terça-feira, janeiro 31, 2006

O Aparelho

A direcção política do PS reuniu-se e decidiu não aplicar sanções aos militantes em função dos resultados ocorridos na eleição para PR. Ou seja Sócrates e o aparelho escaparam aos castigos merecidos! Sempre o aparelho a dominar...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Palestina

As forças do bem e do mal são uma simplificação necessariamente grosseira, uma definição do poder. Uns definem o bem e o mal, outros seguem a definição, outros como eu, mesmo que «tentados» a admitirem a possibilidade de existência de organizações terroristas, têm alguma dificuldade (mesmo muito grande) de admitir a existência de povos terroristas. Mesmo quando possam defender meios «terroristas» de acção, isso poderá dever-se apenas ao medo em que os fazem viver.

domingo, janeiro 29, 2006

Deslocalização (cá dentro lá fora)

(Imagem do chaparro com neve)

1. Desde quinta-feira que ando a viajar cá dentro, lá fora. Primeiro foi durante a manhã de quinta, quando na Aula Magna me informaram que agora tinha ao dispor uma biblioteca digital ao alcance de uns cliques. Não mais necessidade de assinar revistas, gastar milhares. Agora a parceria HSM-FML põe ao dispor dos seus funcionários envolvidos na prestação de cuidados aos doentes toda a informação útil disponível. Ainda não tentei, mas parece que estou lá fora, estando cá dentro.

2. A viagem até Vilamoura fez-se entre habituais conversas de circunstância e uma surpresa ao falarmos da Pátria. Percebo que esta minha insensibilidade pelo amor a um pedaço onde aleatoriamente nasci, será chocante e estranha para muitos. Realmente, acabo por me sentir bem mais identificado com os mesmos explorados de outras pátrias do que com os exploradores da minha. Ou dito de outra forma, a minha pátria cá dentro se calhar está lá fora, em muitos sítios. Uma Pátria grande, onde não há espaço para os gozos vaidosos de sermos os primeiros. É a história de preferirmos ser peixe grande em aquário minúsculo ou peixe maior e pequeno em aquário grande. Essa é a função justificativa das Pátrias: encher alguns egos.

3. Estes congressos cá dentro têm pouco factor de notícia. Só que em Vilamoura chovia. Isso deslocalizava-me, pois o paradigma algarvio não estava ali. Mas apenas isso seria pouco para ser notícia. Este ano a reunião era conjunta da SPEDM e da AACE, o que poderia já ser motivo de algum sentimento de estar lá fora, cá dentro. Acabou por ser causa de mais pátria. Chateia-me a subserviência ao Império. Se calhar nem existe, é apenas o ser-se simpático, mas quando se faz uma reunião luso-espanhola ou luso-brasileira, não me lembro da bandeira lusa morar por baixo da americana nos logótipos. Geralmente, andam lado a lado. Mas a verdadeira sensação de deslocalização foi a entrada na sala ao jantar. A alcatifa no chão, as mesas redondas, a banda no palco, o cenário completo e acabado do jantar de congresso em hotel americano. E a música a pretender ser jazz. No final, nem faltaram os discursos a que faltou a graça, como à banda, na verdade, faltou o jazz. Uma americanada pífia que me fez sentir num estado americano, mas fake. Não havia necessidade. E provavelmente, os americanos até teriam preferido ver algo de algarvio ou coisa assim. No fundo, é pouco provável que num próximo congresso nos EUA nos recebam com fado. Ao menos têm esse lado menos saloio. Geralmente, mostram-nos o seu primarismo sem complexos.

4. No regresso nevava em Alcácer a lembrar-me outras viagens no Colorado, onde a viagem começa com sol e aos poucos a neve vai cobrindo a beira da estrada e o gelo se acumula nos limpa para-brisas. Neve no Alentejo, para estar dentro e a sentir-me lá fora mais uma vez. Numa demonstração de que os mundos são muito iguais e que as diferenças terão de procurar-se noutros sítios ou no que a história foi fazendo às gentes que os habitam.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Crise, foi o que disse?

Vinte e quatro por cento de lucro, o melhor resultado de sempre (resultados Millenium 2005). Mais palavras para quê?

