sexta-feira, outubro 29, 2004
e o sonho de uma big picture...
Tentarei as fotografias, para esquecer a triste realidade. Vou ver se encontro o senhor Presidente que também deve estar de férias. Que descanse e venha restaurado que o mês que aí vem pode ser um mês de oportunidades a não perder. Ainda assim, caso acorde um destes dias, pode vir a ficar melhor na fotografia da história. Ainda pode vir a ter uma big picture!
Bad picture
Este país põe-me triste. Hoje, Portugal foi representado na cerimónia de assinatura da Constituição europeia pelo seu PM. Já imaginaram o que será mostrar um dia aos nossos netos a fotografia e como seremos capazes de lhes explicar que neste tempo este era o PM. Às vezes até gostava que não houvesse fotografias para memória futura.
Vou de férias à procura de imagens melhores.
Vou de férias à procura de imagens melhores.
Mundo mais seguro
Publicado na Lancet hoje. Só não sei se estes mortos contam para negativos, pois andam por aí a dizer que o mundo está agora mais seguro. Ou na forma sábia como uma portuguesa, residente nos EUA, dizia ontem na TSF, mais vale que morram os filhos dos outros que os nossos, por isso faça-se a guerra lá longe...
Como estamos lembrados, tudo começou porque houve um ataque nos EUA onde morreram 3000 americanos (embora tenham morrido muitas vezes em muitos noticiários, foram 3000). Para prevenir novos acidentes, foram ao Afeganistão. Depois havia umas armas invisíveis no Iraque e invadiram-no para continuar a obra. A seguir o Saddam veio abaixo e o tal mundo ficou mais seguro.
Não, não havia armas; não, parece que não havia ligação do Iraque com a al-Qaeda; mas esta acção era imperiosa a bem da segurança no mundo.
quarta-feira, outubro 27, 2004
Na margem do silêncio
Os dias passam tristes sem notícias do PM. Estará doente, preparará as obras da sua futura residência de Verão? Não, não pode ser, ele não chega ao Verão, pois não?
Começa a ser inquietante esta ausência de notícias e respectivos desmentidos. Ou parece que agora a coisa já se estende ao Benfica. Robinho vem, Robinho fica. Os dirigentes do Benfica andam a desiludir-me, andam a parecer-se com os do FCP...
O PM deve ter descoberto que o melhor tratamento para o ruído era o silêncio.
Sendo assim, resta-me passar os olhos pelo passado, pelas fotografias das férias idas. Ficar a olhar o espaço.
terça-feira, outubro 26, 2004
segunda-feira, outubro 25, 2004
Mais de mil!
Há um estranho silêncio na minha terra. Há uns dias que o Santana se calou com receio de se desmentir no dia seguinte e o país ficou ainda sem mais graça. Ou não! conforme agoira se diz...
Mas no mundo real continua a haver notícias, embora repetidas não deixam de ser notícias. Não, não estou a referir-me aos carros que rebentam diariamente no Iraque e que de há algum tempo para cá me acompanham, regularmente, na ida para o hopsital todas as manhãs. A outra notícia são as vítimas daquela notícia, os Sanchez e Hernadez que regularmente caem e vão aumentando a contagem que quase ninguém noticia. Missão mais falhada não conheço: eles iam só à procura de armas de destruição em massa, não era? Ou não!
Mas no mundo real continua a haver notícias, embora repetidas não deixam de ser notícias. Não, não estou a referir-me aos carros que rebentam diariamente no Iraque e que de há algum tempo para cá me acompanham, regularmente, na ida para o hopsital todas as manhãs. A outra notícia são as vítimas daquela notícia, os Sanchez e Hernadez que regularmente caem e vão aumentando a contagem que quase ninguém noticia. Missão mais falhada não conheço: eles iam só à procura de armas de destruição em massa, não era? Ou não!
domingo, outubro 24, 2004
Vale tudo?
A cooperativa andava mal gerida já há uns tempos, sobretudo pela ineficiência dos cooperantes elegerem direcções capazes. Como o Benfica, percebem? Foi então que elegeram um presidente que vinha da concorrência, que antes negociava no mesmo ramo, numas lojas que também faziam abastecimento dos mesmos produtos.
Incapaz de perceber as razões do mau funcionamento, sobretudo completamente indiferente a essas causas e nada preocupado em encontrar as soluções, teve uma ideia genial: criar vales para que as pessoas pudessem ir abastecer-se onde quisessem, se a cooperativa não tem os produtos, que os procurem nas lojas que antes geria, por exemplo. Como se percebe, a cooperativa pode mesmo ir à falência que o actual presidente se está nas tintas, o negócio dele é outro e esse vai prosperar. Um destes dias, sai da cooperativa e vai até lá. Depois, logo fará a gestão como deve ser, modificará os preços, reservará o direito de admissão nos seus estabelecimentos e tudo correrá muito bem para ele. E para nós? Vivemos gerações de cooperantes e vamos deixar ir tudo por água abaixo? Não será mais inteligente demitir esta gerência quanto antes?
sábado, outubro 23, 2004
A vila
Os medos de ontem não serão os medos de amanhã. Cada geração reinventa os seus medos, porque os medos se formam nas experiências dos quartos escuros por onde passamos. E esses espaços de criação, como a água dos rios onde nunca nos banhamos duas vezes, estão em permanente mutação. Os conselhos de anciãos por muito que possam aconselhar, acabarão sempre por esbarrar na curiosidade e no, não será tanto assim, dos ouvintes jovens. Será essa a origem dos ciclos da história?
