quinta-feira, setembro 30, 2004

É preciso ter cuidado

Até é razoaável que o autoclismo depois de funcionar regularmente, várias vezes por dia, durante 10 anos, comece a manifestar algumas insuficiências, como deixar de obedecer quando se puxa o manípulo ou então recusar-se a vedar a água nos intervalos das descargas. Não sei qual deve ser o período de vida média destes sistemas, mas parece-me, ainda assim, razoável. Afinal, as casas tem garantia de 5 anos e o autoclismo já funcionou durante 10. Este é daquele tipo que nos apoia as costas enquanto lemos o jornal em pleno esforço, muito mais fácil de abrir do que os outros que moravam dentro das paredes (decididamente só acessíveis a profissionais), uns que vieram substituir aqueles outros que moravam perto do tecto e tinham uma corrente metálica que terminava num manípulo de loiça que a gente puxava para desencadear a descarga. Um destes dias espero que estes voltem a ser moda, já se vai perceber porquê.
Dentro daquela ideia de flexibilidade e polivalência que os nossos gestores globalizantes nos apregoam, decidi ir consertar o velho autoclismo tipo mochila.
Destapado o objecto, logo concluí que o tubo de descarga (para os menos entendidos, um tubo cilíndrico que enrosca no fundo da mochila, sensivelmente ao centro) era o órgão em falência. Como a construção civil é uma ciência muito mais avançada do que a Medicina, imaginei ser fácil o transplante. Foi ir ali ao AKI e adquirir um sistema de descarga pela módica quantia de 8 euros, mais parque de estacionamento e cerca de uma hora; pois já que se lá está tem de ser dar uma volta na Fnac... Absolutamente garantido, sistema universal. Nada mais simples.
Mas atenção, um sistema de descarga colocado in situ durante 10 anos, cria raízes. Os dedos não chegam para desapertar a rosca que o fixa por baixo da mochila. Ainda se tenta, uma e outra vez, até com uma chave daquelas tira-teimas que anda no jeep, mas a coisa carece de instrumento de profissional. Espera-se que o marido da porteira nos traga uma chave como deve ser, que chega à noite. Primeira vitória, a rosca começa a ceder e depois de começar, o resto até vai à mão. O sabor da vitória começa a desenhar-se. A propósito de vitória, neste momento, já o Mourinho mostrava ao Pinto da Costa, que a arrogância só por si não basta, funciona melhor com uns milhões de um russo rico à pressa. Eu que andava cheio de vontade de ver o Mourinho perder, percebi naquela altura e depois de ter ouvido o grande Dragão (os outros já eram história, bláblá...), que o resultado certo da minha satisfação até seria o empate. Dos dois que venha o diabo e escolha. Pois é, não há jogos ganhos antecipadamente. A coisa começa a complicar-se, quando colocada a rosca no orifício central, pouco sobrava para aplicar a rosca fêmea colocada no tubo que vai unir este sistema de descarga à sanita. Afinal, isto de universal era boato e o comprimento é na verdade importante, ao contrário do que às vezes apregoam. De momento, já nada mais havia a fazer que não fosse ir dormir sobre o assunto e esperar que hoje encontrasse uma rosca mais comprida.
Depois de umas voltas por várias lojas, agora do chamado Mercado tradicional, lá encontrei um canalizador de loja aberta que me arranjou uma rosca mais comprida. Doze euros e meio, mas era agora! Satisfeito com a descoberta, corri para casa, direito ao autoclismo, cheio de vontade de terminar a tarefa. Oooops, a rosca é grossa de mais. Se calhar é da natureza das coisas, quando são mais compridas, são mais grossas. Não passa pelo foramen magnum da mochila. A desilusão acontece assim depois de umas largas horas em que tive a triste ideia de ser polivalente e flexível. Não, vivemos numa sociedade de especialistas, a cada um a sua tarefa. Vou chamar o canalizador?
Ainda não sei, há uma loja nas Caldas com bons sistemas de autoclismos. Acho que ainda vou tentar os das Caldas.
Moral da história: isto da flexibilidade e polivalência tem muito que se lhe diga. Se podemos brincar com o assunto neste contexto, a coisa torna-se mais séria quando alguns administradores hospitalares acham que qualquer especialista pode ver todas as doenças, independentemente da sua formação. Chegam a pensar que um gastrenterologista é um técnico perfeitamente capacitado para ver enfartes do miocárdio ou que um cardiologista pode muito bem tratar hemorragias digestivas. Quem não perceber esta alusão que não vá a certas urgências hospitalares... Deixemos as brincadeiras para a bricolage onde os buracos podem ficar destapados ou ainda acabaremos por enfiar alguém nalgum buraco.

