quinta-feira, março 31, 2005
Passagem
Desolación frente a la idea de la muerte como propoganda
Apetece-me deixar o post em branco, que penso ser a cor do lado de lá. A montanha do gelo sempre eterno. A conservação de tudo. Acabou, Terry Schiavo morreu.
quarta-feira, março 30, 2005
Uma oportunidade que não me deram
É claro que não ponho em dúvida que 3 anos, são exactamente 365 dias vezes 3. Logo, quando algo garantido se avaria no 1105º dia de utilização, isto é 10 dias depois do limite, está fora da garantia. Mesmo quando se trata de um objecto resistiria 100000 km e afinal ainda só tinha feito 48000 e qualquer coisa e avariou, fico a pensar que se calhar a apregoada resistência da coisa não será assim tão grande.
Cumpriu-se estritamente o contrato e tive de pagar o conserto. Vá lá que o rádio avariou antes dos três anos, a chauffage avariou antes dos 3 anos, os blocos das rodas rangeram antes dos 3 anos, o ar condicionado fumegou antes dos 3 anos, os vidros eléctricos chiaram antes dos 3 anos apesar dos cuidados de revisão do carro terem sido escrupulosamente cumpridos na Oficina da marca. O radiador da chaufage foi-se aos 48000 km, 10 dias depois de terminada a garantia. O fabricante teve sorte e eu azar.
Mas fico a pensar como é que o Terrano Tibete, conseguiu lá chegar. Terá feito a viagem de barco? Que mais irá acontecer daqui em diante?
Sobretudo fico triste pelo rigor interpretativo que os responsáveis da Nissan têm das garantias. É que gostava muito de poder falar deles como exemplo de entidade que reconhece que uma avaria que surge 10 dias depois de ter passado o limite de garantia se deve obviamente a deficiente qualidade da peça de origem e que deveria, por esse facto, ser substituída sem encargos para o proprietário do veículo. Isso estaria mais perto de alguma imagem de marca japonesa que se possa ter. Mas se calhar, o Japão já não é o que era. Sinceramente, tenho pena, mais por eles, até do que por mim. É que eu gosto de elogiar, mas assim, não me dão essa oportunidade.
Pronto, está feito o desabafo.
Cumpriu-se estritamente o contrato e tive de pagar o conserto. Vá lá que o rádio avariou antes dos três anos, a chauffage avariou antes dos 3 anos, os blocos das rodas rangeram antes dos 3 anos, o ar condicionado fumegou antes dos 3 anos, os vidros eléctricos chiaram antes dos 3 anos apesar dos cuidados de revisão do carro terem sido escrupulosamente cumpridos na Oficina da marca. O radiador da chaufage foi-se aos 48000 km, 10 dias depois de terminada a garantia. O fabricante teve sorte e eu azar.
Mas fico a pensar como é que o Terrano Tibete, conseguiu lá chegar. Terá feito a viagem de barco? Que mais irá acontecer daqui em diante?
Sobretudo fico triste pelo rigor interpretativo que os responsáveis da Nissan têm das garantias. É que gostava muito de poder falar deles como exemplo de entidade que reconhece que uma avaria que surge 10 dias depois de ter passado o limite de garantia se deve obviamente a deficiente qualidade da peça de origem e que deveria, por esse facto, ser substituída sem encargos para o proprietário do veículo. Isso estaria mais perto de alguma imagem de marca japonesa que se possa ter. Mas se calhar, o Japão já não é o que era. Sinceramente, tenho pena, mais por eles, até do que por mim. É que eu gosto de elogiar, mas assim, não me dão essa oportunidade.
Pronto, está feito o desabafo.
terça-feira, março 29, 2005
Escândalo
Vinte cinco por cento dos casos que beneficiam do Rendimento Social de Inserção, são fraudulentos. É a conclusão da análise a 7500 famílias cuidadosamente investigadas pelas nossas autoridades. Um escândalo! Não, não é a investigação às pessoas que o solicitam que é um escândalo. Escândalo mesmo é que haja necessidade deste tipo de subsídio. Escândalo maior, o grande escândalo, é não se fazer uma investigação semelhante aos (SMBICARs)Socialmente Muito bem Inseridos e Com Grandes Rendimentos e que, ao que parece, continuam a não pagar os seus impostos, isto é, recebem por decisão própria, contra as normas, o Grande Subsídio anti-Social (por sinal muito maior do que o que se paga aos outros). Sempre a coisa parte pelo elo mais fraco, não é?
Natureza das coisas
Fazemos porque gostamos, porque isso nos dá prestígio ou porque nos pagam. A ordem dos motivos é que difere de uns para outros. Mas, possivelmente, a maneira como fazemos com mais gosto é quando fazemos por gosto. Pelo menos, acontece-me assim. Mas talvez não seja uma norma universal. Às vezes, quando olho em volta, parece-me é que sou um privilegiado: ainda faço coisas por gosto, num mundo em que já muita gente nem sente o prazer de gostar, subordinados que estão ao rendimento e ao prestígio.
Gosto de ouvir dizer que a Companhia das Lezírias não irá ser privatizada. Nunca percebi a razão, por que tudo o que dá lucro ao Estado deve ser entregue aos privados. Será para garantir que tudo o que é público dê prejuízo?