O refúgio na vila inverosímil acaba, afinal, numa viagem às cegas à procura da salvação que vem do mal de que se não pode falar. A sugestão de que o regresso não será o caminho? Possivelmente, as soluções terão de ser encontradas caminhando em frente e não às arrecuas. O mal estará aqui, nas cidades, mas é aqui que temos de o destruir e continuar o caminho, identificando o monstro e apunhalando-o para seguirmos em frente, até à luz, mesmo que, por vezes, o avanço se faça às apalpadelas e caindo nos buracos. Só assim nos salvaremos.
Gosto de encontrar alguma lógica e moralidade em todas as artes por mais aparentemente abstractas que pareçam. Daí esta tentativa de redescobrir a vila.
Ou será que o amor é a arma que nos mata o medo e nos leva em frente pela vida?
sexta-feira, outubro 22, 2004
Está inteiro
Loyola de Palacio, um nome que não dirá muito a muitos europeus, mas que mostra ser uma mulher decidida, a precisar de mulheres e homens que lhe moderem o discurso. Foi assim que manifestou a sua profunda esperança quando soube que Fidel tinha caído (caíu, mas ficou inteiro e em directo). Foi assim, que manifestou o respeito pela vida de outrém:
«Espero que ele morra quanto antes. Não digo que o matem, mas que morra, porque essa é a única via possível para a democratização de Cuba. A solução mais desejável seria o derrube do regime, mas isso não me parece muito provável. Não desejo a morte a ninguém, mas o desaparecimento de Castro seria a melhor solução»
É triste, mas geralmente este tipo de comentários vem sempre do mesmo lado, da mesma família de gente.
Para tristeza da senhora PP, ele está inteiro e continua, ainda que o cubram de gesso. E espero que o povo cubano continue inteiro a resistir a um bloqueio ignóbil que o impede de crescer.
Para perceber o mundo é importante passear, ir à procura da vida. É isso que alguns fazem. Outros não conseguem ir além da periferia dos hotéis onde os metem, do condomínio fechado onde vivem, do resort de luxo onde se escondem de férias.
quinta-feira, outubro 21, 2004
Um voto e um anúncio
As crianças são o melhor do mundo, mesmo nos Estados Unidos! Vá lá papazada americana, façam a vontade aos putos por esta vez. Não, não é para os levarem a jantar ao MacDonalds, o que eles querem é viver um pouquito melhor entre as escolhas que lhes dão.
A caminho de onde?
Há coisas que nos deviam fazer pensar, só que talvez já não tenhamos muito tempo para o fazer. Ou se calhar teremos de ser rápidos a pensar para ainda virmos a ter algum tempo. Andamos a espezinhar o mundo e, também aqui, as maiores patadas vão sufocar os pés das criancinhas inocentes. Este relatório da WWF é para se olhar com atenção e um incentivo a retirarmos pé ante pé, em marcha atrás e rapidamente. Mais um aviso sério de que a globalização em curso é uma viela sem saída e pode muito bem ser o fim da história, mesmo de todas as histórias... Para que a história continue, teremos de dar uma volta a isto, com passos de gigante.
quarta-feira, outubro 20, 2004
Erro e ética
Vivemos num tempo em que o erro deixou de ser humano. Ou será que deixou de se poder ser humano? Terão os humanos sido substituídos por máquinas infalíveis? Vem isto a propósito do erro do senhor Benquerença que agora alguns entusiastas desta infalibilidade querem processar judicialmente. Mas está tudo doido? Que raio deu a esta gente que agora só quer relógios suiços ou exigem mesmo dos atómicos com precisão ao milissegundo? Já imaginaram o que seria um mundo sem erros?
Neste caso exemplar, a ética foi completamente posta de parte. Por exemplo, todos se atiram ao desgraçado que errou, ninguém ao indutor do erro, ao que enganou voluntariamente, o guarda-redes. Ele dirá que foi mão de Deus como o outro e todos acharão imensa graça, mas afinal, foi ele o único que fez batota, que teve uma atitude eticamente reprovável. Mas a ética vale muito pouco na sociedade dos milhões e a defesa da propriedade parece valer tudo, incluindo a exigência da precisão, da infalibilidade do homem, do fim dos erros. Manter este estado de estar parece-me ser uma negligência que quase todos aceitam. Eu não! No fundo, parece que na nova ética, mais valorizado é o que mente com eficácia, do que o que diz a verdade e não vence. Ninguém quer punir o que enganou, mas o que errou.
Por exemplo, alguém imagina a importância que isto teria se o futebol não tivesse deixado de ser um desporto? Alguém quer voltar ao futebol-desporto, com muitos erros, mas com gente?
terça-feira, outubro 19, 2004
Dia sim
Quando chove em Lisboa, é frequente este caos. Fica tudo parado e nós agitamo-nos dentro dos carros, apesar da sinfonia nº 1 de Prokofiev. Subitamente, surge na parede a frase, A vida não é... dia sim dia não! Deve haver assim pelo menos dezenas de escritos nesta cidade, gritos de gente que gostava de viver todos os dias. Estar vivo, independentemente da chuva, do tempo cinzento, com uma vontade infinita de estar nos dias sim todos os dias. A vida é muito mais do que aquilo que nos querem deixar ter e, cada dia que passa, é menos eterna para nos darmos ao luxo de passarmos distraídos por ela. A vida é todos os dias se lhe soubermos encontrar um sentido, se percebermos que não estamos sós a escrever nas paredes em actos clandestinos, se percebermos que os que nos dão os dias não apenas o fazem porque os deixamos ter sempre dias sim. Quando deixaremos de ser, seres adormecidos, a escrever aqui e por aí, sempre sem nos encontrarmos, varas isoladas prontas a ser quebradas uma a uma com toda a facilidade pelos que têm todos os dias.
segunda-feira, outubro 18, 2004
Novos hábitos
domingo, outubro 17, 2004
sábado, outubro 16, 2004
Persistência do horror
O que o mundo pode perder com a americanização! Naquele tempo havia histórias para contar, fábulas, Peter Pan e Pinóquio e muitas outras histórias de bruxas e homens maus. Ela não pinta homens, mas mulheres andróginas e na guerra são coelhos ensanguentados que vão nos braços de outros coelhos. Aqui e além, pressente-se algum trauma ou o despertar dos nossos traumas. Ela não pinta quadros para pôr na sala. Mas ficam bem nos museus, mesmo muito bem. E esta guerra, de 2003, tem genica de guernicas. Mesmo com os homens travestidos de coelhos, como se aquilo que ali está não fosse obra imaginável de homens.