quarta-feira, setembro 29, 2004

Incómodo

Avançou sereno para mim abordando-me na rua. O clima está criado, de tal modo que quando alguém, assim, se aproxima de nós, instintivamente reforçamos as defesas. A pele escura denunciava-lhe a origem. «Desculpe lhe incomodar, mas não terá umas moedinhas?» Claro, que incomoda, incomoda-me este tempo onde isto continua a acontecer. Lembrei-me, então, de em criança virem pobres bater à porta de casa. Atestadamente pobres pelos andrajos que envergavam. Nesse tempo a minha avó sempre lhes dava uma sopa ou um pão com marmelada, daquela que ela própria fazia e logo me avisava que nunca se dava dinheiro. Mata-se a fome, não se promevem vícios. Nesse tempo, ainda assim, havia uma assumpção plena do estado de miséria. Hoje, quando o vi dirigir-se para mim, vestido normalmente, até com algum gosto, senti que se envergonhava do estado em que o puseram. Certamente, não teria sido para isto que atravessou o Atlântico. Resignadamente, não queria incomodar.
Parece que foram ocupadas três vagas de imigrantes e isto é mesmo muito incomodativo. Como é possível que continuemos a ter comércio de escravos ou não serão esclavagistas os empresários que optam por imigrantes clandestinos em vez de os preferirem legalizados e com direitos? Incomoda a não correcção deste estado de coisas, incomoda a xenofobia de uns quantos. Não, você, não incomoda e foi bom tomar um café para acordar, enquanto você, Dario, comeu a sua sandes de fiambre. Moedinha, não, já minha avó me dizia. Mas isto incomoda-me!

terça-feira, setembro 28, 2004

Minoria representativa

Um inquérito do Público mostrou que 41% dos que responderam são contra o fim do sigilo bancário para fins fiscais. A maioria (59%) são a favor. Em resumo 4 em cada 10 portugueses têm esquemas secretos que lhes convém não mostrar. Por causa deles 6 em cada 10 estão, possivelmente, a pagar mais impostos do que deviam. O problema é que os 41% devem ser constituídos de uma matéria diferente dos outros, qualquer coisa de inatacável. Certamente, pertencem a uma casta especial e superior e tem ligações ao poder.

Faz de conta

Pois é, assim é que seria. Só uns dias, de sol a sol, para terem uma ideia mais exacta daquilo a que chamam geralmente a outra gente.
João Cardoso nem gosta de pensar em como a sua agricultura vai ser maltratada: “Essa malta devia era vir para aqui trabalhar um dia, para verem o que é bom. Punha-os aí a puxar a terra de um lado para o outro, a ver se aguentavam. Ao fim da manhã de certeza que já se queriam ir embora”.
O gozo seria não os deixar ir. Esse programa eu ficaria a ver.

segunda-feira, setembro 27, 2004

Vale a pena ler

Nicolau Santos, Expresso:
Adoecer e fumar faz bem ao défice

Na sua genial campanha para tornar mais justa a sociedade portuguesa, o Governo vai fazer os ricos pagarem sempre que recorram ao Serviço Nacional de Saúde - e, ao mesmo tempo, prepara um aumento extraordinário do preço do tabaco e, provavelmente, também sobre as bebidas alcoólicas, que, como se sabe, são hábitos dos ricos.
Na semana passada, já o ministro das Finanças tinha descoberto que os 30% mais ricos do país investiam em PPR, PPR-E, PPA e Contas Poupança-Habitação - pelo que vai cortar os benefícios fiscais para os ricos que subscrevam estes produtos.
Agora o primeiro-ministro descobriu que os ricos passam a vida nos hospitais públicos, pelo que os vai fazer pagar mais pelas doenças que tiverem. É claro que há ricos a dizer que já pagam mais impostos que os pobres, precisamente para que por essa via se faça a redistribuição da riqueza na sociedade. E outros a afirmar que quem vai pagar mais nos hospitais públicos não são os ricos em geral, mas apenas os ricos que estão doentes - ou seja, quem fica doente é duplamente penalizado, porque ficou doente e, além disso, porque paga mais porque ficou doente. Por outro lado, como se sabe, estes ricos são os que pagam impostos porque trabalham por conta de outrém (são os mesmos que subscrevem os PPR e por aí fora), o que não quer dizer que sejam verdadeiramente os mais ricos do país, mas os que pagam mais impostos, porque a eles não podem fugir.
Pouco importa: este Governo Robin dos Bosques que nos governa quer decididamente acabar com estes 30% de ricos, a quem há quem chame classe média, para dar aos pobres. E assim o ministro das Finanças prepara um grande aumento do tabaco, cujo maço pode chegar aos 5 euros. O ministro já sabe que quem fuma são os ricos. Por isso, há que taxar-lhes fortemente o vício.
E assim se chega ao fim da genial estratégia do Governo: aumenta-se o tabaco, que os ricos fumam. Estes, como são ricos, continuam a fumar, pelo que haverá mais receitas fiscais para o Estado, o que permitirá a redução do défice. Mas, ao fumarem tanto, os ricos hão-de vir a ter problemas pulmonares. Nessa altura, terão de recorrer aos hospitais públicos, onde pagarão mais que todos os outros utentes. E assim o Estado terá imenso dinheiro tirado aos ricos para distribuir pelos pobres. Como é que ninguém se tinha lembrado disto antes? E como é que ninguém se tinha lembrado de lançar o lema «Adoecer e fumar faz bem ao défice»?
É claro que pode haver sempre o problema do contrabando de tabaco subir em flecha ou os ricos desatarem a ir a Espanha comprar os maços (e, já agora, uns charutos, que lá também são mais baratos). É claro que os ricos podem também pensar que o melhor é mesmo recorrer a seguros privados e tratar-se em hospitais privados. E lá se vai a genial estratégia do Governo. A não ser que, afinal, o Governo queira apenas destruir o Serviço Nacional de Saúde. Também é uma hipótese. E assim pode ser que consiga.

