sexta-feira, dezembro 24, 2010
Cartão de Natal
«Não devia haver Dezembro». Assim dito na consulta, como um disparo do peso que a solidão implica. O olhar entre o desistente e a revolta pela pressão da alegria virtual do Natal a toda a volta. O Natal como quase insulto para quem ficou sem marido e um filho há alguns anos num acidente estúpido, como são todos os acidentes. A vida, algumas vezes, transforma-se num caminho por entre gotas de chuva numa ânsia de chegar nem se sabe bem aonde. Andar apenas pelo tempo fora sem motivo de caminhada ficando o mais enxuto que for possível. Neste tempo da solidariedade institucionalizada, que ao menos os recordemos, aqueles que, correm por este mês desejosos que acabe rapidamente até, de novo, mergulharem nos restantes meses em que a solidão se generaliza a todos e se podem sentir menos diferentes.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Optimismo racional
Há certezas que nos restam e, depois da tempestade, vem o dia 24 à noite e não pensamos mais nas filas, nos engarrafamentos de trânsito, nem nas meninas que fazem embrulhos nas lojas já cansadas de embrulhar. É a pausa na bagunça e o preparar para o novo tempo em que teremos de ter presente que para pior já basta assim e acreditarmos que o sol sempre surge depois das nuvens e é inevitável que, um destes dias, a alvorada cante. Porque a história continua e sempre se renova por novos caminhos, apesar de, muitas vezes, ser necessário chegar a becos sem saída.
Só para chatear, no fundo da depressão, sabe bem ficar racionalmente optimista.
Só para chatear, no fundo da depressão, sabe bem ficar racionalmente optimista.
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Mais um
É realmente um dia como todos os outros. Ou seria, não fossem os amigos torná-lo especial e diferente. São melhores os dias que fazemos em conjunto. Que haja mais e vejamos todos.
terça-feira, dezembro 14, 2010
Prendinhas
Chegou-se a um tempo em que se trocam prendas sem conhecer o ofertante como se fosse possível escolher uma prenda sem que nos metamos um pouco na oferta que se faz. Podemos até não ser capazes de identificar a impressão digital, mas ela está lá, na ironia ou no sorriso que estas prendas sempre trazem. Mas não deixa de ser estranho dar algo a quem se não conhece, quando substituímos uma mensagem por uma oferta universal. De certa maneira não damos à pessoa, mas ao Natal e fica a imensa dúvida se terá valido a pena ou se estaremos de perfeito juízo quando o fazemos.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Caos
Ali, ligeiramente descentrado, na paisagem cinzenta e desfocada estava eu. E, de repente, um estrondo nunca ouvido, exactamente sobre mim. Sem luz de relâmpagos, porque tudo ocorre numa penumbra necessária para a visão dos contornos do horizonte onde, por todo o lado, a toda a volta, há explosões e colunas de fumo, gigantescas, como nunca tinha visto, incontáveis, renovando-se no meio de um absoluto silêncio até ao meu acordar espantado no meio de uma absoluta e real tranquilidade.
Às vezes sabe bem saborear a completa desorganização do tempo e do espaço, o caos total.
Às vezes sabe bem saborear a completa desorganização do tempo e do espaço, o caos total.
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Dor da gente
Já não é o trabalho de as fazer que cansa, o que me vai cansando agora nas consultas é a tristeza das pessoas, uma tristeza entranhada nos olhares e nas queixas, uma envolvência de dor de alma que amachuca o diálogo. E quase por certo não contribuíram para a dívida, para a ausência de crédito que a outros justifica a supressão dos seus empregos. Há uma anestesia da crise com que os bombardeiam a toda a hora e apenas lhes sobra a vergonha em vez de revolta, consumida que foi a energia na audição dos medos. Dói esta dor da gente, depois de lhes terem roubado a esperança.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Como os cães
É na hora da despedida que Coimbra tem mais encanto e é no afastamento das pessoas que a comunicação se torna imperiosa. Também ninguém faz jantares na altura do ingresso e frequentes são os feitos no momento da saída. Em tudo isto há um desaproveitamento do tempo presente em que se não desfruta a paisagem, porque se sonha com a viagem que talvez se não venha a fazer nunca, em que se não fala directamente com os outros, a menos que nos afastemos e então vamos a correr para os telemóveis dizer que está um dia de sol só pelo gozo de comunicarmos, em que não desencantamos estratégias comuns e muitas vezes planeamos tramar o colega do trabalho e deixamos para a altura em que deixa a nossa companhia o momento de todas as homenagens e a afirmação de quanto lhe queremos bem. Apreciamos, quando deixamos de ter por perto e,então quando morrem, todos ficam absolutamente perfeitos, por muito que deles tenhamos discordado ou mesmo mal tratado. O momento máximo de se ser magnânimo é aquele em que a sombra do outro já se não projecta sobre nós e deixa o caminho livre, finalmente.
No fundo, age-se pelo medo. Como os cães que rosnam, mesmo que saciados, quando alguém se aproxima do osso que esconderam. À distância abanam o rabo. Mas, o tempo é agora e não depois, nem no passado que já não é. Desperdiçá-lo é perder vida.
No fundo, age-se pelo medo. Como os cães que rosnam, mesmo que saciados, quando alguém se aproxima do osso que esconderam. À distância abanam o rabo. Mas, o tempo é agora e não depois, nem no passado que já não é. Desperdiçá-lo é perder vida.
terça-feira, dezembro 07, 2010
A grande matilha
Bem sabemos que acontece com os cães o que com os homens também vai acontecendo. Vão-se os bons, ficando os outros. A imagem tem mais de 100 anos e permanece bem actual. Hoje é a matilha dos mercados. Que me perdoem os cães, que estes são mesmo vadios (= quem não quer trabalhar).
segunda-feira, dezembro 06, 2010
Sem futuro
No final, José, frágil, segue amparado pela solidariedade de Pilar percorrendo um vasto hall de um aeroporto. Vão-se cruzando com outros passageiros mais ou menos apressados, sem que ninguém os reconheça. Indiferentes. De repente, os caçadores de autógrafos e os jornalistas que fazem sempre as mesmas perguntas desapareceram da circulação. Ainda bem?
Por aqui passamos e andamos anónimos e nada parece garantir que sobreviveremos ao momento inevitável em que deixamos de ser. De pouco valerá a obra feita e todos seremos sem futuro e quase iguais. Ao menos, neste limite, a equidade surge, contrariando toda a ânsia de diferença, que alguns insistem em proclamar, ignorando a sua limitação fundamental, a impossibilidade da eternidade do tempo. Porque o tempo dos outros, é o deles e não o de cada um. Na verdade, o importante parece ser a tranquilidade com que se passa por aqui, despertando algum sorriso nos que nos vêem passar, os amigos, e observando as árvores que nascem, o sol que se põe e as rãs que saltam na estrada ao luar, porque a vida se enche de coisas banais e se esvazia nas singularidades.
Antes da fita, soube-me bem ter ficado tranquilo e condescendente quando o funcionário da bilheteira me perguntou se o bilhete era de sénior. Nada me faria supor tal oferta e fiquei um pouco sem saber se seria o jovem o desatento deste diálogo.
Por aqui passamos e andamos anónimos e nada parece garantir que sobreviveremos ao momento inevitável em que deixamos de ser. De pouco valerá a obra feita e todos seremos sem futuro e quase iguais. Ao menos, neste limite, a equidade surge, contrariando toda a ânsia de diferença, que alguns insistem em proclamar, ignorando a sua limitação fundamental, a impossibilidade da eternidade do tempo. Porque o tempo dos outros, é o deles e não o de cada um. Na verdade, o importante parece ser a tranquilidade com que se passa por aqui, despertando algum sorriso nos que nos vêem passar, os amigos, e observando as árvores que nascem, o sol que se põe e as rãs que saltam na estrada ao luar, porque a vida se enche de coisas banais e se esvazia nas singularidades.
Antes da fita, soube-me bem ter ficado tranquilo e condescendente quando o funcionário da bilheteira me perguntou se o bilhete era de sénior. Nada me faria supor tal oferta e fiquei um pouco sem saber se seria o jovem o desatento deste diálogo.
domingo, dezembro 05, 2010
Visão nocturna
A vida é esta coisa de não passar por estradas assépticas, completamente normalizadas onde nada acontece enquanto se passa a não ser ter passado mais um carro. A vida encontro-a nesta estrada onde as rãs saltam na noite e subitamente se imobilizam para que possamos passar ao lado. Longe da cidade, debaixo da via láctea as rãs atravessam a estrada como se estivessem a celebrar a vida. E eu vejo-as.
sábado, dezembro 04, 2010
Greve descontrolada
É complicado para mim perceber o que está por trás e permite que seja possível levar à prática uma greve sem aviso, sem organização (!?) e sem controlo sindical. Estaremos no início de novos tempos em que a comunicação fácil de hoje permite mobilizar instantaneamente uma classe? Mas isso só é conceptualmente possível se imaginarmos uma enorme unanimidade e sentimento comum de maus-tratos entre os contactados. Ao mesmo tempo que assusta, a ideia seduz, pela possível eficácia. Possivelmente, fará história esta descontrolada greve dos controladores espanhóis.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Censura?!
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segunda-feira, novembro 29, 2010
Special one
Recebo sempre com alguma satisfação a quebra dos mitos. Aliás, os mitos são uma das influências mais nefastas que por aí andam, porque levam muitos a acreditar na perfeição ou, pior, a aceitar as imperfeições de forma pacífica. Pelo contrário, as nossas imperfeições serão sempre uma oportunidade de melhorar, a menos que pensemos perigosamente que a melhoria só está ao alcance de alguns predestinados e nos esqueçamos do imenso que podemos aprender com as nossas insuficiências ou mesmo com os nossos erros. É reagindo que se lá chega, ou, ainda melhor, se formos realmente pró-activos mudando o que achamos estar errado. A propaganda dos mitos que nos afastam da acção levando-nos a uma atitude paralisante de contemplação é instigada exactamente para nos tornar dóceis e conformados com a sorte. Por isso, sempre que um mito cai, isso me agrada. Ver o auto-intitulado melhor treinador do mundo ser derrotado por 5-0 é, por isso tudo, motivo de festa.