Que pintaria ela amanhã, se fosse criança agora e ouvisse histórias de crianças esquartejadas e oferecidas de pasto aos cães? Pode bem ser que afinal, o mundo não tenha mudado tanto e apenas os contadores de histórias sejam diferentes. Sempre a peristência do horror. Obrigado, Paula Rego, por pintar assim. Enquanto passeamos os olhos pelos seus quadros, temos a impressão que estamos no mundo da ficção. É confortável. Por isso havia uma fila longa e uma espera prolongada para chegarmos à exposição que vai estra até Janeiro em Serralves. Hei-de lá voltar!
sexta-feira, outubro 15, 2004
Mais um
Desde há uns dias que me desgasto em cursos pós-graduados. È impressionante a actividade de pós-graduação que se faz neste país e isto é extensível a todas as áreas da Medicina. Se estes cursos fossem minimamente eficazes, teríamos, com toda a certeza, a classe médica melhor informada do planeta. Mas, mesmo não tendo parâmetros de avaliação objectivos, parece-me não ser esse o caso, por aquilo que nos continua a chegar às consultas. Faz-me isto pensar que os objectivos de tanto curso não serão, afinal, a pós-graduação dos formandos, mas a obtenção de mais alguns graus para os formadores.
O que se passa é que estes esquemas dos cursos de pós-graduação, nos moldes em que a maior parte deles são feitos, têm por objectivo fundamental o financiamento dos serviços que os promovem para fins, no mínimo, incontrolados. Assiste-se a uma repetição dos temas de formação ao sabor das necessidades promocionais das empresas da indústria farmacêutica, que encontram neste meio uma forma de promoção dos seus produtos através de uma via aparentemente mais isenta do que a habitual charla do delegado de informação (termo politicamente correcto para designar delegado de propaganda). Há uma correlação directa dos temas ensinados com os temas que medicamentos emergentes se propõem tratar e está montado um esquema em que quase todos beneficiam. Os promotores são financiados pelas casas, aos prelectores são pagas viagens, hotéis e refeições (e nalguns casos até algo mais), os formandos são também, muitas vezes, patrocinados pelas mesmas empresas na inscrição e nas despesas que a deslocação exige. Só que toda esta generosidade empresarial tem de ter uma contrapartida, pois como é bem sabido, a caridade não é a vocação destas empresas. Feitas as contas quem vai pagar são sempre os mesmos, os doentes. Depois, a despesa com a Saúde não para de crescer e a solução parece ser para alguns, pôr o utilizador a pagar.
Não haverá aqui um papel regulador do Estado? Estarão os doentes em situação de tomar decisões sobre os tratamentos que lhes são propostos e será ético que o Estado se demita de intervir neste campo? Poderá um doente optar entre vários medicamentos, como opta entre várias marcas de roupa num centro comercial? Pessoalmente, acho que não, porque a doença é algo suficientemente angustiante que leva naturalmente a escolher o melhor e, nestes casos, será óbvio, que se identificará sempre o melhor com o mais caro. Assim, resta aos doentes terem nos seus médicos conselheiros técnicos nessa escolha. Mas, diga-se também, que para o fazerem, estes terão de não estar condicionados na sua opção de escolha e que precisam, em vez do actual estímulo ao consumo decorrente das relações actuais com a indústria farmacêutica que é uma relação de mais benesses se promoveres mais, de ter estímulo à contenção. É esta contenção que pode vir a ser induzida pelos doentes no dia em que tiverem de pagar os medicamentos e, por via disso, optarem (com angústia, necessariamente) pelos médicos que prescrevem com a mesma eficácia o que for mais económico, ou que poderá ser decorrente de mecanismos a introduzir pelo Estado, sendo desnecessário a penalização dos doentes. Entre esses mecanismos estará certamente a criação pelas entidades de saúde de cursos de formação pós-graduada e a proibição do actual estado de coisas, desta promiscuidade potencialmente perigosa. Nesses cursos seria possível a criação de programas de actualização efectivos e com objectivos determinados, poderiam ensinar-se conceitos de rigor de avaliação de informação e não estarmos limitados à propaganda de drug-dealers encapotados de cientistas. Outra medida poderia ser a penalização dos médicos que prescrevem mais caro, através da criação de orçamentos individuais para tratamento de situações padrão tendo em vista a obtenção de resultados também equivalentes.
Claro que tudo isto é contra-natura, é contra a livre iniciativa, o mercado e outras divindades do momento. Mas eu não acredito nelas... por isso desabafo.