Gosto de ouvir dizer que a Companhia das Lezírias não irá ser privatizada. Nunca percebi a razão, por que tudo o que dá lucro ao Estado deve ser entregue aos privados. Será para garantir que tudo o que é público dê prejuízo?
sexta-feira, março 25, 2005
Dúvida da memória
Possivelmente é a memória que me trai, mas naquele tempo esta semana era dolorosa, quase havia um ar entristecido nas caras. Só domingo, o sorriso voltava de volta do borrego. Agora é mais tempo de ponte, de celebração, sai-se mais cedo à quinta-feira para ir a correr para a fila da auto-estrada, com a mesma emoção de todas as outras pontes que nos levam, afinal, a apenas mais uma semana. Tudo já passou e foi tão breve. Lembro-me, será verdade?, que a música era de Paixão.
Percebo que agora, nesta era de cultura de não sofrimento, seria aberrante. Deve ter sido por isso, que acabou. Agora vivemos a ditadura do fácil. A facilidade da intolerância face ao que não nos fazem e da enorme, infinita tolerância, da nossa falta de obra. E isto, que parece um lamento, nem o é. Apenas é uma dúvida, num dia de chuva que me lembrou outros dias lá muito longe em que, salvo o erro, estes dias eram cinzentos.
Percebo que agora, nesta era de cultura de não sofrimento, seria aberrante. Deve ter sido por isso, que acabou. Agora vivemos a ditadura do fácil. A facilidade da intolerância face ao que não nos fazem e da enorme, infinita tolerância, da nossa falta de obra. E isto, que parece um lamento, nem o é. Apenas é uma dúvida, num dia de chuva que me lembrou outros dias lá muito longe em que, salvo o erro, estes dias eram cinzentos.
quinta-feira, março 24, 2005
Imagem da memória
É pior quando a cara da mãe era a antevisão da cara da filha e agora, que a filha partiu quando aqui já dei notícia, a mãe vem à consulta entrando com a cara da outra. É estranho revê-la. Sem sombra do sorriso da outra, sem a esperança que os poucos anos dão, com o conhecimento que os muitos nos impõem. A tiróide está boa, o resto é que não e se calhar assim vai continuar, que isto é contra a natureza das coisas. De preto integral, da cabeça aos pés, os olhos baixos. Desejo as melhoras, mas pouco mais posso fazer por isso.
quarta-feira, março 23, 2005
Coisas ditas
Falar de fármacos não é fácil. Por que razão falar deste e não de outro parecido? É necessário reflectir sobre cada coisa que se diz e não ir pelo caminho fácil da encomenda. Tudo aquilo que se diz é verdade, só que há mais verdades que, muitas vezes, se não reflectem. Até nem é por mal. É só por falta de reflexão. E a obrigação de reflectir também está em quem nos ouve.
A Verdade é muito mais complexa do que as verdades e não cabe nos 30 minutos da comunicação. Quem ouve tem trabalho para casa. Ou já o teve.
A Verdade é muito mais complexa do que as verdades e não cabe nos 30 minutos da comunicação. Quem ouve tem trabalho para casa. Ou já o teve.
terça-feira, março 22, 2005
Instante de silêncio
Fica-se então na margem do tudo a olhar o percurso sem percebermos muito bem os instantes. De repente, tudo passou e inquieta-nos o que fica no tempo que vem. Possivelmente nada ou muito pouca coisa. Nessa altura, não entendo a intensidade dos dias e penso na outra forma de cá estar. Vem então a vontade de permanecer nas cores, nas imagens ou nas palavras, a forma mais eterna de continuar. Sorrio, por fim na ilusão de que vou deixando alguma coisa.Sobretudo, alguns sorrisos em redor. Chega-me.
domingo, março 20, 2005
Venham mais cinco como dantes se cantava
Apesar de ter tido conhecimento com atraso, aqui fica:
E-mail do José Mário Branco
Caras Amigas e Caros Amigos,
Há momentos em que precisamos de cair em nós, e perceber que o mundo está degradado e degradante, que isso acontece por razões concretas – e que cada um de nós pode fazer qualquer coisa para o mudar.
Este é um desses momentos, e decidi dirigir-me pessoalmente a todas as pessoas que tenho na minha lista de endereços.
Vai realizar-se em Lisboa (sexta à noite, sábado manhã-e-tarde, e domingo à tarde) a Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque, no Auditório da Torre do Tombo, ao lado da Faculdade de Letras, na Universidade.
Esta iniciativa, na qual tenho trabalhado a tempo inteiro nos últimos seis meses, tem sido boicotada de todas as maneiras pela comunicação social – apenas dois artigos no Público e uma curta entrevista na SIC-Notícias. Mas as mentiras do discurso único que nos domina quanto à política imperial dos EUA, essas entram-nos em casa a toda a hora. As mentiras e as omissões. São as palavras escolhidas dos pivots, é o medo dos jornalistas e a blindagem das agendas de redacção.
O Tribunal Mundial sobre o Iraque é um tribunal de opinião. É um recurso de quem não pode, pelos meios que deviam ser normais, encontrar forma de contrariar esta avançada orwelliana, este golpe-de-estado comunicacional fascizante, esta sensação de que “se calhar mais vale estarmos calados”.
O importante nesta iniciativa não é só aquela guerra distante. É a maneira como estamos a ser levados a viver com ela. É um problema de aqui e de agora. Tudo é feito para nos habituarmos a ficar calados. Para, quando chegar a nossa vez, não sermos capazes de reagir.
Há assuntos tão consensuais, e no entanto são tratados em voz baixa, entre olhares discretos e cúmplices, meias palavras, entrelinhas. Não vá prejudicar-se “a vidinha”... Ou será que estamos a voltar aos anos 30 ?