Vai sendo tempo de se não hipervalorizar tanto a diferença (a real e a criada pelo marketing) e apostar mais na realização comum e solidária da vida. Que o special one me desculpe.
Vai sendo tempo de se não hipervalorizar tanto a diferença (a real e a criada pelo marketing) e apostar mais na realização comum e solidária da vida. Que o special one me desculpe.
domingo, novembro 28, 2010
sábado, novembro 27, 2010
Adeus
Sabia que estavas à beira do precipício, mas que raio te deu para ires embora sem esperares que eu chegasse? Sempre determinado fizeste como te deu a vontade e valente não esperaste por uma festa de pieguice que fica na minha mão. Vai ser diferente entrar em casa sem ouvir a tua voz forte. Nem um pulo, nem uma ameaça de rabo a agitar-se. Descansa, miúdo, foste um bom companheiro durante estes anos.
domingo, novembro 21, 2010
A luz da sombra
Pode, por vezes, não ser no objecto que se encontra a compreensão da realidade, mas na sombra que ela própria produz. É através dos jogos de luz que se chega à compreensão mais abrangente das formas. São múltiplos os caminhos para se atingir a essência das coisas e nunca as entenderemos se as olharmos apenas da forma mais comum. Às vezes é pelos efeitos que descobrimos as causas. O importante é estar atento e olhar para se poder ver. Ou como dizia Saramago "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
sábado, novembro 20, 2010
Dúvida
Da fome, da peste e da guerra, livrai-nos Senhor” oração do século XIV.
«... e também dos mercados», oração do século XXI
Sete séculos depois, a mesma história. Uns capitulam perante o compromisso que eles próprios engendraram, outros resistem. Foi assim em 1383, assim está a ser em 2010. Há por aí muito nobre ajoelhado (ou até em prece maometana) face aos ditos mercados, esperando, quase ansiosos o único desfecho possível, a estocada final. E há também o povo sempre capaz de resistir e atirar pela janela alguns andeiros indesejáveis. Será que ainda há energia para um gesto necessário?
«... e também dos mercados», oração do século XXI
Sete séculos depois, a mesma história. Uns capitulam perante o compromisso que eles próprios engendraram, outros resistem. Foi assim em 1383, assim está a ser em 2010. Há por aí muito nobre ajoelhado (ou até em prece maometana) face aos ditos mercados, esperando, quase ansiosos o único desfecho possível, a estocada final. E há também o povo sempre capaz de resistir e atirar pela janela alguns andeiros indesejáveis. Será que ainda há energia para um gesto necessário?
sexta-feira, novembro 19, 2010
Estratégia de coping
É bom não antecipar nunca as desgraças. Mais que não seja porque não vale a pena vivê-las duas vezes, no momento em que as antecipamos e, depois, quando ocorrem. Ou então nem chegam a acontecer e estivemos a perder tempo sofrendo de forma inútil.
quinta-feira, novembro 18, 2010
Estratégia de risco
Estar aqui com a urgência de estar além, mais que não seja porque adiar a ida pode ser (espera-se que não seja) uma impossibilidade. Saber que a liberdade é ali e continuar preso a esta espécie de prisão aqui. Está-se dividido entre o dever e o prazer, o que torna mais penosa ainda a obrigação de ficar. Pergunta-se para quê e a resposta não chega, restando a vontade não garantida de que um dia... É uma estratégia de alto risco, mais do que uma inércia e com o passar do tempo fica a sensação de que o prazer de lá estar seria agora e não depois, quando a percepção e a memória já poderão não permitir gozar a plenitude dos instantes. O sol vai nascer e pôr-se todos os dias, mas as árvores vão, cada vez, dar menos sombra. Poderá ser que ainda se possa ficar debaixo, quieto, à espera do momento final na paz do espaço e do tempo. Mas nada o pode garantir e isso é que inquieta.
domingo, novembro 14, 2010
Uma tarde mal passada
Primeiro estranhei a multidão numa sexta-feira à tarde, mas é sabido que o contacto com um possível futuro ministro os leva aos maiores sacrifícios e poucos foram os que lá não estiveram. Depois os sábios, optaram pela teorização da gestão da saúde em tempos de crise e fugiram, com excepção do potencial ministro, à apresentação de medidas concretas. A mais significativa, a necessidade da separação do trabalho dos médicos entre sector privado e público. É mais que tempo de parar com esta coisa de ir fazer umas horas de manhã a um hospital e depois ir ganhar dinheiro no sector privado. Pois é, mas continua. Tornar transparente a gestão através da accountability do que é feito, outra necessidade imperiosa. Mas ninguém quer saber. O resto foi a negação da realidade e a insistência no erro da promoção das corporações. Maldito Salazar que impregnou os genes desta malta!
E também houve disparates gigantes: desde a consideração que é um atentado à liberdade individual haver numerus clausus para entrar no curso de Medicina (os meninos riquinhos que estudem mais, tá?) até à promoção da responsabilidade individual dos doentes pela sua patologia (e as condições que a sociedade lhes impõe e os discrimina, ou querem sugerir que estamos todos no mesmo patamar?). Já para não falar da insistência na culpabilização dos cuidados primários na crise sem se mencionar que eles têm apenas um terço dos médicos. Enfim mais do mesmo, ausência de surpresas. Uma tarde mal perdida.
E logo a seguir veio a Senhora da Gripe dizer que a culpa vai ser da gestão se não conseguir produzir mais com menos euros. Esta senhora nunca se engana, o problema é que não sabe. Obviamente, demita-se!
E também houve disparates gigantes: desde a consideração que é um atentado à liberdade individual haver numerus clausus para entrar no curso de Medicina (os meninos riquinhos que estudem mais, tá?) até à promoção da responsabilidade individual dos doentes pela sua patologia (e as condições que a sociedade lhes impõe e os discrimina, ou querem sugerir que estamos todos no mesmo patamar?). Já para não falar da insistência na culpabilização dos cuidados primários na crise sem se mencionar que eles têm apenas um terço dos médicos. Enfim mais do mesmo, ausência de surpresas. Uma tarde mal perdida.
E logo a seguir veio a Senhora da Gripe dizer que a culpa vai ser da gestão se não conseguir produzir mais com menos euros. Esta senhora nunca se engana, o problema é que não sabe. Obviamente, demita-se!
quarta-feira, novembro 10, 2010
Os mercados
Hoje tive uma consulta triste pelo confronto com a gente desesperançada, derrotada. A verdade da televisão entra-lhes no corpo e corrói-lhes a alma. Alguns chegaram mesmo a despedir-se até à consulta seguinte, no próximo ano, como se já cá não voltassem por tão perto lhes parecer estar o cadafalso. Onde anda a capacidade de resistência? Há uma diferença para os outros tempos em que às escondidas com a PIDE/DGS cantávamos. A juventude aí liderava o processo com a sua energia e os velhos, às vezes, refreavam a luta, pelo temor; agora os velhos estão sem energia a relembrar o seu passado e os novos estão assumidos e engolidos pela doutrina oficial e a tentarem, uns contra os outros, encontrar um emprego que não surge, impotentes para identificarem o real inimigo e descobrirem a palavra necessária: SOLIDARIEDADE.
terça-feira, novembro 09, 2010
Diagnóstico
Esta fase da dúvida, em que se procuram os caminhos, exige uma gestão de muito cuidado para se não transmitir essa inquietude ao objecto. Vive-se num tempo em que não há tempo para a reflexão, para a análise das hipóteses e em que se parte para a acção em busca da solução não considerada previamente, como se o objectivo fosse encontrar algo satisfatório de surpresa. Cada vez mais, crentes da potencialidade sem limites da tecnologia, se vê esse jogo a ser promovido na pressa do tempo. Vamos e logo se vê e, muitas vezes, o que parece estar a ser visto é enganador e nos faz saltar para outros desconhecidos, como se andássemos numa navegação sem bússola no tempo do GPS. Fica-se então perdido e vai-se andando ao sabor dos palpites, criando uma entropia cada vez maior em que a probabilidade de acertar vai sendo reduzida pelo aumento exponencial das hipóteses. Até no processo do diagnóstico passámos a ser imediatistas, como num jogo rápido de xadrez onde se não consideram todas as hipóteses antes de decidir a jogada. Joga-se primeiro, corrige-se depois e segue-se de correcção em correcção até ao xeque mate final. A estratégia deu lugar ao consumo desregrado e gera-se uma enxurrada de informação que se não consegue coordenar e implica um gigantesco desperdício de recursos. E quando o doente questiona, recorre-se à autoridade da ciência dos sábios e, paternalmente, sugere-se-lhes que não se ralem com o assunto, que os sábios estão a fazer o que é necessário e chegarão à solução. Mas na avalanche dos exames em que os tubos são enfiados por todos os orifícios possíveis do corpo e os corpos são passados pelos mais variados scanneres, o objecto da análise deverá sentir-se confundido com tanta pesquisa. Isso deve inquietar. Afinal, que raio andam eles a procurar?
segunda-feira, novembro 08, 2010
Proposta
Parece óbvio que a substituição do Prof. Correia de Campos foi um recuo na Saúde em Portugal e ainda está para se perceber a origem e identificar quem desencadeou a campanha mediática, que motivou a sua queda. No entanto, ainda se está a tempo de corrigir o erro. Há alternativa.
domingo, novembro 07, 2010
De regresso
São sempre simpáticos os americanos que se sentam ao nosso lado. Têm qualquer problema de estarem sozinhos e calados, pelo que à primeira oportunidade disparam o where do you come from, e a conversa está engatada. Desta vez calhou ser um luso-descendente na terceira geração com o português já completamente esquecido, mas curioso de saber onde e como serão os Azores de onde veio a avó. Viajado, já com vasta experiência de Caraíbas desde Cancun à Jamaica em várias idas. Recomendei-lhe a ida à ilha que lhe faltava, mas como me disse não lhe é permitido (curioso não ter dito que lhe é proibido) lá ir. De Fidel informou-me que não compreende como um presidente mata os seus. Já por pudor não lhe disse que os seus presidentes também são especialistas nesse campo, mas preferem fazê-lo fora de portas, no Iraque ou no Afeganistão. Mas sempre o fui informando que na ilha que lhe não é permitido visitar há gente com cuidados de saúde e educação garantida, não havendo a miséria que se pode observar noutros locais das Caraíbas, ou mesmo na sua homeland. Have a nice trip!