São Miguel, Açores

São Miguel é uma ilha bonita perdida num tempo distante onde as vacas pastam pachorrentamente pelas encostas. Sabe bem de vez em quando ir a um sítio destes, contactar com discursos a que já nem estamos habituados, sentir o outro tempo. Mas fica também alguma tristeza que advém de, afinal, não gostarmos de estar nesse passado. Sobretudo, quando se percebe que esse estar é o que permite a uma minoria de outros estar noutro patamar de estar .

Quando lá estive a primeira vez, o temporal deixou-me uma imagem cinzenta do lugar. Desta vez gostei da volta em oito que dei pela ilha de verde e de lagoas. De Ponta Delgada à Lagoa do Fogo e depois Ribeira Grande, fábrica do chá Gorreana, Lagoa das Furnas e regresso por Vila Franca do Campo. IDepois a subida pelo Pico do Carvão até à vista do Rei para ver a Lagoa das Sete Cidades (cinzentona, nada de lendas de amantes de olhos verdes e azuis) e resto do percurso por Mosteiros (com paragem a ver o sol ainda alto e sobre a lava enrolada pelas ondas)e Ponta do Escalvado (para ver os calhaus dos Mosteiros lá ao longe). Incansável o guia ia falando do chá verde e do preto (Orange Pekot, o mais aromático; Pekot o mais intenso e o Broken Leaf), dos portugueses que descobriram, ou melhor, redescobriram os Açores (estaria a ilha habitada por coelhos? ou haveria algum Sr Coelho, não percebi), de fumarolas e energia geotérmica, da evolução económica com histórias de laranjais e vacas e quotas da UE, que irão provavelmente, substituir as vacas por camas. Somos um país produtor de paisagens e fazemos as camas para o resto do mundo se cá vir deitar. Parece ser esta a sina do povo que dizem não produz.

Ou não. Ouvi alguém dizer que até nem faltamos ao trabalho, até trabalhamos mais horas que muitos dos ricos povos. Mas li no Expresso que somos cada vez mais deficientes (pelo menos nas declarações do IRS...). Os dados são contraditórios.

Este foi também o fim de semana que deu à Esquerda o líder que a Direita gosta. Pena, que eu andava a gostar de ouvir um político, o Manuel Alegre, dizer o que pensa, simplesmente, sem pensar no impacto do que dizia. Gostei do estilo. Se um dia lhe passar pela cabeça candidatar-se a PR, poderá muito bem ter o meu apoio. Aliás, acho que um Presidente poeta ficava bem a este país.

País da tristeza bárbara em que parece que uma mãe mata a filha por uns euros.

Talvez bonito, mas com a angústia presente de se estar sempre a chegar ao mar. Um mar grande, constritor. Não, não sirvo para viver numa ilha assim. Curioso, como é boa a vista do mar quando temos muita terra pelas costas!

E nas notícias que ouço dizem-me, que numa terrinha nem sei onde, a população atribui milagres à água que o Delegado de Saúde diz estar contaminada. Depois disso, os jornalistas, ouvem a população falar das virtudes da água, pondo em causa a informação do DS e do Presidente da Junta. Quando houver diarreia, espero que sejam os jornalistas a limpar! Basta de ser asséptico. Até quando teremos nós que aturar estes intelectuais independentes dos senhores jornalistas?

quinta-feira, setembro 23, 2004

Jogos

Uma consulta pode também ser um momento de observação privilegiado. Às vezes acontece um jogo cruzado de observações em que a conversa começa a esbater-se e nos focamos basicamente na análise das reacções do doente ou dos acompanhantes e na ideia que fazemos do que estão a pensar de nós. Tentamos adaptar-nos e através da conversa melhorar o conforto que podem usufruir da conversa. Muitas vezes, a consulta deixa de ser uma análise técnica que termina numa tomada de decisões e, muito mais do que isso, fica este jogo. Por isso, temos a certeza de que nunca poderemos ser substituídos por um qualquer programa e esse facto garante—me algum conforto.
Na verdade, esta actividade, é do prazer deste jogo que precisa. A dificuldade é saber transmitir este prazer a quem tem de se dedicar a esta profissão; muitas vezes mais embrenhados em pormenores técnicos de diagnóstico e tratamento, esquecem esta coisa simples que é ser-se pessoa em relação com outras pessoas.

