quarta-feira, setembro 15, 2004

Pela nossa saúde

O ataque segue agora mais despudorado. Com o ar cândido que tem, o PM vem contar-nos a história da injustiça que é os ricos não pagarem as contas dos hospitais. De quem fala, dos que já agora sempre que dão um espirro correm para Londres ou para a Clínica Mayo? Não, daí não viria qualquer receita nova para o SNS. O que gastam é exportação de capitais e, seguramente, continuarão a fazer as suas viagens terapêuticas. As vítimas do PM serão os pagadores de impostos, os que trabalham por conta de outrém, que os nossos empresários, naturalmente pequenos, têm aquela síndrome de falência crónica.
Estes utilizadores-não pagadores da nossa paciência não conseguem entender a natureza do problema da saúde. O que temos de decidir neste campo é se achamos que quem fica doente deve acarretar com as consequências de ter adoecido, ou se, por outro lado, consideramos que a falta de saúde, apesar de tudo, é um azar e que deve ser a solidariedade social a pagá-la. Isto é, achamos ou não razoável o conceito de utilizador pagador aplicável à saúde. A opção a tomar é esta. A pergunta a fazer a cada um é essa.
Os que acharem que o princípio do utilizador-pagador é lícito para a saúde, devem ainda assim, perceber que hoje em dia, ninguém no seu perfeito juízo, pode pensar que pode suportar do seu bolso os custos de saúde para si e para os seus familiares. A doença surge de forma imprevista e uma vez instalada, as opções de tratamento são mais ou menos caras, mas incomportáveis. Por isso, aqui surge talvez a grande motivação para esta ideia do PM. Esta é uma ajudinha fundamental para que os Seguros de Saúde cresçam de forma exponencial no nosso país. Julgo até ser mais essa a necessidade de tal medida do que propriamente motivos orçamentais. Este Governo vai mostrando progressivamente aquilo que fundamentalmente é. Estes Ministros e PM (muitos deles com passado pela Banca e Seguradoras) são cada vez mais e apenas funcionários dos donos, os banqueiros. Bons servidores, diga-se.
Progressivamente destroi-se o Estado, converte-se em bébé. Alguns mais ousados, querem mesmo, depois, afogá-lo. Nós, os do costume, deixaremos (?) de pagar impostos ao Estado, passaremos a pagar os seguros de saúde, a Educação, as estradas e tudo o resto. E pagaremos certamente mais, porque além dos custos reais teremos, então, que suportar os lucros desses ramos de actividade. No limite, para o Estado, ficará a segurança, a defesa deste estado de coisas. Dessa não irão abdicar.
Mas isto será assim tão complicado, que temos que nos refugiar sempre nas conversas do futebol e ver as notícias cada vez mais ordinárias dos nossos telejornais?
Não perguntem se queremos pagar menos impostos. A resposta será naturalmente, não! A pergunta correcta será, querem melhores serviços de saúde? A essa a resposta será, sim! (Chomsky)

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