Na minha trip desta vez tive a necessidade de, estando em trânsito, entrar duas vezes na homeland, o que está a tornar-se um exercício cada vez mais complexo com filas de meia hora para chegar ao cidadão verificador da nossa identidade. Se as impressões digitais se gastassem, já não conseguia marcar o ponto no hospital de tanta vez que tive que apoiar os dedos das mãos no registo e já conhecem melhor a minha íris do que eu próprio. Só que estes tipos não têm memória e, de todas as vezes, a história se repete. Com uma excepção que acontece quando se tem um nome frequente ou suspeito, o que dá direito a uma segunda verificação, mais tempo gasto e dúvidas sobre onde estarão as malas e se ainda se irá a tempo do voo de ligação, tudo sem explicações nem desculpas. Será que nunca pensaram que mal terão andado a fazer pelo mundo fora para terem tanto medo de toda a gente? Parecem acreditar pouco que Deus abençoe a América… Eles acreditar talvez acreditem (foram ensinados a fazê-lo), pensar é que não (foram educados a não o fazer).
sexta-feira, novembro 05, 2010
Cancun prático
Cancun é uma tira de hotéis estendida ao longo de muitos quilómetros a norte do aeroporto. O que se faz em Cancun? Vai-se à praia que tem água azul-turquesa com temperatura generosa. Compram-se viagens para ir ver algo diferente (além de ir à praia) em locais a 2-3 horas de viagem. Portanto, e como há praias perto desses locais, o mais sensato é ir para um hotel nesses sítios e poupar umas horas de sono no hotel mal substituídas por sestas nos autocarros.
Ficando em Cancun pode facilmente andar-se de uma ponta à outra da tira dos hotéis de autocarro a custo baixo (0,5€/viagem). Há centros comerciais e clubes nocturnos e praias onde os hotéis não cobriram o chão. Também restaurantes para vários gostos. E polícia a fazer barreiras e a revistar carros, que o narcotráfico não dá tréguas.
Portanto, o melhor quando se vem a Cancun é sair de cá e ir até Chichen Itza, Tulum e a parques de diversões como Xeh-la e Xcaret. Nos primeiros vemos calendários gigantes e fica-se parvo como foi possível fazer aquilo naqueles tempos. Nos parques, goza-se a água quente a céu aberto ou em rios subterrâneos (artificiais?) ou pode caminhar-se no fundo de um aquário de 7 metros de profundidade (carregando uma máscara à maneira de astronauta ligado à cápsula por um tubo que nos garante o oxigénio), para ver uns tipos dar de comer aos peixes enquanto outros mayapaparrazi nos tiram fotografias. Há também postais ilustrados onde se pode ficar deitado à sombra e gente geralmente bem educada por perto que tenta ser prestável (quando por exemplo se cai de um passeio abaixo... os passeios à beira da estrada têm um desnível de cerca de 30 cm!). Há ainda a versão de tormenta com ventos fortes de dobrar copas de palmeiras em que começa a ser complicado descobrir algo que fazer. A ida a downtown apenas confirma que Cancun não existe ou como diz um dos guias, em busca da propina, aqui não se produz nada, vivemos da vossa generosidade. Voltem sempre! E, na verdade, apetece fazer-lhes a vontade pela temperatura da água e pelos locais onde o sossego é possível desde que se não ande no contra relógio do guia turístico. Também pelo conhecimento que noutros tempos aqui houve. Para reflectir e ficar longe do pequeno mundo.
quarta-feira, novembro 03, 2010
Mais maias
O erro dos maias poderá ter sido a auto-satisfação com o conhecimento. a arrogância da razão, eventualmente. Qualquer político hoje em dia sabe que não basta a razão e que mais importante do que isso pode mesmo ser a estratégia de vender a não-razão. Isso é que rende. Eles não souberam e pereceram. Ao olhar os seus relógios, sente-se a injustiça da sua história, sobretudo quando se vê que as irracionalidades e o obscurantismo das diferentes variantes de fé têm conseguido bem mais no que ao poder diz respeito. Mas esse tem sido também o mecanismo de grandes recuos ou paragens no tempo. O deles processava-se em ciclos determinados por realidades cósmicas, sem hipóteses de paragens. E ainda continua.
Estes saberes despertam curiosidade de quem lhes sente a razão.
Estes saberes despertam curiosidade de quem lhes sente a razão.
terça-feira, novembro 02, 2010
Bolsa de emoções
Deve estar certo porque o esquema está globalizado e não tem grandes variações entre os locais e as gentes que lá vivem. Há um jogo de simpatias e simultaneamente de falsidade em que a comunicação das emoções decide o resultado. Analisando friamente a questão conclui-se que o preço acaba por nem variar tanto de um caso para outro, mas o que decide o negócio não é a racionalidade, mas a empatia emocional entretanto criada pelo processo de comunicação. Mesmo tentando actuar no negócio com a frieza possível, sinto que acabo por ceder por razões não necessariamente racionais. A bolsa dos valores das excursões acaba por não diferir muito das outras bolsas de valores, onde também são factores irracionais a decidir os negócios. Interrogo-me se não seremos capazes de conseguir algo melhor do que isto.
Não vale mesmo a pena invocar boas razões para o sucesso, que ele depende de outras causas, mas não necessariamente das boas razões da cultura que não busque a opressão. Assim parece ter acontecido aos maias, uma cultura avançada, mas que não usou o conhecimento que possuía para dominar. Acabaram a fazer, nos dias de hoje, os trabalhos mais básicos e mais mal pagos nos hotéis de Cancun. De nada lhes valeu estarem avançados, porque outros factores são ainda mais importantes que a cultura. Pelos vistos já há várias centenas de anos.
Não vale mesmo a pena invocar boas razões para o sucesso, que ele depende de outras causas, mas não necessariamente das boas razões da cultura que não busque a opressão. Assim parece ter acontecido aos maias, uma cultura avançada, mas que não usou o conhecimento que possuía para dominar. Acabaram a fazer, nos dias de hoje, os trabalhos mais básicos e mais mal pagos nos hotéis de Cancun. De nada lhes valeu estarem avançados, porque outros factores são ainda mais importantes que a cultura. Pelos vistos já há várias centenas de anos.
segunda-feira, novembro 01, 2010
Santa Morte
Será a praia onde se chega como diz A. Lobo Antunes ou uma mulher de gadanha ou uma Velha vestida de preto, tudo isso pode ser esse instante certo e inevitável para onde todos caminhamos, mas aqui é aparentemente diferente, chegando mesmo a ser Santa Muerte. Há uma atitude de brincadeira e veneração neste dia em que os mortos regressam e lhes oferecem bolos, cigarros ou mesmo uma bala que não irá ser utilizada numa rixa de cartéis de narcotráfico. Os naturais mascaram-se como se estivéssemos num carnaval neste dia e há uma alegria mal percebida por quem não é daqui. Há um ambiente de festa no ar porque a morte está presente.
Este breve contacto de turista não dá para entender até que ponto as aparências estarão a iludir e tudo não possa passar de esconjuro ou catarse para liquidar medos ocultos, mas propicia uma nova forma de encarar um problema que cada dia se vai tornando mais actual «à medida que se nada para a praia». Mas se o rumo é necessário, porque fugir e temê-lo. É possível, que a razão para isso, esteja na consciência de ainda haver algo mais para acabar (mas estamos programados para alguma obra em especial?) e não termos ainda tido o tempo suficiente ou poderá ser apenas o hábito de ir seguindo, fazendo o que se faz sem se dar conta até ao momento de despertar final quando a areia nos põe de pé. O risco não é pois a morte, mas a vida desperdiçada, essa sim irrecuperável. Disso é que é mais difícil desculparmo-nos. A morte é, desta forma, um estímulo para a vida. Pode, por isso, ser celebrável.
domingo, outubro 31, 2010
Deixem os velhos descansar
É frequente ver sobretudo nas companhias de aviação americanas velhas hospedeiras arrastando uma actividade que a necessidade lhes impõe, mas de que a vida as deveria poupar. Aliás, é uma realidade que já observara noutras actividades, mas que, na minha inocência, associava a participações em actividades de voluntariado e não de coacção social.
Mas, neste voo da US Airwais não é disso que se trata, mas de uma sórdida obrigatoriedade que o liberalismo vai impondo ou como diz o Coelho com passos de veludo, as garantias do Estado existem enquanto forem economicamente viáveis. Refere-se ele, é claro, às garantias das pessoas, que não às da Banca que garantidamente não terá nunca risco de falência. Realmente, os recursos não são ilimitados e há opções na forma como os distribuímos. Opções de classe, era assim que se dizia num conceito dito passado de prazo, mas que permanece, na verdade, completamente actual.
Mas, neste voo da US Airwais não é disso que se trata, mas de uma sórdida obrigatoriedade que o liberalismo vai impondo ou como diz o Coelho com passos de veludo, as garantias do Estado existem enquanto forem economicamente viáveis. Refere-se ele, é claro, às garantias das pessoas, que não às da Banca que garantidamente não terá nunca risco de falência. Realmente, os recursos não são ilimitados e há opções na forma como os distribuímos. Opções de classe, era assim que se dizia num conceito dito passado de prazo, mas que permanece, na verdade, completamente actual.
sábado, outubro 30, 2010
De partida
Poderá ser que sejam os meus olhos ainda mal acordados às seis da manhã, mas mesmo depois da tentativa de os estimular com o café do aeroporto, eles continuam a perceber que não há nos que por aqui andam os mesmos risos nem muito menos os abraços que se encontram na zona das chegadas. Como se existisse uma dificuldade de sair de um lugar onde, realmente, se pertence ainda que esse sentimento tenha, garanto, excepções. Mas mesmo não pertencendo a um lugar, a uma pátria, o aconchego da pertença continua presente no apego da pertença a uma causa, o que pode ser uma sensação mais solitária, porque menos comungada com um grupo de partilha. É aí que pertenço com a minha impossibilidade de sentir a ideia de pátria. Deve ser por isso, que as partidas não me custam.
sexta-feira, outubro 29, 2010
Certezas de médico
Com o passar do tempo, a maior certeza que se aprende é que a incerteza e a surpresa são a regra desta profissão. Não nas grandes séries onde a tendência para a normalidade gaussiana é uma inevitabilidade, mas nos casos concretos, onde sempre é possível morar-se nas franjas e nos outliers. Por isso, frente ao doente individual e à medida que cá andamos há mais tempo, temos que ter sempre a dúvida e não a arrogância da verdade matemática própria de médicos jovens. Essa é uma das grandes lições que o tempo ensina e uma mensagem necessária para transmitir aos mais novos que connosco se cruzam. Esta é uma profissão de incertezas e dúvidas metódicas e nunca de verdades absolutas que só a arrogância ignorante de alguns pode exprimir. Há um equilíbrio complexo entre o bom-senso que a matemática ensina e o reconhecimento da excepção à normalidade, com a realidade sempre presente de que o erro é inevitável e simultaneamente inaceitável porque, ao contrário dos jogos, aqui só há uma vida. Por isso esta profissão é tão aliciante se não houver a cedência ao charlatanismo da infalibilidade, infelizmente existente nalguns dos seus praticantes. Mau é haver quem a use para a sua afirmação pessoal e ponha em causa a dúvida necessária. Nesse caso melhor fora que fossem matemáticos, gestores ou tivessem outras profissões onde o substrato com que se lida não fosse a vida. Por isso, ser-se médico é uma vida inteira.