quarta-feira, setembro 22, 2004

Percebo cada vez menos deste país

1. Não percebo. Então se contrataram uma empresa privada (não foi pública, atenção!) para fazer o programa informático da distribuição dos professores como é que a coisa correu mal? Será que a empresa foi eleita por algum concurso público e foi a oposição subrepticiamente introduzida na tal empresa que boicotou o processo? Não, não pode ser. Eu não quero acreditar que os tais craques informáticos pertençam a uma empresa de amigos do Governo como já se diz por aí... Manobras da oposição. Esta empresa deve ter algo de público. Pelo menos deve vir a público o seu nome para todos ficarmos avisados!
2. Não percebi. Parece que os PPRs e quejandos são subscritos pelos ricos deste país. Fico contente em saber que sou rico, pois já há alguns anos que ando a comprar este tipo de produtos. Obrigado, senhor Ministro pela ascenção social a que me elevou. Sem Ministros assim, que seria da auto-estima da classe média?
Vocês, oh ricos, que passam o tempo a vir naquelas páginas de certas revistas, têm feito os PPRs? Cuidado, que ainda saem da lista dos ricos. Ou será que vocês só recebem o salário mínimo?
3. Será que percebi bem? O PR acabou com mais aquela ideia brilhante do Primeiro Santana de me pôr a pagar as despesas da saúde. Bolas, logo agora que eu fiquei a saber que era rico!

Retrocesso

Naquilo que me parece ser um notável retrocesso educacional a senhora Ministra desistiu do digital e propôs o método manual. Não se esperaria que a senhora tomasse uma decisão destas no século XXI, mas afinal cada um lida como sabe com aquilo que tem entre mãos.
Esperemos então pelo efeito e que, finalmente, o clímax deste processo ocorra como agora é prometido no próximo dia 30.

terça-feira, setembro 21, 2004

Desabafo

Uma ressonância magnética da hipófise demora neste hospital central e universitário nove meses a realizar! Falta de aparelhos para a dimensão do hospital. Fico curioso para saber quantos existirão em Lisboa para a dimensão da cidade e que resolvem em tempo útil o problema. Mais uma demonstração da superioridade do privado relativamente ao público. Pelo menos enquanto público e privado forem geridos pelos mesmos. A questão deve ser geográfica... Espera, mas de quem é o privado, dos privados ou dos que lhe fizeram os leasings? Devo estar enganado. Mas até parece que o público vai pagar ao privado que por sua vez vai pagar às instituições que fizeram o leasing. Os mesmos de sempre... Viva o investimento dos Bancos!

Bicho?

Será um vírus, um bicho, uma bactéria? Perguntava curiosa e inflamada a jornalista (por que será que agora falam sempre aos altos e baixos, como se estivessem à beira da morte?). O Professor Pereira Miguel, calmamente continuava a responder, sem se rir.
A jornalista ilibou as bichas para já. Começo a pensar que o rato fugitivo é que deve ser o culpado. Aquela forma como saltava pela relva, deixa mesmo poucas dúvidas. De qualquer forma vou continuar atento, quero ser um cidadão informado.

segunda-feira, setembro 20, 2004

O Presidente da Junta, claro!

Hilariante, melhor que alguns programas de rádios para jovens à mesma hora, são alguns noticiários. Na fila, finalmente recuperada pela esperança de terem começado as aulas, o noticiário avançava sobre as mortes de duas pessoas em Ponte de Lima. Que terá provocado as mortes, quais as explicações para o fenómeno? Pensam que questionaram algum técnico? Não, esses são suspeitos, certamentee starão a enganar o povo. Então para se perceberem as causas quem haverá que entrevistar? O Presidente da Junta, claro! E o senhor lá foi dizendo, o que ele acha é que era importante fazerem-se as autópsias. Claro, vejam lá se os técnicos se lembraram desta coisa... À noite ainda assisti na televisão a um rato a correr, não sei de onde veio, mas correu, correu, mais de 20 segundos no telejornal. Pode muito bem ter sido ele e o homem da câmara apanhou-o. Ia a fugir, é suspeito!

domingo, setembro 19, 2004

A melhor juventude

Dia de acabar de ver a melhor juventude. Não será uma obra prima do cinema, mas é uma história que vi com ternura. A fita passa mais ou menos clandestinamente numa sala de Lisboa, no Ávila. Há uns anos atrás, também o Carteiro de Pablo Neruda esteve assim meses a fio no Mundial. Apetece-me deixar aqui a referência só porque acho que certos filmes hoje em dia têm de ser divulgados pessoa a pessoa. É o meu contributo, porque acho que é uma pena perder-se.
Claro que é melodramático (recomenda-se uma embalagem de lenços de papel para a segunda parte) e até algo moralista e cordato com a história que nos andam a contar, mas um dia se fará a história dos próximos 40 anos e logo se verá. Mas gostava de saber reacções de gerações mais novas (diferentes?). Fico ao dispor para os comentários.

