(Imagem do chaparro com neve)
1. Desde quinta-feira que ando a viajar cá dentro, lá fora. Primeiro foi durante a manhã de quinta, quando na Aula Magna me informaram que agora tinha ao dispor uma biblioteca digital ao alcance de uns cliques. Não mais necessidade de assinar revistas, gastar milhares. Agora a parceria HSM-FML põe ao dispor dos seus funcionários envolvidos na prestação de cuidados aos doentes toda a informação útil disponível. Ainda não tentei, mas parece que estou lá fora, estando cá dentro.
2. A viagem até Vilamoura fez-se entre habituais conversas de circunstância e uma surpresa ao falarmos da Pátria. Percebo que esta minha insensibilidade pelo amor a um pedaço onde aleatoriamente nasci, será chocante e estranha para muitos. Realmente, acabo por me sentir bem mais identificado com os mesmos explorados de outras pátrias do que com os exploradores da minha. Ou dito de outra forma, a minha pátria cá dentro se calhar está lá fora, em muitos sítios. Uma Pátria grande, onde não há espaço para os gozos vaidosos de sermos os primeiros. É a história de preferirmos ser peixe grande em aquário minúsculo ou peixe maior e pequeno em aquário grande. Essa é a função justificativa das Pátrias: encher alguns egos.
3. Estes congressos cá dentro têm pouco factor de notícia. Só que em Vilamoura chovia. Isso deslocalizava-me, pois o paradigma algarvio não estava ali. Mas apenas isso seria pouco para ser notícia. Este ano a reunião era conjunta da SPEDM e da AACE, o que poderia já ser motivo de algum sentimento de estar lá fora, cá dentro. Acabou por ser causa de mais pátria. Chateia-me a subserviência ao Império. Se calhar nem existe, é apenas o ser-se simpático, mas quando se faz uma reunião luso-espanhola ou luso-brasileira, não me lembro da bandeira lusa morar por baixo da americana nos logótipos. Geralmente, andam lado a lado. Mas a verdadeira sensação de deslocalização foi a entrada na sala ao jantar. A alcatifa no chão, as mesas redondas, a banda no palco, o cenário completo e acabado do jantar de congresso em hotel americano. E a música a pretender ser jazz. No final, nem faltaram os discursos a que faltou a graça, como à banda, na verdade, faltou o jazz. Uma americanada pífia que me fez sentir num estado americano, mas fake. Não havia necessidade. E provavelmente, os americanos até teriam preferido ver algo de algarvio ou coisa assim. No fundo, é pouco provável que num próximo congresso nos EUA nos recebam com fado. Ao menos têm esse lado menos saloio. Geralmente, mostram-nos o seu primarismo sem complexos.
4. No regresso nevava em Alcácer a lembrar-me outras viagens no Colorado, onde a viagem começa com sol e aos poucos a neve vai cobrindo a beira da estrada e o gelo se acumula nos limpa para-brisas. Neve no Alentejo, para estar dentro e a sentir-me lá fora mais uma vez. Numa demonstração de que os mundos são muito iguais e que as diferenças terão de procurar-se noutros sítios ou no que a história foi fazendo às gentes que os habitam.
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