Depois há também uma imperiosa necessidade de fugir à tentação do raro e do que não dá esperança aos doentes. É fútil e apenas revela um prazer doentio de alguns praticantes, que sobrepõem o gozo pessoal da sua promoção, aos bons resultados para os objectos da sua actividade.
quinta-feira, outubro 28, 2010
O Baile do Alterne
No país pequenino é assim: enquanto uns se dedicam ao baile mandado, os outros optam pelo Vira, de um lado para o outro de forma a ficar sempre no mesmo lugar. Aí estão hoje as sondagens a mostrar que agora se roda para a Lapa virando as costas ao Rato e daqui a uns tempos logo se rodará ao contrário, que este povo gosta é do alterne. O maior problema é que esta gente toda não tem memória e pode votar. Mudam a cruzinha e queixam-se, porque esse é o seu fado. Ficam satisfeitos e vão ao fundo lentamente, que nem submarinos os hão-de salvar.
terça-feira, outubro 26, 2010
Voto contra
Está na hora de ficar farto da desesperança e dos prognósticos acertados sobre o passado dos sábios economistas, que nunca se cansam de mostrar como a Economia tem regras que explicam toda a catástrofe a que se chegou, sem terem tido há uns anos atrás a mais pequena inspiração na previsão do desastre que agora tão bem sabem explicar. Esta cultura não serve, porque é pouco culta, não tem reflexão nem método analítico. E até mais do que cultura, a carência agora é de sonho, de inspiração, daqueles sentires que antes de acontecer já sabiam e anunciavam:
Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal
É de novo o tempo de subjugar a economia à Poesia, porque é pelo sonho que vamos. E depois de acontecer, logo os economistas explicarão o passado, na sua impotência de traçar rumos para o Futuro. Da mesma forma que o microfone falou e houve um acordar numa madrugada de Abril, também agora é necessário sair deste unanimismo controleiro que nos oprime a vida e come a esperança. Há, seguramente, mais vida além da economia.
Neste momento, não é possível a cobardia da crítica fácil e da não participação. É hora de optar entre o que há, quando nos não propomos como opção e perante a ementa disponível, a decisão está tomada sendo inúteis as reservas que sempre haverá, porque os mundos e as pessoas não são perfeitos, mesmo que a opção seja sobretudo um voto de protesto contra o cálculo e a manha da economia.
Que seja até um voto contra Cavaco, mas leve-se Alegre a Presidente!
domingo, outubro 24, 2010
Frutos
Na aparente calmaria, há um constante sobressalto dos elementos, nada desaparece e tudo se transforma. Aqui do aparente lixo nascem frutos. Estes foram os primeiros, com expressão e visibilidade. Inesperados, chegaram um destes dias e merecem o registo que aqui se deixa.
sexta-feira, outubro 22, 2010
Risco Sistémico
Não é preciso ter-se uma inteligência superior e basta estar de ouvidos abertos às explicações dos nossos sábios economistas, para se compreender que o Estado Social, tal como o temos actualmente, é insustentável. Percebe-se bem que o Estado (o do Sistema, o não o Social) não pode oferecer o que não tem, isto é, se não tem receita não pode pagar. É essa a regra que o domina. Mas mais uma vez se confirma o provérbio e também esta realidade tem uma excepção: mesmo não tendo dinheiro, temos a certeza que é coisa que nunca faltará quando algum banco tiver alguma dificuldade. Houve um incêndio no BPN e foram queimados mais de 5 mil milhões de euros. Logo, o Estado acudiu a essa catástrofe social e salvou-nos do risco sistémico. Esta coisa do sistémico tem que ver com o Sistema, não é? O Risco Sistémico deve ser continuarmos a viver sob as regras do Sistema.
quinta-feira, outubro 21, 2010
Elogio do holocausto
Ao lado do empreendedor privado explorado pelo Estado vivem os novos judeus que directamente os sugam e que justificarão ao seu olhar um extermínio sem piedade. Está na hora de ser feita história e purificar o ambiente eliminado essa corja parasitária que agora se percebe ser a causa de todos os males: os funcionários públicos, os novos judeus.
Se o país avança deve-o às parcerias público-privadas, isto é, à iniciativa empreendedora dos privados paga pelo Orçamento do Estado, que lhes garante o negócio sem risco. De outra forma era a paralisia.
E que seria de nós se o Governo não recorresse aos pareceres técnicas dos especialistas do sector privado? Certamente, comprariam (mesmo assim é o que se viu com os submarinos) gato por lebre e as pontes cairiam no dia seguinte ao da construção. E não foi o sector Privado da Saúde, em grande progresso recentemente, que reduziu a mortalidade infantil da forma que aconteceu nos últimos 30 anos? Mas, sem dúvida o ponto alto da reforma seria a substituição dos funcionários das Finanças por uma confederação patronal qualquer que aplicaria os impostos, em especial sobre os rendimentos de quem trabalha, reduzindo a carga fiscal dos empreendedores. Aí estaria quase realizado o Céu. Faltaria apenas criar um Governo também privatizado (não é preciso que o sistema de alterne já nos garante naturalmente essa realidade).
Sim, liquidar todos esses judeus, é o desígnio maior desta febre nazi-fascista anti-Estado, purificando a raça dos empreendedores. Acabe-se com a estruturação, a regulamentação, a organização e deixe-se fluir o Mercado. Promova-se a instabilidade, a insegurança, a precariedade. Que os mais aptos devorem sem piedade os menos capazes e os tornem seus escravos e para sempre seja proibida a palavra solidariedade. Força, que os ventos deste progresso encham as velas da Nave dos Loucos em direcção ao Caos.
Se o país avança deve-o às parcerias público-privadas, isto é, à iniciativa empreendedora dos privados paga pelo Orçamento do Estado, que lhes garante o negócio sem risco. De outra forma era a paralisia.
E que seria de nós se o Governo não recorresse aos pareceres técnicas dos especialistas do sector privado? Certamente, comprariam (mesmo assim é o que se viu com os submarinos) gato por lebre e as pontes cairiam no dia seguinte ao da construção. E não foi o sector Privado da Saúde, em grande progresso recentemente, que reduziu a mortalidade infantil da forma que aconteceu nos últimos 30 anos? Mas, sem dúvida o ponto alto da reforma seria a substituição dos funcionários das Finanças por uma confederação patronal qualquer que aplicaria os impostos, em especial sobre os rendimentos de quem trabalha, reduzindo a carga fiscal dos empreendedores. Aí estaria quase realizado o Céu. Faltaria apenas criar um Governo também privatizado (não é preciso que o sistema de alterne já nos garante naturalmente essa realidade).
Sim, liquidar todos esses judeus, é o desígnio maior desta febre nazi-fascista anti-Estado, purificando a raça dos empreendedores. Acabe-se com a estruturação, a regulamentação, a organização e deixe-se fluir o Mercado. Promova-se a instabilidade, a insegurança, a precariedade. Que os mais aptos devorem sem piedade os menos capazes e os tornem seus escravos e para sempre seja proibida a palavra solidariedade. Força, que os ventos deste progresso encham as velas da Nave dos Loucos em direcção ao Caos.
terça-feira, outubro 19, 2010
Ensinamentos de França
E quando o mundo for feito para as pessoas e não para o lucro do poder financeiro, será provavelmente assim.
Allons enfants de la Patrie, | |
Le jour de gloire est arrivé! | |
Contre nous de la tyrannie, | |
L'étendard sanglant est levé, (bis) | |
Entendez-vous dans les campagnes | |
Mugir ces féroces soldats? | |
Ils viennent jusque dans vos bras | |
Égorger vos fils, vos compagnes! | |
Aux armes, citoyens, | |
Formez vos bataillons, | |
Marchons, marchons! | |
Qu'un sang impur | |
Abreuve nos sillons! |
Morto súbito
A primeira reacção deve ser de surpresa, porque não é de todo esperado ser-se, de repente, um morto súbito, sem aviso, sem a surpresa de um diagnóstico e a ilusão do êxito de uma quimioterapia, por exemplo. A seguir deve aparecer uma enorme sensação de injustiça por se não perceber a razão da escolha, quando afinal há por aí tanto filho da mãe a quem poderia ter saído esta sorte. Esta injustiça deve acompanhar-se de irritação e revolta contra o mandante da coisa. E de frustração porque, na verdade, ali chegado já nada se pode fazer para evitar a situação. Nem já há tempo para dar os beijos que faltaram dar!
Mas, quase de certeza, haverá também lugar para a reflexão sobre as opções, os caminhos que se escolheram e todas as oportunidades que se perderam, porque se apostava numa vida mais longa, sempre adiada, que justificava os sacrifícios e os sapos a engolir, porque depois é que ia ser. Este logro deve ser o mais difícil de digerir, porque, na aparência, era o único que poderia ter sido controlado se tivesse sido feita a aposta no cavalo certo. Deve dar uma vontade enorme de berrar para os amigos que se deixaram por aí: mandem tudo às urtigas, porque a vossa vida é hoje! Mas valerá a pena esse grito? O mais provável é que eles não acreditem na sabedoria de um morto súbito, porque o sonho é imprudente, mas comanda a vida. É o engano que seduz os homens, de tal forma que entregaram a propriedade do futuro a um Deus qualquer, satisfeitos que ficaram com a ilusão da posse da vida. Tanta ilusão e impotência!
