quinta-feira, outubro 14, 2004

Pouca terra

Agora temos a Assembleia das celebridades criadas em horário nobre de telejornal. Dantes eram comentadores políticos, agora são líderes de Governo e Oposição. È assim a vida fácil nesta terra de celebridades. A competência obtém-se com más notas em Biologia e depois é só começar a fazer uns discursos, seguir uma carreira de compromissos e negócios mais ou menos escondidos e o resto é marketing, aparecer em horário nobre a dizer umas bocas. E esperar, que o dia chega. Chegou, Santana e Sócrates lá estão e o país vai passando e passando-se.

Gosto de viajar de comboio ao fim da tarde com o sol a vir por momentos encandear-me os olhos enquanto na paisagem passam casas e ruas e campos aparentemente abandonados. Nesta carruagem vão os executivos nortenhos de regresso da descida a Lisboa no meu país do e-governement, que continua a usar o trabalho manual porque os computadores são a causa de tantos problemas. Mas eles vão abrindo programas e atendendo telemóveis num ritmo alucinante, recados e mais recados em okais e respostas adiadas. Amanhã de manhã, logo lhe telefono, senhor presidente!
É uma fauna bem curiosa esta da classe conforto do alfa ao fim de tarde a caminho do Porto. Lá fora vai anoitecendo e quando chego, o Porto parece uma cidade adormecida, nem filas de trânsito nas ruas. Já faz frio nesta altura e o taxista leva-me entre discursos de medo e de roubos e de falta de polícias em cada esquina. Mais uma vez, não dou pelos ladrões, mas eles devem andar por aí, que isto, diz ele, é uma terra cheia de bandidos. Dantes sim, andava-se com a mulher na rua ao princípio da noite, mas agora, o medo domina-nos em cada esquina. Cansa-me este discurso do medo.

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