Venham à Audiência! Não é uma manif, é um encontro de pessoas que nos vão contar o que está a ser feito em nosso nome. Pessoas que não se deixam calar: o Iraque é um horror numa lista (recente e futura) de coisas horríveis. E nós, pelo menos oficialmente, somos cúmplices.
Venham à Audiência! Faz dois anos que começaram a matar umas centenas de milhares de seres humanos, cuja culpa é terem petróleo debaixo dos pés – depois de terem morto uns milhões dos mesmos com o embargo, porque a aspirina e o leite condensado podiam servir para fazer armas de destruição maciça… Faz dois anos que o fazem, em nosso nome. Faz dois anos.
Venham à Torre do Tombo, à Torre do grande Tombo que os pariu. Que os há-de tombar.
Começa na sexta às 21h30. Continua no sábado e no domingo.
Vai estar bom tempo – se lá estivermos muitos.
Um abraço do José Mário Branco.
Teria ido, tivesse sabido mais cedo. Irei à próxima se ouvir dizer.
E-mail do José Mário Branco
Caras Amigas e Caros Amigos,
Há momentos em que precisamos de cair em nós, e perceber que o mundo está degradado e degradante, que isso acontece por razões concretas – e que cada um de nós pode fazer qualquer coisa para o mudar.
Este é um desses momentos, e decidi dirigir-me pessoalmente a todas as pessoas que tenho na minha lista de endereços.
Vai realizar-se em Lisboa (sexta à noite, sábado manhã-e-tarde, e domingo à tarde) a Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque, no Auditório da Torre do Tombo, ao lado da Faculdade de Letras, na Universidade.
Esta iniciativa, na qual tenho trabalhado a tempo inteiro nos últimos seis meses, tem sido boicotada de todas as maneiras pela comunicação social – apenas dois artigos no Público e uma curta entrevista na SIC-Notícias. Mas as mentiras do discurso único que nos domina quanto à política imperial dos EUA, essas entram-nos em casa a toda a hora. As mentiras e as omissões. São as palavras escolhidas dos pivots, é o medo dos jornalistas e a blindagem das agendas de redacção.
O Tribunal Mundial sobre o Iraque é um tribunal de opinião. É um recurso de quem não pode, pelos meios que deviam ser normais, encontrar forma de contrariar esta avançada orwelliana, este golpe-de-estado comunicacional fascizante, esta sensação de que “se calhar mais vale estarmos calados”.
O importante nesta iniciativa não é só aquela guerra distante. É a maneira como estamos a ser levados a viver com ela. É um problema de aqui e de agora. Tudo é feito para nos habituarmos a ficar calados. Para, quando chegar a nossa vez, não sermos capazes de reagir.
Há assuntos tão consensuais, e no entanto são tratados em voz baixa, entre olhares discretos e cúmplices, meias palavras, entrelinhas. Não vá prejudicar-se “a vidinha”... Ou será que estamos a voltar aos anos 30 ?
Venham à Audiência! Não é uma manif, é um encontro de pessoas que nos vão contar o que está a ser feito em nosso nome. Pessoas que não se deixam calar: o Iraque é um horror numa lista (recente e futura) de coisas horríveis. E nós, pelo menos oficialmente, somos cúmplices.
Venham à Audiência! Faz dois anos que começaram a matar umas centenas de milhares de seres humanos, cuja culpa é terem petróleo debaixo dos pés – depois de terem morto uns milhões dos mesmos com o embargo, porque a aspirina e o leite condensado podiam servir para fazer armas de destruição maciça… Faz dois anos que o fazem, em nosso nome. Faz dois anos.
Venham à Torre do Tombo, à Torre do grande Tombo que os pariu. Que os há-de tombar.
Começa na sexta às 21h30. Continua no sábado e no domingo.
Vai estar bom tempo – se lá estivermos muitos.
Um abraço do José Mário Branco.
Teria ido, tivesse sabido mais cedo. Irei à próxima se ouvir dizer.
Apesar da América
Um dos lados definiu o lado do Bem e o lado Mal. Com a força, impôs a sua Ética. Por ela fez a guerra. Partiu, destruiu, matou, continua a matar e para cúmulo diz que libertou. Impôs a sua democracia. Muitos milheres de mortos depois, esta acção continua a ser imoral. Nem o argumento da legítima defesa, o instinto da sobrevivência, se comprovou. Era mentira! Sabendo que os seus serviços de informação não são ingénuos, resta a hipótese da mentira orquestrada.
Disto tudo resta a constatação de que o Bem referido é o de alguns, é relativo, e novidade, é construído sobre o poder, apoia-se na força. Claro que é um Bem contra o Bem dos outros e que a Moral está acima destas contingências da força. Optimista, continuo a crer que a Moral ganhará um dia. Um dia, quando será? Fico, claro, incomodado sabendo que não sou eu quem paga a factura mais pesada. Antes pelo contrário. Mas este estilo impede-me de viver bem. Tenho outra Ética, possivelmente, mais de acordo com a Moral. A globalização deveria ser também um tipo de imposição da nossa Moral. Para isso, haverá contudo, que continuar a luta contra a vontade que eles têm de manter um mundo desigual e injusto. Paradoxalmente, um mundo onde eles também são miseráveis. De uma miséria que ultrapassa toda a pobreza imaginável. Magnífica a forma como o Clint Eastwood mostra esta miséria (entre tantas outras coisas no Million dollar baby). A miséria é aquela pobreza sem esperança, o desesperança total, a maldade latente nas suas vítimas. E no fundo, sabe-se que são eles que estarão disponíveis para irem a todos os Iraques fazer o que os mandarem fazer. Um exército de miseráveis, desumanizados, prontos a todo o Mal.
