Quase sempre são imagens que mostram risos; risos que se adivinha são acompanhados de ruídos intensos. É assim que olho as fotografias que o Expresso publica sobre a noite de Lisboa. São caras jovens, dentes à mostra, línguas mais ou menos de fora. Mas não me parece que riam, estes jovens, simplesmente, estão a rir. E que distância vai do rir ao estar a rir! Vê-se nos olhos. Quem ri às vezes até os tem fechados ou perdidos no vazio, mas quem está a rir tem-nos bem orientados, fixos, congelados na câmara que regista o momento. Uma câmara impede o rir, se ela aparece, logo se fica a rir, mas sem o riso. Fica um apelo patético, um regista aí que sou feliz e depois a pergunta que tudo esclarece: fiquei bem?
O mesmo acontece com as lágrimas, com a dor. Quando uma cerimónia evocativa é planeada ao pormenor de os familiares das vítimas ali irem, uns após outros dizerem o nome e chorar em público, a verdade foi-se. Muita da preocupação acaba por ser a representação da dor. Estarei a sair bem? Quantos não terão pedido para lhes gravarem o momento para depois aferirem a qualidade do acto que praticaram. O que vejo é uma boa encenação do sofrimento para fins mais ou menos inconfessados e que me querem vender como testemunho de verdade.
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