Mas, quase de certeza, haverá também lugar para a reflexão sobre as opções, os caminhos que se escolheram e todas as oportunidades que se perderam, porque se apostava numa vida mais longa, sempre adiada, que justificava os sacrifícios e os sapos a engolir, porque depois é que ia ser. Este logro deve ser o mais difícil de digerir, porque, na aparência, era o único que poderia ter sido controlado se tivesse sido feita a aposta no cavalo certo. Deve dar uma vontade enorme de berrar para os amigos que se deixaram por aí: mandem tudo às urtigas, porque a vossa vida é hoje! Mas valerá a pena esse grito? O mais provável é que eles não acreditem na sabedoria de um morto súbito, porque o sonho é imprudente, mas comanda a vida. É o engano que seduz os homens, de tal forma que entregaram a propriedade do futuro a um Deus qualquer, satisfeitos que ficaram com a ilusão da posse da vida. Tanta ilusão e impotência!
segunda-feira, outubro 18, 2010
Esperança
Sempre tenho alguma admiração e esperança pelos franceses. Por estes que têm um ar de República nos olhos.
Curiosamente, andam escondidos nos pasquins e televisões da terra, mas já dizem que Maio pode voltar a ser possível
Curiosamente, andam escondidos nos pasquins e televisões da terra, mas já dizem que Maio pode voltar a ser possível
Défice de vida
Na cidade grande, na pressa dos dias cada vez mais escassos pela jornada de trabalho que não pára de crescer, na urgência de chegar, ninguém sabe onde nem para quê, porque as viagens cada vez têm menos um sentido e são apenas mais um destino, um objectivo, um visto que se coloca no quadrado da verificação dos deveres. São curiosas estas câmaras que enxameiam as cidades e deixam memórias dos instantes, que aos humanos foram roubados. Primeiro, foram os bons-dias!, boas-tardes!, que sumiram. Agora até os olhares deixaram de ver nestes locais movimentados, onde vai tudo em grande correria. Mas que pressa é esta, oh gentes, que cega a realidade ali ao lado? Já só há olhos para as imagens virtuais, para a realidade da TV, que a outra, a realidade verdadeira foi comida pela cegueira. Na pequenez da dimensão dos corpos que se movem, quase que sinto a presença dos fios que os suspendem e deslocam. Como num teatro de marionetas, também estes bonecos seguem suspensos pela invisibilidade dos cordéis que os movem, sem vida real. A isto estão reduzidos. Isolados, perdidos e cegos, sem vontade, vão com o destino, mas sem rumo. Cruzam-se com a realidade, mas a cegueira já não os deixa vê-la.
Há também um que sentado terá ouvido a gritaria da discussão e o som do corpo a estatelar-se no chão. Automaticamente, passados uns instantes, levanta-se e segue o seu caminho, na tranquilidade do seu vácuo nem olhando, por curiosidade, a enfermeira romena que morreu na superfície da cidade, em pleno dia, perante a distracção dos que passavam depois de um conflito miserável provavelmente ditado pela pressa de ter um bilhete. Este é o défice de vida, infinitamente mais grave que os outros que nos vão vendendo de forma obsessiva nos dias de agora.
quinta-feira, outubro 14, 2010
PDCA
Olhando alguns dos serviços existentes sou forçado a concluir que obedecem efectivamente a uma estratégia de subordinada ao princípio PDCA. Não, não me refiro à melhoria contínua da qualidade que Deming ensina, mas apenas à tese que afirma Porque Devemos Continuar Assim. Realmente se liderados por chefes que chegaram onde estão porque o sistema é o existente (e havendo sérias dúvidas que lá estivessem se o rigor fosse a regra), por que raio se esperaria que agissem de outra forma? O seu objectivo estratégico para o Serviço está atingido, por isso defendem o seu PDCA com toda a energia que têm. Deles, mais se não pode esperar.
quarta-feira, outubro 13, 2010
Ainda há notícias boas?
Hoje foi um dia grande no Chile. Trinta e três homens foram arrancados do buraco negro que os tinha engolido. Um dia grande no mundo também, porque 33 vidas foram resgatadas sem olhar à relação custo-benefício da sua libertação. E é tão raro encontrar exemplos deste desprendimento material e da valorização da vida humana. Um dia que só não é tão grande porque noutros sítios muitas 33 vidas vezes n são desvalorizadas e morrem anonimamente perante a indiferença do mundo. Já deixei de fazer contas, mas 30 e tal eram os mortos diários no Iraque depois da «libertação». É o contraste entre a terra que pare e a terra que sepulta, entre o valor do homem e valor do petróleo. No meio das trevas, soube-me bem esta luz ao cimo do túnel numa montanha que pariu 30 e tal vidas. E o mais incrível é que foi notícia, mesmo não sendo tragédia. Um quase milagre a 13 de Outubro.
Professor na sala dos alunos
Custou-me, apesar de tudo, um pouco a cena deste almoço. Na mesa corrida, o velho professor comia sozinho na sala agitada e cheia dos novos alunos. Mastigava devagar com ar pesado, possivelmente, interiorizando a sua nova solidão e constatando a fugacidade do poder que teve. Ele que se terá julgado grande e eterno nalguns instantes do passado, estava ali no confronto com a nova realidade do seu anonimato. Por que terá ido ali almoçar? Talvez uma romagem de saudade, mas possivelmente à procura de algum sorriso de gratidão, que é isso que sempre se busca pela vida fora. Não calhou, nenhum dos seus ex-colaboradores por ali passou numa coincidência que lhe teria adiado a azia do olhar vago pela sala. Mastigava, aparentemente, sereno, mas obviamente inquieto. Os seus touchpoints nunca foram tão vazios e as vénias académicas sumiram para outros. Mastigava lentamente. Procuraria a obra, algum sorriso de uma mãe agradecida ou estaria simplesmente descrente pensando se terá valido a pena ter estado naquela casa de que um dia se achou pilar? Sempre me desperta alguma nostalgia este regresso, que suponho dever-se à ausência de raízes a outros lugares e realidades. A solidão sem pontos de contacto... nem regresso.
terça-feira, outubro 12, 2010
Sobre a cobardia
Há também um limite para a resiliência e ultrapassado esse ponto, os materiais quebram sem piedade. Plim, é a fractura indomável. Mas há também limites para a decência e isso é que me impede de aceitar como intelectualmente honestos os revolucionários do mal menor. Ainda se entende que os reaccionários apoiem este caminho e até que queiram mais, porque ainda acham poder ir-se mais além no esticar da corda. É da sua natureza. Cumpre-nos mostrar que estão errados. Agora, que o aconchego mesmo do pequeno poder, quebre a coluna de alguns é que não consigo entender. A cobardia do fim do caminho não serve de desculpa, apenas destapa a cobardia moral da sua essência. Há estes momentos na História em que saber o lado em que se está é determinante e não chega dizermos, estou deste embora o meu coração esteja do outro, porque é arriscado pôr a bomba contra o organismo: morrerão os dois.
segunda-feira, outubro 11, 2010
É o poder, estúpidos!
É curiosa esta reflexão sobre a forma de entrevistar banqueiros e políticos. Curiosa porque reveladora da escala do Poder. A pirâmide do capitalismo que reproduzi num texto recente mudou efectivamente. Nos dias de agora no cimo da pirâmide está a Banca e o Poder financeiro, logo abaixo o Poder dos Media (controlado economicamente pela cúpula da pirâmide), depois virão os Políticos (obedientes ao Poder Financeiro e dos Media que fazem a chamada Opinião Publicada). Logo abaixo vem a anestesiante indústria do Entretenimento (o novo ópio do Povo) e as Forças desta Ordem, dominadas pelos níveis superiores. Uma visando levar o Povo às boas, derrama emoções desportivas e histórias de socialite para que o sonho e a perseguição da cenoura se mantenha activo; quando as coisas se não controlam devidamente desta forma, recorre-se então ao bastão e jacto de água. Nos dois níveis inferiores estão a Classe Média, ávida de comer as migalhas que de cima vão caindo e sugada mais ou menos consoante as épocas pelo real poder financeiro e finalmente, no fundo, quem faz as coisas (este grupo está cada vez mais constituído por asiáticos e indianos e por pequenos grupos de «dispensáveis» no mundo ocidental). Fora da pirâmide, porque já lhes foram sugados os recursos que em tempos os tornavam interessantes e porque não existe pachorra para a corrupção e ainda há uma vaga esperança que a malária tome definitivamente conta deles, os Africanos, que passaram de dispensáveis a dispensados.
Não é pois de admirar que, pela posição ocupada neste esquema, os «jornalistas» sejam reverentes com os banqueiros e maltratem os políticos. É o poder, estúpidos. Os políticos cada vez mais convertidos em testas de ferro do verdadeiro poder (oculto para melhor dominar) e, quem sabe, inspirado por um Deus supremo. Um regresso inesperado a um Absolutismo de trevas, ainda sem o despertar de um novo Iluminismo. Mas a história continua...
Não é pois de admirar que, pela posição ocupada neste esquema, os «jornalistas» sejam reverentes com os banqueiros e maltratem os políticos. É o poder, estúpidos. Os políticos cada vez mais convertidos em testas de ferro do verdadeiro poder (oculto para melhor dominar) e, quem sabe, inspirado por um Deus supremo. Um regresso inesperado a um Absolutismo de trevas, ainda sem o despertar de um novo Iluminismo. Mas a história continua...
domingo, outubro 10, 2010
Guerra e Paz
Andando por arquivos de fotos, encontrei esta, perdida, feita num memorial de guerras em Washington. Colori-a de preto e branco, porque assim é a Guerra e a Paz e ficava mal o verde do arvoredo. A celebração da guerra sempre me confunde, pelo que achei feliz ter encontrado aqueles dois repousados no banco do jardim A vida é, muitas vezes, feita de instantes, de olhares ou até de coincidências contrastantes que só mais tarde se tornam aparentes. Preciso é continuar a olhar e voltar a ver não passando nunca ausente pela existência fugaz das pressas do tempo.
sábado, outubro 09, 2010
É a luta de classes, estúpido!