Nós resistiremos, com a satisfação de lutarmos pela nossa hipótese de uma história diferente, mesmo que um qualquer golpe baixo, traiçoeiro nos paralise. É a nossa possibilidade de estarmos vivos, a nossa justificação de aqui estarmos este tempo em que cá andamos. E resistiremos sempre porque temos muito mais esperança do que medo.
Disto tudo resta a constatação de que o Bem referido é o de alguns, é relativo, e novidade, é construído sobre o poder, apoia-se na força. Claro que é um Bem contra o Bem dos outros e que a Moral está acima destas contingências da força. Optimista, continuo a crer que a Moral ganhará um dia. Um dia, quando será? Fico, claro, incomodado sabendo que não sou eu quem paga a factura mais pesada. Antes pelo contrário. Mas este estilo impede-me de viver bem. Tenho outra Ética, possivelmente, mais de acordo com a Moral. A globalização deveria ser também um tipo de imposição da nossa Moral. Para isso, haverá contudo, que continuar a luta contra a vontade que eles têm de manter um mundo desigual e injusto. Paradoxalmente, um mundo onde eles também são miseráveis. De uma miséria que ultrapassa toda a pobreza imaginável. Magnífica a forma como o Clint Eastwood mostra esta miséria (entre tantas outras coisas no Million dollar baby). A miséria é aquela pobreza sem esperança, o desesperança total, a maldade latente nas suas vítimas. E no fundo, sabe-se que são eles que estarão disponíveis para irem a todos os Iraques fazer o que os mandarem fazer. Um exército de miseráveis, desumanizados, prontos a todo o Mal.
Nós resistiremos, com a satisfação de lutarmos pela nossa hipótese de uma história diferente, mesmo que um qualquer golpe baixo, traiçoeiro nos paralise. É a nossa possibilidade de estarmos vivos, a nossa justificação de aqui estarmos este tempo em que cá andamos. E resistiremos sempre porque temos muito mais esperança do que medo.
sábado, março 19, 2005
Às vezes leio e não entendo
A Ordem dos Farmacêuticos não quer deixar os seus membros trabalhar fora das Farmácias! (Expresso de hoje)
Já todos entrámos em farmácias e vimos aqueles jovens profissionais empregados ao balcão com uma plaquinha ao peito a referir que são licenciados. Parece que a distribuição das farmácias requer autorização da dita Ordem (uma Ordem a valer, esta até dá ordens!)que só é passada quando não põe em causa o negócio de quem está por perto. Isso valoriza a propriedade para níveis pouco imagináveis. Este esquema feudal além de impedir a livre concorrência que derivaria de quem quisesse ter uma farmácia a poder ter sem autorização especial, aparece agora a limitar as liberdades de quem o poderia fazer e está assim condicionado a ser empregado de balcão depois de ter feito uma licenciatura. Território definido e escravos assegurados. Feudalismo do mais puro!
Mas afinal que se faz nas farmácias além de comércio? Será que fazem medicamentos lá dentro? E já agora, se houvesse livre iniciativa e livre concorrência, não baixariam as margens de lucro, isto é, não seriam os medicamentos mais baratos para o consumidor? Já nem falo de cadeias de farmácias públicas.
Já todos entrámos em farmácias e vimos aqueles jovens profissionais empregados ao balcão com uma plaquinha ao peito a referir que são licenciados. Parece que a distribuição das farmácias requer autorização da dita Ordem (uma Ordem a valer, esta até dá ordens!)que só é passada quando não põe em causa o negócio de quem está por perto. Isso valoriza a propriedade para níveis pouco imagináveis. Este esquema feudal além de impedir a livre concorrência que derivaria de quem quisesse ter uma farmácia a poder ter sem autorização especial, aparece agora a limitar as liberdades de quem o poderia fazer e está assim condicionado a ser empregado de balcão depois de ter feito uma licenciatura. Território definido e escravos assegurados. Feudalismo do mais puro!
Mas afinal que se faz nas farmácias além de comércio? Será que fazem medicamentos lá dentro? E já agora, se houvesse livre iniciativa e livre concorrência, não baixariam as margens de lucro, isto é, não seriam os medicamentos mais baratos para o consumidor? Já nem falo de cadeias de farmácias públicas.
sexta-feira, março 18, 2005
O medo da faca
Há vários anos que aquele nódulo lhe deforma o pescoço. Mais de 6 cm de diâmetro de nódulo tóxico com que lida muito bem, com os comprimidos que lhe pararam o emagrecimento, as tremuras e os suores. Está tudo perfeito, a vida corre bem lá no seu Alentejo. Melhor seria que o hospital não tivesse passado a SA. Agora tem de haver registos para fazer as análises. É assim que aumentam o número de consultas. Os «meus amigos do laboratório» agora não podem fazer as análises sem uma requisição. Para ter uma requisição tem de se marcar uma consulta. Não suporta estas burocracias dentro da sua forma de estar. Já nem quer lá ir. Agora, antes quer ir ao privado fazer análises. Então que sentido faz os «amigos» estarem a pedir-lhe aquelas coisas. Ele ia, tirava o sangue e depois trazia os resultados manuscritos num papel. Não, não consegue entender estas modernices.