O que se passa é que estes esquemas dos cursos de pós-graduação, nos moldes em que a maior parte deles são feitos, têm por objectivo fundamental o financiamento dos serviços que os promovem para fins, no mínimo, incontrolados. Assiste-se a uma repetição dos temas de formação ao sabor das necessidades promocionais das empresas da indústria farmacêutica, que encontram neste meio uma forma de promoção dos seus produtos através de uma via aparentemente mais isenta do que a habitual charla do delegado de informação (termo politicamente correcto para designar delegado de propaganda). Há uma correlação directa dos temas ensinados com os temas que medicamentos emergentes se propõem tratar e está montado um esquema em que quase todos beneficiam. Os promotores são financiados pelas casas, aos prelectores são pagas viagens, hotéis e refeições (e nalguns casos até algo mais), os formandos são também, muitas vezes, patrocinados pelas mesmas empresas na inscrição e nas despesas que a deslocação exige. Só que toda esta generosidade empresarial tem de ter uma contrapartida, pois como é bem sabido, a caridade não é a vocação destas empresas. Feitas as contas quem vai pagar são sempre os mesmos, os doentes. Depois, a despesa com a Saúde não para de crescer e a solução parece ser para alguns, pôr o utilizador a pagar.
Não haverá aqui um papel regulador do Estado? Estarão os doentes em situação de tomar decisões sobre os tratamentos que lhes são propostos e será ético que o Estado se demita de intervir neste campo? Poderá um doente optar entre vários medicamentos, como opta entre várias marcas de roupa num centro comercial? Pessoalmente, acho que não, porque a doença é algo suficientemente angustiante que leva naturalmente a escolher o melhor e, nestes casos, será óbvio, que se identificará sempre o melhor com o mais caro. Assim, resta aos doentes terem nos seus médicos conselheiros técnicos nessa escolha. Mas, diga-se também, que para o fazerem, estes terão de não estar condicionados na sua opção de escolha e que precisam, em vez do actual estímulo ao consumo decorrente das relações actuais com a indústria farmacêutica que é uma relação de mais benesses se promoveres mais, de ter estímulo à contenção. É esta contenção que pode vir a ser induzida pelos doentes no dia em que tiverem de pagar os medicamentos e, por via disso, optarem (com angústia, necessariamente) pelos médicos que prescrevem com a mesma eficácia o que for mais económico, ou que poderá ser decorrente de mecanismos a introduzir pelo Estado, sendo desnecessário a penalização dos doentes. Entre esses mecanismos estará certamente a criação pelas entidades de saúde de cursos de formação pós-graduada e a proibição do actual estado de coisas, desta promiscuidade potencialmente perigosa. Nesses cursos seria possível a criação de programas de actualização efectivos e com objectivos determinados, poderiam ensinar-se conceitos de rigor de avaliação de informação e não estarmos limitados à propaganda de drug-dealers encapotados de cientistas. Outra medida poderia ser a penalização dos médicos que prescrevem mais caro, através da criação de orçamentos individuais para tratamento de situações padrão tendo em vista a obtenção de resultados também equivalentes.
Claro que tudo isto é contra-natura, é contra a livre iniciativa, o mercado e outras divindades do momento. Mas eu não acredito nelas... por isso desabafo.
quinta-feira, outubro 14, 2004
Pouca terra
Agora temos a Assembleia das celebridades criadas em horário nobre de telejornal. Dantes eram comentadores políticos, agora são líderes de Governo e Oposição. È assim a vida fácil nesta terra de celebridades. A competência obtém-se com más notas em Biologia e depois é só começar a fazer uns discursos, seguir uma carreira de compromissos e negócios mais ou menos escondidos e o resto é marketing, aparecer em horário nobre a dizer umas bocas. E esperar, que o dia chega. Chegou, Santana e Sócrates lá estão e o país vai passando e passando-se.
Gosto de viajar de comboio ao fim da tarde com o sol a vir por momentos encandear-me os olhos enquanto na paisagem passam casas e ruas e campos aparentemente abandonados. Nesta carruagem vão os executivos nortenhos de regresso da descida a Lisboa no meu país do e-governement, que continua a usar o trabalho manual porque os computadores são a causa de tantos problemas. Mas eles vão abrindo programas e atendendo telemóveis num ritmo alucinante, recados e mais recados em okais e respostas adiadas. Amanhã de manhã, logo lhe telefono, senhor presidente!
É uma fauna bem curiosa esta da classe conforto do alfa ao fim de tarde a caminho do Porto. Lá fora vai anoitecendo e quando chego, o Porto parece uma cidade adormecida, nem filas de trânsito nas ruas. Já faz frio nesta altura e o taxista leva-me entre discursos de medo e de roubos e de falta de polícias em cada esquina. Mais uma vez, não dou pelos ladrões, mas eles devem andar por aí, que isto, diz ele, é uma terra cheia de bandidos. Dantes sim, andava-se com a mulher na rua ao princípio da noite, mas agora, o medo domina-nos em cada esquina. Cansa-me este discurso do medo.
Gosto de viajar de comboio ao fim da tarde com o sol a vir por momentos encandear-me os olhos enquanto na paisagem passam casas e ruas e campos aparentemente abandonados. Nesta carruagem vão os executivos nortenhos de regresso da descida a Lisboa no meu país do e-governement, que continua a usar o trabalho manual porque os computadores são a causa de tantos problemas. Mas eles vão abrindo programas e atendendo telemóveis num ritmo alucinante, recados e mais recados em okais e respostas adiadas. Amanhã de manhã, logo lhe telefono, senhor presidente!