Como dizia a velha cantiga, é necessário, imperioso e urgente informar, avisar toda malta... que por inércia e derrota se arrasta por aí na sobrevivência.
Em vez de, por rotina, ler o Expresso e ouvir de forma apática toda a doutrina económica dos sábios da terra e porque a história está longe de ter chegado ao fim e precisa ser mudada, propõe-se:
Em vez de, por rotina, ler o Expresso e ouvir de forma apática toda a doutrina económica dos sábios da terra e porque a história está longe de ter chegado ao fim e precisa ser mudada, propõe-se:
What Classless Society?
by Jack A. Smith / October 2nd, 2010
The so-called growing rich-poor gap in “classless” America is a euphemism for the existence of an accelerated class struggle against American workers and the poor by a relatively small minority that possesses or has access to great wealth and power.
The Census Bureau reported September 24 that the income differential between rich and poor Americans was greater in 2009 than any time since such records were kept.
Another Census report two weeks earlier revealed that America’s largest year-to-year increase in poverty took place in 2009, although its estimate of 43.6 million people living in poverty is considered a serious undercount based on outmoded measurement criteria. Young workers and children are fast falling to the bottom of the heap. The biggest poverty jump last year was among 18 to 24 year old “less-skilled” adults, and 20% of our children live in poverty.
The Associated Press reported September 28, “The top-earning 20% of Americans — those making more than $100,000 each year — received 49.4% of all income generated in the U.S., compared with the 3.4% earned by those below the poverty line, according to newly released Census figures. That ratio of 14.5-to-1 was an increase from 13.6 in 2008 and nearly double a low of 7.69 in 1968.
A different measure, the international Gini index, found U.S. income inequality at its highest level since the Census Bureau began tracking household income in 1967. The U.S. also has the greatest disparity among Western industrialized nations in the Organization for Economic Cooperation and Development.
Following are some recent statistics and statements that show how wide is the chasm between the upper class and the rest of American society, from the poorest of the poor through the working class and middle class.
(Note in following paragraphs the difference between “income,” meaning what you earn each year, and “wealth,” meaning income plus assets — assets being everything you own, from your house, car and furnishings to all your property, savings, stocks and bonds, yachts, jewelry, etc.
According to the Wall St. Journal, a 2008 study of wealth in the United States found that the richest .01% (that’s one-hundredth of one percent, or 14,000 American families) possess 22.2% of the nation’s wealth. The bottom 90%, or over 133 million families, control just 4% of the nation’s wealth. The remaining top 9.99% made ends meet with what’s left, 73.8%.
David DeGraw also has written that “a recent study done by Capgemini and Merrill Lynch Wealth Management found that a mere 1% of Americans are hoarding $13 trillion in investable wealth…and that doesn’t even factor in all the money they have hidden in offshore accounts.”
A recent report by Ray B. Williams points out that “The U.S. Census Bureau and the World Wealth Report 2010 both report increases for the top 5% of households even during the current recession. Based on Internal Revenue Service figures, the richest 1% have tripled their cut of America’s income pie in one generation. In 1980 the richest 1% of America took 1 of every 15 income dollars. Now they take 3 of every 15 income dollars…. Income inequality has been rising since the late 1970s, and now rests at a level not seen since the Gilded Age (1870 to 1900), a period in U.S. history defined by the contrast between the excesses of the super-rich and the squalor of the poor.”
According to Paul Buchheit of DePaul University “In 1965, the average salary for a CEO of a major U.S. company was 25 times the salary of the average worker. Today, the average CEO’s pay is more than 250 times the average worker’s.” The New York Times reported March 31, 2010, “Top hedge fund managers rode the 2009 stock market rally to record gains, with the highest-paid 25 earning a collective $25.3 billion, according to the survey, beating the old 2007 high by a wide margin.” The annual GDP of nearly 90 UN member nations is lower than what these people took home last year. The highest paid manager on the list was David Tepper of Appaloosa Management, who made $4 billion last year.”
Year 2009 may have been an economic disaster for a record number of Americans, but the U.S. billionaire caste — and millionaires as well, of course — had an excellent year. According to Forbes magazine, 2009 “was a billionaire bonanza,” with Bill Gates profiting by $13 billion (enlarging his wealth to $53 billion), and Warren Buffett getting $10 billion richer (increasing his fortune to $47 billion).
There are 1,011 billionaires in the world (40% are Americans) with an average net worth of $3.6 billion — a relative trifle more than the “wealth” possessed by the bottom half of the entire world population.
Throughout their lives, average Americans are taught by their school, church and corporate mass media that theirs is a classless society, and that the notion of classes, class struggle, or class war is just left wing propaganda.
Differences in income are acknowledged — but it is claimed that since upward mobility and attainment of the American Dream are available to everyone if they work hard enough, there is only one class despite gradations in wealth. It’s called the middle class, presumably with statistical subsections for the very rich and very poor. But the “dream” and upward mobility have never been available to everyone, and over the last three decades have been substantially reduced for many new generations of working families.
How often do you hear the politicians of the two ruling parties or the government they administer referring to the working class, lower middle class, the lower class or the upper class and the ruling class?
In America, virtually everyone seems to be lumped into the middle class if they are earning between $25,000 and $250,000 a year, which is a preposterous parody of real class relations. Representatives of these two income variants have little to nothing in common except the class to which they appear to have been assigned.
The millions living in poverty are called “the poor” and are in the public mind often blamed for their own plight (lazy, shiftless, ignorant). The very rich are called the “top 1%,” and the simply rich are termed the “top 10%,” and are often admired and thanked because they create the jobs that prevent the inhabitants of the middle class from falling into the ranks of the poor.
For the past three or four decades the upper class and its agents have been accelerating a campaign against the wages and living standards of the working class/lower middle class and more recently the middle class as well, pushing more and more people into the lower classes. One example of this is that wages no longer correlate to productivity increases, as they did in the first three decades after World War II; another is the erosion of progressive taxation.
In addition, the influence of wealth on the White House and Congress has seen to it that hardly any significant social service legislation has come out of Washington for 40 years. President Obama promotes his health care legislation as a major progressive achievement, but this apex of the current administration’s social contribution is to the right of Democrat President Harry Truman’s proposals in 1948 and Republican President Richard Nixon’s program of 1972. Truman and Nixon failed, and there has been such political regress over these decades that Democratic Party programs now emanate from the center/center-right.
The problem isn’t just the disproportion of money in the hands of a small minority while the standards of most American families are eroding, but it is what’s done with all that money. It elects Presidents, governors and mayors in most of the major cities. It elects members of the House and Senate and state legislatures. If you have millions to spend without batting an eye, you have political clout in America, often decisive clout, and it’s principally deployed to further the interests of the “haves,” as opposed to the “have nots.”
This is what is meant by class war, and it seems to be waged these days only by the top 10% (the upper class) that controls 96% of the wealth against the 90% (working class to middle class and lower class) which controls 4%. The bottom 50% by the way accounts for a pathetic 1% of America’s wealth.
Isn’t it time for the “bottom” 90% to stand up, fight back, and claim their share?
Mas será neste pântano que queremos, realmente, viver? Não, não é o governo, o sócrates nem o ministro das finanças (com minúsculas para ser condizente com a realidade que são), a culpa de tudo isto. Isto é o sistema, a culpa é do sistema! Há que entender a mentira deste modelo de desenvolvimento agora, como já se entendia no passado. Isto não pode continuar a ser tolerado:
Mas será neste pântano que queremos, realmente, viver? Não, não é o governo, o sócrates nem o ministro das finanças (com minúsculas para ser condizente com a realidade que são), a culpa de tudo isto. Isto é o sistema, a culpa é do sistema! Há que entender a mentira deste modelo de desenvolvimento agora, como já se entendia no passado. Isto não pode continuar a ser tolerado:
sexta-feira, outubro 08, 2010
Euromilhões
Quanto vale um instante de esperança, um sonho quase irrealizável, mas remotamente possível? Depois de entregar o papel há, pelo menos instantaneamente, um período em que tudo é possível, mesmo que, depois, a razão mostre que a probabilidade do possível é infinitamente pequena. Mas nota-se algum brilho nos olhos que ainda há pouco estavam completamente apagados pelo simples facto de momentaneamente se ter conseguido afastar a racionalidade e caminhar pela emoção. Mais logo se perceberá que as cruzinhas foram colocadas caprichosamente no quadrado do lado e que «foi por muito pouco» e «que azar», que se esteve mesmo perto. Pronto, uma vez mais, cumpriu-se a sugestão que a razão ditava, mas, ainda assim, soube bem ter aquele instante de esperança, porque a racionalidade é o cinzento dos dias e são as emoções que os tornam coloridos.
quinta-feira, outubro 07, 2010
terça-feira, outubro 05, 2010
Refundar a República
Andam os tempos confusos e está em curso um novo golpe, não de Estado que isso era contra os princípios dos executantes, que visa acabar com a República (do latim Res publica, "coisa pública") e instaurar uma Resprivada(?).
A diferença é que o poder na «coisa comum» é exercido pelos representantes eleitos pelo Povo de acordo com a sua vontade, na Resprivada, o poder advém de agências de rating e dos Mercados, que impõem as leis aos representantes do Povo que se prestam à sua execução. As decisões não são democráticas, porque quem as dita não foi eleito e emanam da verdade única do Liberalismo visando satisfazer a sua sobrevivência e os interesses dos grupos dominantes. É o totalitarismo da ganância que incita ao fim do Estado, da solidariedade e ao triunfo da selva.