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Um dia depois

A evolução dos resultados das eleições foi bem curiosa. No início, traduzindo a votação das pequenas freguesias do interior do país, Cavaco ia bem destacado, quase ao nível das sondagens de há uns tempos. Depois, à medida que os votos do litoral e dos centros maiores foi tomando maior expressão, caiu, caiu quase até ao limiar do que seria a sua desgraça e teria tido imensa graça. Acabou a ganhar pela margem escassa que se viu. Mas isto é como no futebol, não interessa como se ganha e só há dois resultados que importam. Mas a primeira reflexão é esta, os mais abandonados, as gentes do interior ficam ainda deslumbrados com os Professores de Finanças. O outro ainda anda por cá muitos anos depois. A boa coisa, é que as coisas terão obrigatoriamente que mudar, porque não somos eternos, nem continuamos descalços.
Ainda me não tinha dado conta da incapacidade de Soares. Ele está em boa forma física, pensa bem aparentemente, mas, na verdade, faltou-lhe discernimento para recusar a armadilha dos cortesãos. Convenceu-se que bastava ter a corte, que menciona à exaustão, de intelectuais, artistas, pintores e outros doutores para ganhar. Tem um conceito aristocrático da política. Depois de ter há anos metido o socialismo na gaveta, pensava agora que lhe bastaria a corte, para fazer o seu passeio triunfal. Pecado original, esqueceu-se dos plebeus e que vivemos na República, onde os votos dos notáveis são iguais aos dos outros. A sua visão de um mundo pequeno e estreito não lhe permitiu ver mais amplo. Às vezes, escreve-se direito por linhas tortas e cá se fazem, cá se pagam. Merece, ainda assim, umas boas férias (espero que pagas pelo Engenheiro Sócrates).
De positivo, a vitória de Jerónimo no campeonato da esquerda que tem alguma semelhança com o que aconteceu a Cavaco. Louçã manifesta as preocupações elevadas dos filhos da burguesia, com complexos de esquerda, Jerónimo está mais perto do povo, é mais básico, não publica em revistas internacionais como o povo também não, não está assim tão preocupado com alguns lobbies da cidade a quem o povo chama nomes feios. E que é feito dessa imagem de linha dura que lhe davam os sábios da terra há uns tempos mais atrás?
De negativo, o episódio arrastão número 2. Falava Alegre, quando noutro lado, por uma coincidência do caraças, começou Sócrates a falar. Os jornalistas em bando subserviente foram arrastados para ouvir e fazer-nos ouvir o Engenheiro deixando Alegre a falar para os ouvintes daquela sala. Mais um case-study para alunos de jornalismo. Até parecia que o Manuel Alegre continuava a ser o terceiro candidato, como foi toda a campanha na palavra dos sábios comentadores.
E agora, que fazer no dia seguinte? Não me parece errado pensar que o país tinha esquerda que chegasse para derrotar o Professor na segunda volta. O que aconteceu ontem foi que alguma classe média relativamente bem na vida, decidiu punir o Engenheiro pelas recentes medidas que tem tomado. Funcionários públicos, professores, juízes, gente perto da reforma, não tem gostado desta governação e numa atitude fácil, decidiu castigar o Governo. Aliás, isso faz-me pensar que teria sido mais complicado a Alegre conseguir o que se conseguiu se tivesse o PS por trás. Corria o risco de ser ele o alvo da ira desgovernada daquela gente para quem Cavaco, afinal, nem é assim tão grande problema. Assim, apesar da derrota, houve uma oportunidade de criar alguma esperança de que as ideias e vontades de cada um não sejam assim tão desprezíveis e inúteis. Nos últimos meses, verificou-se que quando as ideias e vontades se juntam, algo nasce. Mas percebeu-se também que falta a máquina por trás. Na verdade, a campanha Alegre pode ter sido fundamentalmente uma comunhão de gente contra. Contra Cavaco, contra os aparelhos partidários, contra o facto de se ser velho, sem um programa bem definido, apenas unidos por esse cimento de se ser contra coisas que não gostamos. Se assim tiver sido, foi um erro sem grandes consequências. Mas pode ter sido também, um alinhamento à volta de ideias de solidariedade, de anti-neoliberalismo. Nesse caso, pode vir a ter pernas para caminhar. Compete aos socialistas que estiveram neste combate irem para dentro do Partido, obrigar à mudança de rumo, acreditarem que o caminho é para a esquerda e que o alvo do crescimento não são os descontentes rolha que ora viram para cá, ora se afastam. Isso garantirá alguns empregos de tempos a tempos, mas não a melhoria do país. Consolidar a esquerda à esquerda deveria ser o caminho. Sócrates, com poder garantido por mais 3 anos, devia igualmente apostar nesta via. Se o não fizer terá um destes dias um lugar honorário e bem pago numa qualquer organização internacional. Deixará o caminho aberto à maioria com Presidente de direita e a selva terá, então, um bom clima para se desenvolver na plenitude.

domingo, janeiro 22, 2006

60000 e tal

Por pouco mais de 60000, ele ganhou e nós perdemos. Precisavamos que tivesse aberto mais a boca. Mas cidadãos nasceram uns quantos, há que continuar. O pesadelo ainda seria maior se este fosse Presidente e o Santana Lopes PM. Um já foi, compete-nos despachar este dentro de alguns anos. Que a cidadania continue a avançar.

