quinta-feira, janeiro 18, 2024

 O OTIMISTA

Olhou em volta e pensou no que iria na cabeça da maioria daqueles todos sobre assuntos triviais como a supremacia branca ou a dos homens, direitos como o de abortar ou a eutanásia, direitos dos que têm opções de género diferentes do habitual ou que são de etnias diferentes da maioritária. Qual o critério que utilizariam para as suas escolhas se chamados a votar, o que mais vantagens lhes pudesse trazer pessoalmente ou outro que valorizasse a liberdade de cada um? E ficou com dúvidas sobre a causa das escolhas individuais e da maioria resultante, mas teve ao mesmo tempo a certeza de que os pretos, as mulheres, os desesperados com sofrimentos sem soluções ou os asiáticos têm direito natural de opção que se sobrepõe ao direito da maioria, por muito maioria que seja. Nessa altura, entendeu que a democracia diz respeito ao coletivo, mas tem de ser limitada pelos direitos do indivíduo, respeitando-se a lei da igualdade. Para torpedear a Igualdade já bastam as condições resultantes da origem social, pois na genética se não encontram tantas diferenças assim. Percebeu também que a Liberdade era um mito enquanto houver desigualdade e que a Fraternidade era uma inexistência perante a ganância individual. Mais de 200 anos depois, a Revolução Francesa continua à espera de ser feita. Habilidosos, os derrotados de então, criaram fantasias como a democracia liberal para se aguentarem à tona e os vencedores temporários da altura continuam à procura da forma de instaurar a Comuna de uma vez por todas. Os mais otimistas sabem que vai acontecer. Os hipócritas dizem que não há alternativa. E assim, nos continuamos a ir arrastados dentro do túnel, sem se ver o fundo, quando poderíamos estar a fazer um mundo de maravilhas sempre adiado para um futuro que teima em não chegar. O mais extraordinário é ainda cada um não ter percebido que andará por aí não mais de umas dezenas de anos e a vida do mundo se mede em biliões de anos, mas mais inacreditável é a maioria continuar a deixar-se levar pelas cantigas de uma ínfima minoria. Como diria o outro, ‘’não havia necessidade’’. Mas como se percebe, ainda há muito tempo para se chegar lá.

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