Desde há uns dias que me desgasto em cursos pós-graduados. È impressionante a actividade de pós-graduação que se faz neste país e isto é extensível a todas as áreas da Medicina. Se estes cursos fossem minimamente eficazes, teríamos, com toda a certeza, a classe médica melhor informada do planeta. Mas, mesmo não tendo parâmetros de avaliação objectivos, parece-me não ser esse o caso, por aquilo que nos continua a chegar às consultas. Faz-me isto pensar que os objectivos de tanto curso não serão, afinal, a pós-graduação dos formandos, mas a obtenção de mais alguns graus para os formadores.
O que se passa é que estes esquemas dos cursos de pós-graduação, nos moldes em que a maior parte deles são feitos, têm por objectivo fundamental o financiamento dos serviços que os promovem para fins, no mínimo, incontrolados. Assiste-se a uma repetição dos temas de formação ao sabor das necessidades promocionais das empresas da indústria farmacêutica, que encontram neste meio uma forma de promoção dos seus produtos através de uma via aparentemente mais isenta do que a habitual charla do delegado de informação (termo politicamente correcto para designar delegado de propaganda). Há uma correlação directa dos temas ensinados com os temas que medicamentos emergentes se propõem tratar e está montado um esquema em que quase todos beneficiam. Os promotores são financiados pelas casas, aos prelectores são pagas viagens, hotéis e refeições (e nalguns casos até algo mais), os formandos são também, muitas vezes, patrocinados pelas mesmas empresas na inscrição e nas despesas que a deslocação exige. Só que toda esta generosidade empresarial tem de ter uma contrapartida, pois como é bem sabido, a caridade não é a vocação destas empresas. Feitas as contas quem vai pagar são sempre os mesmos, os doentes. Depois, a despesa com a Saúde não para de crescer e a solução parece ser para alguns, pôr o utilizador a pagar.
Não haverá aqui um papel regulador do Estado? Estarão os doentes em situação de tomar decisões sobre os tratamentos que lhes são propostos e será ético que o Estado se demita de intervir neste campo? Poderá um doente optar entre vários medicamentos, como opta entre várias marcas de roupa num centro comercial? Pessoalmente, acho que não, porque a doença é algo suficientemente angustiante que leva naturalmente a escolher o melhor e, nestes casos, será óbvio, que se identificará sempre o melhor com o mais caro. Assim, resta aos doentes terem nos seus médicos conselheiros técnicos nessa escolha. Mas, diga-se também, que para o fazerem, estes terão de não estar condicionados na sua opção de escolha e que precisam, em vez do actual estímulo ao consumo decorrente das relações actuais com a indústria farmacêutica que é uma relação de mais benesses se promoveres mais, de ter estímulo à contenção. É esta contenção que pode vir a ser induzida pelos doentes no dia em que tiverem de pagar os medicamentos e, por via disso, optarem (com angústia, necessariamente) pelos médicos que prescrevem com a mesma eficácia o que for mais económico, ou que poderá ser decorrente de mecanismos a introduzir pelo Estado, sendo desnecessário a penalização dos doentes. Entre esses mecanismos estará certamente a criação pelas entidades de saúde de cursos de formação pós-graduada e a proibição do actual estado de coisas, desta promiscuidade potencialmente perigosa. Nesses cursos seria possível a criação de programas de actualização efectivos e com objectivos determinados, poderiam ensinar-se conceitos de rigor de avaliação de informação e não estarmos limitados à propaganda de drug-dealers encapotados de cientistas. Outra medida poderia ser a penalização dos médicos que prescrevem mais caro, através da criação de orçamentos individuais para tratamento de situações padrão tendo em vista a obtenção de resultados também equivalentes.
Claro que tudo isto é contra-natura, é contra a livre iniciativa, o mercado e outras divindades do momento. Mas eu não acredito nelas... por isso desabafo.
O que se passa é que estes esquemas dos cursos de pós-graduação, nos moldes em que a maior parte deles são feitos, têm por objectivo fundamental o financiamento dos serviços que os promovem para fins, no mínimo, incontrolados. Assiste-se a uma repetição dos temas de formação ao sabor das necessidades promocionais das empresas da indústria farmacêutica, que encontram neste meio uma forma de promoção dos seus produtos através de uma via aparentemente mais isenta do que a habitual charla do delegado de informação (termo politicamente correcto para designar delegado de propaganda). Há uma correlação directa dos temas ensinados com os temas que medicamentos emergentes se propõem tratar e está montado um esquema em que quase todos beneficiam. Os promotores são financiados pelas casas, aos prelectores são pagas viagens, hotéis e refeições (e nalguns casos até algo mais), os formandos são também, muitas vezes, patrocinados pelas mesmas empresas na inscrição e nas despesas que a deslocação exige. Só que toda esta generosidade empresarial tem de ter uma contrapartida, pois como é bem sabido, a caridade não é a vocação destas empresas. Feitas as contas quem vai pagar são sempre os mesmos, os doentes. Depois, a despesa com a Saúde não para de crescer e a solução parece ser para alguns, pôr o utilizador a pagar.
Não haverá aqui um papel regulador do Estado? Estarão os doentes em situação de tomar decisões sobre os tratamentos que lhes são propostos e será ético que o Estado se demita de intervir neste campo? Poderá um doente optar entre vários medicamentos, como opta entre várias marcas de roupa num centro comercial? Pessoalmente, acho que não, porque a doença é algo suficientemente angustiante que leva naturalmente a escolher o melhor e, nestes casos, será óbvio, que se identificará sempre o melhor com o mais caro. Assim, resta aos doentes terem nos seus médicos conselheiros técnicos nessa escolha. Mas, diga-se também, que para o fazerem, estes terão de não estar condicionados na sua opção de escolha e que precisam, em vez do actual estímulo ao consumo decorrente das relações actuais com a indústria farmacêutica que é uma relação de mais benesses se promoveres mais, de ter estímulo à contenção. É esta contenção que pode vir a ser induzida pelos doentes no dia em que tiverem de pagar os medicamentos e, por via disso, optarem (com angústia, necessariamente) pelos médicos que prescrevem com a mesma eficácia o que for mais económico, ou que poderá ser decorrente de mecanismos a introduzir pelo Estado, sendo desnecessário a penalização dos doentes. Entre esses mecanismos estará certamente a criação pelas entidades de saúde de cursos de formação pós-graduada e a proibição do actual estado de coisas, desta promiscuidade potencialmente perigosa. Nesses cursos seria possível a criação de programas de actualização efectivos e com objectivos determinados, poderiam ensinar-se conceitos de rigor de avaliação de informação e não estarmos limitados à propaganda de drug-dealers encapotados de cientistas. Outra medida poderia ser a penalização dos médicos que prescrevem mais caro, através da criação de orçamentos individuais para tratamento de situações padrão tendo em vista a obtenção de resultados também equivalentes.
Claro que tudo isto é contra-natura, é contra a livre iniciativa, o mercado e outras divindades do momento. Mas eu não acredito nelas... por isso desabafo.
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