2745491

Dentro de seis meses vamos ver onde eles andam. São 2745491. Se então virem algum, digam-me.

Ele é o senhor Presidente

E cá está o Presidente de todos os portugueses. Sinta-se à vontade, as minhas acções nesta sociedade estão ao seu dispor. Não me agradeça, portanto. Curioso foi não haver aplausos quando disse ir ser o Presidente de todos os portugueses enquanto jurava a solidariedade ao Governo. O magote não gostou. Afinal como é, o gajo não vai arranjar um tachito cá pró pessoal? Esperem só mais uns mesitos... e depois falamos.

Maus sinais

Andam por aqui uns tipos do PS a dizer que o melhor candidato era o Mário Soares. São maus sinais, Como diz o outro, «quando a evidência está nas coisas e a inteligência não está nas pessoas, é isto, pouco ou nada há a fazer!»

Perdemos... A luta continua!

O discurso da direita vai ser agora dirigido contra Alegre, pelo receio de alguma inversão no rumo político da direcção do PS. Compete a Sócrates e aos amigos escolher, manterem-se mais 3 anos em aliança com o novo Presidente e perderem as próximas eleições ou fazerem a inversão de rumo e ganharem as próximas eleições e depois impedir Cavaco de estar mais 5 anos em Belém. Páro aqui. Esta imagem é tenebrosa, quase igual a ter D Duarte a representar o Estado.

Ainda mexe....

Cavaco tem 52% neste momento. Alegre 20,4%. Faltam 1000 e tal freguesias.
Se isto se não inverter definitivamente será bom reconhecer que foi uma derrota e ter o bom senso de resistir a tentações de continuar a dividir ainda mais a esquerda. Unir a esquerda com estes resultados significa também para Sócrates a obrigação de mudar de rumo, perceber que apesar dos seus erros o país é maioritariamente de esquerda. Dessa forma terá o apoio do povo da esquerda e o problema será eventualmente de Cavaco.

Pois... (real-time)

Podia ter sido hoje a tal segunda volta. Se tivesse sido, se o bom senso tivesse prevalecido, quem estaria agora em primeiro lugar nas projecções? Entretanto, no país mais pequenino, Cavaco vai em 54,5 (56 há bocado) e o Alegre em 19 (18 há pouco), ou seja como nos últimos dias, um desce e outro sobe. O tempo vai andando, a bandeira ainda espera para ser agitada.

Crime! Haverá castigo?

Muitas vezes me aconteceu sair dos filmes dele com a sensação de, uma vez mais vim ajudar a pagar-lhe a psicanálise. Woody Allen, realmente, deu-me com frequência a impressão de recorrer a esta forma de terapêutica ocupacional para se tratar. Fez-lhe bem ao que parece, já se notavam algumas melhorias no filme anual dos últimos anos, mas com este Match Point quase diria que está curado. É diferente em quase tudo, deixou de centrar o tema nas suas angústias (ou terá angústias novas), saiu de cena, mudou de cenário. Constroi uma história simples à volta de relações interpessoais, mas esse não parece ser o tema deste filme. Talvez pela primeira vez terá feito um filme com pessoas que não necessitam ser inventadas, estas pessoas existem e o filme é hiperrealista. Tendo por fundo essas relações fala-nos do papel da sorte nas vidas, dos valores e da culpa ou da falta dela. Interroga-se se existem sentimentos de culpa se o crime não tiver castigo num jogo de amoralidade em que o crime talvez possa ser perfeito. E se o for haverá sentimento de culpa ou haverá antes, alguma sensação de triunfo por se ter conseguido enganar os outros? Aquele ar confiante de, se não fosse para ganhar não estaria aqui! Retrato hiperrealista de uma sociedade amoral, onde o triunfo está ligado à especulação bolsista. Uma sociedade onde o crime, existindo, so o é, verdadeiramente, se for descoberto. Caso contrário é mérito, sinónimo de progresso e bem estar dos criminosos. Para cúmulo, há também neste filme uma aristrocracia que beneficia, sem sujar as mãos, deste estado de coisas enquanto vai caçando, frequenta a ópera ou afoga os seus vazios no álcool. A parte suja é feita por fantoches, yuppies devoradores das migalhas que sobram. Às vezes o controlo perde-se neste estilo de vida angustiado e infeliz. E cabe a nós decidir, se no final, a imagem à janela traduz algum sentimento de culpa ou, antes, a dúvida se o crime ainda virá a ter castigo. E cada um de nós terá, talvez, respostas diferentes.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Resistir!

