segunda-feira, março 14, 2005

Três dias grandes e rápidos

O equilíbrio entre informação e propaganda torna-se mais exigente e exige lucidez muito mais aguda quando quem informa depende financeiramente de quem quer fazer a propaganda. A menção dos conflitos de interesse, torna-se então imprescindível. Na sua actividade não é desejável que uma Sociedade esteja economicamente dependente da Indústria Farmacêutica. Das duas uma, ou permanece viva e fará o frete aos patrocinadores ou morrerá porque se arroga a uma atitude de independência e deixará de ser apoiada. Só que esta é a única atitude para permanecer viva, realmente. Não há almoços grátis e todos terão de perceber essa realidade, isto é as quotas terão de ser mais caras. A independ~encia depende disso, da capacidade de viver à nossa custa. Quando se trata de ter posições de grande impacte económico, que em última análise, vão interferir com as finanças do Estado, deverá também ser este a contribuir para manter vozes independentes e tecnicamente fundamentadas. O Estado deve investir para grande desespero de quem o quer só pagador, sem estratégia, porque acha que são os privados que devem definir as suas estratégias. Saí destas reuniões mais céptico, quase demitido. Por agora ainda vou resistir.
Tanto mais que tinha pela frente um fim-de-semana de descanso nos frios da serra da Estrela.
Simpática, e com excelência de serviço a Pousada de Belmonte. Deixo aqui a memória da cela de Frei Francisco para o caso de lá voltar. Na memória ficarão igualmente uns lombinhos de porco Ibérico, com migas de farinheira da Guarda e puré de grão. E a adaptação de um mosteiro, em que a capela se transformou em Bar, numa reconversão de novos tempos. Finalmente, o sorriso que me surge quando me perguntam em nome de que empresa fica a conta. Nesta terra, as empresas vão de fim-de-semana e levam os filhos. Sempre a aprender.
Surpreendeu também a serra com tanto esquiador numa manhã que quase parecia um areal da Costa da Caparica. Percebi que estou num país de gente que gosta de deslizar de forma pouco controlada encosta abaixo no prazer da vertigem de ir até ao fundo o mais depressa possível. Até já tinha desconfiado, mas aquela multidão foi a confirmação. Para mim sobraram umas dores de pescoço e de joelhos, nada de monta comparado com a aquisição da experiência. Agora fiquei a saber que não farei férias de Inverno (pelo menos em estâncias de esqui).
Foi também o fim de semana em que fiquei a saber que lá longe, em Lisboa, um novo governo começava. E curiosamente, até parece começar bem, sem beija-mão, em cerimónia curta e logo com discurso onde se atingem interesses instalados. Será verdade? Ou será que esta coisa de os medicamentos passarem a ser vendidos nos supermercados, é apenas o reflexo de alguma sugestão daqueles que há pouco tempo sugeriam como deveria o Governo ser feito? Mas a medida parece certa e talvez o dono dos supermercados não seja assim tão decisivo. Pelo menos o benefício da dúvida, nesta fase precoce do processo. Tanto mais que a ANF parece ser ainda mais sinistra em termos de lobby.
Domingo, com circuito por castelos que nos defenderam dos maus ventos. No bem alto dos montes, protegidos de tudo, até da linha arquitectónica dos nossos emigrantes, encontrámos Sortelha, vazia de gente, só perceptível no som que saía da Igreja ou nalgum fumegar de chaminé. De resto só turistas a calcorrear granito e vestígios de teias de aranha nas janelas. Um bar simpático nas casas do Campanário, lá no alto e um restaurante, D Sancho, que cumpre na oferta do bacalhau e da entremeada, logo depois de passada a porta à direita.
Mais à frente o Sabugal foi visto de fugida, porque o Castelo anda em reparação com fundos de FEDER, conforma mostra a placa das obras. Curiosamente adulterada por alguém que se imagina a viver com fundos Ouropeus...
Para terminar, foi Monsanto das marafonas, propostas a 4 euros por velhinhas, que informam ainda não ter vendido nada hoje. A recordação das histórias de Fernando Namora, quando consultava os canhenhos na sala ao lado e uma subida de gastar o almoço, até às Pedras Juntas e ao Castelo, para olhar cá em baixo as casas de pedra, e mesmo com pedra por dentro, a ver o silêncio de tudo isto. Sentir o país quieto lá em cima e olhar a descida controlada das aves encosta abaixo.
Chega-se depois a Lisboa descansado, preparado pela hipnose da canseira do fim de semana. Hoje, começa uma semana nova.

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