terça-feira, janeiro 02, 2007
Futuros
Desde que me conheço... Assim não, que afinal, a gente nunca se conhece. Por isso ficará melhor, desde que me recordo, porque há um período longo, depois de nascermos, em que afinal não somos quase nada limitando-nos a gritar por comida e a comer ficando o resto do tempo para as artes de descomer, desde que me recordo, dizia eu, que o futuro tem mudado de aspecto. No princípio, o futuro nem existia, era mesmo só o presente, depois, já na escola, tinha aquela noção de cumprir os deveres para ter um futuro melhor. À medida que fui crescendo, o futuro continuou sempre a fugir à minha frente, como quando se sobe um monte e se chega a um cimo e logo se vêem mais cimos adiante. O raio do futuro, penso agora, é um somatório de presentes e cada vez tenho menos vontade de esperar por ele. É por isso que esta cantiga dos nossos líderes políticos, como agora o Presidente, passarem todo o tempo a pedir-nos sacrifícios no presente para colhermos no futuro, só a consigo ouvir com grande desconfiança. É como conquistar o Céu depois de morto. Há quem acredite. Até porque há alguns incrédulos que se estão nas tintas para os sacrifícios para o futuro e tratam é de garantir o céu enquanto estão no presente. Por exemplo, no último ano, ganharam em Bolsa mais de 30%, contrariando, claramente, o que diz o senhor Primeiro Ministro que, ainda recentemente, nos ensinou que só trabalhando se pode progredir. Obviamente, é mentira, que estes ganharam-no a dormir, sonhando enquanto o mundo continuava a rodar desde o Nikkei ao Dow Jones, realizando futuros todos os dias. Começo assim o ano com muito pouca vontade de sacrificar o presente em nome do futuro.
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