A casa era grande e pobre o candidato. Ainda assim, não faltaram os amigos, com a tristeza compreensível da ausência dos muitos que se imagina existirem. Não havia bifanas, nem vinho tinto, nem autocarros. Assim, a casa fica demasiado grande. Mas candidato pobre em vez de dar, pedia. Pedia 10 euros pela entrada. E ainda assim, sem atocarros, sem bifanas e sem vinho tinto, tinha ali os amigos que acreditam. Amigos sem faixas impressas em agências publicitárias, com boas cores e letra de forma. Como dantes, as palavras iam escritas com letras a preto com a tinta escorrida. Escritas militantemente.
Só isso valeu a pena. E eu dei comigo, quase 30 anos depois a ir a um comício. Já valeu a pena. Esperemos por domingo à noite. Desistir seria grande falta de educação!
Desejos de um fim-de-semana o mais ALEGRE possível.
Citação:


«Que o poema vista de domingo cada dia

e atire foguetes para dentro do quotidiano.

Que o poema vista a prosa de poesia

ao menos uma vez em cada ano.

Que o poema faça um poeta de cada

funcionário já farto de funcionar.

Ah que de novo acorde no lusíada

a saudade do novo o desejo de achar.

Que o poema diga o que é preciso

que chegue disfarçado ao pé de ti

e aponte a terra que tu pisas e eu piso.

E que o poema diga: o longe é aqui.»


Deram-me ontem a bandeira que quero agitar domingo à noite. Vamos a isto!

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sempre a abrir!

Já falta pouco, mas a questão é de tudo ou nada, porque não há vitórias morais. O objectivo está bem definido: é necessário que não aconteça nesta terra o que aconteceu nos Estados Unidos. Hoje, parece claro para muitos, o que era menos claro há uns meses. Bush mentiu, Bush mente sempre que isso lhe interessa e ao grupo que o apoia. Cavaco, também! É importante que daqui a uns tempos, os crédulos de hoje se não sintam enganados. D.Sebastião basta um na história de um país.
Este é o combate, derrotar o Professor. E mesmo aqueles que se identificam com a esquerda consequente e normalmente estariam a apoiar Jerónimo no combate contra o Professor, necessitam de também de acertar na opção. A decisão é perceberem se lhes é indiferente Soares ou Alegre. Soares já foi uma vez sapo, hoje há uma alternativa. Por isso, a escolha nunca me foi difícil desde há muito. Porque é claro que no país saloio, não será Jerónimo nem Louçã que terão alguma possibilidade. esse seria um país de vanguardas. Resta saber até que ponto vai o orgulho saloio. Nos States foi até à reeleição. Queiramos que aqui não seja assim, sejamos Deuses por uma vez. Sempre a abrir!

quarta-feira, janeiro 18, 2006

--> = <-- (Ou o enigma d' OCAVACO)

«Há uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação - a construção ou renovação e a difusão consequente e multímoda de um grande mito nacional. De instinto, a humanidade odeia a verdade, porque sabe, com o mesmo instinto, que não há verdade, ou que a verdade é inatingível. O mundo conduz-se por mentiras; quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira que criou. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, por cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião.» (Fernando Pessoa)
O texto não é novo, mas continua actual. Acontece de tempos a tempos. Acontece agora numa variante curiosa que é o mito associado à amnésia, com uns posinhos de magia de ilusão de mudança. Tudo isto temperado com silêncio quanto baste. Uma receita que os mágicos do marketing consideram infalível. Mas é apenas isso, o mito por mais bem vestido qe o sirvam, não será nunca realidade. E na verdade, há coisas que não mudam. Quer o leiamos da direita para a esquerda, quer da esquerda para a direita O CAVACO, será sempre e apenas OCAVAC O. Igual agora ao que sempre foi, por mais artifícios cosméticos que o marketing lhe faça. O homem continuará realmente a mentir, quando trauteia a Grândola, quando não ouviu na véspera a entrevista do senhor Lopes ou simplesmente quando não dá crédito às sondagens que mostram a sua queda. E mentir, ainda mais com a sua falta de jeito, é coisa que fica muito mal a um presidente. Por uma questão de educação, mas também estética, compete-nos impedi-lo.

terça-feira, janeiro 17, 2006

O Mourito

Já não nos chegava o Mourinho, eis que agora se perfila aí um Mourito. Quer ser o treinador, imagina-se, do Governo. Mas este é especial (como o outro), porque se a equipa perder, quer mandar embora os jogadores. Toda a gente sabe que isto se não faz assim. Por isso é importante que o sujeito não comande a equipa a partir de domingo.

