domingo, janeiro 28, 2024

 É ESTRANHO

É estranho viver num mundo de onde a verdade fugiu, porque a liberdade de cada um se arroga a criar uma verdade à própria medida do interesse pessoal. Tento medir se é assim, ou se o sentido é uma miragem e, na verdade, sempre assim terá sido. Fico com alguma saudade do tempo das dúvidas, quando se procurava a verdade, devagar, lendo os livros e não se tinha a arrogância do saber, este saber igual ao dos nossos amigos e que é o oposto dos outros saberes dos que o não são. Este cada um por si, esta demonstração sem bases científicas do saber, este desinteresse mesmo pelos saberes dos outros, esta falta de procura conjunta, que nos deixa sozinhos e perdidos quando se está só, e não se tem de ganhar imediatamente todas as discussões.
Paralelamente à ideia de que se chegou ao fim da história, uma burrice também, há outra que é pensar que se chegou ao fim das incertezas, quando sem elas não é possível a busca do conhecimento, ou mesmo reconhecendo algumas dúvidas, se procura apenas uma resposta rápida e fácil. Chega-se a pensar que tudo se sabe e que há respostas para tudo.
Não vale tudo no conhecimento, que não é uma questão de opinião e muito menos de afirmação em nome da liberdade de pensamento de cada um. Não, nem tudo é relativo e o que liberta, individual e coletivamente, é o que realmente é verdade, a qual se atinge pelo confronto das hipóteses e não pela ausência de argumentação para onde se caminha, porque parece mal argumentar. Perturba o bem-estar. Quando se não argumenta, enquistamo-nos em verdades, e quando há mais do que uma, é porque se não conhece a verdadeira e se fica naquela ignorância feliz que agora tanto se busca. Cada um na sua, é um mundo estranho este em que se fica só, de costas voltadas. Era mais bonito o outro em que se confrontavam as ideias sem medo de parecer mal. Era mais mundo. E menos mudo.

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