segunda-feira, setembro 27, 2004

São Miguel, Açores

São Miguel é uma ilha bonita perdida num tempo distante onde as vacas pastam pachorrentamente pelas encostas. Sabe bem de vez em quando ir a um sítio destes, contactar com discursos a que já nem estamos habituados, sentir o outro tempo. Mas fica também alguma tristeza que advém de, afinal, não gostarmos de estar nesse passado. Sobretudo, quando se percebe que esse estar é o que permite a uma minoria de outros estar noutro patamar de estar .

Quando lá estive a primeira vez, o temporal deixou-me uma imagem cinzenta do lugar. Desta vez gostei da volta em oito que dei pela ilha de verde e de lagoas. De Ponta Delgada à Lagoa do Fogo e depois Ribeira Grande, fábrica do chá Gorreana, Lagoa das Furnas e regresso por Vila Franca do Campo. IDepois a subida pelo Pico do Carvão até à vista do Rei para ver a Lagoa das Sete Cidades (cinzentona, nada de lendas de amantes de olhos verdes e azuis) e resto do percurso por Mosteiros (com paragem a ver o sol ainda alto e sobre a lava enrolada pelas ondas)e Ponta do Escalvado (para ver os calhaus dos Mosteiros lá ao longe). Incansável o guia ia falando do chá verde e do preto (Orange Pekot, o mais aromático; Pekot o mais intenso e o Broken Leaf), dos portugueses que descobriram, ou melhor, redescobriram os Açores (estaria a ilha habitada por coelhos? ou haveria algum Sr Coelho, não percebi), de fumarolas e energia geotérmica, da evolução económica com histórias de laranjais e vacas e quotas da UE, que irão provavelmente, substituir as vacas por camas. Somos um país produtor de paisagens e fazemos as camas para o resto do mundo se cá vir deitar. Parece ser esta a sina do povo que dizem não produz.

Ou não. Ouvi alguém dizer que até nem faltamos ao trabalho, até trabalhamos mais horas que muitos dos ricos povos. Mas li no Expresso que somos cada vez mais deficientes (pelo menos nas declarações do IRS...). Os dados são contraditórios.

Este foi também o fim de semana que deu à Esquerda o líder que a Direita gosta. Pena, que eu andava a gostar de ouvir um político, o Manuel Alegre, dizer o que pensa, simplesmente, sem pensar no impacto do que dizia. Gostei do estilo. Se um dia lhe passar pela cabeça candidatar-se a PR, poderá muito bem ter o meu apoio. Aliás, acho que um Presidente poeta ficava bem a este país.

País da tristeza bárbara em que parece que uma mãe mata a filha por uns euros.

Talvez bonito, mas com a angústia presente de se estar sempre a chegar ao mar. Um mar grande, constritor. Não, não sirvo para viver numa ilha assim. Curioso, como é boa a vista do mar quando temos muita terra pelas costas!

E nas notícias que ouço dizem-me, que numa terrinha nem sei onde, a população atribui milagres à água que o Delegado de Saúde diz estar contaminada. Depois disso, os jornalistas, ouvem a população falar das virtudes da água, pondo em causa a informação do DS e do Presidente da Junta. Quando houver diarreia, espero que sejam os jornalistas a limpar! Basta de ser asséptico. Até quando teremos nós que aturar estes intelectuais independentes dos senhores jornalistas?

2 comentários:

Carlos Caldeira disse...

Este país anda doido, é o que é.
Mas... o "animal Feroz" do Zé Sócrates não é o líder que a direita gosta; só se for a direita do PS. O Animal Feroz não deve nada à inteligência e é um actor; sempre que fala parece que está a representar. Faz-me lembrar o Santana: vaidoso de cabeça oca.
;-)
CC

Carlos Caldeira disse...

Éh... pá... eu sou jornalista. Independente só a escrever artigos; de opinião não.
Porque será que temos sempre de pagar as favas? Essa notícia da água apareceu nalguma TV Pimba? NO 24Horas? No CM?
Atenção: há muita gente que se passa por jornalista sem o ser.
CC