Pausa apátrida

Quando soube que em Portugal 2 milhões de pessoas vivem com menos de 350 euros por mês, entrei em reflexão.
Mais reflexivo fiquei quando ontem vi o princípio de um debate sobre a Pátria. Por mim não preciso de Pátria, mas de libertação daqueles 2 milhões e de muitos outros mais. O nome do país, a pátria são secundários. Até hoje, esta coisa da pátria só serve para se dizer que fomos os primeiros em Portugal (quando a façanha já foi realizada por quase todos os outros) ou que um nosso qualquer teve um qualquer feito lá fora (até deliramos quando um piloto de F1 fica em último com grande regularidade). Como eles diziam, somos saloios, mas, sinceramente, eu não fico particularmente feliz com isso. Da mesma forma que feliz não fico, com os muitos milhares de milhões que por esse mundo fora vivem com menos de 2 dólares por dia, muitos a fazerem aquilo que desfrutamos. Nem quero que a minha pátria sirva para manter esse estado de coisas.

sábado, janeiro 14, 2006

De encavacado a escavacado


Encavacado com a entrevista de Santana Lopes. Confesso, que é fotogénico o especimen, mas fico ansioso pelo próximo boneco no dia 22, quando vier ilustrar a imagem do escavacado.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Maus sinais

Nesta fase fazer uma afirmação como esta é já de muito mau prognóstico. Vivessemos num país de alfabetizados e não haveria possibilidade de alguém dizer este tipo de coisas. Governar bem para todos é uma boca sem qualquer tipo de sentido. Ele sabe que não é isso que se pode fazer. Governar será sempre escolher uma parte dos todos e tomar o seu partido. Não há volta a dar, os interesses de uns colidem com os de outros e a arte está em saber de que lado da barreira nos colocamos. É que a luta de classes não se extingue por decreto ou por desejo, ela existe. E nem é preciso procurar muito. Por exemplo, governar para o bem de todos é propor aumentos de 1,5%, como hoje faz o senhor ministro das finanças? É a perguntas destas que o senhor professor deveria responder, sem evasivas, em vez de atirar bocas non sense para o ar.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Cidadania - a nova descoberta no país dos mudos

Naquele país, agora reinam os mudos. Deve ter-se tratado de uma adaptação genética, fruto de mecanismos de selecção natural. Depois de cerca de 50 anos de mutismo, ficaram surdos. Ouvir de nada lhes servia, já que não podiam falar. Pouparam assim uma função. Os mudos dão aos lábios, mas os sons não saem. Fazem apenas que falam, sem dizerem rigorosamente nada. Depois são os eleitos dos surdos. Como sempre acontece nestes processos, há uns quantos que não adquirem a tara e neste caso, alguns continuam a falar. São os marginais. Necessariamente condenados ao insucesso (segundo as sondagens) pois, no país dos surdos, só a voz dos mudos pode ser ouvida.
Naquele país, não ficaram apenas surdos. Também ficaram sem gosto. Até se diz que é uma pátria de desgostosos.
Naquele país, além de surdos e sem gosto, também perderam o tacto. Incapazes de se sentirem apalpados, continuam a sê-lo à fartazana, mas já não sentem e muito menos ainda lhes resta a vontade de apalpar alguma coisa.
Aliás, naquele país, alguns até já nem querem ver, o maior desejo que têm é mesmo ignorar a realidade. E, assim, avançam determinados para a cegueira.
Naquele país, o imobilismo cresce, a podridão avança, lançando um cheiro fétido no ar. Alguém já disse mesmo tratar-se de um pântano. Mas, naquele país, também já perderam o olfacto. Uma adaptação fundamental para se poder viver no meio da podridão.
Naquele país, foram-se já os sentidos todos. Resta só saber se faz sentido um país onde os que lá estão já não têm sentidos.
Como no Astérix, contudo, naquele país, ainda há, num cantinho, um quadrado que resiste. Um grupo de cidadãos que escapou a esta epidemia de liquidação dos sentidos. Segundo as vozes da ciência, terão em circulação uma substância (cidadania), recentemente (re)descoberta, que os protegeu e lhes permitiu resistir e continuar a serem Cidadãos. Esperam conseguir disseminar esse produto a muitos outros, ressuscitando-lhes os sentidos, a tempo de evitar, uma vez mais, a vitória dos mudos.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Reformas

