quarta-feira, outubro 13, 2010
Professor na sala dos alunos
Custou-me, apesar de tudo, um pouco a cena deste almoço. Na mesa corrida, o velho professor comia sozinho na sala agitada e cheia dos novos alunos. Mastigava devagar com ar pesado, possivelmente, interiorizando a sua nova solidão e constatando a fugacidade do poder que teve. Ele que se terá julgado grande e eterno nalguns instantes do passado, estava ali no confronto com a nova realidade do seu anonimato. Por que terá ido ali almoçar? Talvez uma romagem de saudade, mas possivelmente à procura de algum sorriso de gratidão, que é isso que sempre se busca pela vida fora. Não calhou, nenhum dos seus ex-colaboradores por ali passou numa coincidência que lhe teria adiado a azia do olhar vago pela sala. Mastigava, aparentemente, sereno, mas obviamente inquieto. Os seus touchpoints nunca foram tão vazios e as vénias académicas sumiram para outros. Mastigava lentamente. Procuraria a obra, algum sorriso de uma mãe agradecida ou estaria simplesmente descrente pensando se terá valido a pena ter estado naquela casa de que um dia se achou pilar? Sempre me desperta alguma nostalgia este regresso, que suponho dever-se à ausência de raízes a outros lugares e realidades. A solidão sem pontos de contacto... nem regresso.
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