sábado, setembro 18, 2004

Pôr do sol

O sol foi a pouco e pouco descendo até entrar naquela nuvem que parecia um fuso. Corria, como aqueles aros que em miúdo empurrava com um arame, pela nuvem fora. Correu cada vez mais até que chegou ao bico do fuso e então, de repente, o horizonte ficou laranja deixando um manto dourado sobre o mar. Merecemos estar sobre a falésia nestes momentos mágicos.

sexta-feira, setembro 17, 2004

Ponto assinado

Não há nada como a ciência para nos surpreender. Afinal, são poucos os que se baldam ao trabalho. Fico ansioso pelo estudo de avaliação do que se anda a fazer nos locais de trabalho.

Um breve elogio do blog

Já não me lembrava do Sorriso da Dada, que conheci em Dezembro. O tempo, de tão preenchido, fica vazio de referências. É assim desde há alguns anos. Felizmente, o blog permitiu-me desta vez ultrapassar a dificuldade e lá pude dizer ao colega onde deverá ir comer o Bobó de camarão.
Será, afinal, esta possibilidade de reccordar uma das funções que mais justificam estes registos que aqui faço. O arquivo safou-me.
Ao mesmo tempo dei uma olhadela aos textos de então e comparei-os com os últimos. Ando mais ensombrado ultimamente, com o mundo feio aqui à volta. O confronto dos humores de tempos afinal nem muito distantes, poderá ser outro alerta tornado possível pelo blog.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Erros

A culpa não é deles. Eles não sabem, não têm jeito, para gerir coisas públicas. São especialmente dotados para a gestão das coisas privadas. As aulas não começaram no ensino público. Ok, azares. Os filhos deles já andam a marrar as matérias no ensino privado.
Não, a culpa não é deles. É de quem os colocou a gerir coisas públicas. Pior, é de quem ainda não os pôs a andar de lá para fora. Se não se agir ainda destroem tudo o que é público. É urgente fazer o que tem de ser feito.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Pela nossa saúde

O ataque segue agora mais despudorado. Com o ar cândido que tem, o PM vem contar-nos a história da injustiça que é os ricos não pagarem as contas dos hospitais. De quem fala, dos que já agora sempre que dão um espirro correm para Londres ou para a Clínica Mayo? Não, daí não viria qualquer receita nova para o SNS. O que gastam é exportação de capitais e, seguramente, continuarão a fazer as suas viagens terapêuticas. As vítimas do PM serão os pagadores de impostos, os que trabalham por conta de outrém, que os nossos empresários, naturalmente pequenos, têm aquela síndrome de falência crónica.
Estes utilizadores-não pagadores da nossa paciência não conseguem entender a natureza do problema da saúde. O que temos de decidir neste campo é se achamos que quem fica doente deve acarretar com as consequências de ter adoecido, ou se, por outro lado, consideramos que a falta de saúde, apesar de tudo, é um azar e que deve ser a solidariedade social a pagá-la. Isto é, achamos ou não razoável o conceito de utilizador pagador aplicável à saúde. A opção a tomar é esta. A pergunta a fazer a cada um é essa.
Os que acharem que o princípio do utilizador-pagador é lícito para a saúde, devem ainda assim, perceber que hoje em dia, ninguém no seu perfeito juízo, pode pensar que pode suportar do seu bolso os custos de saúde para si e para os seus familiares. A doença surge de forma imprevista e uma vez instalada, as opções de tratamento são mais ou menos caras, mas incomportáveis. Por isso, aqui surge talvez a grande motivação para esta ideia do PM. Esta é uma ajudinha fundamental para que os Seguros de Saúde cresçam de forma exponencial no nosso país. Julgo até ser mais essa a necessidade de tal medida do que propriamente motivos orçamentais. Este Governo vai mostrando progressivamente aquilo que fundamentalmente é. Estes Ministros e PM (muitos deles com passado pela Banca e Seguradoras) são cada vez mais e apenas funcionários dos donos, os banqueiros. Bons servidores, diga-se.
Progressivamente destroi-se o Estado, converte-se em bébé. Alguns mais ousados, querem mesmo, depois, afogá-lo. Nós, os do costume, deixaremos (?) de pagar impostos ao Estado, passaremos a pagar os seguros de saúde, a Educação, as estradas e tudo o resto. E pagaremos certamente mais, porque além dos custos reais teremos, então, que suportar os lucros desses ramos de actividade. No limite, para o Estado, ficará a segurança, a defesa deste estado de coisas. Dessa não irão abdicar.
Mas isto será assim tão complicado, que temos que nos refugiar sempre nas conversas do futebol e ver as notícias cada vez mais ordinárias dos nossos telejornais?
Não perguntem se queremos pagar menos impostos. A resposta será naturalmente, não! A pergunta correcta será, querem melhores serviços de saúde? A essa a resposta será, sim! (Chomsky)

terça-feira, setembro 14, 2004

Quem sabe?

