DO REGISTO E DA MENTIRA
Com as câmaras registam-se as coisas que foram, mas não realmente o que foram. Muito menos se regista o que são ou que hão-de vir a ser. Perante uma câmara que prenuncia um registo, a verdade altera-se para parecer a verdade que se quer seja registada. É dessa forma que os registos são frequentemente mentirosos, exceto quando as imagens são roubadas e os registados não sabem que o estão a ser. A consciência da pose altera a verdade. Fica só o que se quer que seja visto. A verdade está mais na teleobjetiva do que na grande angular. A verdade regista-se à traição evitando a vontade de se ficar bem no registo. A verdade depende de o fotógrafo não permitir que o fotografado faça pose e também de não lhe compor muito a imagem e a posição de quem se está a fotografar. A verdade não é representação, esta é inerente ao espetáculo, que, por definição, pode ilustrar não a realidade, mas o que se quer que ela seja, mas nunca a verdade.
Isto vê-se muito na política, onde aquilo que se diz não corresponde ao que se pensa, mas o que se quer fazer pensar que foi pensado. Diz-se o que se pensa que ficará bem no registo, isto é, o que se imagina que pode agradar, mas esconde-se o que na verdade se pensa por se achar que pode ser desagradável. O escrutínio de quem observa tem de ser muito cuidadoso na procura da verdade e da realidade. É por falta desse exercício exigente que se é enganado tão frequentemente.
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