Começa a ser tempo de refundar a República.
segunda-feira, outubro 04, 2010
Rumo ao caos
Embora a definição de imposto da Wiki reze que Imposto é uma quantia em dinheiro, paga obrigatoriamente por pessoas ou organizações a um governo, a partir da ocorrência de um fato gerador, calculada mediante a aplicação de uma alíquota a uma base de cálculo., na prática imposto é a diferença entre a receita que se tem e o capital que fica disponível após a obrigação que nos é imposta. Por exemplo, se ganhamos 1000 e apenas depositamos no Banco 700, 300 foram-nos retirados para imposto. É pois com estranheza, que tanta berraria contra os Impostos se não traduza por igual algazarra contra o que recentemente foi feito. Considerando que a taxa se mantinha nos 30%, aos funcionários públicos acontece uma coisa curiosa: a quem ganhava 1000 foi imposta uma redução média de 5%, isto é 50, logo passa a ganhar 950, que multiplicados por 0,3 levam a um depósito de 665. Moral da história com esta retenção na fonte de 5%, o tal imposto efectivamente pago passou de 30% para 33,5%, isto é, os funcionários públicos tiveram com esta habilidade um aumento de 3,5% de imposto, em média. Passos Coelho e toda a intelectualidade economista que desfila pelas televisões aplaudem, quando ainda há dias vociferavam contra o aumento dos impostos. Meus senhores, os funcionários públicos acabam de ter um aumento de 3,5% de imposto! Com efeito quem no sector privado ganhava 1000 e recebia 700, com as alterações actuais irá receber os mesmos 700, sem ter tido qualquer agravamento dos impostos.
Os funcionários públicos foram discriminados em relação à generalidade da população ou seja foi criado um imposto que apenas os afecta a eles! Ao menos os impostos eram dantes iguais para todos, mas com esta proposta do Governo a coisa mudou. O que mais revolta não é o aumento dos impostos (se vivemos acima das posses alguma vez teremos de pagar), mas esta diferenciação entre portugueses de segunda e de primeira, pois bem mais equitativo seria que tivessem aumentado os impostos da generalidade da população, conseguindo-se dessa forma, possivelmente, que o nível mais baixo de vencimento sobre o qual incidiriam os impostos fosse não 1500 € por mês, mas algo mais elevado, ou reduzir a taxa de imposto a pagar por cada nível salarial. A receita para fazer face à dita crise até seria a mesma!!! Injusto também porque, na verdade, quem vai pagar desta vez a crise é apenas um subsector, que, com alta probabilidade, não foi quem contribuiu particularmente para o défice. Não há moralidade, por isso não pagam todos e, sobretudo, não paga quem o devia fazer. Mas será que o país funcionará sem médicos, professores, pessoal da administração públicos? Não é isto um incentivo à fuga para os privados, mais um episódio da Santa Marcha pelo fim do Estado e pelo fim da capacidade de controlo dos serviços essenciais de um país civilizado? Rumo ao caos do descontrolo que tanto santificaram e levou ao descalabro de há 2 anos? Mas esta gente não aprende mesmo...
Os funcionários públicos foram discriminados em relação à generalidade da população ou seja foi criado um imposto que apenas os afecta a eles! Ao menos os impostos eram dantes iguais para todos, mas com esta proposta do Governo a coisa mudou. O que mais revolta não é o aumento dos impostos (se vivemos acima das posses alguma vez teremos de pagar), mas esta diferenciação entre portugueses de segunda e de primeira, pois bem mais equitativo seria que tivessem aumentado os impostos da generalidade da população, conseguindo-se dessa forma, possivelmente, que o nível mais baixo de vencimento sobre o qual incidiriam os impostos fosse não 1500 € por mês, mas algo mais elevado, ou reduzir a taxa de imposto a pagar por cada nível salarial. A receita para fazer face à dita crise até seria a mesma!!! Injusto também porque, na verdade, quem vai pagar desta vez a crise é apenas um subsector, que, com alta probabilidade, não foi quem contribuiu particularmente para o défice. Não há moralidade, por isso não pagam todos e, sobretudo, não paga quem o devia fazer. Mas será que o país funcionará sem médicos, professores, pessoal da administração públicos? Não é isto um incentivo à fuga para os privados, mais um episódio da Santa Marcha pelo fim do Estado e pelo fim da capacidade de controlo dos serviços essenciais de um país civilizado? Rumo ao caos do descontrolo que tanto santificaram e levou ao descalabro de há 2 anos? Mas esta gente não aprende mesmo...
quarta-feira, setembro 29, 2010
Ingenuidade (frente ao tsunami)
Que diabo, não havia necessidade. Se o problema é já não emprestarem ao Estado dinheiro a menos de 6%, falem connosco, os tugas, que a gente empresta a 4%. Vale ou são obrigados a pedir aos bancos alemães?
Passou-me agora esta ingenuidade pela cabeça.
Passou-me agora esta ingenuidade pela cabeça.
terça-feira, setembro 28, 2010
Notas políticas
1. Os nossos patuscos jornalistas não encontraram melhor, ontem, do que dizer que Chavez perdeu a maioria de dois terços que tinha na Assembleia, depois de já no dia das eleições terem afirmado que «parecia não ter havido fraudes nas eleições»! É óbvio que para esta gente, Chavez nunca poderia ter ganho e muito menos eleições livres e participadas. É contra a natureza da propaganda da imprensa livre...
Quantas vitórias em eleições são obtidas por maioria de dois terços?
Melhor fariam se procurassem as causas de mais esta vitória do ditador reiteradamente eleito!
2. Por cá a fita continua à volta do Orçamento. Ou será que o homem de Massamá decidiu dar um jeito ao de Belém para o apresentar como o salvador da pátria, facilitando a sua pré campanha?
Quantas vitórias em eleições são obtidas por maioria de dois terços?
Melhor fariam se procurassem as causas de mais esta vitória do ditador reiteradamente eleito!
2. Por cá a fita continua à volta do Orçamento. Ou será que o homem de Massamá decidiu dar um jeito ao de Belém para o apresentar como o salvador da pátria, facilitando a sua pré campanha?
quinta-feira, setembro 23, 2010
Outono
Que encanto pode o outono ter? Não é o rastejar das folhas ao sabor da corrente de ar que pode animar a vida, que só desperta na emergência das flores e dos frutos. O fim do ciclo não tem graça nenhuma, por mais piedoso que se seja.Valerá a pena enganarmo-nos com a poesia depressiva ou as árvores morrem simplesmente caídas pelo chão?
quinta-feira, setembro 16, 2010
História de burros
No Resistirinfo e porque uma boa explicação dos fenómenos merece ser mais tarde relembrada:
Dívidas e burros
por Insurgente
Foi solicitado a um prestigioso assessor financeiro que explicasse esta crise de uma forma simples, para que toda a gente pudesse entender as suas causas. O seu relato foi este:
Um certo cavalheiro foi a um aldeia onde nunca havia estado antes e ofereceu aos seus habitantes 100 euros por cada burro que lhe vendessem.
Boa parte da população vendeu-lhe os seus animais.
No dia seguinte voltou e ofereceu um preço melhor: 150 euros por cada burrico. E outro tanto da população vendeu-lhe os seus.
A seguir ofereceu 300 euros e o resto das pessoas vendeu os últimos burros.
Ao ver que não havia mais animais, ofereceu 500 euros por cada burrico, dando a entender que os compraria na semana seguinte. E foi embora.
No dia seguinte enviou o seu ajudante à mesma aldeia com os burros que comprara, para que os oferecesse a 400 euros cada um.
Diante do possível lucro na semana seguinte, todos os aldeões compraram os seus burros a 400 euros e quem não tinha o dinheiro pediu-o emprestado. De facto, compraram todos os burros do município.
Como era de esperar, este ajudante desapareceu, tal como o cavalheiro inicial. E nunca mais foram vistos.
Resultado: A aldeia ficou cheia de burros e endividada.
Até aqui foi o que contou o assessor.
Vejamos o que se passou depois.
Os que haviam pedido emprestado, ao não venderem os burros não puderam pagar o empréstimo.
Aqueles que haviam emprestado o dinheiro queixaram-se à municipalidade dizendo que se não recebessem ficariam arruinados; então não poderiam continuar a emprestar e todo o povo ficaria arruinado.
Para que os prestamistas não se arruinassem, o presidente da municipalidade, em vez de dar dinheiro às pessoas do povo para pagarem as dívidas, deu-o aos próprios prestamistas. Mas estes, já cobrada grande parte do dinheiro, entretanto não perdoaram as dívidas do povo, que continuou endividado.
O presidente da dilapidou o orçamento da municipalidade, a qual também ficou endividada.
Então pede dinheiro a outras municipalidades. Mas estas dizem-lhe que não podem ajudá-lo porque, como está na ruína, não poderão receber depois o que lhe emprestarem.
O resultado: Os espertos do princípio, enganados.
Os prestamistas, com os seus ganhos resolvidos e um monte de gente à qual continuarão a cobrarem o que lhes emprestaram mais os juros, apropriando-se inclusive dos já desvalorizados burros que nunca chegaram a cobrir toda a dívida.
Muita gente arruinada e sem burro para toda a vida.
A municipalidade igualmente arruinada.
O resultado final?
Para solucionar tudo isto e salvar todo o povo, a municipalidade baixou o salário dos seus funcionários.
05/Setembro/2010
O original encontra-se em www.insurgente.org/...
Aos poucos me libertarei da dependência energética. Falta só produzir electricidade. Depois, haverá couves, batatas, uns frangos e coelhos bravos. As árvores darão sombra, alguns frutos e talvez azeite. Mais coisa menos coisa, caçador recolector me libertarei da síndrome metabólica e com fornecimento de hidratos de carbono, proteínas e gordura mediterrânica a sobrevivência estará garantida. Para as deslocações maiores, talvez um burro para pequenas nomadices até à cidade ou a um banho na barragem (se os campos de golfe a não isolarem). Está garantida a viabilidade económica. O resto é especulação sem importância. Desde que não termine em holocausto nuclear ou a ser expulso para uma qualquer Roménia por ter tal meio de transporte. Isto, afinal, anda tudo ligado.
Dívidas e burros
por Insurgente
Foi solicitado a um prestigioso assessor financeiro que explicasse esta crise de uma forma simples, para que toda a gente pudesse entender as suas causas. O seu relato foi este:
Um certo cavalheiro foi a um aldeia onde nunca havia estado antes e ofereceu aos seus habitantes 100 euros por cada burro que lhe vendessem.
Boa parte da população vendeu-lhe os seus animais.
No dia seguinte voltou e ofereceu um preço melhor: 150 euros por cada burrico. E outro tanto da população vendeu-lhe os seus.
A seguir ofereceu 300 euros e o resto das pessoas vendeu os últimos burros.