Estamos a atingir um limiar de irracionalidade em que a argumentação está cada vez mais desvalorizada face à afirmação de direitos inalienáveis. Eu não quero saber (da viabilidade, das possíveis soluções), quero é que me dêem aquilo a que tenho direito (divino?). Foi nesta base que hoje me argumentaram contra a ideia de alterar os regimes de pensões. Não importa apresentar soluções para o problema, eu quero é o meu e o resto que se lixe, que anda por aí muito menino a safar-se e eu a ver! É nesta selva bárbara que desagua a corrente da ideologia individualista que nos têm propagandeado nos últimos tempos. Mas, quer queiram quer não, tem de ser encontrada uma solução que esta coisa da matemática é mesmo lixada e não permite falácias nem retórica. Uma solução que não seja a criação de esquemas que aproveitem ainda mais a alguns, aos mesmos de sempre, do tipo de criação de uma alternativa privada que implicará sempre a necessidade de criação de lucro, ou seja, teremos de pagar mais para receber o possível, nem que implique o sacrifício de uma geração, aquela que se reforma dentro de 10 a 15 anos, com manutenção de privilégios dos que nasceram por acaso uns anos mais cedo. Neste caso parece ser razoável a criação de um tecto para as reformas, obviamente, com efeitos retroactivos, implicando, se necessário, a suspensão de acumulações de reformas ou mesmo o seu pagamento quando se continua a ter rendimentos por continuação da actividade. Não se poderá é actuar de forma cega, afectando um grupo em detimento dos benefícos mantidos aos outros.
Por exemplo, se chegassemos à conclusão que o nível máximo de reforma seriam 3500 euros por mês (dez vezes o ordenado mínimo, isto é, pagar por não trabalhar, 10 vezes mais do que se paga a quem trabalha), o Professor Cavaco, deixaria de poder auferir da sua tripla reforma (Banco Portugal, ex-PM e professor) de mais de 9000 euros, para ter apenas 3500 (se fosse eleito, com o vencimento de PR, deixaria de ter reforma por o vencimento já ultrapassar o tal plafond). Só para dar um exemplo de um cidadão que se diz preocupado com esta coisas...

terça-feira, janeiro 10, 2006

Boa educação

É bom quando ele fala. Hoje disse mais esta pérola. Para bom entendedor, pode já imaginar-se o relacionamento construtivo que ele se propõe ter com o Governo. Ao contrapor as afirmações do Minsitro das Finanças feitas ontem, o Professor refere simplesmente que são necessários ESTUDOS SÉRIOS. Ou seja o Ministro faz afirmações menos sérias, não é, candidato a Presidente? Bastam meia dúzia de sondagens bem orientadas e as unhas começam a ficar de fora, o homem começa a mostrar-se para além do script que lhe desenharam. Esta é a guerrilha que se avizinha, emboscada atrás de emboscada, crítica atrás de crítica como, aliás, bem se percebe no post de hoje do Abrupto. Desenfadado, JPP, esfrega já as mãos com imaginações de revanchismo à vista.
Entretanto, Soares já chama a si a responsabilidade da derrota. Seria altura de levar a ideia às últimas consequências e deixar campo aberto à única verdadeira alternativa da esquerda.
Cada vez mais me parece que é verdadeiramente uma questão de boa educação votar Manuel Alegre.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Campanha triste

Curioso seria ver o momento em que recolhidos ao fim do dia, passam pela cabeça as imagens do que foi a caminhada das últimas horas. As caras encontradas no estaleiro, no mercado, na baixa da cidade. A necessidade de fingir afectos inexistentes, de contactar os cheiros que se não procuram. Daqui a uns meses lembrarão as viagens de transporte público, as caminhadas, os beijos e abraços e que pensarão? Haverá ainda espaço para a reflexão, um bocadinho em que digam para si, que raio de figura que ando a fazer?
Há, no entanto, momentos altos. como aquele de ouvir Cavaco apelar ao diálogo e necessidade de concertação social. É o insólito absoluto. Ou laranja com muita Vodka.

domingo, janeiro 08, 2006

Estado

"O Estado não é, de forma alguma, uma força imposta, do exterior, à sociedade. Não é, tão pouco, “a realidade da Ideia moral", “a imagem e a realidade da Razão como pretende Hegel. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento. É a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição interna, se dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode desvencilhar-se. Mas, para que essas classes antagónicas, com interesses económicos contrários, não se entre devorassem e não devorassem a sociedade numa luta estéril, sentiu-se a necessidade de uma força que se colocasse aparentemente acima da sociedade, com o fim de atenuar o conflito nos limites da “ordem”. Essa força, que sai da sociedade, ficando, porém, por cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o Estado”.