Mesmo assim, lá se vai orientando. Análises seriadas. E está tudo bem. Para quê a cirurgia? Vamos lá andando mais algum tempo. Sempre mais algum tempo em cada consulta e já passaram quatro anos. «Não gosto do Bloco, sabe!»Até dá jeito vir a Lisboa, de tempos a tempos, ainda por cima à sexta-feira...
Mesmo assim, lá se vai orientando. Análises seriadas. E está tudo bem. Para quê a cirurgia? Vamos lá andando mais algum tempo. Sempre mais algum tempo em cada consulta e já passaram quatro anos. «Não gosto do Bloco, sabe!»Até dá jeito vir a Lisboa, de tempos a tempos, ainda por cima à sexta-feira...
quinta-feira, março 17, 2005
Breve reflexão social sobre a obesidade
Morra a Marta, morra farta! Enquanto desesperam à procura de uma droga milagrosa que os deixe comer sem limites hamburgueres cada vez maiores, litros de coca-cola e baldes de pipocas, alguém os alerta para os riscos de morrerem mais cedo. Mesmo assim, ainda verão nisso um lado bom, algum alívio para o estrangulamento da Segurança Social...
Mas as estatísticas têm sempre este problema de igualarem o que é diferente. Nem todos os americanos vão ter a sua esperança de vida encurtada, porque a obesidade não é um fenómeno que afecte de igual forma todas as pessoas. É bem sabido que são os pobres, os mais afectados por esta praga, o que também não acontece por acaso. Sabe-se que os alimentos baratos são os de mais alta densidade calórica por serem ricos em açúcar e gordura. Isso torna-os mais apetecíveis e mais letais. Matar a fome fica mais barato com alimentos de pior qualidade e satisfazer o apetite mais caro com alimentos mais saudáveis. É assim que enquanto uns se satisfazem, outros engordam e se matam mais precocemente. Contrariamente ao que se pretende fazer crer, muitas vezes, a obesidade não é o resultado da falta de vontade, mas mais uma necessidade derivada das desigualdades existentes. Sempre os mesmos a pagar a factura de terem nascido no bairro errado.
Mas as estatísticas têm sempre este problema de igualarem o que é diferente. Nem todos os americanos vão ter a sua esperança de vida encurtada, porque a obesidade não é um fenómeno que afecte de igual forma todas as pessoas. É bem sabido que são os pobres, os mais afectados por esta praga, o que também não acontece por acaso. Sabe-se que os alimentos baratos são os de mais alta densidade calórica por serem ricos em açúcar e gordura. Isso torna-os mais apetecíveis e mais letais. Matar a fome fica mais barato com alimentos de pior qualidade e satisfazer o apetite mais caro com alimentos mais saudáveis. É assim que enquanto uns se satisfazem, outros engordam e se matam mais precocemente. Contrariamente ao que se pretende fazer crer, muitas vezes, a obesidade não é o resultado da falta de vontade, mas mais uma necessidade derivada das desigualdades existentes. Sempre os mesmos a pagar a factura de terem nascido no bairro errado.
terça-feira, março 15, 2005
Negligência jornalística (e nada me move contra os jornalistas)
Não fosse haver a negligência de quem compra pasquins deste teor, este tipo de mais do que negligência jornalística não existiria. É claro que nada justifica um título destes, a não ser algo de muito imprórpio e inconfessável. Quem faz títulos destes obviamente não é jornalista, é um papeleiro, um vendedor de papel.
É curioso como esta notícia é publicada um dia depois de José Mourinho ser acusado de andar a incendiar o futebol, por comportamnetos semelhantes a este. Comportamentos incendiários. Com efeito, títulos destes estimulam comportamentos agressivos, estimulam vinganças de frustrações contra um suposto poder que não existe. A raiva deverá ser mais bem orientada, quem sabe se contra o verdadeiro poder de quem tem pasquins desta qualidade.
Isto deveria ser objecto de um processo sumaríssimo, está patente à vista de todos, é um caso de clara negligência (será apenas isso?) jornalística.
segunda-feira, março 14, 2005
Três dias grandes e rápidos
O equilíbrio entre informação e propaganda torna-se mais exigente e exige lucidez muito mais aguda quando quem informa depende financeiramente de quem quer fazer a propaganda. A menção dos conflitos de interesse, torna-se então imprescindível. Na sua actividade não é desejável que uma Sociedade esteja economicamente dependente da Indústria Farmacêutica. Das duas uma, ou permanece viva e fará o frete aos patrocinadores ou morrerá porque se arroga a uma atitude de independência e deixará de ser apoiada. Só que esta é a única atitude para permanecer viva, realmente. Não há almoços grátis e todos terão de perceber essa realidade, isto é as quotas terão de ser mais caras. A independ~encia depende disso, da capacidade de viver à nossa custa. Quando se trata de ter posições de grande impacte económico, que em última análise, vão interferir com as finanças do Estado, deverá também ser este a contribuir para manter vozes independentes e tecnicamente fundamentadas. O Estado deve investir para grande desespero de quem o quer só pagador, sem estratégia, porque acha que são os privados que devem definir as suas estratégias. Saí destas reuniões mais céptico, quase demitido. Por agora ainda vou resistir.
Tanto mais que tinha pela frente um fim-de-semana de descanso nos frios da serra da Estrela.
