quarta-feira, dezembro 08, 2010

Como os cães

É na hora da despedida que Coimbra tem mais encanto e é no afastamento das pessoas que a comunicação se torna imperiosa. Também ninguém faz jantares na altura do ingresso e frequentes são os feitos no momento da saída. Em tudo isto há um desaproveitamento do tempo presente em que se não desfruta a paisagem, porque se sonha com a viagem que talvez se não venha a fazer nunca, em que se não fala directamente com os outros, a menos que nos afastemos e então vamos a correr para os telemóveis dizer que está um dia de sol só pelo gozo de comunicarmos, em que não desencantamos estratégias comuns e muitas vezes planeamos tramar o colega do trabalho e deixamos para a altura em que deixa a nossa companhia o momento de todas as homenagens e a afirmação de quanto lhe queremos bem. Apreciamos, quando deixamos de ter por perto e,então quando morrem, todos ficam absolutamente perfeitos, por muito que deles tenhamos discordado ou mesmo mal tratado. O momento máximo de se ser magnânimo é aquele em que a sombra do outro já se não projecta sobre nós e deixa o caminho livre, finalmente.
No fundo, age-se pelo medo. Como os cães que rosnam, mesmo que saciados, quando alguém se aproxima do osso que esconderam. À distância abanam o rabo. Mas, o tempo é agora e não depois, nem no passado que já não é. Desperdiçá-lo é perder vida.

2 comentários:

RC disse...

Quem sou eu para discordar do que escreve, aqui, de forma tão súbtil e profunda?!Enquanto contadora do tempo, escreve sobre ele e isso agrada-me.
É verdade que é no afastamento das pessoas que a comunicação se torna imperiosa, precisamente por isso; pelo afastamento. Se assim não for, o tempo que agora é, deixa de ter sentido e o seu desperdício, como escreve, não será mais do que uma imensa perda nas nossas vidas.

Soffs disse...

é isso mesmo miudo!!! o tempo é para aproveitar ao máximo :p
Beijos!!!