade de inutilidades de que, na verdade, não necessitamos e não nos darão grande prazer (para além daquele que estiver associado ao consumo imediato). Também já é assim na infância, não é a abundância de brinquedos, geradora de dificuldades de escolha, que torna as crianças mais felizes. È o brinquedo necessário, o favorito, o que gera o prazer. E esse é com frequência aquele a que se atribui, mesmo que o não tenha objectivamente, uma característica única, qualquer coisa nossa que o torna mais valioso que todos os outros. A nossa felicidade tem origem não na coisa, mas no que dela fazemos, no que lhe acrescentemos de significado. O triunfo actual do liberalismo, ao criar a necessidade do consumo, não acrescenta felicidade às pessoas. Olhem-se os sobreviventes ambulantes nos Centros Comerciais aos fins-de-semana. Aquela massa de gente que espreita montras tem um ar feliz?
Às vezes, distraímo-nos e deixamo-nos ir pelos conceitos, transitoriamente dominantes, de identificarmos o ter com o bem-estar e, afinal, este está muito mais no ser. Confunde-me que se sacrifique tanto o ser ao ter, ver tanta gente desaparecer na busca do ter e depois ficar sem tempo para ser. Tanto mais que o ter é um monstro sem limites, insaciável, por isso inatingível. Há sempre mais além do que tem e, não tendo feito a lista do que se quer, resta-nos ficar sempre mais infelizes por ainda nos faltar ter algo a que ainda se não chegou.
Não se está tão longe da felicidade quanto muitas vezes se pensa. Temos, para a atingirmos, que definir com precisão os objectivos. É como irmos a um centro comercial, podemos ir com uma lista de compras precisa, daquilo que necessitamos e irmos sem ter pensado previamente o que precisamos. No primeiro caso viremos de lá com as nossas necessidades satisfeitas (se tivermos ido ao sítio certo), na segunda hipótese havemos de trazer uma quantidade de inutilidades de que, na verdade, não necessitamos e não nos darão grande prazer (para além daquele que estiver associado ao consumo imediato). Também já é assim na infância, não é a abundância de brinquedos, geradora de dificuldades de escolha, que torna as crianças mais felizes. È o brinquedo necessário, o favorito, o que gera o prazer. E esse é com frequência aquele a que se atribui, mesmo que o não tenha objectivamente, uma característica única, qualquer coisa nossa que o torna mais valioso que todos os outros. A nossa felicidade tem origem não na coisa, mas no que dela fazemos, no que lhe acrescentemos de significado. O triunfo actual do liberalismo, ao criar a necessidade do consumo, não acrescenta felicidade às pessoas. Olhem-se os sobreviventes ambulantes nos Centros Comerciais aos fins-de-semana. Aquela massa de gente que espreita montras tem um ar feliz?
Às vezes, distraímo-nos e deixamo-nos ir pelos conceitos, transitoriamente dominantes, de identificarmos o ter com o bem-estar e, afinal, este está muito mais no ser. Confunde-me que se sacrifique tanto o ser ao ter, ver tanta gente desaparecer na busca do ter e depois ficar sem tempo para ser. Tanto mais que o ter é um monstro sem limites, insaciável, por isso inatingível. Há sempre mais além do que tem e, não tendo feito a lista do que se quer, resta-nos ficar sempre mais infelizes por ainda nos faltar ter algo a que ainda se não chegou.
quarta-feira, novembro 22, 2006
Os atados
Não vejo o poder como um fim em si, a realização de um título ou de uma linha de curriculum. O poder contem agarrado a possibilidade de mudar, transformar, inovar e melhorar. É muito mais que estadias em estâncias de luxo em reuniões de trabalho. Só vale a pena tê-lo quando temos um programa para melhorar alguma coisa. Poder não é também um trampolim para ir fazer mais acima o mesmo que se não faz aqui em baixo. É desta forma que o entendo. Mas eu sou livre. Tenho essa sorte. Concluí hoje, ao ver-me rodeado de chefes (líderes era demais chamar-lhes) atados de pés e mãos ou por outros órgãos ainda mais vitais. Antes de cada decisão que até lhes apetece ter, vejo-os a calcular, a ver as implicações no aperto dos atilhos que os paralisam: quem irá fazer parte do juri do meu concurso de catedrático? será que se eu fizer isso, o poder dele não irá implicar a minha destituição do lugar que consegui? Atados de pés e mãos ou noutros órgãos que se calhar já secaram e que tanta falta fazem à vida das pessoas.
