sábado, julho 16, 2005
Mercado das Caldas
Tem o ar de mercado Árabe, com o presunto ao sabor da mosca e bancas de queijo que se prova à fatia. As vendedoras continuam refractárias à depilação. Há aquela mistura de charcutaria, com as batatas e a fruta, tudo à sombra de uns chapéus e pouco depois das duas tudo fica despido, desaparece, as caixas vazias. Até ainda há fruta vinda dos pomares ali à volta, misturada já com aquela outra normalizadinha chegada de Espanha. Alguns pêssegos ainda recordam, no aroma, os outros do tio Carmo. Os grandes, apanhados na árvore, directamente. Naqueles encontros de colheitas, aos fins-de-semana, que tinham viagem até Cacilhas e depois o autocarro que nos levava ao Casal do Marco, antes dum passeio higiénico até à quinta. E neste misto de transportes íamos todos, só pelo gosto do encontro, à volta do almoço com produtos da quinta e do vinho da casa. Por vezes também o banho no tanque. Nessas minhas alturas de puto, apreciava o sistema de rega, herdado dos Árabes e ainda pude ver o macho em acção, na activação dos alcatruzes. Depois, a pouco e pouco, vieram os motores e foram-se os machos. Também a animação da viagem, progressivamente, foi sendo substituída pelo tédio das filas a caminho da ponte. A aproximação, foi cavando a distância. O aparecimento dos doutores naquele meio, foi a sentença final na proximidade. Acabou. Com a chegada dos adubos, dos motores, foi-se também o cheiro e o sumo dos pêssegos. Reencontro-o hoje, de súbito, neste mercado das Caldas. Têm a aproximação, sem serem iguais. E falta tudo o resto. Tenho a sorte de ter vivido em tempos que me fazem, ao menos, ter consciência das diferenças e perceber que há mais mundos.
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