Continuavas a ser uma criança. Encontrámo-nos ao fim de teres vencido uma batalha importante. O neurocirurgião tinha-te tirado o tumor e agora, que tinhas 12 ou 13 anos, era altura de vires tomar as hormonas para cresceres. De baixinha recuperaste bem e ficaste crescidota, sempre gordinha. Lutavas contra a tua vontade de coisas doces e gostavas de comer. Tirando isso, estavas bem. Tiveste, como agora todos os jovens têm, dificuldades de arranjar um emprego. Fizeste formação profissional e tinhas sempre um sorriso nas consultas. Ainda me lembro do teu bordado de ponto cruz que me ofereceste pelo Natal. Por estares habituada a médicos e hospitais desde pequenina, vivias os problemas dos doentes. Foste daquelas que explicaram aos outros, que as injecções da hormona não doíam nada. Admiravas tudo o que se fazia na saúde. Um dia, já nem me lembro a que propósito, disseste-me que quando morresses gostarias de dar-te em órgãos para que outros pudessem viver. Sempre foste assim, sorridente e generosa. E hoje, depois daquela cefaleia súbita e muito intensa que tiveste, chegou o momento de mais uma vez, mesmo na morte, continuares generosa.
É uma sacanice que a bruxa negra faz de vez em quando, esta de nos levar gente bonita. Logo hoje, dia 1 de Junho, não se faz. Afinal ainda eras uma criança.
Adeus, T., descansa!
1 comentário:
A vida tem destas coisas. O que menos esperamos, por vezes acontece.
Carlos Caldeira
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