terça-feira, novembro 21, 2006
À volta de Singer
Se estamos bem, podemos abster-nos; se estamos mal, devemos agir, realizar o bem. Ainda que nessa realização possamos fazer algo menos bom, pior seria ficar parado, inerte, porque o imobilismo não resolve o nosso incómodo de estarmos mal. Mesmo que agir, tenha quase necessariamente que dar, a quem não age, a possibilidade de reagir contra toda e qualquer mudança. O estado de espírito dos descontentes apáticos, curiosamente, exacerba-se quando algo muda, mesmo que adivinhem que a mudança possa ser benéfica. Mas mudar tem sempre algum incómodo associado, algum dispêndio de energia. Isso explica, provavelmente, o horror à mudança. Nessas alturas é de esperar que os acomodados se inquietem e procurem denegrir quem age pela mudança. É da natureza das coisas.
Não são pois de estranhar as campanhas mais ou menos espontâneas, de denúncia de quem se empenha na acção. Os políticos são umas das vítimas desta natureza das coisas. Aqui também e muito mais pelo horror a tudo o que é público, pois são eles os gestores dessa coisa. No primado do interesse próprio, chega a ser curioso que invocando princípios éticos se denunciem os pecados dos políticos. É, seguramente, correcto denunciá-los, mas estranha-se que, ao mesmo tempo, se não faça a denúncia dos não políticos que têm como único real valor a promoção pessoal em detrimento do bem comum. Quem sabe se essa não é uma arma do liberalismo para dissimular a ferocidade do interesse próprio, desviando a atenção para a observação e crítica da acção dos que se dedicam à causa comum. Por exemplo, se um gestor de uma empresa privada tiver um vencimento mais ou menos pornográfico e simultaneamente tiver uma reforma de uma participação anterior num organismo público, isso terá o mesmo impacto de um gestor público ter um vencimento bastante mais baixo do que o privado e ao mesmo tempo receber uma pensão equivalente? Estou convencido que o ataque aos políticos, como a idolatria do futebol ou a frenética devassa da vida privada das celebridades são o ópio que o sistema instila para se poder manter mais tranquilamente no poder. Ou os cães ladram, fazem barulho, agitam as matilhas e a caravana passa. Na verdade, a ausência de ética é uma das referências do liberalismo.
Não são pois de estranhar as campanhas mais ou menos espontâneas, de denúncia de quem se empenha na acção. Os políticos são umas das vítimas desta natureza das coisas. Aqui também e muito mais pelo horror a tudo o que é público, pois são eles os gestores dessa coisa. No primado do interesse próprio, chega a ser curioso que invocando princípios éticos se denunciem os pecados dos políticos. É, seguramente, correcto denunciá-los, mas estranha-se que, ao mesmo tempo, se não faça a denúncia dos não políticos que têm como único real valor a promoção pessoal em detrimento do bem comum. Quem sabe se essa não é uma arma do liberalismo para dissimular a ferocidade do interesse próprio, desviando a atenção para a observação e crítica da acção dos que se dedicam à causa comum. Por exemplo, se um gestor de uma empresa privada tiver um vencimento mais ou menos pornográfico e simultaneamente tiver uma reforma de uma participação anterior num organismo público, isso terá o mesmo impacto de um gestor público ter um vencimento bastante mais baixo do que o privado e ao mesmo tempo receber uma pensão equivalente? Estou convencido que o ataque aos políticos, como a idolatria do futebol ou a frenética devassa da vida privada das celebridades são o ópio que o sistema instila para se poder manter mais tranquilamente no poder. Ou os cães ladram, fazem barulho, agitam as matilhas e a caravana passa. Na verdade, a ausência de ética é uma das referências do liberalismo.
domingo, novembro 19, 2006
Desculpem lá
Com o parque de estacionamento já cheio, fica-se com a sensação de sorte grande quando vemos alguém aproximar-se do carro estacionado com ar de quem vai sair. Claro, que a coisa ainda vai demorar. Abrir as portas com o comando à distância, aproximar-se lentamente do carro, pôr o puto no banco de trás deixando obviamente a porta aberta, ir uma última vez ao porta-bagagens pôr mais um saco e, por fim, mas não menos importante, olhar para nós, com ar tranquilo, sem pressa, enquanto solta, finalmente, um: Desculpe, lá! Porque será que a desculpa é atirada para longe, porque não desculpe aqui ou somente desculpe, ou até apenas Bom-dia! Esta coisa de pedir desculpa longe, lá, é que eu não entendo. Mas, realmente, que a culpa fique longe de nós, que assim nos desresponsabilizamos. Podemos ainda ajeitar o banco e o retrovisor, abrir o vidro, que o tipo que está à espera, vai desculpar lá, que, aqui, até nem tem grande cara de perdão.
quarta-feira, novembro 15, 2006
O fim da bondade?