É uma fauna bem curiosa esta da classe conforto do alfa ao fim de tarde a caminho do Porto. Lá fora vai anoitecendo e quando chego, o Porto parece uma cidade adormecida, nem filas de trânsito nas ruas. Já faz frio nesta altura e o taxista leva-me entre discursos de medo e de roubos e de falta de polícias em cada esquina. Mais uma vez, não dou pelos ladrões, mas eles devem andar por aí, que isto, diz ele, é uma terra cheia de bandidos. Dantes sim, andava-se com a mulher na rua ao princípio da noite, mas agora, o medo domina-nos em cada esquina. Cansa-me este discurso do medo.
quarta-feira, outubro 13, 2004
Ruído
Ele não fala porque o silêncio fala por ele. Hoje, o Presidente também não fala, porque tem de ser o centro da serenidade. O país está calado a ver mugir a vaca. Há uma paz estranha nestes ares. Espero que seja a acalmia do vulcão, antes de rebentar de vez. Sou um optimista doentio, claro.
Continuo a irritar-me quando me dizem, só neste país! Como se estivessemos manietados, como se nada tivessemos que ver com este estado de coisas, como se, este país, afinal, não fossemos nós. Só nós! diria eu. E começam a soar-me nos ouvidos os acordes do coro do Lopes Graça: Acordaiiiiiiiiiii! É necessário, imperioso e urgente, mais ruído, muito mais ruído, mesmo que seja ultrassónico, silencioso, aparentemente.
terça-feira, outubro 12, 2004
O milagre de Santana
Veio com um ar atarracado, detrás de uma secretária esmagadora, fazer um discurso à Nação. Notava-se no cenário a preocupação de fazer esquecer a imagem do varão divertido amante da noite e da festa. Tinha um ar quase triste, meio vitimizado e choroso como o tio Marcelo lhe ensinou que rende. Recusou o teleponto para marcar a diferença e lá se conseguiu orientar com os papéis com um ou outro sobressalto.
Aquele estilo causou-me incomodidade, lembrou-me Marcelo Caetano a falar mansamente à Nação, mostrando a correcção da sua governação, da manutenção da guerra e dos inimigos da Pátria que ruidosamente o contrariavam e à sábia política do seu governo.
Mas que veio o PM dizer-nos em todas as televisões? Finalmente, o milagre que já todos andavamos à espera. Afinal, a Manuela Ferreira Leite era economicamente incapaz e é perfeitamente possível aumentar a despesa (mais pensões, maiores salários) e reduzir a receita (menos IRS) e ao mesmo tempo manter o objectivo do famigerado défice. É o milagre de Santana alguns dias depois do serôdio Bagão Félix ter dito praticamente o contrário. Já vamos estando habituados a estes ziguezagues governativos, tão habituados quanto cansados. Como diria o Ministro das Finanças recorrendo à imagem da economia do lar, isto é como se aumentássemos os gastos da casa, o patrão nos reduzisse o ordenado e, ainda assim, a nossa dívida ao Banco continuasse estabilizada. Na verdade, este discurso de boas notícias anunciador do milagre, terá outro discurso no verso da página e, esse, outros o dirão. No fundo a questão não é pagar menos impostos, a questão é saber se vamos ter mais ou menos despesas obrigatórias. O meu sonho de vida seria darem-me uma casa para viver com a família, pagarem-me almoços e jantares, porem-me um carro à porta para me transportar a mim e aos meus, não ter de me preocupar com a conta do hospital se um dia adoecer e assim por diante. Um estilo de vida de Primeiro Ministro, estão a ver? Depois até me poderiam pagar pouco que não me peocupava. O milagreiro fala da redução dos impostos, mas que disse ele dos pagamentos da saúde, do fim dos benefícios fiscais, da continuação da destruição dos serviços públicos que nos empurram para os privados? Alguma coisa já disse, sim senhor, que as rendas aumentarão, que as portagens terão de ser pagas e mais não anunciou, mas alguém virá, por ele, comunicar.
E depois preocupante mesmo foi ver a actuação dos meios de informação. Cordatos, mostraram o milagreiro fazer a propaganda do seu milagre. Politicamente correctos foram escutar as reacções da atordoada oposição e dos felizes parceiros de coligação. Também as centrais sindicais, claro. Mas para mim, verdadeiramente espantoso, foi não terem ouvido as confederações patronais. Será que os seus líderes andarão todos extraviados, localizados em paraísos fiscais ou será que teriam óbvias dificuldades em apoiar este discurso de milagreiro e, por isso, não dá jeitio nesta altura saber as suas opiniões? Terá havido pressões para que os nossos jornalistas assim se tenham comportado? Eu estou impressionado!
segunda-feira, outubro 11, 2004
Private post
Percebi hoje como é grande o convencimento na vitória do Bush, como a economia americana está a crescer desmesuradamente, como são más as preocupações sociais dos governos europeus, como quem tem razão, afinal, é o senhor Luís Delgado. Fiquei comovido com o meu alheamento do mundo, eu que achava preocupante a dívida externa americana, a falência da guerra do Iraque, o aumento do custo do petróleo. Afinal, em Novembro é que vai ser, a retoma acelerada, o aumento da produção de armamento, o fim do terrorismo, o Bin Laden a caminho de Guantanamo.
Isto não há nada como receber aconselhamento financeiro por um perito. Muito melhor que ir a uma vidente e sai mais barato. Mas deixa-me alguma inquietação.
Isto não há nada como receber aconselhamento financeiro por um perito. Muito melhor que ir a uma vidente e sai mais barato. Mas deixa-me alguma inquietação.
sexta-feira, outubro 08, 2004
Imprensa livre
Publicado no Expresso online a mostrar algumas das ventosas do polvo. Falta ainda perceber quem é que controla tudo isto, ou seja, quem é o poder financeiro que manda no país e já agora no governo, se calhar. Ou se nós deixarmos.
