sexta-feira, dezembro 24, 2010
Cartão de Natal
«Não devia haver Dezembro». Assim dito na consulta, como um disparo do peso que a solidão implica. O olhar entre o desistente e a revolta pela pressão da alegria virtual do Natal a toda a volta. O Natal como quase insulto para quem ficou sem marido e um filho há alguns anos num acidente estúpido, como são todos os acidentes. A vida, algumas vezes, transforma-se num caminho por entre gotas de chuva numa ânsia de chegar nem se sabe bem aonde. Andar apenas pelo tempo fora sem motivo de caminhada ficando o mais enxuto que for possível. Neste tempo da solidariedade institucionalizada, que ao menos os recordemos, aqueles que, correm por este mês desejosos que acabe rapidamente até, de novo, mergulharem nos restantes meses em que a solidão se generaliza a todos e se podem sentir menos diferentes.
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1 comentário:
"...desejosos que acabe rapidamente até, de novo, mergulharem nos restantes meses em que a solidão se generaliza a todos e se podem sentir menos diferentes"
Tirando as outras partes do seu texto, esta é, sem dúvida, a minha preferida. Vive-se esta época de uma forma hipócrita com tanta ou mais solidão que nos restantes meses, quanto a mim.
À volta de Dezembro gira a mecânica da febre consumista, essencialmente: compra-se por comprar, oferece-se por oferecer...
Parabéns por mais um texto de indiscutível interesse reflexivo.
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