Ao ver que não havia mais animais, ofereceu 500 euros por cada burrico, dando a entender que os compraria na semana seguinte. E foi embora.
No dia seguinte enviou o seu ajudante à mesma aldeia com os burros que comprara, para que os oferecesse a 400 euros cada um.
Diante do possível lucro na semana seguinte, todos os aldeões compraram os seus burros a 400 euros e quem não tinha o dinheiro pediu-o emprestado. De facto, compraram todos os burros do município.
Como era de esperar, este ajudante desapareceu, tal como o cavalheiro inicial. E nunca mais foram vistos.
Resultado: A aldeia ficou cheia de burros e endividada.
Até aqui foi o que contou o assessor.
Vejamos o que se passou depois.
Os que haviam pedido emprestado, ao não venderem os burros não puderam pagar o empréstimo.
Aqueles que haviam emprestado o dinheiro queixaram-se à municipalidade dizendo que se não recebessem ficariam arruinados; então não poderiam continuar a emprestar e todo o povo ficaria arruinado.
Para que os prestamistas não se arruinassem, o presidente da municipalidade, em vez de dar dinheiro às pessoas do povo para pagarem as dívidas, deu-o aos próprios prestamistas. Mas estes, já cobrada grande parte do dinheiro, entretanto não perdoaram as dívidas do povo, que continuou endividado.
O presidente da dilapidou o orçamento da municipalidade, a qual também ficou endividada.
Então pede dinheiro a outras municipalidades. Mas estas dizem-lhe que não podem ajudá-lo porque, como está na ruína, não poderão receber depois o que lhe emprestarem.
O resultado: Os espertos do princípio, enganados.
Os prestamistas, com os seus ganhos resolvidos e um monte de gente à qual continuarão a cobrarem o que lhes emprestaram mais os juros, apropriando-se inclusive dos já desvalorizados burros que nunca chegaram a cobrir toda a dívida.
Muita gente arruinada e sem burro para toda a vida.
A municipalidade igualmente arruinada.
O resultado final?
Para solucionar tudo isto e salvar todo o povo, a municipalidade baixou o salário dos seus funcionários.
05/Setembro/2010
O original encontra-se em www.insurgente.org/...
Aos poucos me libertarei da dependência energética. Falta só produzir electricidade. Depois, haverá couves, batatas, uns frangos e coelhos bravos. As árvores darão sombra, alguns frutos e talvez azeite. Mais coisa menos coisa, caçador recolector me libertarei da síndrome metabólica e com fornecimento de hidratos de carbono, proteínas e gordura mediterrânica a sobrevivência estará garantida. Para as deslocações maiores, talvez um burro para pequenas nomadices até à cidade ou a um banho na barragem (se os campos de golfe a não isolarem). Está garantida a viabilidade económica. O resto é especulação sem importância. Desde que não termine em holocausto nuclear ou a ser expulso para uma qualquer Roménia por ter tal meio de transporte. Isto, afinal, anda tudo ligado.
segunda-feira, setembro 13, 2010
10 notas após as férias
1.As férias correram bem? Perguntam-nos quando regressamos ao trabalho. O que me vem, em primeiro lugar, para resposta é que sim, correram bem depressa. As férias correm sempre tanto, são tão rápidas!
2.Ainda há dias chegávamos atrasados ao aeroporto e tínhamos aquela azáfama de verificação de bagagem com impedimentos de levar frascos com volume superior a 100 mL, mesmo quase vazios, porque o ar pode ser explosivo, certamente. É mau começar férias irritado, mas a irracionalidade chateia. Há uma anestesia neuronal, quando por sistema se recorre apenas à check list, por preguiça, porque não há tempo para reflectir. Mas anular esta função é, em parte, desistir daquilo que nos distingue do resto da bicharada. Anda alguém a roubar-nos propriedades diferenciadoras da espécie.
3. Gosto das chegadas aos aeroportos, de olhar para quem espera e ver aquele instante onde o olhar de procura explode de felicidade. Daquela felicidade autêntica, que parece só ser possível na altura dos reencontros. Possivelmente, é porque se está cansado de viver todos os momentos, que se desperdiçam em coisas de nada os encontros de todos os dias, para se chegar ao tudo em instantes de reencontro.
4. E afinal, sempre se renasce depois das calamidades que surgem. A Madeira está quase igual ao que era, cada vez mais parecida com um queijo emmental de tão furada por túneis que está. Voltei a ler os posts que aqui deixei há dois anos e a sensação continua a ser de estranheza pela distância a que as pessoas estão do meio onde vivem, porque a cabeça não acompanhou a pressa das pernas a correr pelos túneis fora. Há um hiato entre a forma como estão no local onde estão.
5. Mas os jardins continuam lá e o peixe propicia bons instantes. Para mais tarde recordar, se disso for o caso, os restaurantes de Câmara de Lobos Espada Preta e Vila do Peixe e o Barqueiro no Funchal. Não tanto pelo peixe, mas pelo pôr do sol, a Doca do Cavacas.
6. Recordar igualmente o Garajau e a descida à Fajã dos Padres. Mesmo que as subidas possam ser dolorosas e momentaneamente impossíveis, acaba-se sempre por chegar.
7. De longe vêem notícias inquietantes de julgamentos e incertezas de culpas. Em caso de dúvida que se beneficiem os réus, mas até que ponto o circo mediático retira a serenidade à justiça? Ou será que a torna possível e sem ele a impunidade reinaria? Dúvidas e mais dúvidas num tempo que importa esclarecer encontrando as soluções.
8. Há locais onde vamos e não sabemos se voltaremos, porque sentimos que os esgotámos. Mas a Madeira que começou por ser um espaço de turismo para doentes, mantém um sabor de turismo de terceira idade. E para esse repouso todos estamos caminhando.
9. Ainda que seja o repouso inquieto da leitura. É bom termos amigos que nos desejam boas férias presenteando-nos com um livro, porque as férias são também a altura da pausa do JCEM e do New England e o reencontro com algo possivelmente mais importante. Foi isso que aconteceu desta vez e com a vantagem de não ser um best-seller nem um romance histórico escrito pelos produtores dessa literatura anunciada na televisão (um sinal de qualidade, como os produtos que se vendem nas farmácias). Uma Família do Alentejo não é um romance histórico, mas a História contada por quem resistiu à vida e se elevou além da sobrevivência deixando um testemunho para quem o quiser conhecer. Simples, ingénuo como são as verdades. Efectivamente, se aqui estamos não foi por acaso e fica-nos a certeza que dê por onde der, o caminho será sempre na direcção certa e que só a Vitória é possível. A pequena história não dura séculos, ainda que queiram perpetuar-nos as crises.
10. Por fim, na paisagem mais morna de agora, por entre o silêncio, encontrei as libelinhas. A sorte não deixa de me acompanhar.
2.Ainda há dias chegávamos atrasados ao aeroporto e tínhamos aquela azáfama de verificação de bagagem com impedimentos de levar frascos com volume superior a 100 mL, mesmo quase vazios, porque o ar pode ser explosivo, certamente. É mau começar férias irritado, mas a irracionalidade chateia. Há uma anestesia neuronal, quando por sistema se recorre apenas à check list, por preguiça, porque não há tempo para reflectir. Mas anular esta função é, em parte, desistir daquilo que nos distingue do resto da bicharada. Anda alguém a roubar-nos propriedades diferenciadoras da espécie.
3. Gosto das chegadas aos aeroportos, de olhar para quem espera e ver aquele instante onde o olhar de procura explode de felicidade. Daquela felicidade autêntica, que parece só ser possível na altura dos reencontros. Possivelmente, é porque se está cansado de viver todos os momentos, que se desperdiçam em coisas de nada os encontros de todos os dias, para se chegar ao tudo em instantes de reencontro.
4. E afinal, sempre se renasce depois das calamidades que surgem. A Madeira está quase igual ao que era, cada vez mais parecida com um queijo emmental de tão furada por túneis que está. Voltei a ler os posts que aqui deixei há dois anos e a sensação continua a ser de estranheza pela distância a que as pessoas estão do meio onde vivem, porque a cabeça não acompanhou a pressa das pernas a correr pelos túneis fora. Há um hiato entre a forma como estão no local onde estão.
5. Mas os jardins continuam lá e o peixe propicia bons instantes. Para mais tarde recordar, se disso for o caso, os restaurantes de Câmara de Lobos Espada Preta e Vila do Peixe e o Barqueiro no Funchal. Não tanto pelo peixe, mas pelo pôr do sol, a Doca do Cavacas.
6. Recordar igualmente o Garajau e a descida à Fajã dos Padres. Mesmo que as subidas possam ser dolorosas e momentaneamente impossíveis, acaba-se sempre por chegar.
7. De longe vêem notícias inquietantes de julgamentos e incertezas de culpas. Em caso de dúvida que se beneficiem os réus, mas até que ponto o circo mediático retira a serenidade à justiça? Ou será que a torna possível e sem ele a impunidade reinaria? Dúvidas e mais dúvidas num tempo que importa esclarecer encontrando as soluções.
8. Há locais onde vamos e não sabemos se voltaremos, porque sentimos que os esgotámos. Mas a Madeira que começou por ser um espaço de turismo para doentes, mantém um sabor de turismo de terceira idade. E para esse repouso todos estamos caminhando.
9. Ainda que seja o repouso inquieto da leitura. É bom termos amigos que nos desejam boas férias presenteando-nos com um livro, porque as férias são também a altura da pausa do JCEM e do New England e o reencontro com algo possivelmente mais importante. Foi isso que aconteceu desta vez e com a vantagem de não ser um best-seller nem um romance histórico escrito pelos produtores dessa literatura anunciada na televisão (um sinal de qualidade, como os produtos que se vendem nas farmácias). Uma Família do Alentejo não é um romance histórico, mas a História contada por quem resistiu à vida e se elevou além da sobrevivência deixando um testemunho para quem o quiser conhecer. Simples, ingénuo como são as verdades. Efectivamente, se aqui estamos não foi por acaso e fica-nos a certeza que dê por onde der, o caminho será sempre na direcção certa e que só a Vitória é possível. A pequena história não dura séculos, ainda que queiram perpetuar-nos as crises.
10. Por fim, na paisagem mais morna de agora, por entre o silêncio, encontrei as libelinhas. A sorte não deixa de me acompanhar.
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