Há quanto tempo ando a ouvir o mesmo discurso? Mas então, este país não tem líderes, empresários e quejandos que também tenham de fazer sacrifícios pela terra? Por que razão são pedidos sempre os sacrifícios só aos mesmos?
Imaginam o que seria o Ministro das Finanças apelar aos que não pagam impostos para fazerem o favor de cumprir a lei? Eu já nem digo tomar as medidas, que existem noutros países, que os obrigam simplesmente a pagar... Ou pedir aos banqueiros, para não terem tanto lucro, abdicarem de uma parte a bem da Nação (esta é uma expressão que parece assentar bem na boca do Bagão Félix) ...
É só uma sugestão, que até nem acho que fosse má ideia.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Fartar vilanagem!

Havia naquele país um grupo de parasitas, que até pagavam impostos, mas que ganhavam demais para viverem sem ter de pagar pelos cuidados de saúde. Havia também, uns banqueiros e companhias de seguros que pensavam que a Saúde é um campo óptimo para investimento. Finalmente, havia um Governo, que adorava fazer a vontade às companhias de seguros.
E um PM que esclareceu todos de uma vez: Não, não se trata de fazer pagar a saúde aos pobres, aos que nada têm, (para quê se esses nem têm dinheiro para fazerem seguros de saúde, nem conseguem refilar contra a qualidade dos serviços de saúde?), o objectivo do Governo dele é impôr os ditos seguros aos que vivem do rendimento do seu trabalho e dessa forma não conseguem enganar a administração fiscal. Assim, decreta que, a partir de agora, apenas tenham isenção do pagamento dos cuidados de saúde dois grupos de cidadãos: os indigentes e os milionários que apenas auferem o salário mínimo e ninguém sabe como vivem nas Lapas ou nas Quintas da Marinha.
Para os outros, institui-se o Seguro de Saúde Obrigatório.
Tudo continua a ser executado dentro de um plano meticulosamente definido e com grande rigor. E façam o favor de se não esquecerem que foi posto fim à luta de classes aqui há uns tempos atrás (ainda antes de o senhor Imperador ter declarado o fim da Guerra do Iraque) e que agora estamos todos no mesmo barco da Santa Globalização.
Conhecem o boneco do Bordalo? RETOMA!

domingo, setembro 12, 2004

Missa

Como todos os fenómenos baseados em imagem e de conteúdo duvidoso, as missas do Professor Marcelo, começam, perdido o efeito de novidade, a surgir como aquilo que são apenas: Propaganda do autor e das suas ideias e das dos seus. Aquilo não é análise. A ideia de independência advém de aparentemente atacar os seus correligionários. Ataca fundamentalmente, aqueles de quem não gosta, que lhe fizeram alguma, os Portas, o Santana Lopes. Promove, aqueles que menor oposição poderão fazer à sua linha doutrinária, o Sócrates, por exemplo. E hoje como todos os dias, o registo é idêntico.
Mas lá que embala, embala...

sábado, setembro 11, 2004

Imagens a 11 de Setembro

Quase sempre são imagens que mostram risos; risos que se adivinha são acompanhados de ruídos intensos. É assim que olho as fotografias que o Expresso publica sobre a noite de Lisboa. São caras jovens, dentes à mostra, línguas mais ou menos de fora. Mas não me parece que riam, estes jovens, simplesmente, estão a rir. E que distância vai do rir ao estar a rir! Vê-se nos olhos. Quem ri às vezes até os tem fechados ou perdidos no vazio, mas quem está a rir tem-nos bem orientados, fixos, congelados na câmara que regista o momento. Uma câmara impede o rir, se ela aparece, logo se fica a rir, mas sem o riso. Fica um apelo patético, um regista aí que sou feliz e depois a pergunta que tudo esclarece: fiquei bem?
O mesmo acontece com as lágrimas, com a dor. Quando uma cerimónia evocativa é planeada ao pormenor de os familiares das vítimas ali irem, uns após outros dizerem o nome e chorar em público, a verdade foi-se. Muita da preocupação acaba por ser a representação da dor. Estarei a sair bem? Quantos não terão pedido para lhes gravarem o momento para depois aferirem a qualidade do acto que praticaram. O que vejo é uma boa encenação do sofrimento para fins mais ou menos inconfessados e que me querem vender como testemunho de verdade.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Sábado outra vez

Parece que ainda foi ontem. A semana a terminar outra vez. O tempo assim em pacotinhos arrumados uns após os outros. Onde ficamos nos instantes que passámos? Ou passámos só pelos instantes sem chegarmos a qualquer lado que não seja um outro instante, insignificante já, mais logo?
Viver cem anos no hemisfério Norte. Sim, que bom! Assim, vamos consumir muita aspirina, ingerir muita estatina, fazer muitas análises e até TACs e Ressonâncias magnéticas. Vamos ser indulgentes, fumar, comer até fartar, ficar de papo para o ar. Vamos ser quase eternos, morrendo nos dias que passam. Consumidos.
Ao mesmo tempo, nem olhamos o tempo dos outros que lá no sul morrem simplesmente, de malária, sida, tuberculose, completamente indiferentes ao tempo que não têm.
Até quando esta sucessão impiedosa dos sábados sem mais nada?

