Nas medidas para prevenir as complicações cardiovasculares da diabetes, a necessidade de mudar os estilos de vida, é consensual. Qualquer comunicação politicamente correcta não deixa de expressar, num dos 20 minutos que demora, essa necessidade. Nos outros 19 minutos falam-se de drogas e relatórios de consenso, isto é, acredita-se nos novos deuses e espalha-se a sua mensagem entre os fiéis ouvintes. Constata-se que os doentes não aderem aos tratamentos, que existe um mundo real e outro ideal cheio de objectivos bem definidos e cada vez mais estritos, que potenciam o esforço de vendas. Só que raramente atingidos (menos de 10%!). Porquê então a persistência numa mensagem que repetidamente já falhou?
À partida parece ser claro que investir na prevenção da doença, será mais eficaz que no seu controlo, mas não é isso que se faz. Pior, quando se pensa que se está a fazer, faz-se errando o alvo: culpabiliza-se o doente que não cumpre o que se lhe diz para fazer, sem se perceber que se lhe está a propor o impossível. Não eles não podem comer de forma diferente, nem deixar de ser sedentários. Isso eles sabem, só não fazem, porque não podem e não podem porque a comida tem custos e a melhor relação custo-benefício se consegue comendo o que se não deve e deixando de comer o que se deveria comer mas não se pode. Comer exige a compra dos alimentos, a sua confecção e depois a ingestão. Além dos custos, tem tempo gasto associado, o tempo que cada vez mais o sistema da máxima exploração da força de trabalho não fornece, porque maximiza o tempo de produção. A epidemia da síndrome da globalização não é controlável sem a destruição das causas que a geraram: é necessário alterar os valores, mudar o emprego, melhorar o rendimento da força de trabalho, encurtar o tempo de deslocação diária casa-trabalho, aumentar os tempos livres em vez de os aniquilar, libertando tempo para o exercício e para se estar e, até, reflectir. Então a ansiedade diminuirá e serão possíveis hábitos de vida mais racionais e humanos. Será, pois, determinante investir no lado certo (na prevenção) e não no lado mais fácil (a promoção da cura farmacológica/cirúrgica). Até agora tem-se feito exactamente o contrário.
E tentar controlar o caudal do rio junto à foz em vez de o normalizar a montante, só nos fará ir na enxurrada.
Garante mais facilmente, é claro, a continuação da boa vida de grupos excursionistas divulgadores da missão e das suas orgias alimentares. A Indústria continuará a agradecer, os contribuintes a pagar.
Sem comentários:
Enviar um comentário