Simpática, e com excelência de serviço a Pousada de Belmonte. Deixo aqui a memória da cela de Frei Francisco para o caso de lá voltar. Na memória ficarão igualmente uns lombinhos de porco Ibérico, com migas de farinheira da Guarda e puré de grão. E a adaptação de um mosteiro, em que a capela se transformou em Bar, numa reconversão de novos tempos. Finalmente, o sorriso que me surge quando me perguntam em nome de que empresa fica a conta. Nesta terra, as empresas vão de fim-de-semana e levam os filhos. Sempre a aprender.
Surpreendeu também a serra com tanto esquiador numa manhã que quase parecia um areal da Costa da Caparica. Percebi que estou num país de gente que gosta de deslizar de forma pouco controlada encosta abaixo no prazer da vertigem de ir até ao fundo o mais depressa possível. Até já tinha desconfiado, mas aquela multidão foi a confirmação. Para mim sobraram umas dores de pescoço e de joelhos, nada de monta comparado com a aquisição da experiência. Agora fiquei a saber que não farei férias de Inverno (pelo menos em estâncias de esqui).
Foi também o fim de semana em que fiquei a saber que lá longe, em Lisboa, um novo governo começava. E curiosamente, até parece começar bem, sem beija-mão, em cerimónia curta e logo com discurso onde se atingem interesses instalados. Será verdade? Ou será que esta coisa de os medicamentos passarem a ser vendidos nos supermercados, é apenas o reflexo de alguma sugestão daqueles que há pouco tempo sugeriam como deveria o Governo ser feito? Mas a medida parece certa e talvez o dono dos supermercados não seja assim tão decisivo. Pelo menos o benefício da dúvida, nesta fase precoce do processo. Tanto mais que a ANF parece ser ainda mais sinistra em termos de lobby.
Domingo, com circuito por castelos que nos defenderam dos maus ventos. No bem alto dos montes, protegidos de tudo, até da linha arquitectónica dos nossos emigrantes, encontrámos Sortelha, vazia de gente, só perceptível no som que saía da Igreja ou nalgum fumegar de chaminé. De resto só turistas a calcorrear granito e vestígios de teias de aranha nas janelas. Um bar simpático nas casas do Campanário, lá no alto e um restaurante, D Sancho, que cumpre na oferta do bacalhau e da entremeada, logo depois de passada a porta à direita.
Mais à frente o Sabugal foi visto de fugida, porque o Castelo anda em reparação com fundos de FEDER, conforma mostra a placa das obras. Curiosamente adulterada por alguém que se imagina a viver com fundos Ouropeus...
Para terminar, foi Monsanto das marafonas, propostas a 4 euros por velhinhas, que informam ainda não ter vendido nada hoje. A recordação das histórias de Fernando Namora, quando consultava os canhenhos na sala ao lado e uma subida de gastar o almoço, até às Pedras Juntas e ao Castelo, para olhar cá em baixo as casas de pedra, e mesmo com pedra por dentro, a ver o silêncio de tudo isto. Sentir o país quieto lá em cima e olhar a descida controlada das aves encosta abaixo.
Chega-se depois a Lisboa descansado, preparado pela hipnose da canseira do fim de semana. Hoje, começa uma semana nova.
Tanto mais que tinha pela frente um fim-de-semana de descanso nos frios da serra da Estrela.
Simpática, e com excelência de serviço a Pousada de Belmonte. Deixo aqui a memória da cela de Frei Francisco para o caso de lá voltar. Na memória ficarão igualmente uns lombinhos de porco Ibérico, com migas de farinheira da Guarda e puré de grão. E a adaptação de um mosteiro, em que a capela se transformou em Bar, numa reconversão de novos tempos. Finalmente, o sorriso que me surge quando me perguntam em nome de que empresa fica a conta. Nesta terra, as empresas vão de fim-de-semana e levam os filhos. Sempre a aprender.
Surpreendeu também a serra com tanto esquiador numa manhã que quase parecia um areal da Costa da Caparica. Percebi que estou num país de gente que gosta de deslizar de forma pouco controlada encosta abaixo no prazer da vertigem de ir até ao fundo o mais depressa possível. Até já tinha desconfiado, mas aquela multidão foi a confirmação. Para mim sobraram umas dores de pescoço e de joelhos, nada de monta comparado com a aquisição da experiência. Agora fiquei a saber que não farei férias de Inverno (pelo menos em estâncias de esqui).
Foi também o fim de semana em que fiquei a saber que lá longe, em Lisboa, um novo governo começava. E curiosamente, até parece começar bem, sem beija-mão, em cerimónia curta e logo com discurso onde se atingem interesses instalados. Será verdade? Ou será que esta coisa de os medicamentos passarem a ser vendidos nos supermercados, é apenas o reflexo de alguma sugestão daqueles que há pouco tempo sugeriam como deveria o Governo ser feito? Mas a medida parece certa e talvez o dono dos supermercados não seja assim tão decisivo. Pelo menos o benefício da dúvida, nesta fase precoce do processo. Tanto mais que a ANF parece ser ainda mais sinistra em termos de lobby.
Domingo, com circuito por castelos que nos defenderam dos maus ventos. No bem alto dos montes, protegidos de tudo, até da linha arquitectónica dos nossos emigrantes, encontrámos Sortelha, vazia de gente, só perceptível no som que saía da Igreja ou nalgum fumegar de chaminé. De resto só turistas a calcorrear granito e vestígios de teias de aranha nas janelas. Um bar simpático nas casas do Campanário, lá no alto e um restaurante, D Sancho, que cumpre na oferta do bacalhau e da entremeada, logo depois de passada a porta à direita.