quinta-feira, setembro 09, 2004

Citação

Michael Moore escreveu isto há dois dias. Aqui fica assim como o link para o seu blog. Vale a pena:

Tuesday, September 07, 2004

1,000 Dead -- How Do You Sleep Mr. Bush?
Watching TV, the anchorman says, "A milestone tonight, the 1,000th American soldier to die in Iraq." 13 soldiers have died in the past two days. We don't know how many Iraqi civilians have died in the bombing of Fallujah and Sadr City today, but hey, they're just Iraqis! All this killing, for what?Bush now comes on the screen. His shirt is soaked with sweat. It is most days. Have you noticed this? Yes, we are men, and yes, we sweat, but man, this guy is drenched. I feel bad for him. He is not really up to the job of executioner (although it seemed so easy with his death row rat-a-tat-tat back in Texas).Even though he himself doesn't have to pull the trigger, he knows what his actions have wrought and he sweats the sweat of a man in deep fear that he has doomed not only himself but countless Americans. Men who tell lies sweat like that. Men who cheat sweat like that. But in order to sweat like that you have to have a conscience, an active conscience, a present conscience, a voice that is always there to tell you that you are in violation of some greater law and order. Mr. Bush, his conscience still with him, and his shirt still wet, a thousand Americans now dead for no good reason other than they were willing to trust their commander-in-chief and promised to do whatever was necessary to protect you and me. I honor each and every one of the 1,000 for that, I grieve for them and their families, and I pray that Mr. Bush lies in a bed tonight, his sheets drenched not with sweat but with tears for those young men and women whom he consigned to their deaths.Later today (Wed.), the Boston Globe, the A.P. and Dan Rather all present new and damning information about how George W. Bush got moved to the front of the line to get in the Texas Air National Guard, and how he then went AWOL. I am putting every ounce of trust I have in my fellow Americans that a majority of them get this, get the injustice of it all, and get the sad, sick twisted irony of how it relates very, very much to our precious Election 2004.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Analfabetos

Na minha terra há um milhão de analfabetos, um em cada dez dos que por aí andam. Mas estes são analfabetos especiais, com tempo de antena, ouvidos nas mais diferentes matérias, a explicarem a maioria dos fenómenos com que nos deparamos. É vê-los a opinar no telejornal por entre gritos e lágrimas vertidas, sempre a chegarem-se mais à frente, à zona iluminada pelo projector. Como as moscas.
Ainda agora fiquei a saber que neste país não há justiça e que ainda falamos dos árabes. O que deviamos era acabar já com estes tipos que mataram os polícias. Já! Na rua, da forma mais cristã que conhecemos...
Anafalbetagamadeltasetéaoz! Só já não dizem o que ainda pensam: No tempo do Salazar.... Pois é, foi esse o seu tempo de criação.

terça-feira, setembro 07, 2004

Bartolomeu, quantos dias?

Depois das imagens habituais, lá no fim do massacre diário, a notícia que faltava: Bartolomeu emagreceu; Bartolomeu caiu na rede e agora não quer comer. Em horário nobre, o Zoomarine está a desenvolver todos os esforços possíveis para salvar o Bartolomeu. Curioso, só agora me dei conta que afinal há tartarugos..

segunda-feira, setembro 06, 2004

Será verdade?

Eu não sei se isto é verdade. Ou seja, se não passa no telejornal poderá ser verdade? De qualquer forma, li e, como se dizia noutros tempos, não posso ignorar. Não, não foi no Granma, foi num relatório . gov :

POVERTY IN THE UNITED STATES

Highlights
The official poverty rate in 2003 was 12.5 percent, up from 12.1 percent in 2002.
• In 2003, 35.9 million people were in poverty, up 1.3 million from 2002.
• Poverty rates remained unchanged for Hispanics, non-Hispanic Whites, and Blacks, although it rose for Whites and Asians.
• For children under 18 years old, both the poverty rate and the number in poverty rose between 2002 and 2003, from 16.7 percent to 17.6 percent, and from 12.1 million to 12.9 million, respectively.
The poverty rate of children under 18 remained higher than that of 18-to-64-year olds and that of seniors aged 65 and over (10.8 percent and 10.2 percent, respectively, both unchanged from 2002).
• The poverty rate in 2003 (12.5 percent) is 9.9 percentage points lower than in 1959, the first
year for which poverty estimates are available, as shown in Figure 3.
From the most recent trough in 2000, both the number and rate have risen for three consecutive years, from 31.6 million and 11.3 percent in 2000, to 35.9 million and 12.5 percent in 2003.

