sexta-feira, julho 09, 2004

Facilidade da escolha (da outra)

O que escolhemos quando escolhemos? O que muitas vezes acontece, é que três meses depois das eleições já ninguém votou no poder, só se vêem votos na oposição do momento. Qualquer oposição parece ter ganho as eleições três meses depois de um Governo ter chegado ao poder. Ninguém é responsável pelo que aconteceu e três meses depois de eleito qualquer Governo é um desastre de popularidade. E se as pessoas, passados três meses, já não sabem em quem votaram, imagine-se o que aconteceria se lhes perguntássemos quais as linhas do programa que votaram. Quanto mais ao fim de dois anos. Já ninguém se lembra. É curioso, este sentimento de clandestinidade que as democracias atribuem ao voto, como a subentender que pode ser um acto mais ou menos aleatório, pelo qual ninguém nos pode pedir contas. O voto deve ser secreto e estranhamente até se acha que isso é uma garantia. Garantia de cobardia, de não assumpção da escolha que permite mentir três meses depois de aqueles que se escolhem estarem a tomar atitudes indefensáveis? Há alguma coisa no sistema que nos impede de achar que o voto assinado, de braço no ar,é uma forma superior de responsabilização e seria até uma forma de combater a fácil cobardia que, estranhamente, aparece nestas democracias promovida a valor. Ou será que não temos mais cuidado naquilo que fazemos quando temos de assinar o acto? Ou será que o acto de votar, é um acto menos importante do que uma declaração que fazemos? Será por ser assim tão pouco importante que se vota cada vez menos?

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