Lendo Retrato Político da Saúde (Jorge Simões):
Um dos problemas que alguns temos é acreditarmos na bondade. Pensamos, por exemplo, que ao perceber-se que a saúde era um bem para distribuir, se decidiu distribuí-la por todos. Engano! Foi preciso que houvesse mortos entre os operários que contríam um canal, vítimas de acidentes de trabalho e de epidemias e a produtividade diminuísse para se pensar em criar um sistema de saúde; foi preciso soldados morrerem na guerra, mais de doenças do que de tiros, para se pensar em dar-lhes saúde; foi preciso que os sindicatos alemães começassem a ter influência política, para que Bismarck criasse um sistema de seguros de saúde não por bondade, mas para retirar a simpatia dos trabalhadosres nas suas organizações. Nada acontece por bem, mas por necessidade. Estranha esta espécie que assim age.
Um dos problemas que alguns temos é acreditarmos na bondade. Pensamos, por exemplo, que ao perceber-se que a saúde era um bem para distribuir, se decidiu distribuí-la por todos. Engano! Foi preciso que houvesse mortos entre os operários que contríam um canal, vítimas de acidentes de trabalho e de epidemias e a produtividade diminuísse para se pensar em criar um sistema de saúde; foi preciso soldados morrerem na guerra, mais de doenças do que de tiros, para se pensar em dar-lhes saúde; foi preciso que os sindicatos alemães começassem a ter influência política, para que Bismarck criasse um sistema de seguros de saúde não por bondade, mas para retirar a simpatia dos trabalhadosres nas suas organizações. Nada acontece por bem, mas por necessidade. Estranha esta espécie que assim age.
Esquizofrenia
Só vê o caminho quem quer abrir os olhos. Ainda parece ser lícito andar cego no seu mundo, mas provavelmente, isso não poderá ser tolerado durante muito mais tempo no mundo cada vez mais comum de todos nós.
terça-feira, novembro 14, 2006
Hoje, SFF
Fez-me bem ter passado por organizações bem hierarquizadas, com controleiros e tudo, para perceber que não é razoável perder-se tempo em formalismos e em tem-que-seres. Isso deu-me uma urgência de acção que se não compadece com respeito por normas do deve-ser-assim. A dificuldade é o deparar-me quase sempre com gente que não envia um mail sem gastar tempo ao iniciá-lo por Exmo-Senhor-Doutor, em vez do simplesmente e suficiente Fernando ou um mais reduzido Olá. Depois desse desperdício vem o outro que é não se entender que o que tem de ser feito, escusa de ficar a ser feito amanhã. Hoje ainda há tempo. Este policronismo ou telecronismo que nos leva a pagar os impostos no último dia ou a preparar as comunicações de véspera sobre stresse, não se adapta bem comigo. Têm de se fazer alterações, fazem-se. JÁ! dizia-se em 75, quando havia pressa de fazer e qualquer coisa se fazia, nem que fosse a experimentar, porque só a inacção não leva a lugar nenhum. Se está mal, corrija-se! Não se perca tempo a comtemplar a asneira, que os pântanos nunca cheiraram bem.
Será que penso demasiado depressa ou não me exprimo como devia?
Será que penso demasiado depressa ou não me exprimo como devia?
segunda-feira, novembro 13, 2006
Artes
No fim da tarde de ontem, aproveitei o tempo em olhares a Graça Morais e depois na Art Fair (chique hein, mas é assim que está escrito aí pela cidade). De certa forma fiquei surpreendido com a multidão que encontrei na Feira de Arte depois de passar pelo deserto da exposição na Cordoaria. Preferi a Graça Morais, que a Feira tem arte demasiado contemporânea, ainda na fase do bom investimento ou da percepção da insensatez absoluta. Vi um Pomar por 150000 euros, o que me pareceu fruta a mais a pedir vigilância activa pelo fisco a quem o comprar para detecção de sinais interiores (não devem pôr o quadro ao luar, não é?) de riqueza. Mas alguém fora daqui pagará aquilo por aquele quadro?
Estranho isto do valor da arte. Parece-me o valor do excesso que se tem. Ou será o do que se tem em excesso?