A Imprensa do Governo
Da intolerável e canhestra pressão do Governo e da TVI sobre Marcelo Rebelo de Sousa já muita gente falou. Até o insuspeito Cavaco Silva. No entanto, o que agora aconteceu a Marcelo pode ser apenas a ponta de um enorme icebergue; uma consequência do formidável peso que o Governo tem na Comunicação Social e que só é comparável aos velhos tempos da imprensa nacionalizada.
Do Estado, propriamente dito, dependem a RTP e a RDP com os seus canais e ainda a agência Lusa. Do grupo da PT, que o Estado dirige através de uma famosa «golden share», já fazem parte o «Diário de Notícias», o «Jornal de Notícias», o «24 Horas» e a TSF só para citar os órgãos mais importantes. E agora, devido a propaladas negociações que envolvem a possível compra, pela PT, do grupo Media Capital (proprietário da TVI) este impressionante bloco de comunicação que, em última análise depende do Estado, ou seja de quem está no Governo, poderia ainda reforçar-se com uma televisão e várias estações de rádio.
Pode pensar-se que nada disto é importante ou significativo, mas a verdade é que o «Diário de Notícias», apesar de vender menos, faz impressionantes campanhas de «marketing», com ofertas sucessivas de produtos, próprias de quem não tem preocupações de dinheiro. Enquanto o «24 Horas» dá corpo a algo de inédito em todo o mundo: um tablóide sensacionalista que é propriedade do «grupo Estado».
Se somarmos esta impressionante presença dos poderes públicos na Comunicação Social a um Governo formado por gente canhestra, populista, alguma dela sem sensibilidade para compreender o que é a liberdade de informação, temos como resultado um panorama verdadeiramente sombrio.
Infelizmente, é o que temos.
Da intolerável e canhestra pressão do Governo e da TVI sobre Marcelo Rebelo de Sousa já muita gente falou. Até o insuspeito Cavaco Silva. No entanto, o que agora aconteceu a Marcelo pode ser apenas a ponta de um enorme icebergue; uma consequência do formidável peso que o Governo tem na Comunicação Social e que só é comparável aos velhos tempos da imprensa nacionalizada.
Do Estado, propriamente dito, dependem a RTP e a RDP com os seus canais e ainda a agência Lusa. Do grupo da PT, que o Estado dirige através de uma famosa «golden share», já fazem parte o «Diário de Notícias», o «Jornal de Notícias», o «24 Horas» e a TSF só para citar os órgãos mais importantes. E agora, devido a propaladas negociações que envolvem a possível compra, pela PT, do grupo Media Capital (proprietário da TVI) este impressionante bloco de comunicação que, em última análise depende do Estado, ou seja de quem está no Governo, poderia ainda reforçar-se com uma televisão e várias estações de rádio.
Pode pensar-se que nada disto é importante ou significativo, mas a verdade é que o «Diário de Notícias», apesar de vender menos, faz impressionantes campanhas de «marketing», com ofertas sucessivas de produtos, próprias de quem não tem preocupações de dinheiro. Enquanto o «24 Horas» dá corpo a algo de inédito em todo o mundo: um tablóide sensacionalista que é propriedade do «grupo Estado».
Se somarmos esta impressionante presença dos poderes públicos na Comunicação Social a um Governo formado por gente canhestra, populista, alguma dela sem sensibilidade para compreender o que é a liberdade de informação, temos como resultado um panorama verdadeiramente sombrio.
Infelizmente, é o que temos.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Dúvidas depois de ouvir o 1º Santana
Quantos votos representa cada figura pública de um partido? Vejo agora tantas figuras públicas do PSD não se reconhecerem no actual governo que me pergunto, quantos votos a menos terá este governo do que o outro em que todos eles se reviam? Lembrei-me disto depois de ouvir o Primeiro Santana, dizer que os que o atacam são os que nunca gostaram dele. Mas são cada vez mais! O problema é saber se a actual maioria ainda o será, se a legitimidade ainda existe, se se justifica manter este governo.
E por que não fala o Professor? Por que não existe outro canal a contratá-lo? Quem analisa agora este país e este poder? Se calhar já chegou ao fundo, já não precisa de análise, só de autópsia.
E por que não fala o Professor? Por que não existe outro canal a contratá-lo? Quem analisa agora este país e este poder? Se calhar já chegou ao fundo, já não precisa de análise, só de autópsia.
Privado e público
No meio da história mal contada da saída do Professor o que parece mais viável é que alguns dos donos da TVI estavam a ficar incomodados nos negócios com algumas das coisas que o senhor vinha dizendo. Não daria muito jeito a esses donos que este governo de porcelana fosse criticado, pois dependem dele para as tais negociatas. Vai daí, não encontraram melhor que deitar o professor abaixo. A gravidade desta coisa é que este processo é esclarecedor da fragilidade da chamada liberdade de imprensa quando a dita começa a ficar completamente entregue a interesses privados. No fundo, nós o público, ficamos sem qualquer possibilidade de controlar o que quer que seja e tornamo-nos dependentes do que a clique económica dirigente quer fazer. Liberdade de imprensa começa a ser, se esta via for continuada, a liberdade dessa gente nos impor a informação que lhes convém: jornal do crime em horário nobre, informação do exótico, Pinto da Costa e quejandos, opinião do patrão. Assim, entretidos, os negócios podem prosperar longe do controlo de todos nós.
Mais importante do que sabermos a fortuna pessoal dos políticos, parece ser a divulgação dos braços do polvo financeiro que progressivamente nos vai estrangulando. Este é um bicho que temos de conhecer nas suas manhas antes do sufoco completo chegar.
Mais importante do que sabermos a fortuna pessoal dos políticos, parece ser a divulgação dos braços do polvo financeiro que progressivamente nos vai estrangulando. Este é um bicho que temos de conhecer nas suas manhas antes do sufoco completo chegar.
quarta-feira, outubro 06, 2004
Cuidado!
