sábado, outubro 16, 2004

Persistência do horror

O que o mundo pode perder com a americanização! Naquele tempo havia histórias para contar, fábulas, Peter Pan e Pinóquio e muitas outras histórias de bruxas e homens maus. Ela não pinta homens, mas mulheres andróginas e na guerra são coelhos ensanguentados que vão nos braços de outros coelhos. Aqui e além, pressente-se algum trauma ou o despertar dos nossos traumas. Ela não pinta quadros para pôr na sala. Mas ficam bem nos museus, mesmo muito bem. E esta guerra, de 2003, tem genica de guernicas. Mesmo com os homens travestidos de coelhos, como se aquilo que ali está não fosse obra imaginável de homens.
Que pintaria ela amanhã, se fosse criança agora e ouvisse histórias de crianças esquartejadas e oferecidas de pasto aos cães? Pode bem ser que afinal, o mundo não tenha mudado tanto e apenas os contadores de histórias sejam diferentes. Sempre a peristência do horror. Obrigado, Paula Rego, por pintar assim. Enquanto passeamos os olhos pelos seus quadros, temos a impressão que estamos no mundo da ficção. É confortável. Por isso havia uma fila longa e uma espera prolongada para chegarmos à exposição que vai estra até Janeiro em Serralves. Hei-de lá voltar!

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