Estranho isto do valor da arte. Parece-me o valor do excesso que se tem. Ou será o do que se tem em excesso?
domingo, novembro 12, 2006
Algumas notas dos últimos dias
Uma semana razoável. Não só os Republicanos começaram a ser despedidos lá no grande Império, como, por aqui, algo timidamente, Sócrates esboça algum controlo sobre a banca. Aparentemente, muito tímido, mas o suficiente para eriçar João Salgueiro que o vem chamar de peronista. Só pela reacção parece poder ter algum significado, o suficiente para se esperar para ver o que dá. No fundo, o mais provável, é que seja apenas o meu desejo de viver no país mais limpo.
Tive a dose mínima possível do Congresso de Obesidade. Correu bem. Além de ter contribuído para que os participantes votassem (61% no final do debate) pelo não uso de fármacos no tratamento da obesidade, libertei-me da ligação à direcção da SPEO. Três anos foi tempo suficiente para perceber que a luta contra a obesidade tem de ser ganha fora dos conflitos de interesse, e a SPEO, como a maioria das sociedades científicas está amarrada aos financiamentos da indústria, o que de uma forma ou de outra sempre acabará por condicionar a sua acção. Para a tornar verdadeiramente independente será necessário criar fontes de financiamento alheias, o que até pode ser possível, mas está além da minha disponibilidade em termos de actividade possível a custo zero.
Foi também positivo verificar que o Ambulatório começa a acalmar e que é possível reforçar muito em breve a qualidade.
Por fim, as aulas de Gestão começam a ser instantes de bem-estar. Sabe bem aprofundar ideias e ir além do que se acha, começar a ter-se uma visão mais abrangente e séria das coisas com que estou a lidar todos os dias. A percepção dos fundamentos da mudança do mundo ajuda a encontrar melhores caminhos para nele se estar.
Bom entender as diferenças entre chefia e liderança percebendo que sem uma e sem a outra se vive na anarquia; entender que nos sistemas onde estou, um dos grandes problemas é a atribuição de direcção apenas por critérios, presumivelmente, técnicos, quando se pode ser um técnico excelente e ser-se absolutamente incapaz de liderar.
Compreender melhor a génese do SNS, perceber que ainda é um jovem adulto, que gasta quase 7,2% do PIB e quais as medidas de contenção de despesas. Estou, é verdade, a ser informado por uma informação classista, mas vai dar-me jeito conhecer esta argumentação para definir estratégias, possivelmente, mais justas.
Uma nota negativa na semana: Em Paris,dirigido por Christophe Honore (ponho aqui o nome para ter cuidado da próxima vez), um filme insuportável de feio. Quando o crítico escreve «Será mesmo possível que uma história de amor nos faça saltar de uma ponte?» isso é um aviso ao espectador menos forte emocionalmente. Mas o filme não merece que se morra por ele, apenas que se passe ao lado.
Tive a dose mínima possível do Congresso de Obesidade. Correu bem. Além de ter contribuído para que os participantes votassem (61% no final do debate) pelo não uso de fármacos no tratamento da obesidade, libertei-me da ligação à direcção da SPEO. Três anos foi tempo suficiente para perceber que a luta contra a obesidade tem de ser ganha fora dos conflitos de interesse, e a SPEO, como a maioria das sociedades científicas está amarrada aos financiamentos da indústria, o que de uma forma ou de outra sempre acabará por condicionar a sua acção. Para a tornar verdadeiramente independente será necessário criar fontes de financiamento alheias, o que até pode ser possível, mas está além da minha disponibilidade em termos de actividade possível a custo zero.
Foi também positivo verificar que o Ambulatório começa a acalmar e que é possível reforçar muito em breve a qualidade.
Por fim, as aulas de Gestão começam a ser instantes de bem-estar. Sabe bem aprofundar ideias e ir além do que se acha, começar a ter-se uma visão mais abrangente e séria das coisas com que estou a lidar todos os dias. A percepção dos fundamentos da mudança do mundo ajuda a encontrar melhores caminhos para nele se estar.
Bom entender as diferenças entre chefia e liderança percebendo que sem uma e sem a outra se vive na anarquia; entender que nos sistemas onde estou, um dos grandes problemas é a atribuição de direcção apenas por critérios, presumivelmente, técnicos, quando se pode ser um técnico excelente e ser-se absolutamente incapaz de liderar.