Mais à frente o Sabugal foi visto de fugida, porque o Castelo anda em reparação com fundos de FEDER, conforma mostra a placa das obras. Curiosamente adulterada por alguém que se imagina a viver com fundos Ouropeus...
Para terminar, foi Monsanto das marafonas, propostas a 4 euros por velhinhas, que informam ainda não ter vendido nada hoje. A recordação das histórias de Fernando Namora, quando consultava os canhenhos na sala ao lado e uma subida de gastar o almoço, até às Pedras Juntas e ao Castelo, para olhar cá em baixo as casas de pedra, e mesmo com pedra por dentro, a ver o silêncio de tudo isto. Sentir o país quieto lá em cima e olhar a descida controlada das aves encosta abaixo.
Chega-se depois a Lisboa descansado, preparado pela hipnose da canseira do fim de semana. Hoje, começa uma semana nova.
quinta-feira, março 10, 2005
Invertebrados
As preocupações de alinhamento com os EUA manifestadas ontem na Quadratura do Círculo parecem-me, no mínimo, desprezíveis. JPP e LX não contestavam tanto Freitas do Amaral, mas o que os preocupava eram as consequências que a sua posição sobre os EUA poderia acarretar em prejuízo para o país. Não por serem o que eram, mas porque isso poderia não parecer muito bem aos EUA. Como se já não se pudessem ter ideias que desagradem ao Império. Esta atitude de estar de cócoras ou em bicos de pés como fazia o Durão (que nem assim conseguia ficar nas fotografias) é desprezível. A afirmação de Europa é feita ao lado da Velha Europa e não da subserviência alinhada dos países de Leste.
Aliás, a comparação de Bush com Hitler é igualmente afirmada nos EUA. É uma opinião e no fundo é dessas coisas (opiniões) que somos feitos. O resto é ausência de esqueleto, sobretudo de coluna vertebral. À maneira dos vermes.
Aliás, a comparação de Bush com Hitler é igualmente afirmada nos EUA. É uma opinião e no fundo é dessas coisas (opiniões) que somos feitos. O resto é ausência de esqueleto, sobretudo de coluna vertebral. À maneira dos vermes.
quarta-feira, março 09, 2005
Lá vamos...
As coisas fazem-se, ou mais depressa ou mais devagar, mas far-se-ão. Hoje, por exemplo, pensamos numa rede integrada de cuidados hospitalares na área da Endocrinologia. Hoje, O Presidente esteve na abertura do Congresso de Clínica Geral, o sector fundamental para resolver os problemas da saúde. Há uns anos, toda a gente sabia que este tipo de coisas tinha de ser feito. Hohe, ainda duvidamos que aconteça, mas sentimos-lhe a proximidade.
Como há uns anos era impossível ter os doentes com hora marcada. Eu até já me esqueci de há quanto tempo propus isso lá no hospital...
Custa um bocadinho, sentir o que deve ser, saber que vai ser, mas não o poder fazer ser.
Como há uns anos era impossível ter os doentes com hora marcada. Eu até já me esqueci de há quanto tempo propus isso lá no hospital...
Custa um bocadinho, sentir o que deve ser, saber que vai ser, mas não o poder fazer ser.
segunda-feira, março 07, 2005
Imagens
Faz-me bem sair da rotina da ida e vinda de carro daqui para acolá. Olhar à volta é bom, quando nos permite ver.
Há dias, em Espinho, enquanto espera pelo Alfa para regressar, fui olhando em volta as pessoas. Tinham ainda aquele ar vestido de escuro, os lenços, as saias, as obesidades por baixo e as cores rosadas que as adegas (lojas como se dizia), por baixo das casas, dão às caras. É a imagem de uma miséria retro, mas nacional, com algum suporte familiar por trás, aparentemente. Uma miséria segura, temente a Deus.
Ontem, tendo que ir às 10 da noite a uma Farmácia nas Portas de Benfica, as imagens são diferentes por baixo das penúmbras induzidas por candeeiros de luz alaranjada. No frio da noite, anda-se de ténis e a cabeça vai coberta com bonés,o tronco tapado por blusões sempre com algo escrito, num ar de Queens ou de qualquer outra periferia de cidade americana. A sensação é de maior perigo, porque aqui a miséria, já nem tem nação, é imperial e a família já foi. Uma miséria que não teme nada e não tem fé. Está por tudo.
Uma e outra nada têm que ver com a pobreza de Cuba, cheia de esperança e de sorrisos de resistência.
domingo, março 06, 2005
Má visão
Mas será que pensam que no Largo do Rato não há máquinas fotográficas? Para que quererá alguém um retrato quando tem o original?
Preocupante é a negação da história. Que seremos sem a nossa história? Afinal nem são originais. Já Estaline tinha feito desaparecer vários retratos, por os não poder ver mais.
