segunda-feira, novembro 01, 2010

Santa Morte


Será a praia onde se chega como diz A. Lobo Antunes ou uma mulher de gadanha ou uma Velha vestida de preto, tudo isso pode ser esse instante certo e inevitável para onde todos caminhamos, mas aqui é aparentemente diferente, chegando mesmo a ser Santa Muerte. Há uma atitude de brincadeira e veneração neste dia em que os mortos regressam e lhes oferecem bolos, cigarros ou mesmo uma bala que não irá ser utilizada numa rixa de cartéis de narcotráfico. Os  naturais mascaram-se como se estivéssemos  num carnaval neste dia e há uma alegria mal percebida por quem não é daqui. Há um ambiente de festa no ar porque a morte está presente.
Este breve contacto de turista não dá para entender até que ponto as aparências estarão a iludir e tudo não possa passar de esconjuro ou catarse para liquidar medos ocultos, mas propicia uma nova forma de encarar um problema que cada dia se vai tornando mais actual «à medida que se nada para a praia». Mas se o rumo é necessário, porque fugir e temê-lo. É possível, que a razão para isso, esteja na consciência de ainda haver algo mais para acabar (mas estamos programados para alguma obra em especial?) e não termos ainda tido o tempo suficiente ou poderá ser apenas o hábito de ir seguindo, fazendo o que se faz sem se dar conta até ao momento de despertar final quando a areia nos põe de pé. O risco não é pois a morte, mas a vida desperdiçada, essa sim irrecuperável. Disso é que é mais difícil desculparmo-nos. A morte é, desta forma, um estímulo para a vida. Pode, por isso, ser celebrável. 

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