Compreender melhor a génese do SNS, perceber que ainda é um jovem adulto, que gasta quase 7,2% do PIB e quais as medidas de contenção de despesas. Estou, é verdade, a ser informado por uma informação classista, mas vai dar-me jeito conhecer esta argumentação para definir estratégias, possivelmente, mais justas.
Uma nota negativa na semana: Em Paris,dirigido por Christophe Honore (ponho aqui o nome para ter cuidado da próxima vez), um filme insuportável de feio. Quando o crítico escreve «Será mesmo possível que uma história de amor nos faça saltar de uma ponte?» isso é um aviso ao espectador menos forte emocionalmente. Mas o filme não merece que se morra por ele, apenas que se passe ao lado.
quarta-feira, novembro 08, 2006
A qualidade e o outsourcing
Para que conste aqui fica registado que no meu hospital público também tenho doentes finos. A Dra A., advogada, é uma delas. Hoje, quando chegou ao consultório, começou por me dar os parabéns pela melhoria do ambulatório do Hospital de Santa Maria. Sobretudo, estava bem impressionada com as recepcionistas. Com uma daquelas piscadelas de olho a armar ao cúmplice do vizinho de Cascais, foi-me dizendo que realmente os funcionários públicos eram uma desgraça. Afinal, confessava-me com ar de grande observadora, que o recurso ao outsourcing era decisivo. Outsourcing? perguntei eu timidamente. Sim, as senhoras (!) da recepção foram contratadas em outsourcing, não foram? Percebi, o bando das Sandras, essas inqualificáveis funcionárias públicas, agora têm uma farda nova. Bastou para passarem a pessoas com qualidade. Mais uma vez, o Senhor Presidente tinha razão quando manifestava a necessidade imperiosa de adquirir em tempo útil, nem que fosse no Rei das Fardas, o novo equipamento para aqueles «recursos». É a qualidade, estúpido!
Tudo vale a pena (apesar de tudo)
Mesmo um povo por quem se pode não dar muito, muito espicaçado acaba por se erguer. Um dia puxa das vassouras e limpa o terreno do lixo maior. Mesmo que seja apenas para o pôr transitoriamente debaixo de algum tapete e o substituir por algum lixinho. Entretanto, pode ser que os iraquianos ganhem alguma coisa com isso e só por esse facto pode ter valido a pena.
terça-feira, novembro 07, 2006
Comunicação
Quase ao fim da tarde, tive a impressão de que, talvez desta vez, o informático tenha percebido a linguagem do médico. Com paciência, lhe expiquei que era importante fazer aquilo de forma que até os médicos percebessem. Prometeu-me que sim, espero que seja desta que eu tenha conseguido explicar a coisa de forma que até um informático possa entender.
Estou com esperança.
Estou com esperança.
segunda-feira, novembro 06, 2006
Poder e corrupção
Chegado a casa de mau humor, ouço que Blair é contra a pena de morte aplicada a Saddam e que Portugal, num relatório internacional, está em vigémimo qualquer coisa lugar dos países menos coruuptos, lista em que a Nova Zelândia, a Finlândia e a Islândia estão em primeiro lugar.
Lembrei-me de imediato de ovelhas que pastam tranquilas e da ausência de gente nos campos da NZ, da tranquilidade da paisagem, da ausência de pressa. Imagino-os à lareira, se calhar contando histórias, vivendo. Percebendo a verdadeira dimensão da vida (pouco mais de 70 anos na melhor das hipóteses, afinal). Essa duração escassa deve precisar do frio dos climas para ser percebida na sua verdadeira dimensão. O calor deve despertar uma fogosidade de vida que termina facilmente no golpe e na ausência de regras. Para aí também levará esta fúria desordenada de acabar com as regras sociais e o primado absoluto por determinação quase divina do privado.
A condenação de Saddam é um acto de poder sobre um poderoso e corrupto. Claramente, ineficaz será a sua morte, dado que nada na vida acontece pelo exemplo que os actos possam induzir e o desejo de corrupção existe nos que têm medo de vida curta. Esses, tentarão sempre, se outras regras não forem criadas. E não é fácil resistir pela vida fora às facilidades de ser corrupto, obviamente ao nível das oportunidades que vão surgindo. Poucos serão os eleitos que dirão nunca terem sido corruptos. Tudo é uma questão de dimensão e acção. Pode mesmo acontecer que se seja por inacção, passividade. Será a corrupção mais frequente, a do mundo dito desenvolvido, que aceita, sem reagir, as diferenças do mundo. Tudo tem graus, mas nalgumas coisas da vida mais ou menos viciantes, só há uma atitude possível, optar pela qualificação em vez da gradação quantificada, ter uma atitude de tudo ou nada. Claramente contra a pena de morte, sem mais argumentos de não, mas. Claramente, contra a corrupção, detectando bem a sua presença e não a aceitar com desculpas de, pois, mas eles também. É uma educação cara, mas fundamental para ultrapassar a tristeza, que a facilidade inevitavelmente acarreta. A coragem é um valor imenso, mas estranha-se a sua habitual desvalorização em detrimento de tácticas, estratégias e outras merdas do género.
