segunda-feira, janeiro 08, 2024

 A REVISÃO ANUAL

Aparentemente, nascemos como há milhares de anos inaptos, indefesos, incapazes de sobreviver, apenas dotados de reflexos básicos, mas capazes de desenvolvimento, se cuidados. À nossa volta cresceu o conhecimento até agora criado por nós. Durante muito tempo foi transmitido entre gerações, mesmo antes da escrita, através do conto que os mais velhos faziam aos mais novos. Claro que, muitas vezes, os contadores lhe acrescentavam pontos, enriquecendo a narrativa, gerando ao mesmo tempo conhecimentos diversos. Depois colecionaram-se os conhecimentos nos livros e, lendo-os, obtínhamos a compreensão do mundo. A certa altura, percebeu-se a necessidade do conhecimento especializado, porque o limite da capacidade de desenvolvimento individual não permitia organizar todo o conhecimento. Sentimos então a necessidade da interação e de acreditarmos uns nos outros apesar das assimetrias de conhecimentos. Criou-se um exercício complexo gerido pela invenção da ética, que se tornou imperiosa para se evitarem conflitos, que, mostra toda a história, não temos sabido prevenir. Quando há conflitos porque alguém admite comportamentos não éticos no outro, recorre-se a outra invenção, a justiça ou resolve-se a coisa, da forma mais ancestral, através da imposição do mais forte.
Mas na maioria dos casos, somos seres gregários, que aceitamos, por termos uma relação de confiança, o preço do conhecimento dos outros mesmo quando não sabemos nada do assunto. É isso, que permite sairmos da oficina do automóvel e continuarmos a sorrir. Pior será o dia em que uma máquina dialogará connosco cheia de inteligência artificial. Nessa altura, não sei se me irei a ela.

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