Eis, expressa com toda a clareza, a idéia fundamental do marxismo no que concerne ao papel histórico e à significação do Estado. O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável das classes. O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as contradições de classes são inconciliável das classes. O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as contradições de classe são inconciliáveis.
Vem isto, de alguma forma, a propósito do post precedente e para se entender que nada surge por acaso. É curioso como o neoliberalismo faz a apologia do menos Estado, quando só com ele beneficia. Na verdade, querem o reforço do seu Estado para poderem manter o chamado estado das coisas.

Negligência de Estado

Cada 3 em 4 vezes que se come fora, a cena repete-se. Na altura da conta dão-nos um papel, que não é factura. Factura só a pedido. Este hábito de desperdiçar papel acabaria no dia em que a Lei estabelecesse penalização avultada para quem não fornecesse à primeira a factura. Era simples, meia dúzia de linhas no DR. Por que não está feito?

sábado, janeiro 07, 2006

Lamento

Fotografia no Expresso de hoje.
Isto é, claramente, um jornalismo rasca! É também a demonstração do poder de um dos donos do Poder, a quem a meio da semana Soares importonou, chamando a atenção para a campanha contra a sua campanha. Uma reacção, muito possivelmente motivada pela passagem da resposta que deu há dias em altura de cansaço e que um mínimo de seriedade jornalística teria ocultado. Na verdade, o homem não deve ser eleito Presidente por estar velho (que até nem está tanto assim), ele não deve ser eleito porque as suas ideias não servem, porque está a ser apoiado pela ala direita de um Partido que se quer ver livre dele, empurrando-o para a frente. Em certa medida apostam no seu lado bonacheirão e deixa andar, que permitiria se fosse eleito continuar, a lamentável política de direita do Socratismo. Esse seria o risco da sua eleição, a facilitação das orientações direitistas deste executivo. Por isso, é Soares tão apoiado por alguns financeiros.
Na prática, ao insistirem na ideia da incapacidade de Soares, pode até ser possível que acabem por aumentar o peso da única alternativa de esquerda nesta eleição. Mas também não é por essa via que Alegre devia lá chegar, mas, e somente, pela afirmação de que há uma esquerda que não mete o socialismo e a solidariedade na gaveta, que existem mais mundos e histórias para além da oficial.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Crossroads

Alcochete é a imagem de um arrabalde de uma cidade americana. Foi assim que a vi ao chegar ao Freeport. O fim da ponte, as gasolineiras à saída, as marcas nas áreas de serviço, a ausência de tudo. Marcas e mitos no vazio do consumo.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Diferentes e iguais

Tenho alguma dificuldade em perceber a celebração da morte de alguém, mas a história fornece pistas (não atenuantes, contudo) para o seu entendimento. O sujeito da morte desejada pelos palestinianos foi aquele que, tempos atrás, pedia desculpa de não ter morto o seu líder anos antes.
Mas o que os motiva (a uns e aos outros) não é muito diferente. Uma forma absurda de obscurantismo, a visão maniqueísta de um mundo de forças do bem e do mal. Depois, tudo acaba de uma forma bem democrática, à qual ninguém sabe escapar, porque ainda há alguma coisa que se não compra para tranquilidade dos que pouco têm. Chegada a altura, as diferenças esbatem-se e tudo acaba de forma bem igual. Podemos imaginar o reencontro e pensar se não haverá lugar para auto-crítica.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Intervalo

Tinha a pachorra de esfregar o chão comigo às cavalitas. Que descanse agora.