Lembrei-me de imediato de ovelhas que pastam tranquilas e da ausência de gente nos campos da NZ, da tranquilidade da paisagem, da ausência de pressa. Imagino-os à lareira, se calhar contando histórias, vivendo. Percebendo a verdadeira dimensão da vida (pouco mais de 70 anos na melhor das hipóteses, afinal). Essa duração escassa deve precisar do frio dos climas para ser percebida na sua verdadeira dimensão. O calor deve despertar uma fogosidade de vida que termina facilmente no golpe e na ausência de regras. Para aí também levará esta fúria desordenada de acabar com as regras sociais e o primado absoluto por determinação quase divina do privado.
A condenação de Saddam é um acto de poder sobre um poderoso e corrupto. Claramente, ineficaz será a sua morte, dado que nada na vida acontece pelo exemplo que os actos possam induzir e o desejo de corrupção existe nos que têm medo de vida curta. Esses, tentarão sempre, se outras regras não forem criadas. E não é fácil resistir pela vida fora às facilidades de ser corrupto, obviamente ao nível das oportunidades que vão surgindo. Poucos serão os eleitos que dirão nunca terem sido corruptos. Tudo é uma questão de dimensão e acção. Pode mesmo acontecer que se seja por inacção, passividade. Será a corrupção mais frequente, a do mundo dito desenvolvido, que aceita, sem reagir, as diferenças do mundo. Tudo tem graus, mas nalgumas coisas da vida mais ou menos viciantes, só há uma atitude possível, optar pela qualificação em vez da gradação quantificada, ter uma atitude de tudo ou nada. Claramente contra a pena de morte, sem mais argumentos de não, mas. Claramente, contra a corrupção, detectando bem a sua presença e não a aceitar com desculpas de, pois, mas eles também. É uma educação cara, mas fundamental para ultrapassar a tristeza, que a facilidade inevitavelmente acarreta. A coragem é um valor imenso, mas estranha-se a sua habitual desvalorização em detrimento de tácticas, estratégias e outras merdas do género.
quinta-feira, novembro 02, 2006
Finalmente
Agora, sim, tudo vai ser diferente. Faltava isto! Depois disto, o rumo das coisas vai mudar. Em Israel pensa-se já na mudança para um cantinho dentro de um dos Estados dos EUA, num exílio. Subitamente, perceberam que não podiam continuar a fazer aquilo que sempre têm feito desde que estão naquela zona, lixar tudo à volta. Afinal, alguém tinha de pôr fim a este estado de coisas. Foi agora. A notícia, por isso, veio na primeira página de todos os jornais deste país. No telejornal a avozinha nem sabe onde é que fica a nova terra do seu neto. Mas sabe que as coisas com ele lá vão ser melhores. Tem fé. O pai assegura, dos seus já muitos anos bem bebidos e comidos, que, como aquele já se não fazem mais. Já perdeu a força, se calhar. A partir de agora, o Conselho de Segurança vai entra de férias.
E tudo isto por causa de uma coisa tão simples como esta. Por que já não nos tínhamos lembrado disto há mais tempo? O mundo anda tão distraído.
E tudo isto por causa de uma coisa tão simples como esta. Por que já não nos tínhamos lembrado disto há mais tempo? O mundo anda tão distraído.
quarta-feira, novembro 01, 2006
Alentejo
Comecei bem o dia a ler um mail que me pedia a utorização para utilização de uma fotografia. Também sou feito destas vaidades. Mas, certamente, que todas as fotografias que fiz são propriedade quando muito dos fotografados, que me deram o privilégio de estarem ali na frente para os olhar.
Tomo também a liberdade de publicitar o filme onde figura, porque mostra um pouco essa terra de liberdade que é o Alentejo.
Tomo também a liberdade de publicitar o filme onde figura, porque mostra um pouco essa terra de liberdade que é o Alentejo.
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