Hoje fiquei preocupado. Fiquei sem as missas de domingo à tarde e ainda nem percebi porquê. parece que alguém do Governo não gosta de ouvir o seu correligionário falar na TVI. Parece que quer pluralismo. Que quererão eles? Alguém do PC no exercício do contraditório? E que terá feito a direcção da TVI suspender o programa? Alguma ameaça ou terão caído as audiências e a missa já não justificava o investimento. Posso pedir o exercício do contraditório face a um programa de opinião imbecil que está a ser gravado numa quinta, onde me parece haver um burro que faz a diferença? Ou pensam que isto não é um programa de opinião, em que é feita a propaganda do Governo? É, é! Dá para manifestarmos o nosso repúdio face a esta lei da rolha?
Escrito na ponte dos dias:
5 de Outubro
Quero mais!
Viva a República! O Presidente fez hoje um discurso necessário. O Primeiro Santana gostou. Agora, eu gostaria que na altura do Orçamento para o próximo ano, o Presidente fizesse outro discurso, ao qual o Santana não achasse graça nenhuma. Estes tipos começam a ser perigosos, as faltas são repetidas, os cartões amarelos não chegam.
4 de Outubro
Ponte
O PM Santana sabe como elas se fazem. Não, não estou a falar das Santanetes... Este país está uma confusão, tudo o que será num dia, deixa de sê-lo no dia seguinte, ninguém se entende, toda a gente fica à espera do desmentido. O pior é que as pessoas começam a falar e é urgente distraí-las. Que melhor estratégia para se deixar de falar das aulas que ainda não começaram do que criar uma ponte e pôr toda a gente a falar da ponte? Que alívio, uns apoiarão porque lhes sabe bem, outros moralizarão pouco convencidos ou apenas para chatear, mas por momentos, o Congresso de PS deixa de existir, as escolas estão bem e esperemos por logo à noite para ver as imagens de felicidade nas praias do Algarve. Entretanto, adensa-se a campanha contra o público. Os trabalhadores do privado ficam felizes, porque afinal, uma vez mais, eles mostram quem são os bons, quem trabalha nesta terra. O país fica feliz de uma maneira ou de outra. E desta vez, um zeloso funcionário do Diário da República, apressando-se a publicar o despacho da ponte, inviabilizou a correcção da notícia no dia seguinte. Afinal a ponte só existiu porque esse funcionário público, funcionou. Desta vez acabaste por tomar uma decisão que durou dois dias, Grande Santana!
3 de Outubro
O teleponto
A partir de hoje, temos um novo programa de gestão deste país. Temos dois programas de gestão, não são dois programas políticos, nos objectivos são completamente iguais, ambos fadistas, conformados com o estado de coisas. Agora nem os estilos serão diferentes, os dois em breve usarão o teleponto e nem pensam quem escreve o texto tão empenhados estão em papagueá-lo. No fim, perguntam, então saiu bem? Ninguém está preocupado com o texto, mas com a forma como saiu. As preocupações das gentes são outras, a pobre Joana desaparecida, ou o que se passa numa quinta que agora há, onde os animais foram entregues à bicharada.
2 de Outubro
Fotografias
Perdi hoje a segunda fotografia que gostava muito de ter feito e nunca farei. A primeira foi há uns anos em Amsterdão, quando um vento súbito destapou as pernas longas de uma holandesa, de bicicleta a caminho não sei de onde. A saia ficou esvoaçando por baixo da cara num instante curto e irrepetível. Hoje foi aquele miúdo, franzino, de cabeça e tronco enfiados na fenda da caixa de recolha de roupas usadas. As pernitas, curtas, penduradas por fora, a ânsia, comprida, de umas calças ou uma camisola.
1 de Outubro
Virtual ou real?
Pois, a senhora Ministra até parece ser boa pessoa. Aqueles trejeitos de boca com que responde instintivamente aos jornalistas são uma delícia. A senhora até gera alguma ternura. Fica sempre a pensar antes de responder, apetece-lhe dizer, estes estupores só me querem é apanhar, cuidado Maria do Carmo, não te deixes espalhar, bolas no que eu me meti, isto da política, afinal, é muito mais complicado do que eu pensava. Pois é, não basta ter ideias para fazer coisas (será que tem?), ter boa vontade. Estamos no tempo em que os Schwarzenegers são governadores, no tempo dos Santanas e dos Sócrates. Esta pobre não fez teatro nem cinema, as câmaras e os flashes apavoram-na. Desfaz-se em esgares, mas não apetece atacá-la, ela está a léguas dos Portas e Bagões, é simples. Foi apanhada numa enxurrada e lá se foi desempecilhando.Inspirada por um dos fazedores de imagens do seu Governo, convenceram-na que poderia fazer esquecer a bagunça da colocação dos professores com uma operação de imagem em que mostrava a adesão à banda larga nas escolas, o que seria até um tema interessante de conversa pela positiva. Mas não, os nossos jornalistas gostam é de conversa pela negativa, pôr em cheque, se possível demitir um ministro e nem interessa quem seja. Demitir um ministro é do melhor que há para qualquer redacção. Imagino que se sobe na carreira quando se deita abaixo um ministro. Coitados, esquecem-se que sempre que cai um, logo vem outro...Mas voltando à senhora, dá dó quando se sai com aquela frase de que as aulas começaram virtualmente na maioria das escolas. Bolas, é azar! Há uns dias mostrava-nos a sua opção pelo manual face ao digital, agora satisfaz-se com o virtual. Foi o que disse, eu sei que ela, lá no fundo, preferia que as aulas tivessem realmente começado em todas as escolas, mas as câmaras baralham-na e põem-lhe na boca coisas que ela, realmente, não quereria dizer. Fraco, muito fraco mesmo, foi a ideia de pôr um ministro a ajudar a senhora. Contribuiu só para tornar a sua imagem mais frágil. É uma pena (será?), mas um dia destes a senhora desiste e vai para funções mais tranquilas.
