segunda-feira, dezembro 06, 2010

Sem futuro

No final, José, frágil, segue amparado pela solidariedade de Pilar percorrendo um vasto hall de um aeroporto. Vão-se cruzando com outros passageiros mais ou menos apressados, sem que ninguém os reconheça. Indiferentes. De repente, os caçadores de autógrafos e os jornalistas que fazem sempre as mesmas perguntas desapareceram da circulação. Ainda bem?
Por aqui passamos e andamos anónimos e nada parece garantir que sobreviveremos ao momento inevitável em que deixamos de ser. De pouco valerá a obra feita e todos seremos sem futuro e quase iguais. Ao menos, neste limite, a equidade surge, contrariando toda a ânsia de diferença, que alguns insistem em proclamar, ignorando a sua limitação fundamental, a impossibilidade da eternidade do tempo. Porque o tempo dos outros, é o deles e não o de cada um. Na verdade, o importante parece ser a tranquilidade com que se passa por aqui, despertando algum sorriso nos que nos vêem passar, os amigos, e observando as árvores que nascem, o sol que se põe e as rãs que saltam na estrada ao luar, porque a vida se enche de coisas banais e se esvazia nas singularidades.
Antes da fita, soube-me bem ter ficado tranquilo e condescendente quando o funcionário da bilheteira me perguntou se o bilhete era de sénior. Nada me faria supor tal oferta e fiquei um pouco sem saber se seria o jovem o desatento deste diálogo.

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