Dois reparos

O ministro veio hoje dizer-nos que daqui para a frente tudo vai ser diferente. Como na cantiga. Veio dizer que sabe ouvir, mas na hora de decidir, é ele quem o faz. Diz ele, porque em democracia tem capacidade de decidir quem o povo elegeu. Irrepreensível em tese. Mas não poderá esquecer-se que na tal democracia, há igualmente o dever de cumprir o programa que determinou a escolha, porque nem queira saber como reagem os enganados. E como a história recente bem tem mostrado, os eleitos de hoje, são os demitidos de amanhã. A memória às vezes é curta, mas a capacidade de reacção é a última a morrer.
Depois, subitamente, na cerimónia que já estava a ser chata, acordou a sala. Informa-nos que andam a ameaçar o Conselho de Administração!! Ele sabia muito bem que essa ia ser a notícia. Teria sido necessário ser o Ministro a dá-la? Com esta saída, penso que saberia que ninguém mais iria discutir a EPE (ainda não sei se o E primeiro, é de entidade ou empresa, ou se isso tem alguma diferença...). Logo, nas notícias era o crime prometido e anunciado por ele, que iria ser a notícia. Perdeu-se assim a oportunidade de divulgar o significado da sigla e, fundamentalmente, explicar qual a diferença que se anuncia e que assim continua promessa oculta em nevoeiro. Mas mais grave, atirou para o ar uma suspeita que recai sobre mais de 5000 funcionários. Noutras ocasiões partiu cadeiras, hoje mostrou um estilo tipo 24 horas, cheio de pressa de fazer notícia, quando a verdadeira só o será quando a Polícia nos contar o que se passou. Julgo que não haveria necessidade e foi gratuito. Ou haverá algo de mais maquiavélico por trás deste incidente? Estará a preparar alguma para o que necessita de ter algum clima propício?
Estariam cerca de 300 pessoas na sala, logo, gastaram-se 300 horas mais coisa menos coisa? Será que valeu a pena?

terça-feira, janeiro 03, 2006

EDP

Acho sempre comovente esta preocupação com a necessidade de manter a influência portuguesa nas decisões das empresas importantes. Primeiro, privatizam, depois entusiasmam-se (para não dizer que dão outras coisas) com a economia global, a livre concorrência e outros mitos de que tanto gostam, depois invocam os santos porque há trovoada. Se há empresas de sectores estratégicos que devem manter-se sob orientação nacional, o caminho é simples, garantir capital maioritariamente do Estado.
A independência depende da capacidade de decisão e esta da posse dos bens. Em troca de migalhas, como no século XIV, uma burguesia sem princípios nem pátria, nega o Estado em benefício próprio, ao sabor das conveniências (basta lembrar a história do Totta e Champallimaud).
Vai ter novamente que ser a arraia miúda a matar os novos Andeiros. As independências hoje, não se definem por linhas de fronteiras terrestres, mas mais por conceitos de evolução histórica. Patriota, da minha pátria, é quem puser areia nas engrenagens do liberalismo, quem o conseguir fazer gripar. Esse é o caminho. Ainda temos algumas acções no Estado, nas empresas mandam os accionistas que não somos. Garantir o Estado é a melhor forma de preservar a independência, isto é, a nossa capacidade de decidir.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Ritmos e azuis

A paisagem era de fim-de-semana, sem filas de trânsito, na transmissão de uma irrealidade, tanto mais que estamos em crise. De vez em quando há esta espécie de feriados auto instituídos. Noutras alturas de crise, faziam-se jornadas de trabalho voluntário ao domingo, num sentido de existência colectiva. O ano inicia-se tranquilo por entre desejos automáticos de prosperidade, mas, se nada mudar, fica a amarga certeza de que a prosperidade de uns quantos será feita, novamente, à custa da precaridade da maioria. E este é um sentido errado para a história. Ainda não desisto de o achar.
A partir de hoje trabalho numa empresa pública do estado. A Santa Maria estilizou-se na imagem e continua pública, sabendo-se que do Estado já seria. A dúvida é a inovação da empresa. Uma dúvida grande ainda assim.

domingo, janeiro 01, 2006

Nuvens (exactamente como noutros dias)

Tolerar-se-á a recorrência da mentira pela incapacidade de aceitar a verdade, a realidade do dia-a-dia. Dá, assim, jeito fixarmo-nos nestas circunstâncias circulares dos tempos e imaginar recomeços, no que na verdade são continuações. Nada de substancial acontece que motive os clarões de luz na noite entre Dezembro e Janeiro. Apenas a ilusão de que se carece, para a dor dos dias ser, episodicamente, aliviada. De outro modo, apenas os rubicundos rostos dos Casinos sorririam no aplicar das marteladas nas carecas dos vizinhos e a Praça do Comércio estaria praticamente vazia. Hoje, porém, faz-se um dia de pausa, o que já é de saudar.