Escrito na ponte dos dias:
5 de Outubro
Quero mais!
Viva a República! O Presidente fez hoje um discurso necessário. O Primeiro Santana gostou. Agora, eu gostaria que na altura do Orçamento para o próximo ano, o Presidente fizesse outro discurso, ao qual o Santana não achasse graça nenhuma. Estes tipos começam a ser perigosos, as faltas são repetidas, os cartões amarelos não chegam.
4 de Outubro
Ponte
O PM Santana sabe como elas se fazem. Não, não estou a falar das Santanetes... Este país está uma confusão, tudo o que será num dia, deixa de sê-lo no dia seguinte, ninguém se entende, toda a gente fica à espera do desmentido. O pior é que as pessoas começam a falar e é urgente distraí-las. Que melhor estratégia para se deixar de falar das aulas que ainda não começaram do que criar uma ponte e pôr toda a gente a falar da ponte? Que alívio, uns apoiarão porque lhes sabe bem, outros moralizarão pouco convencidos ou apenas para chatear, mas por momentos, o Congresso de PS deixa de existir, as escolas estão bem e esperemos por logo à noite para ver as imagens de felicidade nas praias do Algarve. Entretanto, adensa-se a campanha contra o público. Os trabalhadores do privado ficam felizes, porque afinal, uma vez mais, eles mostram quem são os bons, quem trabalha nesta terra. O país fica feliz de uma maneira ou de outra. E desta vez, um zeloso funcionário do Diário da República, apressando-se a publicar o despacho da ponte, inviabilizou a correcção da notícia no dia seguinte. Afinal a ponte só existiu porque esse funcionário público, funcionou. Desta vez acabaste por tomar uma decisão que durou dois dias, Grande Santana!
3 de Outubro
O teleponto
A partir de hoje, temos um novo programa de gestão deste país. Temos dois programas de gestão, não são dois programas políticos, nos objectivos são completamente iguais, ambos fadistas, conformados com o estado de coisas. Agora nem os estilos serão diferentes, os dois em breve usarão o teleponto e nem pensam quem escreve o texto tão empenhados estão em papagueá-lo. No fim, perguntam, então saiu bem? Ninguém está preocupado com o texto, mas com a forma como saiu. As preocupações das gentes são outras, a pobre Joana desaparecida, ou o que se passa numa quinta que agora há, onde os animais foram entregues à bicharada.
2 de Outubro
Fotografias
Perdi hoje a segunda fotografia que gostava muito de ter feito e nunca farei. A primeira foi há uns anos em Amsterdão, quando um vento súbito destapou as pernas longas de uma holandesa, de bicicleta a caminho não sei de onde. A saia ficou esvoaçando por baixo da cara num instante curto e irrepetível. Hoje foi aquele miúdo, franzino, de cabeça e tronco enfiados na fenda da caixa de recolha de roupas usadas. As pernitas, curtas, penduradas por fora, a ânsia, comprida, de umas calças ou uma camisola.
1 de Outubro
Virtual ou real?
Pois, a senhora Ministra até parece ser boa pessoa. Aqueles trejeitos de boca com que responde instintivamente aos jornalistas são uma delícia. A senhora até gera alguma ternura. Fica sempre a pensar antes de responder, apetece-lhe dizer, estes estupores só me querem é apanhar, cuidado Maria do Carmo, não te deixes espalhar, bolas no que eu me meti, isto da política, afinal, é muito mais complicado do que eu pensava. Pois é, não basta ter ideias para fazer coisas (será que tem?), ter boa vontade. Estamos no tempo em que os Schwarzenegers são governadores, no tempo dos Santanas e dos Sócrates. Esta pobre não fez teatro nem cinema, as câmaras e os flashes apavoram-na. Desfaz-se em esgares, mas não apetece atacá-la, ela está a léguas dos Portas e Bagões, é simples. Foi apanhada numa enxurrada e lá se foi desempecilhando.Inspirada por um dos fazedores de imagens do seu Governo, convenceram-na que poderia fazer esquecer a bagunça da colocação dos professores com uma operação de imagem em que mostrava a adesão à banda larga nas escolas, o que seria até um tema interessante de conversa pela positiva. Mas não, os nossos jornalistas gostam é de conversa pela negativa, pôr em cheque, se possível demitir um ministro e nem interessa quem seja. Demitir um ministro é do melhor que há para qualquer redacção. Imagino que se sobe na carreira quando se deita abaixo um ministro. Coitados, esquecem-se que sempre que cai um, logo vem outro...Mas voltando à senhora, dá dó quando se sai com aquela frase de que as aulas começaram virtualmente na maioria das escolas. Bolas, é azar! Há uns dias mostrava-nos a sua opção pelo manual face ao digital, agora satisfaz-se com o virtual. Foi o que disse, eu sei que ela, lá no fundo, preferia que as aulas tivessem realmente começado em todas as escolas, mas as câmaras baralham-na e põem-lhe na boca coisas que ela, realmente, não quereria dizer. Fraco, muito fraco mesmo, foi a ideia de pôr um ministro a ajudar a senhora. Contribuiu só para tornar a sua imagem mais frágil. É uma pena (será?), mas um dia destes a senhora desiste e vai para funções mais tranquilas.
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