Preocupante é a negação da história. Que seremos sem a nossa história? Afinal nem são originais. Já Estaline tinha feito desaparecer vários retratos, por os não poder ver mais.
sábado, março 05, 2005
A visão de um melro
O fim de semana aqui na praia tem esta vantagem: poder olhar os pássaros a depenicar na relva e deixar-me ficar a imaginar o que os alimenta, na ideia do Lavoisier, de que nada se perde. De repente, sou sobressaltado por uma notícia que dá conta da transformação dos corpos cremados em carbono para posterior exibição de diamante no peito ou no dedo de um qualquer nosso familiar. A transformação do orgânico em mineral, assusta-me, deprime-me. Sempre me fascinou a ideia de cinzas lançadas no mar. Mas tudo bem, se o encargo do cruzeiro for grande, satisfaz plenamente esta ideia de ser devorado por um melro. Agora, petrificado para fútil exibição é que não!Os diamantes são eternos, mas não têm vida.
quinta-feira, março 03, 2005
Mundo real
quarta-feira, março 02, 2005
Valores
Foi ao fim de vários anos de o mirar nas páginas de revistas e jornais, que finalmente o tive. Custou na altura quatro contos e pouco, ou melhor, muito trabalho e muito desejo. Quase ficava grosseiro no meu pulso de recém entrado na Faculdade, mas muito mais do que the first watch worn on the moon, tinha esse precurso de vários anos com muitos olhares, esse ar de quase inacessibilidade, que se tinha tornado realidade. Era o prémio do sétimo ano, estatuto elevado na altura, acesso garantido a algo mais do que um lugar nos Correios. Foi prémio meu e também prazer de quem o deu.
Depois, numa manhã trágica de mergulhos em Sesimbra, rapidamente sufocou, ficou acastanhado, irrecuperável segundo o veredicto decisivo dos técnicos. Quem o tinha dado, percebeu a perda que era e repetiu a generosidade de outro tempo, porque sabia exactamente o que aqule objecto era.
Viveu a réplica alguns anos de alguns maus tratos, coisas da idade em que alguns valores são menos bem apreciados, aqueles tempos em que tudo é possível e nada acaba. Ficou paralítica e acabou a dormir anos seguidos numa gaveta de mesa de cabeceira, onde, de longe a longe, lá o via imóvel, riscado, correia partida. Sempre que o via, o significado de todos aqueles anos vinha ter comigo e quase lhe dizia, espera aí pá, que um destes dias vais voltar a andar a contar-me o tempo.
Chegou o dia. É um risco ter destas coisas que têm valores para além do valor que têm. Ou o valor das coisas será o significado das coisas, muitas vezes menos aparente do que se vê. Nestas alturas ficamos vulneráveis e tudo pode acontecer, mesmo aceitar um orçamento de reanimação perfeitamente absurdo que daria para comprar meia dúzia de coisas que nos mostrassem o tempo, sem necessidade de lhes darmos corda de 48 em 48 horas. Só que não têm a carga da história e há objectos que têm história, significam muito para além deles.
Vai renascer para continuar a mostrar-me muito mais do que as horas. Sobretudo, que as coisas são quando têm história e que pouco é o valor do que não tem agarrado uma história. Especialmente, se essa história for difícil, o valor aumenta.
Depois, numa manhã trágica de mergulhos em Sesimbra, rapidamente sufocou, ficou acastanhado, irrecuperável segundo o veredicto decisivo dos técnicos. Quem o tinha dado, percebeu a perda que era e repetiu a generosidade de outro tempo, porque sabia exactamente o que aqule objecto era.
Viveu a réplica alguns anos de alguns maus tratos, coisas da idade em que alguns valores são menos bem apreciados, aqueles tempos em que tudo é possível e nada acaba. Ficou paralítica e acabou a dormir anos seguidos numa gaveta de mesa de cabeceira, onde, de longe a longe, lá o via imóvel, riscado, correia partida. Sempre que o via, o significado de todos aqueles anos vinha ter comigo e quase lhe dizia, espera aí pá, que um destes dias vais voltar a andar a contar-me o tempo.
Chegou o dia. É um risco ter destas coisas que têm valores para além do valor que têm. Ou o valor das coisas será o significado das coisas, muitas vezes menos aparente do que se vê. Nestas alturas ficamos vulneráveis e tudo pode acontecer, mesmo aceitar um orçamento de reanimação perfeitamente absurdo que daria para comprar meia dúzia de coisas que nos mostrassem o tempo, sem necessidade de lhes darmos corda de 48 em 48 horas. Só que não têm a carga da história e há objectos que têm história, significam muito para além deles.
Vai renascer para continuar a mostrar-me muito mais do que as horas. Sobretudo, que as coisas são quando têm história e que pouco é o valor do que não tem agarrado uma história. Especialmente, se essa história for difícil, o valor aumenta.
terça-feira, março 01, 2005
Gripado
Nas pequenas coisas dos dias, por vezes, só um sorriso já basta. E relativizar os monstros, muitas das vezes mais belos do que parecem na primeira olhada.
Este corpo dorido de gripe é a prova de um grande, enorme conflito, pela libertação do invasor que o acossa. E acaba reforçado, melhor armado para o próximo combate. Entretanto, tosse e mialgias, uma sensação de olhos pesados com cefaleia acompanhante.
Agradável esta sensação de conhecer o que isto é e não ter a necessidade de vir aqui, onde estou a vê-los chegar para serem atendidos por um seu igual.
Este corpo dorido de gripe é a prova de um grande, enorme conflito, pela libertação do invasor que o acossa. E acaba reforçado, melhor armado para o próximo combate. Entretanto, tosse e mialgias, uma sensação de olhos pesados com cefaleia acompanhante.
Agradável esta sensação de conhecer o que isto é e não ter a necessidade de vir aqui, onde estou a vê-los chegar para serem atendidos por um seu igual.
Subscrever:
Mensagens (Atom)