Apesar de ter tido conhecimento com atraso, aqui fica:
E-mail do José Mário Branco
Caras Amigas e Caros Amigos,
Há momentos em que precisamos de cair em nós, e perceber que o mundo está degradado e degradante, que isso acontece por razões concretas – e que cada um de nós pode fazer qualquer coisa para o mudar.
Este é um desses momentos, e decidi dirigir-me pessoalmente a todas as pessoas que tenho na minha lista de endereços.
Vai realizar-se em Lisboa (sexta à noite, sábado manhã-e-tarde, e domingo à tarde) a Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque, no Auditório da Torre do Tombo, ao lado da Faculdade de Letras, na Universidade.
Esta iniciativa, na qual tenho trabalhado a tempo inteiro nos últimos seis meses, tem sido boicotada de todas as maneiras pela comunicação social – apenas dois artigos no Público e uma curta entrevista na SIC-Notícias. Mas as mentiras do discurso único que nos domina quanto à política imperial dos EUA, essas entram-nos em casa a toda a hora. As mentiras e as omissões. São as palavras escolhidas dos pivots, é o medo dos jornalistas e a blindagem das agendas de redacção.
O Tribunal Mundial sobre o Iraque é um tribunal de opinião. É um recurso de quem não pode, pelos meios que deviam ser normais, encontrar forma de contrariar esta avançada orwelliana, este golpe-de-estado comunicacional fascizante, esta sensação de que “se calhar mais vale estarmos calados”.
O importante nesta iniciativa não é só aquela guerra distante. É a maneira como estamos a ser levados a viver com ela. É um problema de aqui e de agora. Tudo é feito para nos habituarmos a ficar calados. Para, quando chegar a nossa vez, não sermos capazes de reagir.
Há assuntos tão consensuais, e no entanto são tratados em voz baixa, entre olhares discretos e cúmplices, meias palavras, entrelinhas. Não vá prejudicar-se “a vidinha”... Ou será que estamos a voltar aos anos 30 ?
Venham à Audiência! Não é uma manif, é um encontro de pessoas que nos vão contar o que está a ser feito em nosso nome. Pessoas que não se deixam calar: o Iraque é um horror numa lista (recente e futura) de coisas horríveis. E nós, pelo menos oficialmente, somos cúmplices.
Venham à Audiência! Faz dois anos que começaram a matar umas centenas de milhares de seres humanos, cuja culpa é terem petróleo debaixo dos pés – depois de terem morto uns milhões dos mesmos com o embargo, porque a aspirina e o leite condensado podiam servir para fazer armas de destruição maciça… Faz dois anos que o fazem, em nosso nome. Faz dois anos.
Venham à Torre do Tombo, à Torre do grande Tombo que os pariu. Que os há-de tombar.
Começa na sexta às 21h30. Continua no sábado e no domingo.
Vai estar bom tempo – se lá estivermos muitos.
Um abraço do José Mário Branco.
Teria ido, tivesse sabido mais cedo. Irei à próxima se ouvir dizer.
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