Race and Hispanic Origin
In 2003, the poverty rate was 8.2 percent for non-Hispanic Whites, unchanged from 2002.
Because the poverty rate for these non-Hispanic Whites was lower than for the other racial groups, they accounted for 44.3 percent of the people in poverty, compared with 67.6 percent of the total population. For Blacks, neither the poverty rate nor the number in poverty changed between 2002 and 2003. People who reported Black as their only race, for example, had a poverty rate of 24.4 percent in 2003.

HEALTH INSURANCE COVERAGE IN THE UNITED STATES


Highlights
• The number of people with health insurance coverage increased by 1.0 million in 2003, to 243.3 million (84.4 percent of the population).
An estimated 15.6 percent of the population, or 45.0 million people, were without health insurance coverage in 2003, up from 15.2 percent and 43.6 million people in 2002.
• The percentage and number of people covered by employmentbased health insurance fell
between 2002 and 2003, from 61.3 percent and 175.3 million to 60.4 percent and 174.0 million.
• The percentage and number of people covered by government health insurance programs increased between 2002 and 2003, from 25.7 percent and 73.6 million to 26.6 percent and 76.8 million, driven by increases in the percentage and number of people covered by Medicaid (from 11.6 percent and 33.2 million to 12.4 percent and 35.6 million) and Medicare (from 13.4 percent and 38.4 million to 13.7 percent and 39.5 million).
• The proportion of children who were without health insurance did not change, remaining at 11.4 percent of all children, or 8.4 million, in 2003. With an uninsured rate at 19.2 percent, children in poverty were more likely to be uninsured than all children.
• The uninsured rate and number of uninsured increased from 2002 to 2003 for non-Hispanic Whites (from 10.7 percent and 20.8 million to 11.1 percent and 21.6 million), but not for Blacks or Asians . Although the number of uninsured increased for Hispanics (from 12.8 million to
13.2 million), their uninsured rate was unchanged at 32.7 percent.


(sublinhados meus)

Ao almoço fiquei a saber que as vendas dos carros de luxo dispararam em Portugal.
Ao jantar, contam-me que Bush tem 11 pontos de avanço sobre Kerry.

domingo, setembro 05, 2004

Imagens

As imagens seguem lentas nos primeiros planos da dor. Mostram crianças desaparecidas. Fico sem perceber as razões desta mostra. Certamente, não irei encontrá-las em Lisboa a passear. Então por que razão passam com demora as imagens? Que sentido tem isto tudo?

sábado, setembro 04, 2004

Os que lixam o país...

O Expresso informa: Quatro de cada cinco euros dos impostos que os portugueses (quais digo eu?) pagam são gastos com os funcionários públicos e com os reformados. Realmente preocupante, sobretudo se pensarmos (vale o esforço de vez em quando) que nem os ordenados dos funcionários públicos portugueses nem as reformas são das mais elevadas que há por essa Europa fora. Assim, de repente, parece-me que alguém anda a pagar menos impostos do que devia. Pois, se o volume dos impostos pagos fosse bem maior, lá desceria a proporção dos euros pagos aos tais funcionários e reformados, ou não seria?

quinta-feira, setembro 02, 2004

Borrasca

Aos poucos o inglês, sacudido com ós tónicos do japonês, começou a ficar quase imperceptível. Uma zoada invadia a sala em tons de crescendo-decrescendo, como um som de telefonia dessintonizada com o volume todo aberto. Os olhares da plateia procuravam as explicações no tecto.
Ele continuava, pequeno, indiferente, com o som da sua ciência de ratos knockout cada vez mais atenuado. É claro que quem planeou este Centro de Congressos de Lisboa o fez para um país de sol, onde provavelmente não chove nunca e, por isso, esqueceu-se do isolamento sonoro necessários nestas estruturas.

Jantares

Há convidados que sofrem horrores por serem colocados nesta ou naquela mesa. Ficam vermelhos de raiva com as «afrontas» de delocalização, eles que ali estão pelo preço do esforço da mandíbula.
Outros, no caso japoneses, agradecem convite e declinam caso o chefe não seja convidado. Ninguém lhes conhece o chefe, mas é assim naquela terra.
Outros respondem ao convite de duas pessoas com uma lista de cinco pessoas que se oferecem para vir jantar.
Outros olham para isto como o preço a pagar por se ser presidente por uns dias.
Finalmente, outros convencidos da sua posição de esquerda, explicam que a desgraça do mundo está nas invasões da má raça dos negros e quase apelam à cruzada.
Por mim, fico à margem desta humanidade. Cada vez mais de fora estando dentro. Às vezes só pelo gozo de perturbar a santa ordem. progressivamente, dou comigo a pensar que a livre concorrência é um bom princípio. Certamente, o é também o ideal da igualdade. Mas depois há os homens.
Deve haver razões para tornar crianças reféns na Chechénia ou para terem caído as torres gémeas. Mas tudo isso são acontecimentos inexplicáveis, não é? Basta ver os telejornais.