Andava eu ainda à procura de uma bilheteira na estação de
Entrecampos, quando ouvi ocasionalmente uma voz meia de triunfo dizer ao
telefone móvel, então sabes a novidade? O Gaspar demitiu-se. Incrédulo,
consultei o Tablet e no sapo.pt estava a confirmação, logo reconfirmada na TSF
e no Expresso. Sorri. Na altura quase liguei umas buzinadelas à notícia, mas
terá sido coincidência e correspondido a alguns daqueles ralhetes de condutores
em cruzamentos. Ainda assim, aliviado, sentei-me no meu lugar.
Na aproximação a Vendas Novas, os meus vizinhos de carruagem,
dois alentejanos de Beja que vieram a consultas da coluna aos hospitais de
Lisboa, tinham parado de falar das suas aventuras com os clínicos indecisos
entre operações e esperar mais algum tempo. Um debruçado sobre o telemóvel,
disse monotonamente, diz aqui que o ministro das Finanças se demitiu. Resposta
do outro, vai comer para outra manjedoura, esses nunca ficam a perder e depois
vai para lá outro igual. Pois, anuiu o primeiro.
Há uma desesperança e confusão em tudo isto, a impotência
ensinada durante o fascismo inseriu-se na genética da gente. A propaganda do
tudo igual vomitada diariamente nos media, nas análises superficiais e
emocionalmente catastróficas, arrasa toda a reflexão e raciocínio lógico ou a
criação de possíveis estratégias. Demitidos, ficam à espera. Como a grande
maioria, que noutros tempos também ficou à espera de algo, que surgiu em abril
de 74. Mas surgiu porque uns quantos se tinham mexido entretanto. Curiosamente,
os mesmos que agora vão organizando manifestações e greves que, diz a
propaganda oficial e o subconsciente contaminado, não servem para nada.
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